INTERNACIONAL: Na guerra, EUA buscam a própria identidade

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Pesquisadora afirma que questões culturais estão por trás de motivos que levam norte-americanos à guerra.

POR Redação SRzd13/09/2006|3 min de leitura

INTERNACIONAL: Na guerra, EUA buscam a própria identidade
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Nem petróleo, nem hegemonia econômica. Os principais motivos para as ações militares dos Estados Unidos no Oriente Médio estão nos filmes, na literatura, nas charges e nos demais elementos que formam a identidade norte-americana e aparecem nas manifestações da cultura popular.
A conclusão está num estudo realizado pela cientista política Erica Simone Almeida Resende, doutoranda do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

A pesquisa de Erica segue uma linha que rompe com as correntes tradicionais nos estudos de política e relações internacionais. A idéia é dar mais atenção às questões culturais e procurar entender como elas influenciam estratégias políticas. Segundo a pesquisadora, as abordagens tradicionais tendem a relacionar as atitudes norte-americanas a interesses capitalistas ou às vontades de um pequeno grupo no governo, numa espécie de conspiração. “A maioria dos estudos acaba subestimando o fato de eles acreditarem no que dizem”, afirma Erica. Ao invadirem o Iraque, por exemplo, acreditavam que realmente seriam capazes de instalar uma democracia e que esta era a melhor solução.

A cientista política cita, como exemplos dos elementos que formam a identidade norte-americana, o individualismo, a ética do trabalho (idéia de que é o trabalho que dá valor ao ser humano) e a idéia do “fardo do homem branco”, segundo a qual o homem branco teria o papel de levar a “civilização” para os povos “bárbaros” ou “selvagens”. “Esses elementos estão presentes no cotidiano e se perpetuam historicamente entre os norte-americanos.”

Agressividade dos EUA é “um tiro no pé”

O estudo também abordou a passagem, na segurança nacional norte-americana, da Doutrina da Contenção para a Doutrina da Prevenção. A primeira, vigente durante a Guerra Fria, se caracterizava por uma postura defensiva e era aberta à cooperação internacional. A segunda, fundamentada pela Casa Branca em 2002, aposta num comportamento preventivo e agressivo, que considera necessário acabar com as supostas ameaças antes que elas se concretizem, mesmo que isso contrarie regulamentos internacionais.

Para a cientista política, a adoção dessa nova estratégia foi um “tiro no próprio pé” por parte dos EUA. “Foi a primeira vez na História que um país em situação extremamente favorável se dispôs a alterar os fatores que condicionaram justamente essa situação, como os pactos internacionais.” Segundo ela, trata-se de uma atitude mais condizente com o “projeto de identidade” norte-americano do que com os interesses econômicos ou de hegemonia que os EUA pudessem ter. “É como se, ao invadir o Afeganistão e o Iraque ou ao ameaçar o Irã, o país estivesse sendo coerente com a idéia de ‘ser americano’, que inclui uma repulsa à possibilidade de ser considerado ‘covarde’ e uma idéia de dever, seja para defender a própria honra ou para ‘libertar’ povos.”

Para a cientista política, é necessário fugir de análises simplistas sobre as atitudes norte-americanas. “Nós, brasileiros, não entendemos os Estados Unidos. Há pouca bibliografia e pesquisa nessa área de análises culturais, e muita opinião. Os artigos publicados na imprensa, por exemplo, não vão muito além da superficialidade. Geralmente, ou acabam caindo numa explicação que se baseia apenas em interesses econômicos, ou dão margem à idéia de que há uma conspiração”, critica.

Fonte: Agência USP de Notícias

Nem petróleo, nem hegemonia econômica. Os principais motivos para as ações militares dos Estados Unidos no Oriente Médio estão nos filmes, na literatura, nas charges e nos demais elementos que formam a identidade norte-americana e aparecem nas manifestações da cultura popular.
A conclusão está num estudo realizado pela cientista política Erica Simone Almeida Resende, doutoranda do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

A pesquisa de Erica segue uma linha que rompe com as correntes tradicionais nos estudos de política e relações internacionais. A idéia é dar mais atenção às questões culturais e procurar entender como elas influenciam estratégias políticas. Segundo a pesquisadora, as abordagens tradicionais tendem a relacionar as atitudes norte-americanas a interesses capitalistas ou às vontades de um pequeno grupo no governo, numa espécie de conspiração. “A maioria dos estudos acaba subestimando o fato de eles acreditarem no que dizem”, afirma Erica. Ao invadirem o Iraque, por exemplo, acreditavam que realmente seriam capazes de instalar uma democracia e que esta era a melhor solução.

A cientista política cita, como exemplos dos elementos que formam a identidade norte-americana, o individualismo, a ética do trabalho (idéia de que é o trabalho que dá valor ao ser humano) e a idéia do “fardo do homem branco”, segundo a qual o homem branco teria o papel de levar a “civilização” para os povos “bárbaros” ou “selvagens”. “Esses elementos estão presentes no cotidiano e se perpetuam historicamente entre os norte-americanos.”

Agressividade dos EUA é “um tiro no pé”

O estudo também abordou a passagem, na segurança nacional norte-americana, da Doutrina da Contenção para a Doutrina da Prevenção. A primeira, vigente durante a Guerra Fria, se caracterizava por uma postura defensiva e era aberta à cooperação internacional. A segunda, fundamentada pela Casa Branca em 2002, aposta num comportamento preventivo e agressivo, que considera necessário acabar com as supostas ameaças antes que elas se concretizem, mesmo que isso contrarie regulamentos internacionais.

Para a cientista política, a adoção dessa nova estratégia foi um “tiro no próprio pé” por parte dos EUA. “Foi a primeira vez na História que um país em situação extremamente favorável se dispôs a alterar os fatores que condicionaram justamente essa situação, como os pactos internacionais.” Segundo ela, trata-se de uma atitude mais condizente com o “projeto de identidade” norte-americano do que com os interesses econômicos ou de hegemonia que os EUA pudessem ter. “É como se, ao invadir o Afeganistão e o Iraque ou ao ameaçar o Irã, o país estivesse sendo coerente com a idéia de ‘ser americano’, que inclui uma repulsa à possibilidade de ser considerado ‘covarde’ e uma idéia de dever, seja para defender a própria honra ou para ‘libertar’ povos.”

Para a cientista política, é necessário fugir de análises simplistas sobre as atitudes norte-americanas. “Nós, brasileiros, não entendemos os Estados Unidos. Há pouca bibliografia e pesquisa nessa área de análises culturais, e muita opinião. Os artigos publicados na imprensa, por exemplo, não vão muito além da superficialidade. Geralmente, ou acabam caindo numa explicação que se baseia apenas em interesses econômicos, ou dão margem à idéia de que há uma conspiração”, critica.

Fonte: Agência USP de Notícias

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