Memória do Samba do Rio: entrevistando Dodô da Portela

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Colunisa do SRZD-Carnaval transcreve entrevista que fez com Dodô da Portela, relembrando momentos marcantes de sua vida, desde seu primeiro desfile pela azul e branca, em 1935.

POR Redação SRzd18/09/2011|4 min de leitura

Memória do Samba do Rio: entrevistando Dodô da Portela
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Foto: Acervo Centro Cultural CartolaMaria das Dores Alves Rodrigues – Dodô da Portela – saiu de Barra Mansa em 1924 com sua mãe, que buscava uma colocação nas fábricas ou casas de família. A infância apertada a levou cedo para o mercado de trabalho em um fábrica de cartonagem, onde conheceu a rainha da Portela: Dora, que a arrastou para o samba.

Em 1935 fez teste para porta-bandeira sendo aprovada pelo mestre-sala Antônio e por Paulo da Portela. Com documentos falsos que atestavam sua maioridade, ela conquistou a bandeira que empunhou  até a década de 50.
 
Esta rica personagem é nossa entrevistada:

Dôdo, em que ano você nasceu ?

Nasci em 1920, sou mais velha do que a Portela três anos. Ela me esperou ou eu esperei por ela e, ainda dei a primeira vitória.

Onde a senhora nasceu?

Barra Mansa.

Por que sua família veio para o Rio de Janeiro?

Porque a minha mãe tinha seis filhos, e ainda mais três que o meu pai levou para ela criar. Eles ficaram rapazes lá e a cidade era pequena e não tinha emprego. Foi por isso que nós viemos para cá. Mamãe veio, papai ficou.

Lembrança do seu primeiro desfile em 35?

Se eu me lembro? Oh! os compositores fizeram cadeirinha e eu fui sentada até a Central… da Praça XI até a Central. Toda vez que a Portela ganhava, eles não me deixavam andar até a Central(“Dodô, Dodô, Dodô, cadeirinha!”). Era bom à beça, era gostoso.

Dançou até que ano como porta-bandeira?

Há muitos anos, muito tempo. Eu dei 18 campeonatos. Portela tem 21. E te digo, se eu pego a bandeira, a Portela é campeã. É o amor que a gente tem, é o carinho que a gente tem. Ninguém faz nada assim. Se você está aborrecido, se você for fazer uma coisa aborrecida, não vai dar para fazer direito. A gente tem que estar alegre, satisfeita, fazendo aquilo, não é? De coração. Tem pessoas que pensam que não. Forçam as pessoas, não devem forçar. Tem que fazer as coisas com calma, com jeito, com aquele carinho, que dá certo. Você não vê agora a ala das crianças? Porque a primeira escola a botar ala das crianças foi a Portela.  E agora, você vê uma menina com a bandeira dela, você vê que ela está gostando de estar com aquela bandeira, ela está pegando aquela bandeira com amor, não é?
 
Das 18 vitórias da Portela em que você estava com a bandeira, estava na época em que foi campeã 7 vezes seguidas? Como foi ser campeã 7 vezes seguidas?

Foi lá na Praça XI, Ninguém mexeu lá no meu ponto, nem do meu mestre-sala. Ah! e a Portela tinha uma coisa com ela, porta-bandeira, alegoria, fantasia, samba, aquilo era certo. Agora é que não está dando certo, mas era certo. A gente ia embora, porque a porta-bandeira e o mestre-sala eram quem dava a vitória antigamente. Era o ponto final. “Vamos ver quem ganhou”, e a gente estava lá. Se a gente não ia para primeiro, ia para segundo. Quando a gente ficava em terceiro, era puxão de orelha. Agora terceiro é vitória, não estou entendendo mais nada.

Quais são as qualidades que uma sambista precisa ter para ser uma porta-bandeira?

Eu acho que primeiramente, ela tem que ter educação, segundo: ela tem que ter amor Foto: Acervo Centro Cultural Cartolaà escola em que ela vai com a bandeira, terceiro, tem que ser elegante, entendeu? Tem que saber pegar a bandeira.

Sua participação no desfile atualmente?

Eu venho puxando a minha ala. Eu não sou de ferro, mas eu venho puxando. Só peço proteção a Deus e aos santos. O negócio é a perna, porque de carro eu não venho. No carro nem pensar, sambista vem no chão. O samba está no chão. Esquecem que no samba tem que sentir o asfalto…

Foto: Acervo Centro Cultural CartolaMaria das Dores Alves Rodrigues – Dodô da Portela – saiu de Barra Mansa em 1924 com sua mãe, que buscava uma colocação nas fábricas ou casas de família. A infância apertada a levou cedo para o mercado de trabalho em um fábrica de cartonagem, onde conheceu a rainha da Portela: Dora, que a arrastou para o samba.

Em 1935 fez teste para porta-bandeira sendo aprovada pelo mestre-sala Antônio e por Paulo da Portela. Com documentos falsos que atestavam sua maioridade, ela conquistou a bandeira que empunhou  até a década de 50.
 
Esta rica personagem é nossa entrevistada:

Dôdo, em que ano você nasceu ?

Nasci em 1920, sou mais velha do que a Portela três anos. Ela me esperou ou eu esperei por ela e, ainda dei a primeira vitória.

Onde a senhora nasceu?

Barra Mansa.

Por que sua família veio para o Rio de Janeiro?

Porque a minha mãe tinha seis filhos, e ainda mais três que o meu pai levou para ela criar. Eles ficaram rapazes lá e a cidade era pequena e não tinha emprego. Foi por isso que nós viemos para cá. Mamãe veio, papai ficou.

Lembrança do seu primeiro desfile em 35?

Se eu me lembro? Oh! os compositores fizeram cadeirinha e eu fui sentada até a Central… da Praça XI até a Central. Toda vez que a Portela ganhava, eles não me deixavam andar até a Central(“Dodô, Dodô, Dodô, cadeirinha!”). Era bom à beça, era gostoso.

Dançou até que ano como porta-bandeira?

Há muitos anos, muito tempo. Eu dei 18 campeonatos. Portela tem 21. E te digo, se eu pego a bandeira, a Portela é campeã. É o amor que a gente tem, é o carinho que a gente tem. Ninguém faz nada assim. Se você está aborrecido, se você for fazer uma coisa aborrecida, não vai dar para fazer direito. A gente tem que estar alegre, satisfeita, fazendo aquilo, não é? De coração. Tem pessoas que pensam que não. Forçam as pessoas, não devem forçar. Tem que fazer as coisas com calma, com jeito, com aquele carinho, que dá certo. Você não vê agora a ala das crianças? Porque a primeira escola a botar ala das crianças foi a Portela.  E agora, você vê uma menina com a bandeira dela, você vê que ela está gostando de estar com aquela bandeira, ela está pegando aquela bandeira com amor, não é?
 
Das 18 vitórias da Portela em que você estava com a bandeira, estava na época em que foi campeã 7 vezes seguidas? Como foi ser campeã 7 vezes seguidas?

Foi lá na Praça XI, Ninguém mexeu lá no meu ponto, nem do meu mestre-sala. Ah! e a Portela tinha uma coisa com ela, porta-bandeira, alegoria, fantasia, samba, aquilo era certo. Agora é que não está dando certo, mas era certo. A gente ia embora, porque a porta-bandeira e o mestre-sala eram quem dava a vitória antigamente. Era o ponto final. “Vamos ver quem ganhou”, e a gente estava lá. Se a gente não ia para primeiro, ia para segundo. Quando a gente ficava em terceiro, era puxão de orelha. Agora terceiro é vitória, não estou entendendo mais nada.

Quais são as qualidades que uma sambista precisa ter para ser uma porta-bandeira?

Eu acho que primeiramente, ela tem que ter educação, segundo: ela tem que ter amor Foto: Acervo Centro Cultural Cartolaà escola em que ela vai com a bandeira, terceiro, tem que ser elegante, entendeu? Tem que saber pegar a bandeira.

Sua participação no desfile atualmente?

Eu venho puxando a minha ala. Eu não sou de ferro, mas eu venho puxando. Só peço proteção a Deus e aos santos. O negócio é a perna, porque de carro eu não venho. No carro nem pensar, sambista vem no chão. O samba está no chão. Esquecem que no samba tem que sentir o asfalto…

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