‘O país dos destinos cruzados chega à reta final’, por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama

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A pouco mais de uma semana da eleição presidencial mais disputada da Nova República, a rejeição aos presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se aproxima da linha média do eleitorado. Rejeitados simultaneamente por metades que guardam entre si poucas sobreposições, os candidatos disputam os rumos de um país polarizado, que […]

POR Carlos Frederico Pereira da Silva Gama21/10/2022|5 min de leitura

‘O país dos destinos cruzados chega à reta final’, por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama

Urna eletrônica. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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A pouco mais de uma semana da eleição presidencial mais disputada da Nova República, a rejeição aos presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se aproxima da linha média do eleitorado. Rejeitados simultaneamente por metades que guardam entre si poucas sobreposições, os candidatos disputam os rumos de um país polarizado, que contempla o day after com apreensão.

Centrada nos legados presidenciais, a campanha eleitoral de 2022 promoveu uma disputa entre o Brasil de 2006 e o de 2018. No primeiro turno, Lula recebeu mais de 48% dos votos válidos (mesmo percentual de 2006) enquanto Bolsonaro ampliou em quase 2 milhões os votos de 2018. A diferença de votos entre Lula, vencedor do primeiro turno, e o incumbente Bolsonaro foi a menor desde 2006.

O crescimento simultâneo das candidaturas na reta final do pleito presidencial tornou outros competidores meros coadjuvantes ou hesitantes colaboradores. Líder nas pesquisas e vencedor do primeiro turno, Lula reuniu em torno da candidatura do PT um formidável arranjo de apoios partidários e da sociedade civil. Por sua vez, além de dispor da máquina governamental, Bolsonaro saiu fortalecido das urnas legislativas. Sua propaganda manteve vantagem nas redes sociais.

A conformação da disputa eleitoral trouxe um dilema para o futuro próximo do país. Em Novembro, metade dos brasileiros estarão mergulhados na euforia de uma vitória memorável. Já a outra metade estará imersa em frustração monumental. E um novo governo não terá, ainda, se iniciado.

O Brasil de 2022 não terá condições de satisfazer duas nostalgias triunfantes ao mesmo tempo – mesmo que a propaganda eleitoral nos tenha familiarizado tanto com seus eventos e personagens.

Essa impossibilidade não é um defeito de fábrica da democracia. A rota democrática prevê escolhas difíceis, pavimentadas com insatisfações. Entretanto, são escolhas voltadas para o futuro. É com os olhos do futuro que as urnas de 2022 serão olhadas. Por um lado, o futuro longo do novo governo e do próximo quadriênio. Por outro, o futuro breve da administração que se encerra em Dezembro.

No dia seguinte à eleição presidencial, o país da euforia e da frustração contemplará seu presente.

Os últimos anos foram definidos por um pequeno conjunto de eventos nas relações internacionais: a disputa econômica entre China e Estados Unidos, a pandemia do COVID-19 e a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Nenhuma dessas circunstâncias foi escolha do povo brasileiro. Não obstante, em momentos definidores o Brasil teve pequena importância, foi colocado de lado. Sem crescimento econômico, inovações ou participação destacada nos organismos multilaterais, o país sumiu do radar. Pouco admirado e com poucos aliados, a voz do Brasil no mundo recuou para o plano interno.

Se Lula mobiliza coordenadas de um passado distante, do aqui e agora Bolsonaro já não pode fugir.

A coincidência de turbulência internacional, pandemia e conflito armado faria qualquer governo indesejável aos olhos do eleitorado. Dito isso, a postura do governo brasileiro frente a esses eventos aumentou associações negativas. O negacionismo do COVID fez 680 mil vítimas no Brasil e manteve a economia em recessão. Na economia global e no multilateralismo, a participação brasileira foi reduzida e ambivalente, sem grandes feitos Não é surpreendente que Bolsonaro tenha feito um mandato rejeitado pela maioria da população – o que praticamente inviabiliza planos de reeleição.

As contradições do período pandêmico lançam luz sobre o cenário pós-eleitoral. Por exemplo, mecanismos de auxílio econômico criados desde 2020 permanecem fundamentais para a maioria da população brasileira. A economia do próximo governo manterá, de algum modo, esses esforços.

Nem Lula nem Bolsonaro têm apoio majoritário nas casas do Congresso ou nos governos estaduais. Esforços de pacificação da comunidade política para assegurar a governabilidade serão urgentes. A composição com adversários nas urnas (imperativa para os agentes políticos) espelha um problema mais amplo dentro da sociedade brasileira. A recomposição da convivência e da civilidade entre os cidadãos levará algum tempo, após cessarem os humores ácidos destilados na campanha eleitoral.

Nesse quesito, Lula e Alckmin têm vantagens frente a Bolsonaro e Braga Netto.

A chapa PT/PSB combina uma liderança oriunda da sociedade civil com longas experiências em diferentes níveis de governo. Forças políticas que governaram a República separadas por décadas se uniram, para mobilizar diferentes públicos, com abrangência inédita na Nova República. A nostalgia de 2006 propõe uma nova síntese democrática, em busca de reconciliar um país partido.

A tentativa de reeleição do PL, por sua vez, reprisa o protagonismo de militares na trajetória da República brasileira. O capitão e o general acenam com a supervisão de assuntos civis pela caserna. Além da nostalgia de 2018, a tentativa de reeleição aposta nas fragilidades da democracia no Brasil.

A democracia não repousa em retornos grandiosos ou num presente ininterrupto. A polarização política, social e entre poderes da República faz necessária a coexistência. Somos convidados à acomodação, pragmática. Outras eleições marcaram a trajetória da República. A seguir, entre erros e acertos, o país prosseguiu sua caminhada.

Num país de destinos cruzados, a sociedade terá em breve a chance de definir parte de seus rumos.

A pouco mais de uma semana da eleição presidencial mais disputada da Nova República, a rejeição aos presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se aproxima da linha média do eleitorado. Rejeitados simultaneamente por metades que guardam entre si poucas sobreposições, os candidatos disputam os rumos de um país polarizado, que contempla o day after com apreensão.

Centrada nos legados presidenciais, a campanha eleitoral de 2022 promoveu uma disputa entre o Brasil de 2006 e o de 2018. No primeiro turno, Lula recebeu mais de 48% dos votos válidos (mesmo percentual de 2006) enquanto Bolsonaro ampliou em quase 2 milhões os votos de 2018. A diferença de votos entre Lula, vencedor do primeiro turno, e o incumbente Bolsonaro foi a menor desde 2006.

O crescimento simultâneo das candidaturas na reta final do pleito presidencial tornou outros competidores meros coadjuvantes ou hesitantes colaboradores. Líder nas pesquisas e vencedor do primeiro turno, Lula reuniu em torno da candidatura do PT um formidável arranjo de apoios partidários e da sociedade civil. Por sua vez, além de dispor da máquina governamental, Bolsonaro saiu fortalecido das urnas legislativas. Sua propaganda manteve vantagem nas redes sociais.

A conformação da disputa eleitoral trouxe um dilema para o futuro próximo do país. Em Novembro, metade dos brasileiros estarão mergulhados na euforia de uma vitória memorável. Já a outra metade estará imersa em frustração monumental. E um novo governo não terá, ainda, se iniciado.

O Brasil de 2022 não terá condições de satisfazer duas nostalgias triunfantes ao mesmo tempo – mesmo que a propaganda eleitoral nos tenha familiarizado tanto com seus eventos e personagens.

Essa impossibilidade não é um defeito de fábrica da democracia. A rota democrática prevê escolhas difíceis, pavimentadas com insatisfações. Entretanto, são escolhas voltadas para o futuro. É com os olhos do futuro que as urnas de 2022 serão olhadas. Por um lado, o futuro longo do novo governo e do próximo quadriênio. Por outro, o futuro breve da administração que se encerra em Dezembro.

No dia seguinte à eleição presidencial, o país da euforia e da frustração contemplará seu presente.

Os últimos anos foram definidos por um pequeno conjunto de eventos nas relações internacionais: a disputa econômica entre China e Estados Unidos, a pandemia do COVID-19 e a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Nenhuma dessas circunstâncias foi escolha do povo brasileiro. Não obstante, em momentos definidores o Brasil teve pequena importância, foi colocado de lado. Sem crescimento econômico, inovações ou participação destacada nos organismos multilaterais, o país sumiu do radar. Pouco admirado e com poucos aliados, a voz do Brasil no mundo recuou para o plano interno.

Se Lula mobiliza coordenadas de um passado distante, do aqui e agora Bolsonaro já não pode fugir.

A coincidência de turbulência internacional, pandemia e conflito armado faria qualquer governo indesejável aos olhos do eleitorado. Dito isso, a postura do governo brasileiro frente a esses eventos aumentou associações negativas. O negacionismo do COVID fez 680 mil vítimas no Brasil e manteve a economia em recessão. Na economia global e no multilateralismo, a participação brasileira foi reduzida e ambivalente, sem grandes feitos Não é surpreendente que Bolsonaro tenha feito um mandato rejeitado pela maioria da população – o que praticamente inviabiliza planos de reeleição.

As contradições do período pandêmico lançam luz sobre o cenário pós-eleitoral. Por exemplo, mecanismos de auxílio econômico criados desde 2020 permanecem fundamentais para a maioria da população brasileira. A economia do próximo governo manterá, de algum modo, esses esforços.

Nem Lula nem Bolsonaro têm apoio majoritário nas casas do Congresso ou nos governos estaduais. Esforços de pacificação da comunidade política para assegurar a governabilidade serão urgentes. A composição com adversários nas urnas (imperativa para os agentes políticos) espelha um problema mais amplo dentro da sociedade brasileira. A recomposição da convivência e da civilidade entre os cidadãos levará algum tempo, após cessarem os humores ácidos destilados na campanha eleitoral.

Nesse quesito, Lula e Alckmin têm vantagens frente a Bolsonaro e Braga Netto.

A chapa PT/PSB combina uma liderança oriunda da sociedade civil com longas experiências em diferentes níveis de governo. Forças políticas que governaram a República separadas por décadas se uniram, para mobilizar diferentes públicos, com abrangência inédita na Nova República. A nostalgia de 2006 propõe uma nova síntese democrática, em busca de reconciliar um país partido.

A tentativa de reeleição do PL, por sua vez, reprisa o protagonismo de militares na trajetória da República brasileira. O capitão e o general acenam com a supervisão de assuntos civis pela caserna. Além da nostalgia de 2018, a tentativa de reeleição aposta nas fragilidades da democracia no Brasil.

A democracia não repousa em retornos grandiosos ou num presente ininterrupto. A polarização política, social e entre poderes da República faz necessária a coexistência. Somos convidados à acomodação, pragmática. Outras eleições marcaram a trajetória da República. A seguir, entre erros e acertos, o país prosseguiu sua caminhada.

Num país de destinos cruzados, a sociedade terá em breve a chance de definir parte de seus rumos.

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