Assim como a maioria da sua categoria profissional, a enfermeira do Hospital Emílio Ribas, Mônica Calazans, de 54 anos, primeira pessoa a receber, neste domingo (17), a CoronaVac, também é negra.
De acordo com dados de pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Enfermagem divulgado em 2017, que levantou dados sobre enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem, do total de profissionais pesquisados, 53% são negras, 42% brancas, 1,9% amarelas e 0,6% indígenas.
A Enfermagem, de acordo com reportagem realizada por Alva Helena de Almeida, na revista Carta Capital, constitui o maior contingente de profissionais dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).
O texto diz ainda que 57,4% deste contingente são trabalhadoras negras no nível médio, sob o comando de 57,9% de enfermeiras brancas. As desigualdades são ainda mais confirmadas quando se toma como referência a formação: 72% das auxiliares e técnicas qualificaram-se em instituições privadas; 43,8% na modalidade curso noturno e 28,5% concluíram cursos de graduação, certamente particulares.
No Brasil colonial coube às mulheres pretas e pardas as práticas de cuidados e curas. Elas tiveram participação ativa como parteiras, amas de leite, negras domésticas, babás, mães pretas, isto é, mulheres que cuidavam de enfermos, velhos e crianças, mesmo que para tanto devessem abandonar os seus próprios filhos. Contudo, o processo de profissionalização iniciado por volta de 1860 lhes negou o espaço de atuação.
O ingresso na Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública em 1923, posteriormente batizada de Escola de Enfermeiras D. Anna Nery, “passou a depender não só da posse do diploma do curso normal, como de um pré-requisito não formalizado: ser de raça branca”.
A enfermagem brasileira institucionalizada nasceu sob o escudo do ‘branqueamento’. A imagem da “enfermeira padrão” cristalizou a identidade profissional via elitização e branqueamento, sinônimo de respeito social.