The Cure (e a linguiça) no Hollywood Rock

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Banda de Robert Smith apresentou um roteiro de 28 canções, cobrindo todas as fases de sua carreira, em duas horas e meia de espetáculo.

POR Redação SRzd09/12/2009|8 min de leitura

The Cure (e a linguiça) no Hollywood Rock
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The Cure (e a linguiça) no Hollywood Rock | Foto: Reprodução de TV

Pode parecer brincadeira, mas o show que o The Cure fez na edição de 1996, no Hollywood Rock, no Rio de Janeiro quase ficou comprometido por conta de uma singela linguiça. Explicando melhor: na manhã de 22 de janeiro, dia seguinte do show em São Paulo, o The Cure optou por pegar um ônibus ao invés de um avião. Uma paradinha em um barzinho na Via Dutra, uma linguica, e Robert Smith teve que ficar alguns dias no banheiro. Sorte que quatro dias depois já estava tudo certo com o vocalista e guitarrista de uma das bandas mais amadas da década de 80.

E estava tudo certo mesmo. O show realizado no Rio teve um repertório idêntico ao de São Paulo, com generosas 28 canções espalhadas em duas horas e meia de espetáculo.

Na ocasião, o último álbum gravado pelo The Cure fora “Wish”, lançado em 1992, e que explodiu nas paradas do mundo todo devido ao estrondoso sucesso de “Friday I’m In Love”. A “Wish Tour” se restringiu ao ano de 92. No ano seguinte, o The Cure fez apenas um show. Em 1994, o recesso foi total, e em 95, Robert Smith e companhia subiram ao palco apenas 11 vezes. Ou seja, os shows no Rio e em São Paulo, os dois únicos antes do início da turnê do álbum “Wild Mood Swings”, que aconteceu em maio, foram o momento ideal para o conjunto tirar a ferrugem dos grandes sucessos e testar novas canções. Vale registrar que um dos motivos da vinda do grupo foi uma petição assinada por milhares de fãs pedindo a presença da banda no Brasil.

E foi exatamente isso que o The Cure fez no dia 26 de janeiro de 1996, em uma Praça da Apoteose praticamente lotada, e que antes havia assistido aos shows do Pato Fu, Supergrass, White Zombie e Smashing Pumpkins. Com relação a banda de Billy Corgan, havia uma grande expectativa de que o seu show superasse o do The Cure, eis que os Pumpkins vinham de dois álbuns antológicos (“Siamese Dream”, de 1993, e “Mellon Collie And The Infinite Sadness”, de 95), mas a opção do sempre estranho Billy Corgan em privilegiar canções desconhecidas, fez com que o seu show passasse praticamente em branco.

Bom para o The Cure, que subiu ao palco com estimadas 20 mil pessoas a espera do grande show da noite. Em pouco mais de 270 minutos, Robert Smith (como de costume, com uma calça preta e um camisão quadriculado), Perry Bamonte, Jason Cooper, Simon Gallup (usando vestido) e Roger O’Donnell apresentaram sucessos de todas as fases da carreira da banda e algumas canções que seriam lançadas poucos meses depois no razoável álbum “Wild Mood Swings”.

O show começou exatamente com uma canção nova. “Want”, como já era de se esperar, não empolgou. Mas que a atitude da banda foi louvável em começar um show para um público grande, no Brasil – onde qualquer um se contenta com os batidos “greatest hits” -, com uma música absolutamente inédita, ah, isso foi.

Mas quando a guitarra de Perry Bamonte anunciou os primeiros acordes de “Fascination Street” (faixa de “Disintegration”, a obra-prima do Cure, lançada em 1989), a plateia pôde, enfim, ter a certeza de que aquilo realmente se tratava de um show do The Cure. “A Night Like This”, faixa de “The Head On The Door” (1985), manteve a empolgação do público, assim como a melancólica e belíssima “Pictures Of You”. Um “obrigado” e um “boa noite” foram algumas das pouquíssimas frases pronunciadas por Smith durante o show.

Aliás, o português quase perfeito de Robert Smith chamava ainda mais a atenção, quando era possível notar no telão que o vocalista já tinha, assim como no show em São Paulo, bebido todas. A revista “Bizz”, na sua edição de fevereiro de 96, observou bem esse aspecto, com relação ao show paulista: “Com uma pronúncia meio alterada, Robert Smith quis dividir com o Pacaembu a alegria de estar fazendo um grande show. ‘Stubibaço’ (estou bebaço), leu ele, da cola anotada em sua mão, entre várias outras simpáticas frases em português. O Cure tinha encomendado nada menos do que 36 tipos diferentes de goró para esquentar antes de sua apresentação. Na noite anterior, Smith havia tomado umas e outras com Robert Plant e teve de ser carregado para o seu quarto”.

De porre ou não, o The Cure fez um dos shows shows mais profissionais da edição 1996 do Hollywood Rock, que também teve nada menos do que Robert Plant e Jimmy Page na noite seguinte. (Tanta gente que quer ver um show do Led Zeppelin mesmo sem Robert Plant, e nem imagina que o verdadeiro Led Zeppelin – dentro do possível – já passou pelo Brasil…)

A primeira reação mais entusiasmada do público aconteceu com “Lullaby”, momento em que Smith (com a sua camisa de flanela debaixo de 38 graus em um verão carioca daqueles) reclamou do calor. Depois desse aquecimento com alguns velhos sucessos, o The Cure começou a privilegiar canções mais recentes, como “Trust”, High” (ambas de “Wish) e a então inédita “Jupiter Crash”. A rara “Dressing Up” (de “The Top”) e os singles “The Walk” e “Let’s Go To Bed” voltaram a aquecer o público, que se esbaldou de vez com “Friday I’m Love” e “Inbetween Days”, que foi o momento mais animado do show. No entanto, quando o público já estava na palma da mão, o The Cure mandou, antes de sair do palco, canções nem tão conhecidas, como “From The Edge Of The Deep Green Sea”, “End” (as duas de “Wish”) e “Disintegration”.

Uma hora e quarenta minutos haviam se passado, mas o The Cure ainda queria mostrar muito mais coisa. No total, a banda voltou três vezes ao palco, e o tal bis acabou tendo quase uma hora de duração. No primeiro retorno, Robert Smith e seus colegas mandaram quatro canções do fundo do baú, todas presentes no álbum de estreia da banda ou em singles lançados naquele período. “Three Imaginary Boys”, “Boys Don’t Cry” (dá para imaginar a catarse coletiva durante essa canção?), “10:15 Saturday Night” e “Killing An Arab”, canção raramente tocada na década de 90 e, muito menos agora.

Mais uma saída do palco e – surpresa! – Robert Smith volta com a camisa canarinho da seleção. Contraste total com o estilo da banda. Mas a plateia gostou. E gostou ainda mais quando Robert Smith anunciou mais uma canção inédita, a pop “Mint Car” (não executada no show paulista), que acabou se transformando no principal hit de “Wild Mood Swings”, lançado cinco meses após a apresentação no Rio. “Close To Me”, hit de “The Head On The Door” e “Why Can’t I Be You” (de “Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me”, lançado em 1987) encerraram o segundo bis em alto estilo.

Nesse momento, o relógio já marcava mais de duas e meia da manhã e o público, cansado da maratona que se iniciara às seis da tarde, já começava a deixar a Praça da Apoteose, principalmente os fãs de ocasião, que já haviam se descabelado com “Friday I’m In Love” e “Boys Don’t Cry”. Mas os fãs que aguardavam um retorno do The Cure havia quase dez anos, não arredaram o pé. E certamente não se arrependeram quando o baixo de Simon Gallup mandou a melodia irresistível de “Charlotte Sometimes”, single que a banda lançou em 1981. A derradeira “A Forest” (faixa de “Seventeen Seconds”, de 1980), com a sua versão de mais de dez minutos de duração, enfim, não deixou dúvidas de que a plateia acabara de presenciar um dos grandes shows de todas as edições do Hollywood Rock.

Logo após “A Forest”, Robert Smith disse ao microfone: “Thank you very much. I see you again in the next ten years”. Já estamos em 2009! Alguém tem que avisar para o vocalista que a promessa dele venceu…

Em seguida, uma rápida entrevista de Robert Smith a MTV, durante o Hollywood Rock:

The Cure (e a linguiça) no Hollywood Rock | Foto: Reprodução de TV

Pode parecer brincadeira, mas o show que o The Cure fez na edição de 1996, no Hollywood Rock, no Rio de Janeiro quase ficou comprometido por conta de uma singela linguiça. Explicando melhor: na manhã de 22 de janeiro, dia seguinte do show em São Paulo, o The Cure optou por pegar um ônibus ao invés de um avião. Uma paradinha em um barzinho na Via Dutra, uma linguica, e Robert Smith teve que ficar alguns dias no banheiro. Sorte que quatro dias depois já estava tudo certo com o vocalista e guitarrista de uma das bandas mais amadas da década de 80.

E estava tudo certo mesmo. O show realizado no Rio teve um repertório idêntico ao de São Paulo, com generosas 28 canções espalhadas em duas horas e meia de espetáculo.

Na ocasião, o último álbum gravado pelo The Cure fora “Wish”, lançado em 1992, e que explodiu nas paradas do mundo todo devido ao estrondoso sucesso de “Friday I’m In Love”. A “Wish Tour” se restringiu ao ano de 92. No ano seguinte, o The Cure fez apenas um show. Em 1994, o recesso foi total, e em 95, Robert Smith e companhia subiram ao palco apenas 11 vezes. Ou seja, os shows no Rio e em São Paulo, os dois únicos antes do início da turnê do álbum “Wild Mood Swings”, que aconteceu em maio, foram o momento ideal para o conjunto tirar a ferrugem dos grandes sucessos e testar novas canções. Vale registrar que um dos motivos da vinda do grupo foi uma petição assinada por milhares de fãs pedindo a presença da banda no Brasil.

E foi exatamente isso que o The Cure fez no dia 26 de janeiro de 1996, em uma Praça da Apoteose praticamente lotada, e que antes havia assistido aos shows do Pato Fu, Supergrass, White Zombie e Smashing Pumpkins. Com relação a banda de Billy Corgan, havia uma grande expectativa de que o seu show superasse o do The Cure, eis que os Pumpkins vinham de dois álbuns antológicos (“Siamese Dream”, de 1993, e “Mellon Collie And The Infinite Sadness”, de 95), mas a opção do sempre estranho Billy Corgan em privilegiar canções desconhecidas, fez com que o seu show passasse praticamente em branco.

Bom para o The Cure, que subiu ao palco com estimadas 20 mil pessoas a espera do grande show da noite. Em pouco mais de 270 minutos, Robert Smith (como de costume, com uma calça preta e um camisão quadriculado), Perry Bamonte, Jason Cooper, Simon Gallup (usando vestido) e Roger O’Donnell apresentaram sucessos de todas as fases da carreira da banda e algumas canções que seriam lançadas poucos meses depois no razoável álbum “Wild Mood Swings”.

O show começou exatamente com uma canção nova. “Want”, como já era de se esperar, não empolgou. Mas que a atitude da banda foi louvável em começar um show para um público grande, no Brasil – onde qualquer um se contenta com os batidos “greatest hits” -, com uma música absolutamente inédita, ah, isso foi.

Mas quando a guitarra de Perry Bamonte anunciou os primeiros acordes de “Fascination Street” (faixa de “Disintegration”, a obra-prima do Cure, lançada em 1989), a plateia pôde, enfim, ter a certeza de que aquilo realmente se tratava de um show do The Cure. “A Night Like This”, faixa de “The Head On The Door” (1985), manteve a empolgação do público, assim como a melancólica e belíssima “Pictures Of You”. Um “obrigado” e um “boa noite” foram algumas das pouquíssimas frases pronunciadas por Smith durante o show.

Aliás, o português quase perfeito de Robert Smith chamava ainda mais a atenção, quando era possível notar no telão que o vocalista já tinha, assim como no show em São Paulo, bebido todas. A revista “Bizz”, na sua edição de fevereiro de 96, observou bem esse aspecto, com relação ao show paulista: “Com uma pronúncia meio alterada, Robert Smith quis dividir com o Pacaembu a alegria de estar fazendo um grande show. ‘Stubibaço’ (estou bebaço), leu ele, da cola anotada em sua mão, entre várias outras simpáticas frases em português. O Cure tinha encomendado nada menos do que 36 tipos diferentes de goró para esquentar antes de sua apresentação. Na noite anterior, Smith havia tomado umas e outras com Robert Plant e teve de ser carregado para o seu quarto”.

De porre ou não, o The Cure fez um dos shows shows mais profissionais da edição 1996 do Hollywood Rock, que também teve nada menos do que Robert Plant e Jimmy Page na noite seguinte. (Tanta gente que quer ver um show do Led Zeppelin mesmo sem Robert Plant, e nem imagina que o verdadeiro Led Zeppelin – dentro do possível – já passou pelo Brasil…)

A primeira reação mais entusiasmada do público aconteceu com “Lullaby”, momento em que Smith (com a sua camisa de flanela debaixo de 38 graus em um verão carioca daqueles) reclamou do calor. Depois desse aquecimento com alguns velhos sucessos, o The Cure começou a privilegiar canções mais recentes, como “Trust”, High” (ambas de “Wish) e a então inédita “Jupiter Crash”. A rara “Dressing Up” (de “The Top”) e os singles “The Walk” e “Let’s Go To Bed” voltaram a aquecer o público, que se esbaldou de vez com “Friday I’m Love” e “Inbetween Days”, que foi o momento mais animado do show. No entanto, quando o público já estava na palma da mão, o The Cure mandou, antes de sair do palco, canções nem tão conhecidas, como “From The Edge Of The Deep Green Sea”, “End” (as duas de “Wish”) e “Disintegration”.

Uma hora e quarenta minutos haviam se passado, mas o The Cure ainda queria mostrar muito mais coisa. No total, a banda voltou três vezes ao palco, e o tal bis acabou tendo quase uma hora de duração. No primeiro retorno, Robert Smith e seus colegas mandaram quatro canções do fundo do baú, todas presentes no álbum de estreia da banda ou em singles lançados naquele período. “Three Imaginary Boys”, “Boys Don’t Cry” (dá para imaginar a catarse coletiva durante essa canção?), “10:15 Saturday Night” e “Killing An Arab”, canção raramente tocada na década de 90 e, muito menos agora.

Mais uma saída do palco e – surpresa! – Robert Smith volta com a camisa canarinho da seleção. Contraste total com o estilo da banda. Mas a plateia gostou. E gostou ainda mais quando Robert Smith anunciou mais uma canção inédita, a pop “Mint Car” (não executada no show paulista), que acabou se transformando no principal hit de “Wild Mood Swings”, lançado cinco meses após a apresentação no Rio. “Close To Me”, hit de “The Head On The Door” e “Why Can’t I Be You” (de “Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me”, lançado em 1987) encerraram o segundo bis em alto estilo.

Nesse momento, o relógio já marcava mais de duas e meia da manhã e o público, cansado da maratona que se iniciara às seis da tarde, já começava a deixar a Praça da Apoteose, principalmente os fãs de ocasião, que já haviam se descabelado com “Friday I’m In Love” e “Boys Don’t Cry”. Mas os fãs que aguardavam um retorno do The Cure havia quase dez anos, não arredaram o pé. E certamente não se arrependeram quando o baixo de Simon Gallup mandou a melodia irresistível de “Charlotte Sometimes”, single que a banda lançou em 1981. A derradeira “A Forest” (faixa de “Seventeen Seconds”, de 1980), com a sua versão de mais de dez minutos de duração, enfim, não deixou dúvidas de que a plateia acabara de presenciar um dos grandes shows de todas as edições do Hollywood Rock.

Logo após “A Forest”, Robert Smith disse ao microfone: “Thank you very much. I see you again in the next ten years”. Já estamos em 2009! Alguém tem que avisar para o vocalista que a promessa dele venceu…

Em seguida, uma rápida entrevista de Robert Smith a MTV, durante o Hollywood Rock:

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