ARTIGO: Solidariedade aos detentos, sentimento feminino

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Edmilson Silva escreve sobre o papel crucial desempenhado pelas mulheres na vida dos detentos.

POR Redação SRzd 23/7/2006| 4 min de leitura

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Edmilson Silva escreve sobre o papel crucial desempenhado pelas mulheres na vida dos detentos.

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Uma situação ocorrida, recentemente, em um bar localizado em frente ao Presídio de Araraquara, no interior paulista, me fez pensar a respeito do papel crucial desempenhado pelas mulheres na vida dos detentos: três senhoras ajudaram três rapazes, egressos daquela cadeia, a tomar providências bastante práticas no momento da liberdade recém-conquistada, ao darem-lhes dinheiro para as passagens de volta a casa.

Ao agirem dessa forma com os ex-prisioneiros, com os quais não tinham qualquer relação de parentesco, essas três mulheres foram acima de tudo solidárias. E, em seguida, seguindo o ditado popular que diz que uma mão lava a outra, aos três, elas pediram notícias dos parentes que continuavam na cadeia praticamente destruída durante uma das incontáveis rebeliões lideradas por membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Esse episódio de Araraquara remete a uma realidade vivenciada nos demais presídios brasileiros, e talvez mesmo nos de todo o mundo, aqui incluídos os femininos: quem apóia os presos são sempre as mulheres! Por que essa falta de solidariedade dos homens da família com os seus detentos? Este é um assunto que dá o que pensar…

Temas relacionados à vida dos excluídos quase não despertam o interesse da mídia, aqui destacada a raríssima exceção representada pelo saudoso repórter Tim Lopes, que se notabilizou por sua dedicação às pautas (assunto a ser transformado em notícia, no jargão jornalístico) do chamado Zé Povinho. Outra exceção luxuosa é o documentário de estréia das diretoras Mônica Marques e Paula Zamettini, Do Lado de Fora, recentemente exibido pela TVE. Na fita, seis mulheres, todas moradoras do Rio de Janeiro, falam sobre as razões que as levam aos presídios, todo santo dia de visita, para passarem alguns momentos ao lado dos maridos, noivos, namorados, irmãos, filhos, netos, amigos: o amor nas suas mais variadas formas. E em seus depoimentos usam a voz do coração. É comovente e verdadeiro.

Muitas dessas mulheres chegam ao presídio, já na véspera, para esperar a hora de estar com o ente querido; todas são submetidas aos rituais de revista próprios do sistema prisional. Evidentemente, o que está em jogo é a segurança do sistema, mas sabe-se também que elas não estão livres de toda sorte de constrangimento.

Estudiosa de alguns aspectos sobre o relacionamento entre familiares e detentas do Talavera Bruce, a antropóloga Bárbara Copque, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPCIS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que também no presídio feminino vê-se mais mães, irmãs, tias nos dias de visita. São raros os homens que vão visitar as presas.

Copque observa “que as mulheres acabam sendo castigadas duplamente no sistema prisional, pois as penas a elas aplicadas pela Justiça são mais altas que as destinadas aos homens, além de não contarem com a solidariedade da parte masculina da família; o homem que comete um crime é como se fosse algo esperado; mas quando é a mulher a cometê-lo, é como se ela perdesse o potencial imaculado que a distingue do gênero masculino”. A antropóloga avança na análise da falta de solidariedade masculina e credita, em parte, esse fenômeno à ausência do homem na família e à conseqüente existência crescente dos grupos familiares comandados por mulheres, as chamadas famílias monoparentais.

Não é preciso recorrer aos dados dos levantamentos da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD) e de outros estudos populacionais realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para nos darmos conta da violência que tem dizimado os homens brasileiros na faixa etária dos 15 aos 49 anos. Temos que levar em conta ainda que a maioria da massa carcerária é composta por homens, mas é preciso perguntar se apenas estes fatores explicariam, ainda que em parte, a ausência masculina nas visitas aos detentos e detentas.

Seria a solidariedade um sentimento tipicamente feminino? E onde ficam a amizade, a lealdade e o companheirismo masculinos?

Uma situação ocorrida, recentemente, em um bar localizado em frente ao Presídio de Araraquara, no interior paulista, me fez pensar a respeito do papel crucial desempenhado pelas mulheres na vida dos detentos: três senhoras ajudaram três rapazes, egressos daquela cadeia, a tomar providências bastante práticas no momento da liberdade recém-conquistada, ao darem-lhes dinheiro para as passagens de volta a casa.

Ao agirem dessa forma com os ex-prisioneiros, com os quais não tinham qualquer relação de parentesco, essas três mulheres foram acima de tudo solidárias. E, em seguida, seguindo o ditado popular que diz que uma mão lava a outra, aos três, elas pediram notícias dos parentes que continuavam na cadeia praticamente destruída durante uma das incontáveis rebeliões lideradas por membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Esse episódio de Araraquara remete a uma realidade vivenciada nos demais presídios brasileiros, e talvez mesmo nos de todo o mundo, aqui incluídos os femininos: quem apóia os presos são sempre as mulheres! Por que essa falta de solidariedade dos homens da família com os seus detentos? Este é um assunto que dá o que pensar…

Temas relacionados à vida dos excluídos quase não despertam o interesse da mídia, aqui destacada a raríssima exceção representada pelo saudoso repórter Tim Lopes, que se notabilizou por sua dedicação às pautas (assunto a ser transformado em notícia, no jargão jornalístico) do chamado Zé Povinho. Outra exceção luxuosa é o documentário de estréia das diretoras Mônica Marques e Paula Zamettini, Do Lado de Fora, recentemente exibido pela TVE. Na fita, seis mulheres, todas moradoras do Rio de Janeiro, falam sobre as razões que as levam aos presídios, todo santo dia de visita, para passarem alguns momentos ao lado dos maridos, noivos, namorados, irmãos, filhos, netos, amigos: o amor nas suas mais variadas formas. E em seus depoimentos usam a voz do coração. É comovente e verdadeiro.

Muitas dessas mulheres chegam ao presídio, já na véspera, para esperar a hora de estar com o ente querido; todas são submetidas aos rituais de revista próprios do sistema prisional. Evidentemente, o que está em jogo é a segurança do sistema, mas sabe-se também que elas não estão livres de toda sorte de constrangimento.

Estudiosa de alguns aspectos sobre o relacionamento entre familiares e detentas do Talavera Bruce, a antropóloga Bárbara Copque, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPCIS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que também no presídio feminino vê-se mais mães, irmãs, tias nos dias de visita. São raros os homens que vão visitar as presas.

Copque observa “que as mulheres acabam sendo castigadas duplamente no sistema prisional, pois as penas a elas aplicadas pela Justiça são mais altas que as destinadas aos homens, além de não contarem com a solidariedade da parte masculina da família; o homem que comete um crime é como se fosse algo esperado; mas quando é a mulher a cometê-lo, é como se ela perdesse o potencial imaculado que a distingue do gênero masculino”. A antropóloga avança na análise da falta de solidariedade masculina e credita, em parte, esse fenômeno à ausência do homem na família e à conseqüente existência crescente dos grupos familiares comandados por mulheres, as chamadas famílias monoparentais.

Não é preciso recorrer aos dados dos levantamentos da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD) e de outros estudos populacionais realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para nos darmos conta da violência que tem dizimado os homens brasileiros na faixa etária dos 15 aos 49 anos. Temos que levar em conta ainda que a maioria da massa carcerária é composta por homens, mas é preciso perguntar se apenas estes fatores explicariam, ainda que em parte, a ausência masculina nas visitas aos detentos e detentas.

Seria a solidariedade um sentimento tipicamente feminino? E onde ficam a amizade, a lealdade e o companheirismo masculinos?

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