Wilson Witzel e o poder das milícias, por Sidney Rezende
O novo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, assumiu o Palácio Guanabara disposto a enfrentar os “narcoterroristas”, expressão que usou no discurso inaugural ao se referir aos traficantes que atuam no estado. No fim do ano passado, Witzel havia dito que “o certo é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai […]
POR Sidney Rezende03/01/2019|5 min de leitura
O novo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, assumiu o Palácio Guanabara disposto a enfrentar os “narcoterroristas”, expressão que usou no discurso inaugural ao se referir aos traficantes que atuam no estado. No fim do ano passado, Witzel havia dito que “o certo é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo! Para não ter erro”. Ele quer preparar policiais para esta tarefa.
“Raramente um sniper atira em quem está de guarda-chuva. E muito menos em quem está com furadeira. Os militares da Core e do Bope inclusive serão treinados. Hoje, na Cidade de Deus, um helicóptero filmou cinco elementos armados de fuzis. Ali, se você tem uma operação em que nossos militares estão autorizados a realizar o abate, todos eles serão eliminados”, disse Witzel ao canal GloboNews ao ser questionado sobre episódios em que inocentes foram baleados porque outros objetos foram confundidos com armas pelos policiais.
Por mais que as declarações tenham sido mal recebidas aqui e no exterior, o novato governante sabe que suas palavras encontram acolhimento popular, mas que não são unanimidade. Especialistas veem risco neste tipo de ação, principalmente pelas consequências de uma política de segurança “truculenta” e de “sucesso duvidoso”.
O objetivo aqui não é discutir detalhes da operação policial de combate ao modus operandi dos traficantes. E, sim, entender quando se terá a mesma veemência do governador quanto a outro problema sério que cresce exponencialmente no estado: a atuação das milícias.
Novas estruturas policiais
Embora se diga que haverá uma reorganização das estruturas policiais com objetivo de investigar – e de prender aqueles que comandam o crime organizado e praticam a lavagem de dinheiro -, não se encontra a mesma clareza quanto ao perigo do espalhamento das milícias. De 2016 para 2017, houve um aumento nos casos de mortes violentas no Rio de Janeiro. Dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que o estado saiu de 6.262 casos, em 2016, para 6.749, no ano passado. Quando comparadas as taxas por 100 mil habitantes, o RJ registrou uma variação de 7,2%. Vamos aguardar os números completos de 2018. Entre estes crimes, existem ações de milicianos. Inclusive, em ataque a autoridades constituídas.
As milícias são grupos armados que cooptam integrantes e ex-integrantes de forças de segurança do Estado, como policiais, bombeiros e agentes penitenciários.
O ex-secretário de Segurança Pública do Rio, general Richard Nunes, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, afirmou que os milicianos mataram a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, em um crime planejado desde 2017, por acreditarem que a vereadora poderia atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras na Zona Oeste do Rio.
Há um mês, uma investigação foi aberta pela Polícia Civil para apurar um novo plano para executar o deputado federal eleito Marcelo Freixo. Segundo o Disque-Denúncia, um policial militar e dois comerciantes ligados a um grupo de milicianos da Zona Oeste seriam os praticantes da ação criminosa que acabou sendo impedida.
Enfrentar milícias é cortar na carne
Identificar e combater o inimigo à distância, o caso dos traficantes e do comércio de drogas, é mais fácil do que cortar na carne quem está ao seu lado. As milícias são grupos armados que cooptam integrantes e ex-integrantes de forças de segurança do Estado, como policiais, bombeiros e agentes penitenciários. Muitos servidores públicos ludibriam a boa-fé do cidadão e mantêm um “esquema paralelo”. Negócios à margem da lei, que fique bem claro.
Como combatê-los? Fortalecendo as corregedorias? Mudando de tempos em tempos os delegados que lideram as investigações? Criando novos departamentos na Polícia Civil? Investindo mais em inteligência? Talvez tudo isso, e, ainda assim, talvez não seja suficiente. O governador Wilson Witzel prometeu acompanhar de perto, pessoalmente, os passos que serão dados na área de segurança pública. Esta é uma excelente notícia, porque aproximará o poder político do poder policial. Mas, só funcionará se o desmantelamento ao crime organizado das milícias for uma realidade.
O carioca se equivoca quando pensa que a milícia traz segurança, tranquilidade e paz ao lugar onde ele mora e trabalha.
Hoje, se encontra material publicado mostrando que milicianos são sócios de traficantes em algumas áreas da cidade; em outras, eles desalojam os criminosos da droga e, em seu lugar, instalam novas práticas delituosas. E, por fim, o igualmente trágico, eles decidiram ocupar o poder público com a eleição de simpatizantes para as Casas Legislativas.
Pela força bruta, os milicianos controlam territorialmente vastas áreas e bairros inteiros do Rio. Eles coagem moradores e comerciantes. Impõem toques de recolher e a mudança de hábitos sociais. O curioso é que milicianos estão diversificando seus negócios e agora fornecem segurança particular a empresários, artistas, contraventores e estabelecimentos comerciais que se dedicam a agitar a vida noturna carioca.
Cabe imediatamente ao governador Wilson Witzel incluir o enfrentamento aos milicianos como sua prioridade número 1. E ao cidadão abandonar a visão condescendente de que a milícia traz segurança, tranquilidade e paz ao lugar onde mora e trabalha. Não traz. Esta é uma tarefa do poder público, por mais que por agora pareça uma utopia.
O novo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, assumiu o Palácio Guanabara disposto a enfrentar os “narcoterroristas”, expressão que usou no discurso inaugural ao se referir aos traficantes que atuam no estado. No fim do ano passado, Witzel havia dito que “o certo é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo! Para não ter erro”. Ele quer preparar policiais para esta tarefa.
“Raramente um sniper atira em quem está de guarda-chuva. E muito menos em quem está com furadeira. Os militares da Core e do Bope inclusive serão treinados. Hoje, na Cidade de Deus, um helicóptero filmou cinco elementos armados de fuzis. Ali, se você tem uma operação em que nossos militares estão autorizados a realizar o abate, todos eles serão eliminados”, disse Witzel ao canal GloboNews ao ser questionado sobre episódios em que inocentes foram baleados porque outros objetos foram confundidos com armas pelos policiais.
Por mais que as declarações tenham sido mal recebidas aqui e no exterior, o novato governante sabe que suas palavras encontram acolhimento popular, mas que não são unanimidade. Especialistas veem risco neste tipo de ação, principalmente pelas consequências de uma política de segurança “truculenta” e de “sucesso duvidoso”.
O objetivo aqui não é discutir detalhes da operação policial de combate ao modus operandi dos traficantes. E, sim, entender quando se terá a mesma veemência do governador quanto a outro problema sério que cresce exponencialmente no estado: a atuação das milícias.
Novas estruturas policiais
Embora se diga que haverá uma reorganização das estruturas policiais com objetivo de investigar – e de prender aqueles que comandam o crime organizado e praticam a lavagem de dinheiro -, não se encontra a mesma clareza quanto ao perigo do espalhamento das milícias. De 2016 para 2017, houve um aumento nos casos de mortes violentas no Rio de Janeiro. Dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que o estado saiu de 6.262 casos, em 2016, para 6.749, no ano passado. Quando comparadas as taxas por 100 mil habitantes, o RJ registrou uma variação de 7,2%. Vamos aguardar os números completos de 2018. Entre estes crimes, existem ações de milicianos. Inclusive, em ataque a autoridades constituídas.
As milícias são grupos armados que cooptam integrantes e ex-integrantes de forças de segurança do Estado, como policiais, bombeiros e agentes penitenciários.
O ex-secretário de Segurança Pública do Rio, general Richard Nunes, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, afirmou que os milicianos mataram a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, em um crime planejado desde 2017, por acreditarem que a vereadora poderia atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras na Zona Oeste do Rio.
Há um mês, uma investigação foi aberta pela Polícia Civil para apurar um novo plano para executar o deputado federal eleito Marcelo Freixo. Segundo o Disque-Denúncia, um policial militar e dois comerciantes ligados a um grupo de milicianos da Zona Oeste seriam os praticantes da ação criminosa que acabou sendo impedida.
Enfrentar milícias é cortar na carne
Identificar e combater o inimigo à distância, o caso dos traficantes e do comércio de drogas, é mais fácil do que cortar na carne quem está ao seu lado. As milícias são grupos armados que cooptam integrantes e ex-integrantes de forças de segurança do Estado, como policiais, bombeiros e agentes penitenciários. Muitos servidores públicos ludibriam a boa-fé do cidadão e mantêm um “esquema paralelo”. Negócios à margem da lei, que fique bem claro.
Como combatê-los? Fortalecendo as corregedorias? Mudando de tempos em tempos os delegados que lideram as investigações? Criando novos departamentos na Polícia Civil? Investindo mais em inteligência? Talvez tudo isso, e, ainda assim, talvez não seja suficiente. O governador Wilson Witzel prometeu acompanhar de perto, pessoalmente, os passos que serão dados na área de segurança pública. Esta é uma excelente notícia, porque aproximará o poder político do poder policial. Mas, só funcionará se o desmantelamento ao crime organizado das milícias for uma realidade.
O carioca se equivoca quando pensa que a milícia traz segurança, tranquilidade e paz ao lugar onde ele mora e trabalha.
Hoje, se encontra material publicado mostrando que milicianos são sócios de traficantes em algumas áreas da cidade; em outras, eles desalojam os criminosos da droga e, em seu lugar, instalam novas práticas delituosas. E, por fim, o igualmente trágico, eles decidiram ocupar o poder público com a eleição de simpatizantes para as Casas Legislativas.
Pela força bruta, os milicianos controlam territorialmente vastas áreas e bairros inteiros do Rio. Eles coagem moradores e comerciantes. Impõem toques de recolher e a mudança de hábitos sociais. O curioso é que milicianos estão diversificando seus negócios e agora fornecem segurança particular a empresários, artistas, contraventores e estabelecimentos comerciais que se dedicam a agitar a vida noturna carioca.
Cabe imediatamente ao governador Wilson Witzel incluir o enfrentamento aos milicianos como sua prioridade número 1. E ao cidadão abandonar a visão condescendente de que a milícia traz segurança, tranquilidade e paz ao lugar onde mora e trabalha. Não traz. Esta é uma tarefa do poder público, por mais que por agora pareça uma utopia.