Valongo cantará sereia angolana no Carnaval Virtual 2023

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A vermelha e branca de Itaocara/RJ apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso II, do Carnaval Virtual de 2023. “Kianda” é o enredo que o GRESV Valongo irá defender em seu próximo desfile oficial. Confira abaixo a sinopse do enredo divulgada pela agremiação: “Kianda” Há muito tempo, quando Angola ainda […]

POR Carnaval Virtual05/05/2023|6 min de leitura

Valongo cantará sereia angolana no Carnaval Virtual 2023

Logo oficial do enredo

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A vermelha e branca de Itaocara/RJ apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso II, do Carnaval Virtual de 2023.

Pavilhão oficial da agremiação

“Kianda” é o enredo que o GRESV Valongo irá defender em seu próximo desfile oficial.

Confira abaixo a sinopse do enredo divulgada pela agremiação:

“Kianda”

Há muito tempo, quando Angola ainda era um território do Reino do Kongo, a ilha de Luanda era tida como um local de acesso restrito, vigiada noite e dia por guardas diretamente ligados ao rei. Ninguém penetrava em suas praias sem a devida autorização. Esta restrição era quebrada apenas quando se aproximava o período da coleta dos cobiçados búzios acinzentados assentados no fundo do mar… Acontece que nesta época a moeda corrente de quase toda costa oeste do continente africano era exatamente essas conchas, conhecidas como nzimbus. Com elas se realizavam todas as atividades comerciais, trocando-as por alimentos, peças de vestuário, criações e muitas outras mercadorias. A ilha era, portanto, uma verdadeira casa da moeda, geradora de riquezas, pois embora o nzimbu fosse encontrado em outras praias de angolanas, os búzios acinzentados, mais raros, ocorriam somente ali. E, exatamente por isso, eram mais valiosos.

Quando o rei julgava necessário aumentar a riqueza monetária da nação, convocava um grupo de mulheres e as encumbia da coleta dos pequenos búzios. Avançavam até certa profundidade no mar, mergulhavam e enchiam de areia os cestos de palha que carregavam. Depois levavam até a praia e começavam a procurar as conchas mais valiosas. Tudo era feito sob o olhar atento da guarda real para que nenhum nzimbu fosse desviado. Era um trabalho árduo e perigoso, pois não eram escassos os casos de ataques de tubarões.

Temerosas destes ataques e de outros perigos, estavam sempre a pedir proteção às divindades ligadas ao grande Kalunga. Não somente elas, mas também os inúmeros pescadores que toda manhã partiam para alto mar desejosos de uma boa pesca. E suas preces eram sempre atendidas… A fartura imperava. O variado pescado atraía comerciantes de muitas regiões e assim fazia o reino prosperar economicamente.

Porém, certo dia, um conhecido pescador cansado de investidas infrutíferas em alto mar clamou por misericórdia e ajuda, pois no meio de tanta fartura somente ele não conseguia seu sustento através do trabalho. Dependia da caridade de seus vizinhos e amigos. Vendo o desespero daquele homem, Kianda, a sereia do grande Kalunga, que todos conheciam e respeitavam, encheu-se de compaixão e resolveu ajudar.

Mergulhou nas límpidas águas do oceano e separou um grande baú recheado de tesouros, com muitos nzimbus. Ao lançar sua rede, numa derradeira tentativa, percebeu que ao contrário de todas as outras vezes a rede estava pesada, e pôs-se a recolhê-la rapidamente. O velho pescador não conseguia acreditar no que via. Suas preces foram ouvidas e em seu coração as esperanças de uma nova vida se renovaram. Agradeceu à Kianda e rapidamente retornou à terra com grandes planos.

Com parte de seu tesouro comprou vários barcos, de diferentes tamanhos. Para cada barco contratou pescadores e assim fez sua fortuna prosperar. Diante de tanta riqueza acabou mudando seu comportamento e ao contrário do que se esperava, não compartilhava seus bens com os que necessitavam, maltratava aqueles que antes lhe ofereciam ajuda e que agora eram seus empregados. Sua postura entristecia a todos, inclusive à Kianda que observava o poder corromper o velho pescador.

Logo oficial do enredo

A sereia resolveu, então, aplicar-lhe um castigo. Era dia e do porto o homem via seu maior barco partir para alto mar em mais uma empreitada. Fitava a grande embarcação indo já distante quando avistou uma forte chuva repentina se aproximando. Kalunga logo se revoltou e com ondas muito altas duelava com a embarcação que acabou sucumbindo. Era a força de Matamba, senhora das tempestades que viera auxiliar os planos de Kianda.

Mesmo diante desta perda, o coração daquele senhor não mudava e Kianda se via obrigada a continuar o castigo. Desta vez, solicitou para a mãe das águas profundas que através de sua força arrebatasse as embarcações daquele senhor. E assim Kaitumba o fez. As embarcações não foram capazes de oferecer resistência e foram literalmente engolidas por Kalunga.

O velho pescador se desesperou e por um momento até imaginou repensar sua postura, mas foi golpeado pela ganância e pela ilusão do poder que o dinheiro lhe dava. Lançou todas as pequenas embarcações e jangadas em alto mar, pois era preciso pescar ainda mais para recuperar parte de seu tesouro perdido. Foi então que Kianda se pôs a cantar e a encantar os pescadores que, enfeitiçados, se lançaram à água mergulhando eternamente no infinito azul de Kalunga, deixando à deriva todas as embarcações.

Gradativamente Kianda conseguiu fazer com que toda aquela riqueza voltasse ao seu reino e desde então não mais presenteou aos homens da terra. Resolvera que todos que quisessem conhecer suas riquezas deveriam morar nas águas do fundo do mar.

E assim, passados tantos anos, muitos foram os encantados por Kianda… Há quem diga que sob as águas do mar muitos vivem em lindas cidades no reino daquela que em novembro é celebrada pelos angolanos em grandes festividades e hoje é tema do carnaval da Valongo.

Kianda, Kianda, é sereia que mora no fundo do mar.
Ela tem um tesouro, tem prata, tem ouro
Um olhar caridoso para quem vive a chamar:
Kianda! Kianda!
(Chaveiroeiro, 2020)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAVEIROEIRO. Kianda e os encantos do Kalunga. Youtube, 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IgAMSCrUYN0>. Acesso em 10 de abril de 2023.

ONOFRE, Clara. Angola: Sobre a sereia Kianda e outros seres míticos. Global Voices, 2008. Disponível em: <https://pt.globalvoices.org/2008/10/29/angola-sobre-a-sereia-kianda-e-outros-seres-miticos/>. Acesso em 04 de abril de 2023.

PAMPLONA, Pedro. Lendas da Angola – “A Sereia Kianda”.Youtube, 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KC-qs3_G17w>. Acesso em 10 de abril de 2023.

PARADIZO, Silvio Ruiz. A diáspora de Maria: relações sincréticas e culturais entre Nossa Senhora, Kianda e Nzuzu em O outro pé da sereia, de Mia Couto. Uniletras, Ponta Grossa, jul./dez. 2011. Disponível em: <https://revistas.uepg.br/index.php/uniletras/article/download/2384/3031/13154>. Acesso em 02 de abril de 2023.

Kianda, a sereia angolana. Disponível em: <http://sereismo.com/2017/11/20/kianda-a-sereia-angolana/>. Acesso em 03 de abril de 2023.

A vermelha e branca de Itaocara/RJ apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso II, do Carnaval Virtual de 2023.

Pavilhão oficial da agremiação

“Kianda” é o enredo que o GRESV Valongo irá defender em seu próximo desfile oficial.

Confira abaixo a sinopse do enredo divulgada pela agremiação:

“Kianda”

Há muito tempo, quando Angola ainda era um território do Reino do Kongo, a ilha de Luanda era tida como um local de acesso restrito, vigiada noite e dia por guardas diretamente ligados ao rei. Ninguém penetrava em suas praias sem a devida autorização. Esta restrição era quebrada apenas quando se aproximava o período da coleta dos cobiçados búzios acinzentados assentados no fundo do mar… Acontece que nesta época a moeda corrente de quase toda costa oeste do continente africano era exatamente essas conchas, conhecidas como nzimbus. Com elas se realizavam todas as atividades comerciais, trocando-as por alimentos, peças de vestuário, criações e muitas outras mercadorias. A ilha era, portanto, uma verdadeira casa da moeda, geradora de riquezas, pois embora o nzimbu fosse encontrado em outras praias de angolanas, os búzios acinzentados, mais raros, ocorriam somente ali. E, exatamente por isso, eram mais valiosos.

Quando o rei julgava necessário aumentar a riqueza monetária da nação, convocava um grupo de mulheres e as encumbia da coleta dos pequenos búzios. Avançavam até certa profundidade no mar, mergulhavam e enchiam de areia os cestos de palha que carregavam. Depois levavam até a praia e começavam a procurar as conchas mais valiosas. Tudo era feito sob o olhar atento da guarda real para que nenhum nzimbu fosse desviado. Era um trabalho árduo e perigoso, pois não eram escassos os casos de ataques de tubarões.

Temerosas destes ataques e de outros perigos, estavam sempre a pedir proteção às divindades ligadas ao grande Kalunga. Não somente elas, mas também os inúmeros pescadores que toda manhã partiam para alto mar desejosos de uma boa pesca. E suas preces eram sempre atendidas… A fartura imperava. O variado pescado atraía comerciantes de muitas regiões e assim fazia o reino prosperar economicamente.

Porém, certo dia, um conhecido pescador cansado de investidas infrutíferas em alto mar clamou por misericórdia e ajuda, pois no meio de tanta fartura somente ele não conseguia seu sustento através do trabalho. Dependia da caridade de seus vizinhos e amigos. Vendo o desespero daquele homem, Kianda, a sereia do grande Kalunga, que todos conheciam e respeitavam, encheu-se de compaixão e resolveu ajudar.

Mergulhou nas límpidas águas do oceano e separou um grande baú recheado de tesouros, com muitos nzimbus. Ao lançar sua rede, numa derradeira tentativa, percebeu que ao contrário de todas as outras vezes a rede estava pesada, e pôs-se a recolhê-la rapidamente. O velho pescador não conseguia acreditar no que via. Suas preces foram ouvidas e em seu coração as esperanças de uma nova vida se renovaram. Agradeceu à Kianda e rapidamente retornou à terra com grandes planos.

Com parte de seu tesouro comprou vários barcos, de diferentes tamanhos. Para cada barco contratou pescadores e assim fez sua fortuna prosperar. Diante de tanta riqueza acabou mudando seu comportamento e ao contrário do que se esperava, não compartilhava seus bens com os que necessitavam, maltratava aqueles que antes lhe ofereciam ajuda e que agora eram seus empregados. Sua postura entristecia a todos, inclusive à Kianda que observava o poder corromper o velho pescador.

Logo oficial do enredo

A sereia resolveu, então, aplicar-lhe um castigo. Era dia e do porto o homem via seu maior barco partir para alto mar em mais uma empreitada. Fitava a grande embarcação indo já distante quando avistou uma forte chuva repentina se aproximando. Kalunga logo se revoltou e com ondas muito altas duelava com a embarcação que acabou sucumbindo. Era a força de Matamba, senhora das tempestades que viera auxiliar os planos de Kianda.

Mesmo diante desta perda, o coração daquele senhor não mudava e Kianda se via obrigada a continuar o castigo. Desta vez, solicitou para a mãe das águas profundas que através de sua força arrebatasse as embarcações daquele senhor. E assim Kaitumba o fez. As embarcações não foram capazes de oferecer resistência e foram literalmente engolidas por Kalunga.

O velho pescador se desesperou e por um momento até imaginou repensar sua postura, mas foi golpeado pela ganância e pela ilusão do poder que o dinheiro lhe dava. Lançou todas as pequenas embarcações e jangadas em alto mar, pois era preciso pescar ainda mais para recuperar parte de seu tesouro perdido. Foi então que Kianda se pôs a cantar e a encantar os pescadores que, enfeitiçados, se lançaram à água mergulhando eternamente no infinito azul de Kalunga, deixando à deriva todas as embarcações.

Gradativamente Kianda conseguiu fazer com que toda aquela riqueza voltasse ao seu reino e desde então não mais presenteou aos homens da terra. Resolvera que todos que quisessem conhecer suas riquezas deveriam morar nas águas do fundo do mar.

E assim, passados tantos anos, muitos foram os encantados por Kianda… Há quem diga que sob as águas do mar muitos vivem em lindas cidades no reino daquela que em novembro é celebrada pelos angolanos em grandes festividades e hoje é tema do carnaval da Valongo.

Kianda, Kianda, é sereia que mora no fundo do mar.
Ela tem um tesouro, tem prata, tem ouro
Um olhar caridoso para quem vive a chamar:
Kianda! Kianda!
(Chaveiroeiro, 2020)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAVEIROEIRO. Kianda e os encantos do Kalunga. Youtube, 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IgAMSCrUYN0>. Acesso em 10 de abril de 2023.

ONOFRE, Clara. Angola: Sobre a sereia Kianda e outros seres míticos. Global Voices, 2008. Disponível em: <https://pt.globalvoices.org/2008/10/29/angola-sobre-a-sereia-kianda-e-outros-seres-miticos/>. Acesso em 04 de abril de 2023.

PAMPLONA, Pedro. Lendas da Angola – “A Sereia Kianda”.Youtube, 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KC-qs3_G17w>. Acesso em 10 de abril de 2023.

PARADIZO, Silvio Ruiz. A diáspora de Maria: relações sincréticas e culturais entre Nossa Senhora, Kianda e Nzuzu em O outro pé da sereia, de Mia Couto. Uniletras, Ponta Grossa, jul./dez. 2011. Disponível em: <https://revistas.uepg.br/index.php/uniletras/article/download/2384/3031/13154>. Acesso em 02 de abril de 2023.

Kianda, a sereia angolana. Disponível em: <http://sereismo.com/2017/11/20/kianda-a-sereia-angolana/>. Acesso em 03 de abril de 2023.

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