Acadêmicos do Salgueiro apresenta sinopse aos compositores
Numa noite repleta de emoção, o Acadêmicos do Salgueiro apresentou a sinopse do enredo “Senhoras do ventre do mundo” aos compositores, personalidades do mundo do samba e imprensa. A quadra foi abertas as 20 horas em ponto com a recepção sendo feita pela ala das baianas sob o comando de Tia Glorinha. Antes da explanação […]
POR Adriana Vieira30/05/2017|11 min de leitura
Numa noite repleta de emoção, o Acadêmicos do Salgueiro apresentou a sinopse do enredo “Senhoras do ventre do mundo” aos compositores, personalidades do mundo do samba e imprensa. A quadra foi abertas as 20 horas em ponto com a recepção sendo feita pela ala das baianas sob o comando de Tia Glorinha.
Antes da explanação e apresentação da sinopse, a mesa foi anunciada com a presença da presidente Regina Celi e demais membros da diretoria, além da secretaria de Cultura, Nilcemar Nogueira, e do carnavalesco Alex de Souza, que fez a leitura da sinopse e anunciou o vídeo que seria apresentado logo em seguida.
A quadra recebeu dezenas de compositores que estavam concentrados na explanação do carnavalesco. O vídeo apresentado teve uma duração de cerca de dez minutos com fotos de mulheres negras com diversas indumentárias. Após a apresentação, Alex de Souza explicou como será cada setor da escola mostrado no vídeo e como deve ser elaborado o samba-enredo.
A secretária de Cultura, Nilcemar Nogueira fez um breve discurso enaltecendo o belo enredo do Salgueiro e a importância de retratar a força da mulher negra no contexto social. Muito emocionada ela parabenizou a diretoria da escola destacando que a África é o berço da humanidade.
Após o término da apresentação da sinopse, os compositores e convidados foram convidados para a degustação de caldos, acarajé e frios servidos pelas componentes da ala das baianas. Entre um e outro aperitivo, os compositores foram convocados para uma reunião com a presidente Regina Celi e a direção de carnaval da escola.
Em entrevista ao SRzd Carnaval, o carnavalesco Alex de Souza, em seu primeiro carnaval pela vermelho e branco tijucana, falou da importância do enredo que tem o DNA e a característica da escola.
– Acho importante essa identificação da escola. Todo mundo espera algo que tenha uma afinidade com o seu passado e a sua história. Tudo isso além da importância que a escola tem no contexto carnavalesco. Claro que não dá para falar o mesmo tema todo ano, mas é interessante saber como é a alma da escola. O enredo é bem diferente do “Candaces, que já tem quase nove anos. O texto da época é diferente do contexto de hoje. Estamos vivendo uma época de intolerância em todos os sentidos. Acho que o enredo não veio por acaso. Ele fala da importância da mulher e, principalmente, da mulher negra. Fazemos um apanhado geral desde o princípio feminino da criação pelo lado espiritual e místico, até o científico, encontrados na África. O vídeo que apresentamos foi uma ilustração leve do tema.
O carnavalesco acrescentou que o enredo não é autoral, mas do Dr. Júlio Tavares, do Instituto Hoju (Centro de Estudos Africanos).
O diretor de Carnaval, Alexandre Couto, em seu segundo ano no Salgueiro, disse ao SRzd Carnaval que espera belas obras dos compositores. Ele fez um balanço positivo do Carnaval de 2017, destacando a união geral da escola.
– Não temos dúvidas da capacidade dos nossos compositores. Agora com a sinopse do enredo e a explicação do carnavalesco, vamos tentar dar toda atenção possível na obra que eles irão criar. Eu propus a presidente de não anteciparmos nada, vamos esperar os compositores procurarem pela sinopse para depois definirmos datas do tira-dúvidas e entrega dos sambas. Não estabeleci datas até porque teremos uma reunião agora com eles.
Enredo: “Senhoras do Ventre do Mundo”
“Eu sou o ventre principal, a Terra-Negra, a grande Mãe Universal, a primeira que gera e nutre o mundo, Grande Ya vermelha, cor símbolo da vida, fonte de energia e poder sobrenatural. (…) Fértil, me uno no ritual com o branco, a outra metade da cabaça, formando o Par Vital.”
ARGUMENTO
Há cinquenta e cinco anos, sob o manto vermelho e branco, a Acadêmicos do Salgueiro celebrou a desconhecida história de uma negra mulher… O desfile sobre aquela que se tornou “De escravizada à rainha”, marcou para sempre a agremiação e o carnaval brasileiro.
Outras heroínas irão salgueirar. Algumas famosas, outras anônimas, mas todas carregam no gênero e na cor, suas conquistas. Suas histórias serão (re)contadas, num longo espaço de tempo, que vai do alvorecer da espécie humana, até os dias atuais.
SINOPSE
Ela… brotou do ventre negro da África, seu povo a deu o nome de Dinikinesh (*), seu fóssil de milhões de anos era, aos olhos da ciência, a Eva Africana, que deu à luz a humanidade. A partir daí, a história segue seus passos…
Ela… é bíblica soberana de Sabá, dona do coração de Salomão. Ela… é negra rainha. Regente na Etiópia, construiu palácios, cimentou a cultura e a arte. Contra-atacou os invasores. Foi general da Núbia, liderando exércitos.
Ela… é, no Vale do Nilo, a personificação da autoridade divina, fonte do poder. Guardiã da linhagem real. Como Hórus, lança fogo contra seus inimigos.
Ela… É esposa e Mãe do Egito – a Deusa Ísis – amamentando o divino filho, Hórus, inspiração para a imagem da santíssima mãe nos primeiros santuários Cristãos. É também Neith, a Deusa mais velha, que fala com a voz atemporal “Eu sou tudo o que foi ou será.” E Hathor, autogerada, doadora da vida, protetora dos mortos, deusa dos sentidos.
Ela… é mestre Hypátia de Alexandria, “a última grande cientista mulher da antiguidade”.
Ela é Merit Pitah a mulher que cria a medicina e a primeira ideia de casas de maternidade na história da humanidade.
Ela… é guerreira, é Nzingha de Angola, na luta contra o imperialismo português, e que insistia em ser chamada de rei, ao marchar para o campo de batalha com roupa de varão. É Yaa Asantewa dos Ashanti. A Rainha Mãe de Ejisu, em Gana, que lutou contra os britânicos, e ao seu povo declarou: “Se os homens de Ashanti não irão para frente, então vamos todos nós. Nós, as mulheres, iremos…” Do lado de cá, é a conselheira Acotirene de Palmares, a sagrada mulher que empossou Ganga Zumba. É Teresa do Quariterê. É Maria Felipa, Luiza Mahin, e muitas outras…
Ela… é a matriarca nestes cafundós coloniais e imperiais. Neste lado do Atlântico, formou novos laços familiares, irmandades negras, sociedades secretas que deram origem a diversas religiões de matriz africana. É a mãe preta, “ama de leite”, que amamentava o sinhozinho, que estava com dengo e só queria um xodó. É quem trança as madeixas fazendo cafuné, enquanto canta quadras e conta histórias para ninar. Cantigas cantadas em língua nativa, que citavam itans africanos, perpetuados entre nós.
Criou as feiras livres, nas praças e esquinas. Vendedoras de frutas e legumes, equilibrando seus tabuleiros, cestos sobre a cabeça, as primeiras empreendedoras do Brasil. São as filhas de Oya, que pregoam: Ê e abará! Que descendo a alameda da cidade com seus encantos, de saia rodada, sandália bordada, coberta de contas e balangandãs pisando nas pontas, sabe encantar. A “negra forra”, que faturava alguns mil réis, para a compra da carta de alforria das suas irmãs cativas. Doceira, quituteira, quitandeira.
Ela… que alimenta, no seu tabuleiro tem… Vatapá, Caruru, Mungunzá. Põe na gamela o tempero, machuca a pimenta da costa e mais uma pitadinha de sal, põe farofa de dendê e veja só no que dá. Tem angu e aluá. Também tem Bobó, Acarajé e Efó. E depois o quindim e doce de leite com amendoim…
Quem… dá fé aos saberes das folhas. uma doutora ou curandeira. Ervas pra curar, ervas pra benzer. Mas se é canjerê, ela “corta” quebranto, invoca o seu santo para lhe proteger. No axé, ela é Yamin, Preta Velha, Agbá, Mametu, Nochê… Mãe que prepara o ebó para o Oboró e para a Yapeabá. E cultua no Gèlèdè que reverencia e apazigua as Mães Primeiras, as “Senhoras dos Pássaros da Noite”, as energias geradoras da vida, e controladoras da morte. Para assegurar o equilíbrio do mundo. Sabe que para o povo africano: “tudo aquilo que o homem vier a conseguir na terra, o será através da mão da mulher”.
Ela… que seguindo os mestres e griôs, na tradição oral africana, fortaleceu as lutas de libertação. E através da palavra escrita, eternizou sua história.
Ela… autora negra, guardiã dos valores ancestrais, desde Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista do Brasil à Carolina Maria de Jesus, que registrava o cotidiano da comunidade, ao comparar a favela e seus cafofos, ao quarto de despejo de uma cidade. Estas e demais escritoras, superaram imposições sociais ao figurarem o seleto meio literário do país.
Ela… é memória do mundo; deusa; rainha; guerreira; sacerdotisa; feiticeira, a matriarca, que trabalha e sustenta a prole sozinha, seu nome é resiliência. Mãe, irmã, amante e companheira. Velha guarda, baiana, passista, porta bandeira.
Ela… cheia de graça, bendita mulher e seu ventre, com seus formosos pássaros, do alto dos ceús, olhai por nós!
Alex de Souza, carnavalesco.
Pesquisa Coordenador Dr. Júlio Tavares
Pesquisadoras: Kaká Portilho, Marina Miranda e alunos do curso de História Geral da África – Instituto Hoju
ROTEIRO PARA OS COMPOSITORES
ABERTURA
A Terra-Negra, a grande “Mãe Universal”. As forças ancestrais que geram e nutrem o mundo. O ventre africano, que deu à luz à humanidade.
1º SETOR
A linhagem das rainhas negras, que consolidaram a cultura e a arte e lideraram exércitos.
2º SETOR
A personificação da autoridade divina, fonte do poder no Vale do Nilo. Esposas e soberanas; deusas mães de Kemet (Egito)
3º SETOR
Guerreiras na luta contra o imperialismo europeu no campo de batalha africano. As heroínas quilombolas e as líderes das rebeliões históricas.
4º SETOR
As matriarcas que formaram novos laços familiares: As irmandades negras. As “mães pretas” que acalentam. As primeiras empreendedoras do Brasil: doceira, quituteira, quitandeira.
5º SETOR
As que deram origem à diversas religiões de matriz africana. Donas dos saberes das ervas. Doutoras e curandeiras. No axé cultuam, reverencia, e apazigua, as “Mães Primeiras”, as “Senhoras dos Pássaros da Noite”.
6º SETOR
As escritoras, que perpetuam os valores culturais, registrando em livros suas lutas e dura realidade.
1* Significa “você é maravilhosa” na língua Amharic (semiótica Afro asiática – etiope). O achado arqueológico ficou internacionalmente conhecido como fóssil Lucy, aleatoriamente escolhido pelos arqueólogos europeus.
Numa noite repleta de emoção, o Acadêmicos do Salgueiro apresentou a sinopse do enredo “Senhoras do ventre do mundo” aos compositores, personalidades do mundo do samba e imprensa. A quadra foi abertas as 20 horas em ponto com a recepção sendo feita pela ala das baianas sob o comando de Tia Glorinha.
Antes da explanação e apresentação da sinopse, a mesa foi anunciada com a presença da presidente Regina Celi e demais membros da diretoria, além da secretaria de Cultura, Nilcemar Nogueira, e do carnavalesco Alex de Souza, que fez a leitura da sinopse e anunciou o vídeo que seria apresentado logo em seguida.
A quadra recebeu dezenas de compositores que estavam concentrados na explanação do carnavalesco. O vídeo apresentado teve uma duração de cerca de dez minutos com fotos de mulheres negras com diversas indumentárias. Após a apresentação, Alex de Souza explicou como será cada setor da escola mostrado no vídeo e como deve ser elaborado o samba-enredo.
A secretária de Cultura, Nilcemar Nogueira fez um breve discurso enaltecendo o belo enredo do Salgueiro e a importância de retratar a força da mulher negra no contexto social. Muito emocionada ela parabenizou a diretoria da escola destacando que a África é o berço da humanidade.
Após o término da apresentação da sinopse, os compositores e convidados foram convidados para a degustação de caldos, acarajé e frios servidos pelas componentes da ala das baianas. Entre um e outro aperitivo, os compositores foram convocados para uma reunião com a presidente Regina Celi e a direção de carnaval da escola.
Em entrevista ao SRzd Carnaval, o carnavalesco Alex de Souza, em seu primeiro carnaval pela vermelho e branco tijucana, falou da importância do enredo que tem o DNA e a característica da escola.
– Acho importante essa identificação da escola. Todo mundo espera algo que tenha uma afinidade com o seu passado e a sua história. Tudo isso além da importância que a escola tem no contexto carnavalesco. Claro que não dá para falar o mesmo tema todo ano, mas é interessante saber como é a alma da escola. O enredo é bem diferente do “Candaces, que já tem quase nove anos. O texto da época é diferente do contexto de hoje. Estamos vivendo uma época de intolerância em todos os sentidos. Acho que o enredo não veio por acaso. Ele fala da importância da mulher e, principalmente, da mulher negra. Fazemos um apanhado geral desde o princípio feminino da criação pelo lado espiritual e místico, até o científico, encontrados na África. O vídeo que apresentamos foi uma ilustração leve do tema.
O carnavalesco acrescentou que o enredo não é autoral, mas do Dr. Júlio Tavares, do Instituto Hoju (Centro de Estudos Africanos).
O diretor de Carnaval, Alexandre Couto, em seu segundo ano no Salgueiro, disse ao SRzd Carnaval que espera belas obras dos compositores. Ele fez um balanço positivo do Carnaval de 2017, destacando a união geral da escola.
– Não temos dúvidas da capacidade dos nossos compositores. Agora com a sinopse do enredo e a explicação do carnavalesco, vamos tentar dar toda atenção possível na obra que eles irão criar. Eu propus a presidente de não anteciparmos nada, vamos esperar os compositores procurarem pela sinopse para depois definirmos datas do tira-dúvidas e entrega dos sambas. Não estabeleci datas até porque teremos uma reunião agora com eles.
Enredo: “Senhoras do Ventre do Mundo”
“Eu sou o ventre principal, a Terra-Negra, a grande Mãe Universal, a primeira que gera e nutre o mundo, Grande Ya vermelha, cor símbolo da vida, fonte de energia e poder sobrenatural. (…) Fértil, me uno no ritual com o branco, a outra metade da cabaça, formando o Par Vital.”
ARGUMENTO
Há cinquenta e cinco anos, sob o manto vermelho e branco, a Acadêmicos do Salgueiro celebrou a desconhecida história de uma negra mulher… O desfile sobre aquela que se tornou “De escravizada à rainha”, marcou para sempre a agremiação e o carnaval brasileiro.
Outras heroínas irão salgueirar. Algumas famosas, outras anônimas, mas todas carregam no gênero e na cor, suas conquistas. Suas histórias serão (re)contadas, num longo espaço de tempo, que vai do alvorecer da espécie humana, até os dias atuais.
SINOPSE
Ela… brotou do ventre negro da África, seu povo a deu o nome de Dinikinesh (*), seu fóssil de milhões de anos era, aos olhos da ciência, a Eva Africana, que deu à luz a humanidade. A partir daí, a história segue seus passos…
Ela… é bíblica soberana de Sabá, dona do coração de Salomão. Ela… é negra rainha. Regente na Etiópia, construiu palácios, cimentou a cultura e a arte. Contra-atacou os invasores. Foi general da Núbia, liderando exércitos.
Ela… é, no Vale do Nilo, a personificação da autoridade divina, fonte do poder. Guardiã da linhagem real. Como Hórus, lança fogo contra seus inimigos.
Ela… É esposa e Mãe do Egito – a Deusa Ísis – amamentando o divino filho, Hórus, inspiração para a imagem da santíssima mãe nos primeiros santuários Cristãos. É também Neith, a Deusa mais velha, que fala com a voz atemporal “Eu sou tudo o que foi ou será.” E Hathor, autogerada, doadora da vida, protetora dos mortos, deusa dos sentidos.
Ela… é mestre Hypátia de Alexandria, “a última grande cientista mulher da antiguidade”.
Ela é Merit Pitah a mulher que cria a medicina e a primeira ideia de casas de maternidade na história da humanidade.
Ela… é guerreira, é Nzingha de Angola, na luta contra o imperialismo português, e que insistia em ser chamada de rei, ao marchar para o campo de batalha com roupa de varão. É Yaa Asantewa dos Ashanti. A Rainha Mãe de Ejisu, em Gana, que lutou contra os britânicos, e ao seu povo declarou: “Se os homens de Ashanti não irão para frente, então vamos todos nós. Nós, as mulheres, iremos…” Do lado de cá, é a conselheira Acotirene de Palmares, a sagrada mulher que empossou Ganga Zumba. É Teresa do Quariterê. É Maria Felipa, Luiza Mahin, e muitas outras…
Ela… é a matriarca nestes cafundós coloniais e imperiais. Neste lado do Atlântico, formou novos laços familiares, irmandades negras, sociedades secretas que deram origem a diversas religiões de matriz africana. É a mãe preta, “ama de leite”, que amamentava o sinhozinho, que estava com dengo e só queria um xodó. É quem trança as madeixas fazendo cafuné, enquanto canta quadras e conta histórias para ninar. Cantigas cantadas em língua nativa, que citavam itans africanos, perpetuados entre nós.
Criou as feiras livres, nas praças e esquinas. Vendedoras de frutas e legumes, equilibrando seus tabuleiros, cestos sobre a cabeça, as primeiras empreendedoras do Brasil. São as filhas de Oya, que pregoam: Ê e abará! Que descendo a alameda da cidade com seus encantos, de saia rodada, sandália bordada, coberta de contas e balangandãs pisando nas pontas, sabe encantar. A “negra forra”, que faturava alguns mil réis, para a compra da carta de alforria das suas irmãs cativas. Doceira, quituteira, quitandeira.
Ela… que alimenta, no seu tabuleiro tem… Vatapá, Caruru, Mungunzá. Põe na gamela o tempero, machuca a pimenta da costa e mais uma pitadinha de sal, põe farofa de dendê e veja só no que dá. Tem angu e aluá. Também tem Bobó, Acarajé e Efó. E depois o quindim e doce de leite com amendoim…
Quem… dá fé aos saberes das folhas. uma doutora ou curandeira. Ervas pra curar, ervas pra benzer. Mas se é canjerê, ela “corta” quebranto, invoca o seu santo para lhe proteger. No axé, ela é Yamin, Preta Velha, Agbá, Mametu, Nochê… Mãe que prepara o ebó para o Oboró e para a Yapeabá. E cultua no Gèlèdè que reverencia e apazigua as Mães Primeiras, as “Senhoras dos Pássaros da Noite”, as energias geradoras da vida, e controladoras da morte. Para assegurar o equilíbrio do mundo. Sabe que para o povo africano: “tudo aquilo que o homem vier a conseguir na terra, o será através da mão da mulher”.
Ela… que seguindo os mestres e griôs, na tradição oral africana, fortaleceu as lutas de libertação. E através da palavra escrita, eternizou sua história.
Ela… autora negra, guardiã dos valores ancestrais, desde Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista do Brasil à Carolina Maria de Jesus, que registrava o cotidiano da comunidade, ao comparar a favela e seus cafofos, ao quarto de despejo de uma cidade. Estas e demais escritoras, superaram imposições sociais ao figurarem o seleto meio literário do país.
Ela… é memória do mundo; deusa; rainha; guerreira; sacerdotisa; feiticeira, a matriarca, que trabalha e sustenta a prole sozinha, seu nome é resiliência. Mãe, irmã, amante e companheira. Velha guarda, baiana, passista, porta bandeira.
Ela… cheia de graça, bendita mulher e seu ventre, com seus formosos pássaros, do alto dos ceús, olhai por nós!
Alex de Souza, carnavalesco.
Pesquisa Coordenador Dr. Júlio Tavares
Pesquisadoras: Kaká Portilho, Marina Miranda e alunos do curso de História Geral da África – Instituto Hoju
ROTEIRO PARA OS COMPOSITORES
ABERTURA
A Terra-Negra, a grande “Mãe Universal”. As forças ancestrais que geram e nutrem o mundo. O ventre africano, que deu à luz à humanidade.
1º SETOR
A linhagem das rainhas negras, que consolidaram a cultura e a arte e lideraram exércitos.
2º SETOR
A personificação da autoridade divina, fonte do poder no Vale do Nilo. Esposas e soberanas; deusas mães de Kemet (Egito)
3º SETOR
Guerreiras na luta contra o imperialismo europeu no campo de batalha africano. As heroínas quilombolas e as líderes das rebeliões históricas.
4º SETOR
As matriarcas que formaram novos laços familiares: As irmandades negras. As “mães pretas” que acalentam. As primeiras empreendedoras do Brasil: doceira, quituteira, quitandeira.
5º SETOR
As que deram origem à diversas religiões de matriz africana. Donas dos saberes das ervas. Doutoras e curandeiras. No axé cultuam, reverencia, e apazigua, as “Mães Primeiras”, as “Senhoras dos Pássaros da Noite”.
6º SETOR
As escritoras, que perpetuam os valores culturais, registrando em livros suas lutas e dura realidade.
1* Significa “você é maravilhosa” na língua Amharic (semiótica Afro asiática – etiope). O achado arqueológico ficou internacionalmente conhecido como fóssil Lucy, aleatoriamente escolhido pelos arqueólogos europeus.