O presidente Jair Bolsonaro tem apoio militar para promover um golpe de Estado no Brasil. A tese é defendida pelo jornal “The New York Times”, em reportagem especial assinada por Jack Nicas, chefe do escritório no Brasil.
“O presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, está há meses atrás de forma consistente nas pesquisas antes da crucial corrida presidencial do país. E por meses, ele questionou consistentemente seus sistemas de votação, alertando que, se perder a eleição de outubro, provavelmente será graças a um voto roubado. Essas alegações foram amplamente consideradas como conversa. Mas agora, Bolsonaro alistou um novo aliado em sua luta contra o processo eleitoral: os militares do país”, escreveu o jornalista.
“Os líderes das Forças Armadas do Brasil de repente começaram a levantar dúvidas semelhantes sobre a integridade das eleições, apesar de poucas evidências de fraudes anteriores, aumentando as já altas tensões sobre a estabilidade da maior democracia da América Latina e sacudindo uma nação que sofria sob uma ditadura militar de 1964 a 1985”, prossegue o correspondente, lembrando que Bolsonaro sugeriu que os militares devem realizar sua própria contagem paralela.
Nicas cita a opinião de Almir Garnier Santos, comandante da Marinha. “O presidente da República é meu chefe, é meu comandante, tem o direito de dizer o que quiser”, disse Garnier Santos. “Quanto mais auditoria, melhor para o Brasil”, acrescenta o militar.
Na publicação, ele também aponta diferenças entre os Estados Unidos, sob Donald Trump, e o Brasil, sob Bolsonaro: “O tumulto do ano passado no Capitólio dos EUA mostrou que as transferências pacíficas de poder não são mais garantidas, mesmo em democracias maduras. No Brasil, onde as instituições democráticas são muito mais jovens, o envolvimento dos militares na eleição está aumentando os temores”.
O correspondente internacional também levantou a seguinte questão para acadêmicos: se Bolsonaro contestasse a eleição, como os 340.000 membros das Forças Armadas reagiriam?: “Nos EUA, os militares e a polícia respeitaram a lei, defenderam a Constituição”, disse Mauricio Santoro, professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. “Não tenho certeza se a mesma coisa vai acontecer aqui.”
A reportagem também traz declarações ambíguas de Sérgio Etchegoyen, general aposentado do Exército próximo aos atuais líderes militares. “Podemos pensar que é ruim que o presidente questione as cédulas”, disse ele. “Mas é muito pior se a cada cinco minutos acharmos que a democracia está em risco.”
Ainda segundo o texto, algumas autoridades americanas estão mais preocupadas com os cerca de meio milhão de policiais em todo o Brasil porque geralmente são menos profissionais e apoiam mais Bolsonaro do que os militares, de acordo com um funcionário do Departamento de Estado que falou sob condição de anonimato para discutir conversas privadas.
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