A principal medida para acabar com a crise no INSS não é reduzir a aposentadoria dos idosos, diz a economista Renata Lins.
POR Redação SRzd01/07/2006|3 min de leitura
A principal medida para acabar com a crise no INSS não é reduzir a aposentadoria dos idosos, diz a economista Renata Lins.
POR Redação SRzd01/07/2006|3 min de leitura
O jornalista Ali Kamel escreveu, no Globo de 25 de junho passado, o artigo “O problema da Previdência”. O texto, no início, é exemplarmente claro e didático. Diz ele, no segundo parágrafo: “Nosso sistema [previdenciário] (…) baseia-se na solidariedade entre os que estão trabalhando e os que já se aposentaram. O que eu pago hoje não fica depositado no meu nome rendendo juros (…). Não, tudo o que recolho ao INSS se destina ao pagamento daqueles que já se aposentaram (…). Quando chegar a minha vez, os que então estiverem na ativa, trabalhando, pagarão por mim.” Raras vezes vi a questão da Previdência descrita de forma tão simples. No entanto, o jornalista não extrai daí as conclusões que seria de se esperar, e o texto segue com a habitual lengalenga sobre o excessivo custo da Previdência e a necessidade de cortá-lo, finalizando com um dramático “A eleição é o momento para se discutir a saída. Mas quem tem coragem?” A leitura do artigo deixou-me, confesso, perplexa. De fato, se a questão, como bem esclarece o jornalista, está na relação entre os recursos recolhidos hoje e os benefícios pagos hoje, porque não discutir, como seria de se esperar, as diversas formas de elevar a arrecadação da Previdência e continuar insistindo na necessidade de cortar seus desembolsos? Sem dúvida, combater a sonegação é importante. Mas a mais importante medida seria o estímulo ao crescimento econômico – que, elevando o número de contribuintes assim como (espera-se) o salário médio da economia, melhoraria sensivelmente a relação receitas/desembolsos, sem que para isso seja necessário ter “coragem” (ou insensibilidade suficiente) para reduzir os parcos ganhos dos velhinhos, dos necessitados ou dos aposentados rurais. Deve-se recordar que as aposentadorias rurais são, hoje, uma fonte fundamental de recursos para grande número de pequenos produtores e suas famílias, e constituem uma ilha de redistribuição de renda no nosso mar de injustiças econômicas e sociais. Para além dos números, estamos falando da sobrevivência de gente, de famílias, de idosos e crianças pobres, num país que está entre os campeões do mundo de desigualdade. Porque, então, continuar deixando a corda arrebentar do lado mais fraco, em vez de tentar encontrar uma via que preserve e fortaleça esse lado – impulsionando a economia, elevando a renda nacional, o emprego formal e, por esse caminho, as contribuições ao sistema previdenciário? Renata Lins é economista.
O jornalista Ali Kamel escreveu, no Globo de 25 de junho passado, o artigo “O problema da Previdência”. O texto, no início, é exemplarmente claro e didático. Diz ele, no segundo parágrafo: “Nosso sistema [previdenciário] (…) baseia-se na solidariedade entre os que estão trabalhando e os que já se aposentaram. O que eu pago hoje não fica depositado no meu nome rendendo juros (…). Não, tudo o que recolho ao INSS se destina ao pagamento daqueles que já se aposentaram (…). Quando chegar a minha vez, os que então estiverem na ativa, trabalhando, pagarão por mim.” Raras vezes vi a questão da Previdência descrita de forma tão simples. No entanto, o jornalista não extrai daí as conclusões que seria de se esperar, e o texto segue com a habitual lengalenga sobre o excessivo custo da Previdência e a necessidade de cortá-lo, finalizando com um dramático “A eleição é o momento para se discutir a saída. Mas quem tem coragem?” A leitura do artigo deixou-me, confesso, perplexa. De fato, se a questão, como bem esclarece o jornalista, está na relação entre os recursos recolhidos hoje e os benefícios pagos hoje, porque não discutir, como seria de se esperar, as diversas formas de elevar a arrecadação da Previdência e continuar insistindo na necessidade de cortar seus desembolsos? Sem dúvida, combater a sonegação é importante. Mas a mais importante medida seria o estímulo ao crescimento econômico – que, elevando o número de contribuintes assim como (espera-se) o salário médio da economia, melhoraria sensivelmente a relação receitas/desembolsos, sem que para isso seja necessário ter “coragem” (ou insensibilidade suficiente) para reduzir os parcos ganhos dos velhinhos, dos necessitados ou dos aposentados rurais. Deve-se recordar que as aposentadorias rurais são, hoje, uma fonte fundamental de recursos para grande número de pequenos produtores e suas famílias, e constituem uma ilha de redistribuição de renda no nosso mar de injustiças econômicas e sociais. Para além dos números, estamos falando da sobrevivência de gente, de famílias, de idosos e crianças pobres, num país que está entre os campeões do mundo de desigualdade. Porque, então, continuar deixando a corda arrebentar do lado mais fraco, em vez de tentar encontrar uma via que preserve e fortaleça esse lado – impulsionando a economia, elevando a renda nacional, o emprego formal e, por esse caminho, as contribuições ao sistema previdenciário? Renata Lins é economista.
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