No centro de guerra santa, ex-presidente Lula já foi alvo de fake news em 1989

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A campanha eleitoral começou nos últimos dias e a temperatura, como era esperado, já está bastante elevada. Trocas de acusações, militância engajada nas redes sociais e nas ruas e indefinição do cenário que só as urnas vão revelar no próximo mês de outubro. Outro elemento, porém, também está presente no caldeirão político brasileiro; as fake […]

POR Redação SRzd25/08/2022|7 min de leitura

No centro de guerra santa, ex-presidente Lula já foi alvo de fake news em 1989

Lula e Collor em 1989. Foto: Alesp – acervo

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A campanha eleitoral começou nos últimos dias e a temperatura, como era esperado, já está bastante elevada. Trocas de acusações, militância engajada nas redes sociais e nas ruas e indefinição do cenário que só as urnas vão revelar no próximo mês de outubro.

Outro elemento, porém, também está presente no caldeirão político brasileiro; as fake news. Nome novo, para velhas práticas. Já na primeira tentativa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de chegar ao Palácio do Planalto esse fenômeno perigoso fez parte da disputa e pode ter contribuído decisivamente para o resultado daquele pleito.


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O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral têm trabalhado, sobretudo na figura do ministro Alexandre de Moraes, para enfrentar a complexa engrenagem por de trás da produção das mentiras espalhadas na web.

Nesta semana, Moraes atendeu pedido de busca e apreensão solicitado pela Polícia Federal contra empresários bolsonaristas que supostamente pregavam um golpe em caso de vitória de Lula. A jurisprudência da atuação de Moraes neste caso se dá pelo andamento do inquérito das fake news, que tramita na Suprema Corte.

Antes, outros aliados de Bolsonaro foram presos, como Daniel Silveira e Roberto Jefferson, por discursos que atentavam contra o Estado Democrático de Direito. Vídeos têm sido retirados do ar, neste caso, não apenas do lado do atual presidente e de seus aliados.

Se o fenômeno das fake news e da troca de farpas e retóricas não é um conjunto novo de movimentos na política nacional, desta vez, tem maior proporção, justamente pela rápida capacidade de disseminação de informações pelas redes sociais.

Ainda sim, não se chegou ao que já aconteceu na primeira eleição pós-Ditadura. Naquela ocasião, os ataques e as mentiras ultrapassaram o confronto político e ideológico.

Nem a chamada “guerra Santa” atual, onde Lula tem sido acusado de que, caso eleito, vá mandar perseguir cristãos e queimar igrejas, teoria repercutida inclusive pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, chegam perto do que se viu em 1989.

Na primeira eleição direta no país após 25 anos de Ditadura, o Partido dos Trabalhadores ainda era uma sigla pequena, mais ideológica e identificada com os conceitos das filosofias socialistas. No começo das movimentações para o pleito, que contou com grande mobilização popular e um povo sedento em poder voltar a escolher seu presidente, o ex-metalúrgico do Grande ABC paulista era considerado um “azarão”.

Na largada da corrida presidencial, os holofotes se voltavam para o apresentador e dono do SBT, Silvio Santos. Mas articulações de bastidores nunca totalmente esclarecidas, forçaram a impugnação da candidatura do animador.

Entre os favoritos, estavam nomes de peso da política nacional; Ulysses Guimarães, do PMDB, Mário Covas, do recém-fundado PSDB, que aglutinou boa parte de dissidentes do partido de Ulysses, e Leonel Brizola, do PDT. Estes três, formavam um bloco mais progressista e vinham com a bagagem da luta contra o regime militar e pela redemocratização.

No campo conservador, Paulo Maluf, do extinto PDS, que carregava consigo o grupo da Arena, partido da base dos militares, Aureliano Chaves, do PFL, Guilherme Afif Domingos, do PL, e Fernando Collor de Mello, da legenda de aluguel PRN.

Com o desenrolar da campanha, Collor ganhou projeção com um discurso contundente de combate aos “marajás”, oposição radical ao governo da época, de José Sarney, e apoio de grande parte da mídia e do empresariado. Como estratégia, não compareceu aos históricos debates de 89, assumiu a liderança das pesquisas e garantiu uma vaga no segundo turno.

Do outro lado, a acirrada disputa para ser o oponente do ex-governador das Alagoas agitou o país, que parou para assistir aos confrontos na televisão e invadiu às ruas para participar dos comícios cheios de gente e esperança. Enquanto os adversários se digladiavam na TV, Collor “surfava” na onda de se consolidar como novidade, acertando em cheio na retórica, nada bem construída pelos demais, que discutiam questões menores, enquanto o país se afundava na inflação e no empobrecimento crescente.

Em um dos momentos mais marcantes daquela campanha, Brizola e Maluf travam embate num dos encontros promovidos pela TV Bandeirantes. Embora um prato saboroso para quem assistia, o confronto deixava claro o espaço aberto para aqueles que chegariam na disputa final.

+ ‘Filhote da ditadura’; relembre momento histórico no debate da Band:

Com a abertura das urnas, Lula superou Brizola, por pequena diferença; 17,18% a 16,51%, e avançou para a segunda etapa do pleito. Covas ficou em quarto, Maluf, em quinto. Collor venceu, com 30,47% dos votos.

A tão falada polarização dos dias atuais, também não é novidade. A eleição de 1989 foi marcada, justamente, por esse lugar retórico. Collor era o candidato da família, do capital e da moralidade. Lula era a ameaça institucional e o perigo da volta do “fantasma” do comunismo nas Américas.

De “café com leite”, Lula virou protagonista com a franca ascensão no segundo turno. Recebeu apoio de todos os candidatos de centro e de esquerda. Juntaram-se ao sindicalista as igrejas ligadas à teoria da libertação, os intelectuais e boa parte da classe artística. É nessa última adesão que surge o jingle eleitoral mais famoso do
país, gravado por Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan em clipe com a presença de dezenas de artistas, e repaginado este ano.

+ Lulá lá…; o clipe e o jingle histórico: 

Com o avanço de Lula nas pesquisas, a campanha mudou de curso e tornou-se um festival de baixarias e agressões pessoais. O auge veio nos últimos dias do horário eleitoral. No programa de Collor, uma ex-companheira do candidato do PT aparece dizendo que ele teria lhe pedido para abortar a filha do casal, Lurian. A garota, num contra-ataque, aparece no programa de Lula, que desmente a versão da mulher.

Desta vez, Fernando Collor comparece ao debate, promovido às vésperas da votação e que entrou para a história, não só da política nacional, mas também da televisão. O Jornal Nacional, líder absoluto de audiência e formador de opinião de grande parte do povo brasileiro nos anos 80, exibe uma edição do confronto, feita para favorecer Collor, apoiado publicamente pelo dono da TV Globo, Roberto Marinho, em manobra confessada anos depois pelos diretores do jornal.

Cercada de expectativa, a apuração, ainda lenta contando os votos dos brasileiros registrados nas cédulas de papel, confirmou a vitória de Collor por pouco mais de 4 milhões de diferença; 53,03% contra 46,97% de Lula.

Além de usar questões pessoais contra Lula, a campanha de Collor também disseminou fake news sobre um eventual governo petista. Eram comuns panfletos espalhados pelas cidades dizendo que casas ou apartamentos com mais de dois quartos teriam de abrigar os mais pobres, assim como quem tivesse mais do que um automóvel, teria de ceder o segundo.

Se estas manobras e propagação de mentiras foram decisivas para o resultado final, não há como mensurar. No entanto, a necessidade de atuação rigorosas das autoridades diante desse cenário precisa ser ampliada nas próximas semanas que acontecem uma das eleições mais complexas da vida brasileira, para que cada cidadão possa tomar sua decisão de acordo com as informações verdadeiras sobre o que falam, pensam e como agem cada candidato.

A campanha eleitoral começou nos últimos dias e a temperatura, como era esperado, já está bastante elevada. Trocas de acusações, militância engajada nas redes sociais e nas ruas e indefinição do cenário que só as urnas vão revelar no próximo mês de outubro.

Outro elemento, porém, também está presente no caldeirão político brasileiro; as fake news. Nome novo, para velhas práticas. Já na primeira tentativa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de chegar ao Palácio do Planalto esse fenômeno perigoso fez parte da disputa e pode ter contribuído decisivamente para o resultado daquele pleito.


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+ Datafolha mostra escolha no segundo turno de quem descarta Lula e Bolsonaro

+ Ciro poupa Lula em sabatina no JN, faz propostas e anuncia lei antiganância


O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral têm trabalhado, sobretudo na figura do ministro Alexandre de Moraes, para enfrentar a complexa engrenagem por de trás da produção das mentiras espalhadas na web.

Nesta semana, Moraes atendeu pedido de busca e apreensão solicitado pela Polícia Federal contra empresários bolsonaristas que supostamente pregavam um golpe em caso de vitória de Lula. A jurisprudência da atuação de Moraes neste caso se dá pelo andamento do inquérito das fake news, que tramita na Suprema Corte.

Antes, outros aliados de Bolsonaro foram presos, como Daniel Silveira e Roberto Jefferson, por discursos que atentavam contra o Estado Democrático de Direito. Vídeos têm sido retirados do ar, neste caso, não apenas do lado do atual presidente e de seus aliados.

Se o fenômeno das fake news e da troca de farpas e retóricas não é um conjunto novo de movimentos na política nacional, desta vez, tem maior proporção, justamente pela rápida capacidade de disseminação de informações pelas redes sociais.

Ainda sim, não se chegou ao que já aconteceu na primeira eleição pós-Ditadura. Naquela ocasião, os ataques e as mentiras ultrapassaram o confronto político e ideológico.

Nem a chamada “guerra Santa” atual, onde Lula tem sido acusado de que, caso eleito, vá mandar perseguir cristãos e queimar igrejas, teoria repercutida inclusive pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, chegam perto do que se viu em 1989.

Na primeira eleição direta no país após 25 anos de Ditadura, o Partido dos Trabalhadores ainda era uma sigla pequena, mais ideológica e identificada com os conceitos das filosofias socialistas. No começo das movimentações para o pleito, que contou com grande mobilização popular e um povo sedento em poder voltar a escolher seu presidente, o ex-metalúrgico do Grande ABC paulista era considerado um “azarão”.

Na largada da corrida presidencial, os holofotes se voltavam para o apresentador e dono do SBT, Silvio Santos. Mas articulações de bastidores nunca totalmente esclarecidas, forçaram a impugnação da candidatura do animador.

Entre os favoritos, estavam nomes de peso da política nacional; Ulysses Guimarães, do PMDB, Mário Covas, do recém-fundado PSDB, que aglutinou boa parte de dissidentes do partido de Ulysses, e Leonel Brizola, do PDT. Estes três, formavam um bloco mais progressista e vinham com a bagagem da luta contra o regime militar e pela redemocratização.

No campo conservador, Paulo Maluf, do extinto PDS, que carregava consigo o grupo da Arena, partido da base dos militares, Aureliano Chaves, do PFL, Guilherme Afif Domingos, do PL, e Fernando Collor de Mello, da legenda de aluguel PRN.

Com o desenrolar da campanha, Collor ganhou projeção com um discurso contundente de combate aos “marajás”, oposição radical ao governo da época, de José Sarney, e apoio de grande parte da mídia e do empresariado. Como estratégia, não compareceu aos históricos debates de 89, assumiu a liderança das pesquisas e garantiu uma vaga no segundo turno.

Do outro lado, a acirrada disputa para ser o oponente do ex-governador das Alagoas agitou o país, que parou para assistir aos confrontos na televisão e invadiu às ruas para participar dos comícios cheios de gente e esperança. Enquanto os adversários se digladiavam na TV, Collor “surfava” na onda de se consolidar como novidade, acertando em cheio na retórica, nada bem construída pelos demais, que discutiam questões menores, enquanto o país se afundava na inflação e no empobrecimento crescente.

Em um dos momentos mais marcantes daquela campanha, Brizola e Maluf travam embate num dos encontros promovidos pela TV Bandeirantes. Embora um prato saboroso para quem assistia, o confronto deixava claro o espaço aberto para aqueles que chegariam na disputa final.

+ ‘Filhote da ditadura’; relembre momento histórico no debate da Band:

Com a abertura das urnas, Lula superou Brizola, por pequena diferença; 17,18% a 16,51%, e avançou para a segunda etapa do pleito. Covas ficou em quarto, Maluf, em quinto. Collor venceu, com 30,47% dos votos.

A tão falada polarização dos dias atuais, também não é novidade. A eleição de 1989 foi marcada, justamente, por esse lugar retórico. Collor era o candidato da família, do capital e da moralidade. Lula era a ameaça institucional e o perigo da volta do “fantasma” do comunismo nas Américas.

De “café com leite”, Lula virou protagonista com a franca ascensão no segundo turno. Recebeu apoio de todos os candidatos de centro e de esquerda. Juntaram-se ao sindicalista as igrejas ligadas à teoria da libertação, os intelectuais e boa parte da classe artística. É nessa última adesão que surge o jingle eleitoral mais famoso do
país, gravado por Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan em clipe com a presença de dezenas de artistas, e repaginado este ano.

+ Lulá lá…; o clipe e o jingle histórico: 

Com o avanço de Lula nas pesquisas, a campanha mudou de curso e tornou-se um festival de baixarias e agressões pessoais. O auge veio nos últimos dias do horário eleitoral. No programa de Collor, uma ex-companheira do candidato do PT aparece dizendo que ele teria lhe pedido para abortar a filha do casal, Lurian. A garota, num contra-ataque, aparece no programa de Lula, que desmente a versão da mulher.

Desta vez, Fernando Collor comparece ao debate, promovido às vésperas da votação e que entrou para a história, não só da política nacional, mas também da televisão. O Jornal Nacional, líder absoluto de audiência e formador de opinião de grande parte do povo brasileiro nos anos 80, exibe uma edição do confronto, feita para favorecer Collor, apoiado publicamente pelo dono da TV Globo, Roberto Marinho, em manobra confessada anos depois pelos diretores do jornal.

Cercada de expectativa, a apuração, ainda lenta contando os votos dos brasileiros registrados nas cédulas de papel, confirmou a vitória de Collor por pouco mais de 4 milhões de diferença; 53,03% contra 46,97% de Lula.

Além de usar questões pessoais contra Lula, a campanha de Collor também disseminou fake news sobre um eventual governo petista. Eram comuns panfletos espalhados pelas cidades dizendo que casas ou apartamentos com mais de dois quartos teriam de abrigar os mais pobres, assim como quem tivesse mais do que um automóvel, teria de ceder o segundo.

Se estas manobras e propagação de mentiras foram decisivas para o resultado final, não há como mensurar. No entanto, a necessidade de atuação rigorosas das autoridades diante desse cenário precisa ser ampliada nas próximas semanas que acontecem uma das eleições mais complexas da vida brasileira, para que cada cidadão possa tomar sua decisão de acordo com as informações verdadeiras sobre o que falam, pensam e como agem cada candidato.

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