Alguém se lembra de “MacGyver”, aquele seriado de TV dos anos 80? Bom, para quem nunca assistiu, Angus Macgyver era um agente secreto que se safava das piores enrascadas criando armas, bombas, e chaves-mestras a partir de qualquer objeto que estivesse ao seu dispor. Mas será que ele poderia ser capaz de transformar um clipe de papel vermelho numa casa? Bem, o MacGyver, não sei, mas foi exatamente isso que Kyle MacDonald conseguiu.

Em julho de 2005 Kyle MacDonald, de 26 anos, residente de Montreal, Canadá, postou em seu blog a foto de um clipe de papel vermelho e lançou o desafio: alguém estaria interessado em trocá-lo por algo de valor igual ou superior? Sua meta era conseguir trocar o clipe velho por uma casa própria. Parece impossível, né? Mas ele conseguiu. Foram 14 trocas, e hoje ele tem uma casa de três quartos!

Kyle disse que seu objetivo com o troca-troca era o de demonstrar que todas as coisas do mundo tem um valor relativo; até mesmo um clipe usado. Por exemplo, de que adianta uma maleta com um milhão de dólares para um homem no deserto? Ele provavelmente trocaria a maleta por um copo d´água. Então, de acordo com Kyle, tudo que fez foi sair em busca de alguém que estivesse com sede.

Mas o joguinho de escambo não foi fácil. Na verdade, uma série de fatores contribuiu para esta troca frutífera e, no início de setembro próximo, Kyle e sua namorada, Dominique Dupuis, se mudarão para a nova casa em Kipling, Saskatchewan.

Bom, vamos dar uma voltinha ao passado, para entender melhor essa montanha-russa de eventos: quando Kyle MacDonald, um escritor freelance, anunciou pela internet que queria trocar o agora famoso clipe vermelho por qualquer coisa de valor mais alto, não sabia exatamente o que aconteceria. Para sua surpresa, alguém respondeu, e assim se deu a primeira troca: uma mulher de Vancouver ofereceu trocar uma caneta em forma de peixe pelo clipe de papel. Ele topou: ela precisava de um clipe e ele também poderia fazer uso de uma caneta. E a regra do jogo era essa: os dois lados deveriam estar precisando do objeto de troca.

Com este sucesso, Kyle ficou todo animadinho. E postou: “Troco esta caneta em forma de peixe por algo melhor! ” E outra pessoa, em Washington, se interessou: a caneta foi trocada por uma maçaneta de madeira, feita a mão. Uma espécie de relíquia, que com certeza valia mais que sua caneta em forma de peixe. E assim foi… Parece história da carochinha, mas não é.

Aos pouquinhos, as coisas foram acontecendo. A maçaneta foi trocada por um fogão de camping, na Califórnia; o fogão por um gerador e, em Nova York, o gerador por um galão de cerveja e uma placa da Budweiser, que foram trocados por um carrinho de andar na neve (snowmobile). Ufa! Deu para ter uma idéia, né? Ele conseguiu até mesmo um convite para gravar um disco, e em abril, pasmem, um contrato de um ano para viver de graça em um apartamento em Pheonix.

O troca-troca de Kyle virou cult na internet, e depois ultrapassou a barreira virtual. Ele fez diversas partipações em programas de rádio e TV no Canadá, nos Estados Unidos, e até mesmo no Japão. E, durante uma dessas apresentações, em um programa de rádio em Los Angeles, sua sorte mudou.

O ator Corbin Bernsen ligou para Kyle e disse que também estaria interessado em fazer uma troca: uma fala remunerada no filme em que estava escrevendo e dirigindo, pelo aluguel grátis. MacDonald quase aceitou. Mas como Corbin Bernsen é rico, e não precisava morar de graca, Kyle teve que arrumar uma solução para que a troca fosse justa. Então botou Corbin na geladeira durante algum tempo, e acabou fazendo a troca do apartamento grátis por uma tarde de diversão com o roqueiro-dinossauro Alice Cooper. Como assim? Que maluquice! Explico:

Kyle conhecia Jody que conhecia Leslie. Leslie queria muito morar de graça por um ano no apartamento de Kyle, afinal estava totalmente endividada. Mas ela não tinha nada de valor para trocar com Kyle. Foi então que pensou no seu chefe. Leslie trabalhava no restaurante de Alice Cooper e pediu para que ele passasse uma tarde com Kyle. E Alice Cooper, que é um roqueiro ensandecido e muito gente fina, logo aceitou. Então a troca foi justa, já que Kyle e fã de carteirinha de Alice Cooper, segundo ele, uma lenda viva! O “Dia com Alice” incluiu uma partida de golfe, uma sessão de brainstorm onde criaram uma música, algumas horas assim… sem fazer nada, e um jantar. Bela troca!

As coisas estavam indo bem para Kyle, mas ele sabia que o melhor estava por vir. Ainda tinha esperança de conseguir sua casa própria. Foi então que o ator Corbin Bernsen entrou de novo da vida de Kyle. Como Corbin é uma celebridade (e elas são excêntricas por natureza , como sabemos), o ator disse que acumulou uma coleção de 6.500 snow globes – aquelas bolinhas de vidro com água que, quando sacudidas, parece que está nevando. Não serve para nada, é um souvenir tipicamente americano. Bom, de acordo com Bersen, uma só não tem valor algum, mas todas juntas “são como pop art”.

Fizeram um trato. Kyle deu seu snow globe da banda Kiss para Corbin, e encorajou os leitores do seu blog a fazerem o mesmo, em troca de fotos autografadas. Nessa altura do campeonato, a história de Kyle já tinha tomado conta dos jornais e das TVs, e chamou a atenção dos moradores da cidadezinha de Kipling, no Canadá.

KIipling é uma dessas cidadezinhas rurais que aparecem em filmes da sessão da tarde. Onde nada acontece e só moram velhinhos. Para se ter uma idéia, só tem 1.140 habitantes. E eles acharam que se fizessem a troca dos sonhos de Kyle, poderiam atrair negócios, turismo e, claro, muita atenção para a cidadezinha-fantasma. Juntaram o dinheiro e compraram uma casa. Sorte de Kyle!

Agora, Kyle, Corbin e os moradores da cidadezinha estão discutindo como será o personagem no filme de Corbin. Mas isso não importa, Kyle conseguiu realizar seu sonho e agora tem sua própria casa. Ninguém sabe ao certo o seu valor, mas parece que, pelo menos antes da fama, ela vale US$ 45 mil.

Enquanto isso, estou aqui na Califórnia, enlouquecida, empacotando minhas coisas, prestes a mudar de casa, de trabalho, etc. Nossa, tem de tudo ao meu redor! Até mesmo um velho par de havaianas, tamanho 35-36, já meio sujinho, mas que está muito na moda! Alguém se interessa?

Veja o Blog the Kyle e todos os objetos que fizeram parte do troca-troca aqui:

http://oneredpaperclip.blogspot.com

Samantha Nogueira é jornalista e correspondente do SRZD nos Estados Unidos.