ELEIÇÕES 2006: O desencanto em alta

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O deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio de Janeiro, enviou ao site SRZD um artigo que publicamos agora. Anexado, o seguinte cabeçalho: “Sidney amigo, aí vai. Não é mais uma resposta à ‘desancada’ que você deu na HH, mas resvala nesses assuntos. Escrevi de tacada, após um domingo de ralação. Mas creio que presta.”

POR Redação SRzd11/09/2006|4 min de leitura

ELEIÇÕES 2006: O desencanto em alta
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É moda hiperbólica do presidente Lula, é possível afirmar que nunca, na história desse país, houve campanha mais fria e eleitorado mais desinteressado. Como consequência, algo que também é causa: não se discute projeto de país – o que deveria ser o centro de nossas preocupações numa campanha eleitoral que leva 126 milhões de brasileiros a escolher presidente, governadores, Câmara dos Deputados, 1/3 do Senado, assembléias estaduais. Tudo tem se reduzido ao maior ou menor gosto por figuras que desfilam na telinha, sem partidos e propostas.

Eleição “nominal”, personalíssima…

O candidato à reeleição que lidera as pesquisas assumiu a postura que sempre criticou nos adversários, e cristalizou a atitude antidemocrática que afirma que postulante com perspectiva de vitória no 1º turno não comparece a debates (o mesmo fazem Serra em SP, Cabral no Rio, Aécio em Minas; coisa de República das bananas, ou, ao menos, de democracia banal). No estilo extremado de “cristão novo”, Lula radicaliza: nem entrevista coletiva concede, nem a sabatina de jornal responde. Um desrespeito ao eleitor, considerado massa de manobra que não precisa de informações, exceto aquelas produzidas e editadas com orientações marqueteiras. No andar de baixo, as campanhas proporcionais são um festival de nomes e números que pouco ou nada dizem. E o abuso do poder econômico continua.

Vejam a tabela: a afixação de faixas em residências varia de R$ 100 a mil reais, dependendo do ponto. Cabos eleitorais são pagos, em média, por R$ 30 a diária. E em certas áreas, ao menos no Rio de Janeiro, campanha só com permissão da “autoridade” local. Há rumores que dão conta de que candidatos clientelistas pagam até R$ 100 mil para ter exclusividade ali, fora as “ofertas” de churrascos e bebidas, com direito a tudo que a lei proíbe: cartazes em postes e passarelas, compra de votos, curral e cabresto garantidos. E a Justiça Eleitoral, não vê nada? Dia desses, um fiscal foi franco comigo: “se o poder público, inclusive oficial de justiça, não vai lá, como é que eu vou? Ali é outro o rei, é outra a lei…” É a falência do sistema eleitoral, é a degeneração da política. A responsabilidade maior é dos candidatos que ajudam a reproduzir essa mixórdia. Quem são eles? Basta ver que tem mais propaganda nessas áreas. Imagine-se o que farão – ou continuarão fazendo – depois de eleitos… Homens de ben$! Enquanto isso, nem nos importamos com fontes alternativas de energia, ampliação da escolarização, democratização dos meios de comunicação e novo padrão digital para tv, reforma agrária, movida cultural, reestruturação política radical, fechamento das torneiras da corrupção, redução de ganhos dos rentistas, novas oportunidades de trabalho para a juventude. O PIB segue medíocre, insuficiente para as demandas da sociedade brasileira, e o PID – Produto Interno de Desecanto – sobe.

O PSOL, recém criado, já disputa esse pleito nacional e não quer ficar apenas na contundência adjetiva de Heloísa Helena, que repercute mas não
incute na população a necessidade de um novo Brasil, com protagonismo popular. É verdade que com um minuto de televisão e rádio não é possível comunicar um novo modelo de país, mas o PSOL e a Frente de Esquerda têm projeto substantivo para começar a reverter o processo de reconcentração de riqueza que se reproduz no Brasil há três décadas, com espasmos como o de agora, nos quais os muito pobres ganham algumas migalhas e os muito ricos enriquecem mais. Nem nossas linhas gerais cabem nesse espaço, mas nesta segunda à noite(11/9), no Clube ASA, rua S. Clemente, 155, o economista e vice Cesar Benjamin estará discutindo esses caminhos e dando um salto de qualidade em nossa campanha, que precisa ser de idéias e causas. A cidadania está convidada.

* deputado federal (PSOL/RJ) e professor de História

É moda hiperbólica do presidente Lula, é possível afirmar que nunca, na história desse país, houve campanha mais fria e eleitorado mais desinteressado. Como consequência, algo que também é causa: não se discute projeto de país – o que deveria ser o centro de nossas preocupações numa campanha eleitoral que leva 126 milhões de brasileiros a escolher presidente, governadores, Câmara dos Deputados, 1/3 do Senado, assembléias estaduais. Tudo tem se reduzido ao maior ou menor gosto por figuras que desfilam na telinha, sem partidos e propostas.

Eleição “nominal”, personalíssima…

O candidato à reeleição que lidera as pesquisas assumiu a postura que sempre criticou nos adversários, e cristalizou a atitude antidemocrática que afirma que postulante com perspectiva de vitória no 1º turno não comparece a debates (o mesmo fazem Serra em SP, Cabral no Rio, Aécio em Minas; coisa de República das bananas, ou, ao menos, de democracia banal). No estilo extremado de “cristão novo”, Lula radicaliza: nem entrevista coletiva concede, nem a sabatina de jornal responde. Um desrespeito ao eleitor, considerado massa de manobra que não precisa de informações, exceto aquelas produzidas e editadas com orientações marqueteiras. No andar de baixo, as campanhas proporcionais são um festival de nomes e números que pouco ou nada dizem. E o abuso do poder econômico continua.

Vejam a tabela: a afixação de faixas em residências varia de R$ 100 a mil reais, dependendo do ponto. Cabos eleitorais são pagos, em média, por R$ 30 a diária. E em certas áreas, ao menos no Rio de Janeiro, campanha só com permissão da “autoridade” local. Há rumores que dão conta de que candidatos clientelistas pagam até R$ 100 mil para ter exclusividade ali, fora as “ofertas” de churrascos e bebidas, com direito a tudo que a lei proíbe: cartazes em postes e passarelas, compra de votos, curral e cabresto garantidos. E a Justiça Eleitoral, não vê nada? Dia desses, um fiscal foi franco comigo: “se o poder público, inclusive oficial de justiça, não vai lá, como é que eu vou? Ali é outro o rei, é outra a lei…” É a falência do sistema eleitoral, é a degeneração da política. A responsabilidade maior é dos candidatos que ajudam a reproduzir essa mixórdia. Quem são eles? Basta ver que tem mais propaganda nessas áreas. Imagine-se o que farão – ou continuarão fazendo – depois de eleitos… Homens de ben$! Enquanto isso, nem nos importamos com fontes alternativas de energia, ampliação da escolarização, democratização dos meios de comunicação e novo padrão digital para tv, reforma agrária, movida cultural, reestruturação política radical, fechamento das torneiras da corrupção, redução de ganhos dos rentistas, novas oportunidades de trabalho para a juventude. O PIB segue medíocre, insuficiente para as demandas da sociedade brasileira, e o PID – Produto Interno de Desecanto – sobe.

O PSOL, recém criado, já disputa esse pleito nacional e não quer ficar apenas na contundência adjetiva de Heloísa Helena, que repercute mas não
incute na população a necessidade de um novo Brasil, com protagonismo popular. É verdade que com um minuto de televisão e rádio não é possível comunicar um novo modelo de país, mas o PSOL e a Frente de Esquerda têm projeto substantivo para começar a reverter o processo de reconcentração de riqueza que se reproduz no Brasil há três décadas, com espasmos como o de agora, nos quais os muito pobres ganham algumas migalhas e os muito ricos enriquecem mais. Nem nossas linhas gerais cabem nesse espaço, mas nesta segunda à noite(11/9), no Clube ASA, rua S. Clemente, 155, o economista e vice Cesar Benjamin estará discutindo esses caminhos e dando um salto de qualidade em nossa campanha, que precisa ser de idéias e causas. A cidadania está convidada.

* deputado federal (PSOL/RJ) e professor de História

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