Folia virtual. Nove agremiações completaram a disputa pelo tão sonhado título de campeã da folia virtual. O espetáculo foi aberto com o desfile simbólico da Filhos do Tigre que, fora da disputa, honrou o público virtual com visual brilhante e consistente, mesmo em sua pequena extensão. A Escola retratou Maria como sinal de virtude, pureza e devoção […]
POR Carnaval Virtual29/11/2023|9 min de leitura
Folia virtual. Nove agremiações completaram a disputa pelo tão sonhado título de campeã da folia virtual. O espetáculo foi aberto com o desfile simbólico da Filhos do Tigre que, fora da disputa, honrou o público virtual com visual brilhante e consistente, mesmo em sua pequena extensão. A Escola retratou Maria como sinal de virtude, pureza e devoção no enredo Filha de Sião. Analisamos abaixo as demais escolas da noite, que vieram firmes na competição.
Imperiais do Samba
Jovelina Pérola Negra reinou no enredo da Imperiais do Samba. O desfile foi dedicado à força da pele preta em sua presença e fé, resgatando a ancestralidade do povo africano. A voz da senzala é representada na Comissão de Frente pela travessia dos africanos. Em uma visão poética do poema Navio Negreiro trabalhou-se o imagético em uma estética de força e poder através das pérolas negras que cruzavam o oceano. As alas em tons de verdes trouxeram o sincretismo do culto à Jurema e o respeito das ervas em rituais de cura. A proteção dos Orixás veio em Alas de cores quentes que fizeram um maravilhoso contraponto visual. Um desfile bonito que mostrou através de mitos e raízes africanas a deusa da Serrinha nomeada Jovelina em uma belíssima homenagem.
Sociedade Águia Real
A Sociedade Águia Real apresentou o enredo Sabejé – cortejo para o rei da terra, em um desfile que buscou na sabedoria ancestral a conexão com a energia de Obaluayê. A Águia tricolor da Baixada Fluminense veio com tudo na passarela virtual. Contra a intolerância religiosa, a Escola afirmou a resistência com conhecimento e sabedoria. Os diversos Orixás reforçaram as lendas e os mitos na história dos cultos religiosos de matrizes africanas. A pipoca como elemento principal do cortejo, se transformou em flores no simbolismo da limpeza e purificação do corpo. Todo o desfile mostrou uma representatividade ritualística que descreve, além do contexto histórico, um conjunto visual de elementos de forte presença estética em cores e formas.
Estrela Guia
A galinha ciscou na passarela virtual com a Estrela Guia no enredo “Yaô D’Angola”. Um desfile conceitual lindamente representado, que conta a criação da Terra de forma mística. Os tons acinzentados trouxeram uma luz prata à primeira parte do desfile em formas sinuosas que lembram uma “Art Noveau futurista”. Fantasias em tons terrosos mostraram os seres humanos em infinitas formas não completadas, remetendo a um conceito artístico que buscou o Surrealismo em sua visualidade. Em um desfile alegre e bem defendido na avenida e fundamentado em ricas narrativas, abordou a vida, a magia e a espiritualidade das heranças culturais religiosas. A galinha D’Angola fechou o desfile com maestria, valendo ver e rever todo o espetáculo.
Astro Rei da Folia
A história da dança desde os povos primitivos até nossos dias como Patrimônio Cultural, principalmente brasileiro, veio encantar nossos olhos no desfile da Astro Rei. A avenida se abriu em diversas danças trazidas pelo Rei Sol e seguiu desfiando danças históricas, ritualísticas e culturais. A escola trouxe a dança como forma de cultuar os deuses, as danças milenares em representações de uma beleza suave. As danças da corte em fantasias bem trabalhadas também encantaram o espectador. Nesta jornada dançante, não faltaram balés, como o Quebra Nozes e o Lago dos Cisnes, e musicais. As Alas com danças populares representadas pelo mundo verteram a cultura de cada país, seguidas pelo hibridismo de nossas raízes portuguesas, africanas e indígenas. Finalizou com diversas danças que representam a cultura integrativa que o Brasil resgata em um belo trabalho visual.
Recanto do Beija-flor
O GRESV Recanto do Beija-flor trouxe para a avenida virtual Histórias do arco… do Teles, de todos, de sempre. A qualidade estética da escola foi significativa na apresentação dos temas históricos envolvendo o arco do Teles de Menezes. O artista Debret foi recordado no desfile. Trouxeram também a comercialização, os seus trabalhadores do setor portuário, os registros de imóveis e toda a visibilidade da época. Caminhando muito bem pelos aspectos históricos, abordaram a herança africana e o povo cigano. Cabe destaque para o tripé em que lunetas representavam as visões de memória do arco. O samba cantado pela escola, também, é foco de destaque, pois é contagiante.
Arautos do Cerrado
A partir das obras de Fernando Pinto e Oswaldo Jardim no carnaval carioca, a Arautos do Cerrado trouxe para a avenida virtual os povos originários, os verdadeiros donos do território brasileiro. Apresentou, brilhantemente, a exploração do branco, o extrativismo das riquezas brasileiras, o abuso dos corpos daqueles que aqui já habitavam. Trouxe para a avenida virtual as riquezas da flora e fauna brasileira. A leveza das fantasias e a harmonia das cores para contar a história dos povos indígenas são os grandes destaques da escola. Os aspectos da exploração das terras dos povos originários foram bem representados na avenida virtual.
Império do Rio Belo
A Império do Rio Belo apresentou na avenida virtual, uma viagem visual pelas fantasias e alegorias, pelos pontos cantados dos caboclos brasileiros, em Terra de cabocla – vem dançar mais eu. A agremiação transformou o desfile em uma grande gira de caboclos. Nas alas, diversas falanges surgiram pelos setores entre o verde das matas e o vermelho do sangue caboclo. A escolha cromática do desfile foi usada com as demais falanges e vibrações, como os caboclos do sertão, dos mares, celestiais, os encantados e os caboclos culturais – uma brilhante escolha! Os totens apresentados atrapalharam algumas leituras ao longo do desfile. Mesmo assim, o conjunto do Império do Rio Belo conseguiu, com maestria, transmitir a linda mensagem dos nossos caboclos.
Império da Praça XI
Os batuques rufaram e as cantorias anunciaram a chegada do Império da Praça XI com o enredo Batuques e cantorias para cantar a velha Serrinha. Um grande quilombo atravessou a avenida virtual, representando as batalhas diárias, o sobe e desce do morro para trabalhar e levar o sustento para seu povo. Destaque para a fantasia da Ala 9 – Batalha de todos os dias, com um ótimo efeito estético, proporcionou movimentos harmônicos e de impacto. Outro ponto alto do desfile foi o tripé Áurea que viu a lágrima, provocando uma reflexão das ambiguidades da Lei Áurea.
Imperatriz Itaocarense
Fechando a noite, desfilou a Imperatriz Itaocarense. O enredo “homenageou” de forma romantizada, o Duque de Santo Tirso: um aventureiro, que na criação imaginada do mito fundador, organizou a invasão do Sertão de Macacu, segundo o enredo. Usando diversas referências e iconografias colonizadoras, entre eles os bandeirantes, a agremiação passou pela avenida mostrando como o bando de Mão de Luva lavrava o ouro clandestinamente. O destaque, pela força contraditória do enredo, foi o tripé Quintos dos infernos, que representou o descontentamento dos mineradores, diante da ganância dos impostos cobrados pela coroa portuguesa.
O Carnaval Virtual acabou e já deixou de saudade! Foi uma temporada sensacional, com grandes desfiles! Parabéns a todas as agremiações que se apresentaram nos três grupos da competição. Que vençam as melhores!
Texto elaborado coletivamente pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NEsCaFe (@necf.ufrj):
Carlos Carvalho – Doutor em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Professor no curso de Licenciatura em Artes Visuais/UFAM.
Du Carmo Vido – Doutoranda em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Professora de Artes do Município do Rio de Janeiro.
Leo Jesus – Doutor em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Mestre em Historia del Drama (UAH). Cenógrafo e Figurinista.
Wádson Pereira Rocha – Doutorando em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Mestre em Artes (UFU). Artista visual.
Folia virtual. Nove agremiações completaram a disputa pelo tão sonhado título de campeã da folia virtual. O espetáculo foi aberto com o desfile simbólico da Filhos do Tigre que, fora da disputa, honrou o público virtual com visual brilhante e consistente, mesmo em sua pequena extensão. A Escola retratou Maria como sinal de virtude, pureza e devoção no enredo Filha de Sião. Analisamos abaixo as demais escolas da noite, que vieram firmes na competição.
Imperiais do Samba
Jovelina Pérola Negra reinou no enredo da Imperiais do Samba. O desfile foi dedicado à força da pele preta em sua presença e fé, resgatando a ancestralidade do povo africano. A voz da senzala é representada na Comissão de Frente pela travessia dos africanos. Em uma visão poética do poema Navio Negreiro trabalhou-se o imagético em uma estética de força e poder através das pérolas negras que cruzavam o oceano. As alas em tons de verdes trouxeram o sincretismo do culto à Jurema e o respeito das ervas em rituais de cura. A proteção dos Orixás veio em Alas de cores quentes que fizeram um maravilhoso contraponto visual. Um desfile bonito que mostrou através de mitos e raízes africanas a deusa da Serrinha nomeada Jovelina em uma belíssima homenagem.
Sociedade Águia Real
A Sociedade Águia Real apresentou o enredo Sabejé – cortejo para o rei da terra, em um desfile que buscou na sabedoria ancestral a conexão com a energia de Obaluayê. A Águia tricolor da Baixada Fluminense veio com tudo na passarela virtual. Contra a intolerância religiosa, a Escola afirmou a resistência com conhecimento e sabedoria. Os diversos Orixás reforçaram as lendas e os mitos na história dos cultos religiosos de matrizes africanas. A pipoca como elemento principal do cortejo, se transformou em flores no simbolismo da limpeza e purificação do corpo. Todo o desfile mostrou uma representatividade ritualística que descreve, além do contexto histórico, um conjunto visual de elementos de forte presença estética em cores e formas.
Estrela Guia
A galinha ciscou na passarela virtual com a Estrela Guia no enredo “Yaô D’Angola”. Um desfile conceitual lindamente representado, que conta a criação da Terra de forma mística. Os tons acinzentados trouxeram uma luz prata à primeira parte do desfile em formas sinuosas que lembram uma “Art Noveau futurista”. Fantasias em tons terrosos mostraram os seres humanos em infinitas formas não completadas, remetendo a um conceito artístico que buscou o Surrealismo em sua visualidade. Em um desfile alegre e bem defendido na avenida e fundamentado em ricas narrativas, abordou a vida, a magia e a espiritualidade das heranças culturais religiosas. A galinha D’Angola fechou o desfile com maestria, valendo ver e rever todo o espetáculo.
Astro Rei da Folia
A história da dança desde os povos primitivos até nossos dias como Patrimônio Cultural, principalmente brasileiro, veio encantar nossos olhos no desfile da Astro Rei. A avenida se abriu em diversas danças trazidas pelo Rei Sol e seguiu desfiando danças históricas, ritualísticas e culturais. A escola trouxe a dança como forma de cultuar os deuses, as danças milenares em representações de uma beleza suave. As danças da corte em fantasias bem trabalhadas também encantaram o espectador. Nesta jornada dançante, não faltaram balés, como o Quebra Nozes e o Lago dos Cisnes, e musicais. As Alas com danças populares representadas pelo mundo verteram a cultura de cada país, seguidas pelo hibridismo de nossas raízes portuguesas, africanas e indígenas. Finalizou com diversas danças que representam a cultura integrativa que o Brasil resgata em um belo trabalho visual.
Recanto do Beija-flor
O GRESV Recanto do Beija-flor trouxe para a avenida virtual Histórias do arco… do Teles, de todos, de sempre. A qualidade estética da escola foi significativa na apresentação dos temas históricos envolvendo o arco do Teles de Menezes. O artista Debret foi recordado no desfile. Trouxeram também a comercialização, os seus trabalhadores do setor portuário, os registros de imóveis e toda a visibilidade da época. Caminhando muito bem pelos aspectos históricos, abordaram a herança africana e o povo cigano. Cabe destaque para o tripé em que lunetas representavam as visões de memória do arco. O samba cantado pela escola, também, é foco de destaque, pois é contagiante.
Arautos do Cerrado
A partir das obras de Fernando Pinto e Oswaldo Jardim no carnaval carioca, a Arautos do Cerrado trouxe para a avenida virtual os povos originários, os verdadeiros donos do território brasileiro. Apresentou, brilhantemente, a exploração do branco, o extrativismo das riquezas brasileiras, o abuso dos corpos daqueles que aqui já habitavam. Trouxe para a avenida virtual as riquezas da flora e fauna brasileira. A leveza das fantasias e a harmonia das cores para contar a história dos povos indígenas são os grandes destaques da escola. Os aspectos da exploração das terras dos povos originários foram bem representados na avenida virtual.
Império do Rio Belo
A Império do Rio Belo apresentou na avenida virtual, uma viagem visual pelas fantasias e alegorias, pelos pontos cantados dos caboclos brasileiros, em Terra de cabocla – vem dançar mais eu. A agremiação transformou o desfile em uma grande gira de caboclos. Nas alas, diversas falanges surgiram pelos setores entre o verde das matas e o vermelho do sangue caboclo. A escolha cromática do desfile foi usada com as demais falanges e vibrações, como os caboclos do sertão, dos mares, celestiais, os encantados e os caboclos culturais – uma brilhante escolha! Os totens apresentados atrapalharam algumas leituras ao longo do desfile. Mesmo assim, o conjunto do Império do Rio Belo conseguiu, com maestria, transmitir a linda mensagem dos nossos caboclos.
Império da Praça XI
Os batuques rufaram e as cantorias anunciaram a chegada do Império da Praça XI com o enredo Batuques e cantorias para cantar a velha Serrinha. Um grande quilombo atravessou a avenida virtual, representando as batalhas diárias, o sobe e desce do morro para trabalhar e levar o sustento para seu povo. Destaque para a fantasia da Ala 9 – Batalha de todos os dias, com um ótimo efeito estético, proporcionou movimentos harmônicos e de impacto. Outro ponto alto do desfile foi o tripé Áurea que viu a lágrima, provocando uma reflexão das ambiguidades da Lei Áurea.
Imperatriz Itaocarense
Fechando a noite, desfilou a Imperatriz Itaocarense. O enredo “homenageou” de forma romantizada, o Duque de Santo Tirso: um aventureiro, que na criação imaginada do mito fundador, organizou a invasão do Sertão de Macacu, segundo o enredo. Usando diversas referências e iconografias colonizadoras, entre eles os bandeirantes, a agremiação passou pela avenida mostrando como o bando de Mão de Luva lavrava o ouro clandestinamente. O destaque, pela força contraditória do enredo, foi o tripé Quintos dos infernos, que representou o descontentamento dos mineradores, diante da ganância dos impostos cobrados pela coroa portuguesa.
O Carnaval Virtual acabou e já deixou de saudade! Foi uma temporada sensacional, com grandes desfiles! Parabéns a todas as agremiações que se apresentaram nos três grupos da competição. Que vençam as melhores!
Texto elaborado coletivamente pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NEsCaFe (@necf.ufrj):
Carlos Carvalho – Doutor em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Professor no curso de Licenciatura em Artes Visuais/UFAM.
Du Carmo Vido – Doutoranda em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Professora de Artes do Município do Rio de Janeiro.
Leo Jesus – Doutor em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Mestre em Historia del Drama (UAH). Cenógrafo e Figurinista.
Wádson Pereira Rocha – Doutorando em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Mestre em Artes (UFU). Artista visual.