Gravações apontam que o presidente Jair Bolsonaro teria integrado esquema de devolução de salários de assessores no período compreendido entre 1991 a 2018, nos mandatos de deputado federal. A apuração, os áudios e os vídeos foram divulgados nesta segunda-feira (5) pela jornalista Juliana Dal Piva no site UOL.
De acordo com a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, Bolsonaro demitiu o irmão dela, André Siqueira Valle, porque ele não estaria cumprindo com o acordo de devolver o valor combinado. O presidente não só integrava o esquema, como era quem cobrava a devolução dos salários dos assessores de seu gabinete. Andréa e André são irmãos de Ana Cristina Valle, segunda esposa de Jair e mãe de Jair Renan Bolsonaro.
“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’. Não sei o que deu pra ele”, disse Andrea no áudio.
Na época, André chegou a morar na casa de Jair e da irmã, no Rio de Janeiro. Atualmente, ele vive em Resende, no interior do Estado, onde reside a maior parte da família de Ana Cristina.
Antes de ser nomeado na Câmara Federal por Jair, onde ficou entre dezembro de 2006 e outubro de 2007 na Câmara Federal, André foi funcionário do gabinete de Carlos Bolsonaro por dois períodos – entre agosto de 2001 e fevereiro de 2005 e de fevereiro a novembro de 2006.
O conteúdo obtido pela jornalista é do dia 6 de outubro de 2018, véspera do primeiro turno das eleições. As gravações mostram que Andrea estava preocupada com o fim da “mesada” que recebida como funcionária no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, de onde foi exonerada em agosto do mesmo ano.
A fisiculturista confessa que sabe “muita coisa”, que pode “ferrar a vida” de Jair Bolsonaro e de seus filhos.
“Não é pouca coisa que eu sei, não. É muita coisa que eu posso ferrar a vida do Flávio, posso ferrar a vida do Jair, posso ferrar a vida da Cristina. Entendeu? Então, é por isso que eles têm medo e manda (SIC) eu ficar quietinha, não sei o que, tal. Entendeu? É esse negócio aí”, diz.
Andrea ainda revela que além de Fabrício Queiroz, o coronel do Exército Guilherme dos Santos Hudson, ex-colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), fazia a coleta do dinheiro junto aos funcionários.
“O tio Hudson também já até tirou o corpo fora porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levara e buscava no banco era ele”, disse ela.
“Na hora que eu estava aí fornecendo também e ele estava me ajudando porque eu ficava com mil e pouco e ele ficava com sete mil reais, então assim, certo ou errado agora já foi, não tem jeito de voltar atrás”, completou.
“As declarações indicam que Jair Bolsonaro participava diretamente da rachadinha: nome popular para uma prática que configura o crime de peculato (mau uso de dinheiro público). A primeira reportagem mostra que familiar que não quis devolver valor combinado do salário foi retirado do esquema. A fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, afirma que Bolsonaro demitiu o irmão dela porque ele se recusou a devolver a maior parte do salário de como assessor”, aponta a jornalista.
A reportagem do UOL entrou em contato com o advogado do presidente, Frederick Wassef, que disse que os fatos se tratam de inverdades. “São narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos”.