Acordo entre Universal Pictures e AMC Theatres pode afetar modelo tradicional de cinema
A pandemia do novo coronavírus impôs inúmeras restrições e mudanças de hábitos, inclusive de consumo. Diversos setores da economia têm sentido o impacto da crise que não mais é apenas sanitária, entre eles, o cinema. Para driblar o prejuízo, a Universal Pictures comprou briga com redes de cinema americanas e lançou, nos Estados Unidos, a […]
POR Ana Carolina Garcia30/07/2020|5 min de leitura
A pandemia do novo coronavírus impôs inúmeras restrições e mudanças de hábitos, inclusive de consumo. Diversos setores da economia têm sentido o impacto da crise que não mais é apenas sanitária, entre eles, o cinema. Para driblar o prejuízo, a Universal Pictures comprou briga com redes de cinema americanas e lançou, nos Estados Unidos, a animação “Trolls 2” (Trolls World Tour – 2020) em premium video-on-demand (PVOD) em abril deste ano – o filme deve chegar às salas brasileiras em 08 de outubro. A decisão do estúdio gerou revolta de exibidores, principalmente dos gigantes Regal e AMC Theatres, que chegaram a afirmar que não colocariam em sua programação nenhum título da companhia.
Programado para o circuito comercial, o longa, produzido em parceria com a DreamWorks Animation, foi disponibilizado ao custo de US$ 19,99, por 48 horas, arrecadando cerca de US$ 100 milhões em três semanas, de acordo com a Variety. E talvez tenha sido este valor o responsável por acalmar os ânimos e permitir um acordo entre a Universal Pictures e a AMC, que amarga mais de US$ 2,2 bilhões em prejuízo desde o fechamento das salas de exibição, podendo, inclusive, ir à falência.
Anunciado na última terça-feira, dia 28, o acordo entre o estúdio e a maior rede de cinema do mundo modificou a janela de exibição para os títulos produzidos e distribuídos pela Universal, algo desejado por seus executivos há bastante tempo. Com isso, a companhia conseguiu quebrar a janela tradicional, que estabelece o intervalo de 70 a 90 dias entre a estreia no circuito e a disponibilização em plataformas digitais e VOD, diminuindo-a para 17 dias – de acordo com o The Hollywood Reporter, este acordo é válido apenas em território americano, mas sua expansão começará a ser discutida nas próximas semanas, podendo chegar aos países da Europa e do Oriente Médio. A partir de agora, os filmes com o selo da empresa chegarão aos lares americanos após três finais de semana em cartaz, dando à AMC 10% do lucro do aluguel de cada um deles em PVOD, ainda segundo o The Hollywood Reporter – estúdios, distribuidores e exibidores consideram os três primeiros finais de semana o período mais rentável de cada filme, talvez, por esta razão, a Universal e a AMC decidiram encurtar a janela de exibição de maneira a preservá-lo.
Outrora crítica ferrenha ao não cumprimento do acordo de janela de exibição e ao lançamento em PVOD de títulos originalmente agendados para o circuito comercial, a AMC tende a lucrar ainda mais caso outros estúdios fechem acordos em termos similares. No entanto, até o momento, nenhum concorrente da Universal anunciou acordo com a rede, que, segundo a Variety, propôs receber 20% da renda dos alugueis dos filmes dos outros estúdios e anuidade de cerca de US$ 2 milhões referentes à publicidade, além de pagar a eles menos 2% da receita dos títulos exibidos em suas salas. Ou seja, para lançarem em PVOD longas-metragens poucos dias após suas respectivas estreias no circuito, os estúdios terão de disponibilizar 52% da arrecadação de cada um deles para a AMC. É um negócio lucrativo para a AMC em tempos de pandemia, sobretudo num primeiro momento após a reabertura das salas, pois parte do público terá medo de permanecer em ambiente fechado e, portanto, propício para a disseminação do novo coronavírus.
A Disney, companhia mais lucrativa da atualidade, não aparenta estar muito confortável com a ideia, mesmo com títulos confirmados para lançamento em sua plataforma de streaming, a Disney+, que ainda não chegou ao Brasil. E o motivo é um só: bilheteria. Com a janela de exibição tradicional, longas-metragens de grande apelo popular, como os do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), por exemplo, têm mais tempo para obter retorno financeiro dos ingressos, individuais. Com a janela de 17 dias, muitos espectadores podem esperar para assistir ao filme em casa até por ser uma opção mais barata, pois o PVOD permite que diversas pessoas, sejam familiares e/ou amigos, não importa, o assistam pelo valor de apenas um aluguel.
Paralelamente ao novo imbróglio envolvendo a janela de exibição, lembrando que a AMC se recusou a exibir “O Irlandês” (The Irishman – 2019) porque a Netflix o disponibilizou 30 dias após a estreia no circuito, há a questão cada vez mais incômoda para a indústria acerca da manutenção do modelo tradicional de cinema. Isto é, a preservação da experiência cinematográfica proporcionada pelas salas de exibição, espaços de socialização que permitem ao espectador maior imersão na trama apresentada na tela grande, algo potencializado pelo investimento em novas tecnologias tanto pelas redes exibidoras quanto pelos estúdios.
No entanto, a diminuição da janela poderá ser maléfica a longo prazo, pois a pandemia de Covid-19, felizmente, não durará para sempre. O impacto financeiro deste acordo histórico será sentido pela indústria, que precisa do lucro proveniente das bilheterias para manter suas engrenagens funcionando, inclusive para posterior investimento em novos projetos, muitos deles dependentes de avanços tecnológicos que necessitam de orçamentos consideráveis. Há muito a ser ponderado por ambos os lados, pois se a indústria, e até mesmo algumas redes, sentir em cifras, muitos empregos serão afetados, entre eles, os que têm sido poupados em meio à crise econômica originada pela sanitária.
A pandemia do novo coronavírus impôs inúmeras restrições e mudanças de hábitos, inclusive de consumo. Diversos setores da economia têm sentido o impacto da crise que não mais é apenas sanitária, entre eles, o cinema. Para driblar o prejuízo, a Universal Pictures comprou briga com redes de cinema americanas e lançou, nos Estados Unidos, a animação “Trolls 2” (Trolls World Tour – 2020) em premium video-on-demand (PVOD) em abril deste ano – o filme deve chegar às salas brasileiras em 08 de outubro. A decisão do estúdio gerou revolta de exibidores, principalmente dos gigantes Regal e AMC Theatres, que chegaram a afirmar que não colocariam em sua programação nenhum título da companhia.
Programado para o circuito comercial, o longa, produzido em parceria com a DreamWorks Animation, foi disponibilizado ao custo de US$ 19,99, por 48 horas, arrecadando cerca de US$ 100 milhões em três semanas, de acordo com a Variety. E talvez tenha sido este valor o responsável por acalmar os ânimos e permitir um acordo entre a Universal Pictures e a AMC, que amarga mais de US$ 2,2 bilhões em prejuízo desde o fechamento das salas de exibição, podendo, inclusive, ir à falência.
Anunciado na última terça-feira, dia 28, o acordo entre o estúdio e a maior rede de cinema do mundo modificou a janela de exibição para os títulos produzidos e distribuídos pela Universal, algo desejado por seus executivos há bastante tempo. Com isso, a companhia conseguiu quebrar a janela tradicional, que estabelece o intervalo de 70 a 90 dias entre a estreia no circuito e a disponibilização em plataformas digitais e VOD, diminuindo-a para 17 dias – de acordo com o The Hollywood Reporter, este acordo é válido apenas em território americano, mas sua expansão começará a ser discutida nas próximas semanas, podendo chegar aos países da Europa e do Oriente Médio. A partir de agora, os filmes com o selo da empresa chegarão aos lares americanos após três finais de semana em cartaz, dando à AMC 10% do lucro do aluguel de cada um deles em PVOD, ainda segundo o The Hollywood Reporter – estúdios, distribuidores e exibidores consideram os três primeiros finais de semana o período mais rentável de cada filme, talvez, por esta razão, a Universal e a AMC decidiram encurtar a janela de exibição de maneira a preservá-lo.
Outrora crítica ferrenha ao não cumprimento do acordo de janela de exibição e ao lançamento em PVOD de títulos originalmente agendados para o circuito comercial, a AMC tende a lucrar ainda mais caso outros estúdios fechem acordos em termos similares. No entanto, até o momento, nenhum concorrente da Universal anunciou acordo com a rede, que, segundo a Variety, propôs receber 20% da renda dos alugueis dos filmes dos outros estúdios e anuidade de cerca de US$ 2 milhões referentes à publicidade, além de pagar a eles menos 2% da receita dos títulos exibidos em suas salas. Ou seja, para lançarem em PVOD longas-metragens poucos dias após suas respectivas estreias no circuito, os estúdios terão de disponibilizar 52% da arrecadação de cada um deles para a AMC. É um negócio lucrativo para a AMC em tempos de pandemia, sobretudo num primeiro momento após a reabertura das salas, pois parte do público terá medo de permanecer em ambiente fechado e, portanto, propício para a disseminação do novo coronavírus.
A Disney, companhia mais lucrativa da atualidade, não aparenta estar muito confortável com a ideia, mesmo com títulos confirmados para lançamento em sua plataforma de streaming, a Disney+, que ainda não chegou ao Brasil. E o motivo é um só: bilheteria. Com a janela de exibição tradicional, longas-metragens de grande apelo popular, como os do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), por exemplo, têm mais tempo para obter retorno financeiro dos ingressos, individuais. Com a janela de 17 dias, muitos espectadores podem esperar para assistir ao filme em casa até por ser uma opção mais barata, pois o PVOD permite que diversas pessoas, sejam familiares e/ou amigos, não importa, o assistam pelo valor de apenas um aluguel.
Paralelamente ao novo imbróglio envolvendo a janela de exibição, lembrando que a AMC se recusou a exibir “O Irlandês” (The Irishman – 2019) porque a Netflix o disponibilizou 30 dias após a estreia no circuito, há a questão cada vez mais incômoda para a indústria acerca da manutenção do modelo tradicional de cinema. Isto é, a preservação da experiência cinematográfica proporcionada pelas salas de exibição, espaços de socialização que permitem ao espectador maior imersão na trama apresentada na tela grande, algo potencializado pelo investimento em novas tecnologias tanto pelas redes exibidoras quanto pelos estúdios.
No entanto, a diminuição da janela poderá ser maléfica a longo prazo, pois a pandemia de Covid-19, felizmente, não durará para sempre. O impacto financeiro deste acordo histórico será sentido pela indústria, que precisa do lucro proveniente das bilheterias para manter suas engrenagens funcionando, inclusive para posterior investimento em novos projetos, muitos deles dependentes de avanços tecnológicos que necessitam de orçamentos consideráveis. Há muito a ser ponderado por ambos os lados, pois se a indústria, e até mesmo algumas redes, sentir em cifras, muitos empregos serão afetados, entre eles, os que têm sido poupados em meio à crise econômica originada pela sanitária.