Nas últimas cinco edições do Oscar, quatro estatuetas de melhor direção foram entregues a cineastas mexicanos: Alfonso Cuarón por “Gravidade” (Gravity – 2013) em 2014; Alejandro G. Iñárritu por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) – 2014) e “O Regresso” (The Revenant – 2015), em 2015 e […]
POR Ana Carolina Garcia22/02/2019|13 min de leitura
Nas últimas cinco edições do Oscar, quatro estatuetas de melhor direção foram entregues a cineastas mexicanos: Alfonso Cuarón por “Gravidade” (Gravity – 2013) em 2014; Alejandro G. Iñárritu por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) – 2014) e “O Regresso” (The Revenant – 2015), em 2015 e 2016, respectivamente; e Guillermo del Toro por “A Forma da Água” (The Shape of Water – 2017), em 2018. Este ano, o Golden Boy pode ficar novamente com Cuarón por seu trabalho em “Roma” (Idem – 2018).
Os cinco indicados ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) são: Adam McKay por “Vice” (Idem – 2018), Spike Lee por “Infiltrado na Klan” (BlacKkKlansman – 2018), Alfonso Cuarón por “Roma”, Pawel Pawlikowski por “Guerra Fria” (Zimna wojna – 2018) e Yorgos Lanthimos por “A Favorita” (The Favourite – 2018). De todos os indicados, apenas Lanthimos não assina o roteiro de seu filme. McKay e Cuarón assinam sozinhos, enquanto Lee e Pawlikowski dividem a responsabilidade com outros roteiristas.
Alfonso Cuarón desponta como franco favorito na disputa pela estatueta dourada porque venceu os maiores indicativos da categoria: o Globo de Ouro e o DGA Awards, concedidos respectivamente pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) e pelo Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos (Directors Guild of America – DGA). Contudo, é importante ressaltar que o Globo de Ouro exerce influência somente sobre a campanha dos indicados, não na votação porque é entregue por jornalistas. Ao contrário do DGA Awards, pois parte dos membros do Sindicato também integra a AMPAS e tem direito a voto.
Com 38 prêmios já recebidos pela direção de “Roma”, seu trabalho mais pessoal, pois é inspirado na história de sua babá, Cuarón realiza um trabalho firme de direção, permitindo que a trama se desenvolva com fluidez narrativa para levar às telas um retrato da sociedade mexicana nos anos 1970. Desta forma, explora diversas metáforas sociais por meio do drama da protagonista e da mulher para quem ela trabalha, que sofre com a fratura da estrutura familiar causada pelo divórcio, considerado pela sociedade da época uma vergonha.
Também explorando problemas sociais, Spike Lee conduz “Infiltrado na Klan” com competência, passeando pelos gêneros policial e comédia para mostrar os absurdos cometidos pela Ku Klux Klan (KKK) nos Estados Unidos, o que lhe garantiu cinco prêmios até o momento. Adaptação do livro “Black Klansman”, de Ron Stallworth, policial negro que investigou a Klan nos anos 1970, o longa deixa nítida a assinatura de seu realizador, que aposta suas fichas em sequências ágeis, por vezes, impactantes.
Assim como Spike Lee, Adam McKay realiza um hábil trabalho em “Vice”, inspirado na trajetória de Dick Cheney (Christian Bale), vice-presidente dos Estados Unidos nos dois governos de George W. Bush (Sam Rockwell). McKay conta sua história sem rodeios, optando por uma direção forte e ágil que exprime sua habilidade na função. É uma condução rica em detalhes que lhe rendeu apenas um prêmio na atual temporada – até o momento.
Também inspirado numa história real, “A Favorita” já rendeu quatro prêmios de direção a Yorgos Lanthimos, que optou por começar com ritmo acelerado, diminuindo-o à medida que a trama ganha densidade. É uma condução preocupada com detalhes mínimos para desconstruir a realeza e apresentar à plateia o lado mais sombrio do ser humano.
Optando pelo ritmo narrativo mais lento, Pawel Pawlikowski passeia pela Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e entregue ao medo oriundo da Guerra Fria (1945 – 1989), que dividiu o mundo em dois blocos, liderados pelos Estados Unidos e pela ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. As questões sociais e políticas são utilizadas como pano de fundo de uma trama que tem a paixão desmedida como fio condutor, concedendo ao cineasta diversas possibilidades em seu trabalho de direção, realizado com esmero e firmeza e que lhe garantiu dois prêmios até o momento.
Considerando os resultados do Globo de Ouro e do DGA Awards, pode-se dizer que Alfonso Cuarón é o nome mais forte na corrida pelo Oscar, tendo Yorgos Lanthimos e Spike Lee em seu encalço. Já Pawel Pawlikowski e Adam McKay são as zebras da categoria nesta edição, mas o fato de Lee ter sido um dos críticos mais ferrenhos da AMPAS no Oscar 2016, chamado de “#OscarSoWhite” (Oscar tão branco, numa tradução literal), pode pesar contra ele, facilitando, assim, a situação de Pawlikowski e McKay na disputa pelo Golden Boy.
A 91ª cerimônia de entrega do Oscar será realizada no próximo domingo, dia 24, no Dolby Theatre, em Los Angeles. No Brasil, a maior festa do cinema mundial será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura TNT e pela Rede Globo (após o “Big Brother Brasil”).
Confira um pequeno perfil dos indicados:
– Adam McKay:
Nascido em 17 de abril de 1968, na Filadélfia, Pensilvânia (EUA), Adam McKay começou a carreira como ator no “Saturday Night Live” (Idem – desde 1975), programa que chegou a dirigir, roteirizar e produzir alguns episódios. Estreou como diretor e roteirista de longas-metragens com “O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy” (Anchorman: The Legend of Ron Burgundy – 2004), protagonizado por seu ex-companheiro de “SNL”, Will Ferrell, que também assinou o roteiro – este filme representa o início da parceria da dupla no cinema. Com uma filmografia relativamente curta, 21 títulos, sendo apenas sete longas, McKay tem a comédia como preferência na escolha e desenvolvimento de seus projetos. Este ano, disputa três estatuetas nas categorias de melhor filme, direção e roteiro original (ao lado de Charles Randolph). Anteriormente, o cineasta foi indicado ao Oscar de melhor direção por “A Grande Aposta” (The Big Short – 2015), filme que lhe rendeu seu único Golden Boy, o de melhor roteiro adaptado.
* O único prêmio individual recebido por seu trabalho na direção de “Vice” é: o DFCS Award, da Detroit Film Critics Society, US.
– Spike Lee:
Nascido em 20 de março de 1957, em Atlanta, Geórgia (EUA), Spike Lee começou a se interessar pela arte ainda na infância por influência de sua família. Formado pela Morehouse College, Lee ingressou na Tisch School of Arts para estudar cinema. Seu primeiro trabalho como diretor foi o curta “Last Hustle in Brooklyn” (Idem – 1979), seguido por outro curta, “The Answer” (Idem – 1980), que causou polêmica por levar às telas uma história sobre um negro que tem de escrever o remake de “O Nascimento de Uma Nação” (The Birth of a Nation – 1915), primeiro clássico do cinema americano, dirigido pelo sulista David W. Griffith e de conteúdo extremamente racista que exalta a Ku Klux Klan (KKK). A estreia na direção de longas-metragens foi com “Joe’s Bed-Stuy Barbershop: We Cut Heads” (Idem – 1983), filme financiado por sua avó e que lhe rendeu um prêmio especial da AMPAS, o Student Academy Awards – uma medalha com a estatueta do Oscar ao centro. Com uma vasta filmografia, Spike Lee abordou a tensão racial em muitos de seus trabalhos, como “Revolução Estudantil” (School Daze – 1988) e “Faça a Coisa Certa” (Do the Right Thing – 1989), que o tornou conhecido do grande público. Tendo como colaborador constante Denzel Washington, o astro de “Malcolm X” (Idem – 1992) cujo filho, John David Washington, protagoniza “Infiltrado na Klan”, Lee se tornou um dos nomes mais respeitados do cinema mundial. Homenageado pela AMPAS com um Oscar honorário pelo conjunto da obra em 2016, Spike Lee concorre a três estatuetas este ano, nas categorias de melhor filme, direção e roteiro adaptado (ao lado de Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott). Esta é a terceira vez que o cineasta é indicado ao Oscar. As outras duas foram na categoria de melhor roteiro original por “Faça a Coisa Certa” e documentário por “4 Little Girls” (Idem – 1997).
* Entre os cinco prêmios individuais recebidos por por seu trabalho na direção de “Infiltrado na Klan”, estão: o LAOFCS Award, da Los Angeles Online Film Critics Society Awards; o NFCS Award, da Nevada Film Critics Society; o SFFCC Award, do San Francisco Film Critics Circle; e o SLFCA Award, St. Louis Film Critics Association, US.
– Alfonso Cuarón:
Nascido em 28 de novembro de 1961 na Cidade do México (México), Alfonso Cuáron se apaixonou pelo cinema ainda na infância, quando ganhou sua primeira câmera. Conciliou os cursos de filosofia e cinema, este último no Centro Universitario de Estudios Cinematográficos, de onde foi expulso em meados dos anos de 1980 por colaborar em um curta em inglês, “Vengance is Mine” (Idem – 1985), desagradando a alguns professores. Após este episódio, quase desistiu da carreira cinematográfica, mas acabou aceitando convites para trabalhar em diversas funções, de editor a diretor assistente e roteirista, somente estreando como diretor de longas-metragens na comédia romântica “Sólo con tu pareja” (Idem – 1991). Estreou em Hollywood em 1995, com “A Princesinha” (A Little Princess – 1995), filme que lhe abriu as portas do mercado americano. Assim como outros diretores, Cuáron continuou sua carreira assumindo funções variadas em seus projetos. Vencedor das estatuetas de melhor direção e edição por “Gravidade” (Gravity – 2013), Cuarón concorre a quatro estatuetas este ano por “Roma”, nas categorias de melhor filme, direção, fotografia e roteiro original. O cineasta foi indicado ainda às categorias de melhor filme por “Gravidade”; roteiro original por “E Sua Mãe Também” (Y tu mamá también – 2001); e roteiro adaptado e edição (montagem) por “Filhos da Esperança” (Children of Men – 2006).
* Entre os 38 prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Roma”, estão: os já citados Globo de Ouro e DGA Awards; o David Lean Award for Direction, do BAFTA Awards; o Critics Choice Award, da Broadcast Film Critics Association Awards; o CFCA Award, da Chicago Film Critics Association Awards; o DFCC, do Dublin Film Critics Circle Awards; o LEJA Award, da Latino Entertainment Journalists Association Awards; o ALFS Award, do London Critics Circle Film Awards; o NSFC Award, da National Society of Film Critics Awards, USA; o NYFCC Award, do New York Film Critics Circle Awards; o TFCA Award, da Toronto Film Critics Association Awards; e o WAFCA Award, da Washington DC Area Film Critics Association Awards.
– Pawel Pawlikowski:
Nascido em 15 de setembro de 1957, em Varsóvia, Polônia, Pawel Pawlikowski se interessou pelo cinema após se formar em Literatura e Filosofia pela Universidade de Oxford. Iniciou a carreira em 1987, dirigindo um episódio da série britânica “Open Space” (Idem – 1983 – 1995). Seu trabalho seguinte foi o documentário “From Moscow to Pietushki: A Journey with Benedict Yerofeyev” (Idem – 1990), produzido para a televisão, assim como “Serbian Epics” (Idem – 1992), que lhe rendeu certa notoriedade. Estreou no cinema com o drama “The Stringer” (Idem – 1998), chamando atenção da crítica internacional no seu segundo longa, “Last Resort” (Idem – 2000), título pelo qual ganhou o BAFTA Awards de melhor diretor / roteirista estreante. Em 2013, dirigiu o primeiro longa polonês a vencer a estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro, “Ida” (Idem – 2013). Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.
* Os dois prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Guerra Fria” são: a Palma de Ouro, do Festival de Cannes; e o European Film Award, do European Film Awards.
– Yorgos Lanthimos:
Nascido em 27 de maio de 1973, em Atenas, Grécia, Yorgos Lanthimos estudou Filme e Televisão na ateniense Stavrakos Film School. Trabalhou em diversos videoclipes e comerciais até realizar seu primeiro curta-metragem, “O viasmos tis Hlois” (Idem – 1995). Em 2001, estreou na direção de longas-metragens com a comédia “O kalyteros mou filos” (Idem – 2001), dividindo a função com Lakis Lazopoulos. Seu primeiro filme solo foi “Kinetta” (Idem – 2005), seguido de “Dente Canino” (Kynodontas – 2009), aclamado em Cannes, onde venceu o Award of the Youth e o Un Certain Regard Award, e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Nos anos seguintes, chamou a atenção com “O Lagosta” (The Lobster – 2015) e “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (The Killing of a Sacred Deer – 2017). Este ano concorre às estatuetas de melhor filme e direção por “A Favorita”. Em 2017, foi indicado ao Oscar de roteiro original por “O Lagosta”, ao lado de Efthymis Filippou.
* Os quatro prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “A Favorita” são: o ACCA, da Awards Circuit Community Awards; o British Independent Film Award, da British Independent Film Awards; o NMFC Award, do New Mexico Film Critics; e o OFTA Film Award, da Online Film & Television Association.
Nas últimas cinco edições do Oscar, quatro estatuetas de melhor direção foram entregues a cineastas mexicanos: Alfonso Cuarón por “Gravidade” (Gravity – 2013) em 2014; Alejandro G. Iñárritu por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) – 2014) e “O Regresso” (The Revenant – 2015), em 2015 e 2016, respectivamente; e Guillermo del Toro por “A Forma da Água” (The Shape of Water – 2017), em 2018. Este ano, o Golden Boy pode ficar novamente com Cuarón por seu trabalho em “Roma” (Idem – 2018).
Os cinco indicados ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) são: Adam McKay por “Vice” (Idem – 2018), Spike Lee por “Infiltrado na Klan” (BlacKkKlansman – 2018), Alfonso Cuarón por “Roma”, Pawel Pawlikowski por “Guerra Fria” (Zimna wojna – 2018) e Yorgos Lanthimos por “A Favorita” (The Favourite – 2018). De todos os indicados, apenas Lanthimos não assina o roteiro de seu filme. McKay e Cuarón assinam sozinhos, enquanto Lee e Pawlikowski dividem a responsabilidade com outros roteiristas.
Alfonso Cuarón desponta como franco favorito na disputa pela estatueta dourada porque venceu os maiores indicativos da categoria: o Globo de Ouro e o DGA Awards, concedidos respectivamente pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) e pelo Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos (Directors Guild of America – DGA). Contudo, é importante ressaltar que o Globo de Ouro exerce influência somente sobre a campanha dos indicados, não na votação porque é entregue por jornalistas. Ao contrário do DGA Awards, pois parte dos membros do Sindicato também integra a AMPAS e tem direito a voto.
Com 38 prêmios já recebidos pela direção de “Roma”, seu trabalho mais pessoal, pois é inspirado na história de sua babá, Cuarón realiza um trabalho firme de direção, permitindo que a trama se desenvolva com fluidez narrativa para levar às telas um retrato da sociedade mexicana nos anos 1970. Desta forma, explora diversas metáforas sociais por meio do drama da protagonista e da mulher para quem ela trabalha, que sofre com a fratura da estrutura familiar causada pelo divórcio, considerado pela sociedade da época uma vergonha.
Também explorando problemas sociais, Spike Lee conduz “Infiltrado na Klan” com competência, passeando pelos gêneros policial e comédia para mostrar os absurdos cometidos pela Ku Klux Klan (KKK) nos Estados Unidos, o que lhe garantiu cinco prêmios até o momento. Adaptação do livro “Black Klansman”, de Ron Stallworth, policial negro que investigou a Klan nos anos 1970, o longa deixa nítida a assinatura de seu realizador, que aposta suas fichas em sequências ágeis, por vezes, impactantes.
Assim como Spike Lee, Adam McKay realiza um hábil trabalho em “Vice”, inspirado na trajetória de Dick Cheney (Christian Bale), vice-presidente dos Estados Unidos nos dois governos de George W. Bush (Sam Rockwell). McKay conta sua história sem rodeios, optando por uma direção forte e ágil que exprime sua habilidade na função. É uma condução rica em detalhes que lhe rendeu apenas um prêmio na atual temporada – até o momento.
Também inspirado numa história real, “A Favorita” já rendeu quatro prêmios de direção a Yorgos Lanthimos, que optou por começar com ritmo acelerado, diminuindo-o à medida que a trama ganha densidade. É uma condução preocupada com detalhes mínimos para desconstruir a realeza e apresentar à plateia o lado mais sombrio do ser humano.
Optando pelo ritmo narrativo mais lento, Pawel Pawlikowski passeia pela Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e entregue ao medo oriundo da Guerra Fria (1945 – 1989), que dividiu o mundo em dois blocos, liderados pelos Estados Unidos e pela ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. As questões sociais e políticas são utilizadas como pano de fundo de uma trama que tem a paixão desmedida como fio condutor, concedendo ao cineasta diversas possibilidades em seu trabalho de direção, realizado com esmero e firmeza e que lhe garantiu dois prêmios até o momento.
Considerando os resultados do Globo de Ouro e do DGA Awards, pode-se dizer que Alfonso Cuarón é o nome mais forte na corrida pelo Oscar, tendo Yorgos Lanthimos e Spike Lee em seu encalço. Já Pawel Pawlikowski e Adam McKay são as zebras da categoria nesta edição, mas o fato de Lee ter sido um dos críticos mais ferrenhos da AMPAS no Oscar 2016, chamado de “#OscarSoWhite” (Oscar tão branco, numa tradução literal), pode pesar contra ele, facilitando, assim, a situação de Pawlikowski e McKay na disputa pelo Golden Boy.
A 91ª cerimônia de entrega do Oscar será realizada no próximo domingo, dia 24, no Dolby Theatre, em Los Angeles. No Brasil, a maior festa do cinema mundial será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura TNT e pela Rede Globo (após o “Big Brother Brasil”).
Confira um pequeno perfil dos indicados:
– Adam McKay:
Nascido em 17 de abril de 1968, na Filadélfia, Pensilvânia (EUA), Adam McKay começou a carreira como ator no “Saturday Night Live” (Idem – desde 1975), programa que chegou a dirigir, roteirizar e produzir alguns episódios. Estreou como diretor e roteirista de longas-metragens com “O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy” (Anchorman: The Legend of Ron Burgundy – 2004), protagonizado por seu ex-companheiro de “SNL”, Will Ferrell, que também assinou o roteiro – este filme representa o início da parceria da dupla no cinema. Com uma filmografia relativamente curta, 21 títulos, sendo apenas sete longas, McKay tem a comédia como preferência na escolha e desenvolvimento de seus projetos. Este ano, disputa três estatuetas nas categorias de melhor filme, direção e roteiro original (ao lado de Charles Randolph). Anteriormente, o cineasta foi indicado ao Oscar de melhor direção por “A Grande Aposta” (The Big Short – 2015), filme que lhe rendeu seu único Golden Boy, o de melhor roteiro adaptado.
* O único prêmio individual recebido por seu trabalho na direção de “Vice” é: o DFCS Award, da Detroit Film Critics Society, US.
– Spike Lee:
Nascido em 20 de março de 1957, em Atlanta, Geórgia (EUA), Spike Lee começou a se interessar pela arte ainda na infância por influência de sua família. Formado pela Morehouse College, Lee ingressou na Tisch School of Arts para estudar cinema. Seu primeiro trabalho como diretor foi o curta “Last Hustle in Brooklyn” (Idem – 1979), seguido por outro curta, “The Answer” (Idem – 1980), que causou polêmica por levar às telas uma história sobre um negro que tem de escrever o remake de “O Nascimento de Uma Nação” (The Birth of a Nation – 1915), primeiro clássico do cinema americano, dirigido pelo sulista David W. Griffith e de conteúdo extremamente racista que exalta a Ku Klux Klan (KKK). A estreia na direção de longas-metragens foi com “Joe’s Bed-Stuy Barbershop: We Cut Heads” (Idem – 1983), filme financiado por sua avó e que lhe rendeu um prêmio especial da AMPAS, o Student Academy Awards – uma medalha com a estatueta do Oscar ao centro. Com uma vasta filmografia, Spike Lee abordou a tensão racial em muitos de seus trabalhos, como “Revolução Estudantil” (School Daze – 1988) e “Faça a Coisa Certa” (Do the Right Thing – 1989), que o tornou conhecido do grande público. Tendo como colaborador constante Denzel Washington, o astro de “Malcolm X” (Idem – 1992) cujo filho, John David Washington, protagoniza “Infiltrado na Klan”, Lee se tornou um dos nomes mais respeitados do cinema mundial. Homenageado pela AMPAS com um Oscar honorário pelo conjunto da obra em 2016, Spike Lee concorre a três estatuetas este ano, nas categorias de melhor filme, direção e roteiro adaptado (ao lado de Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott). Esta é a terceira vez que o cineasta é indicado ao Oscar. As outras duas foram na categoria de melhor roteiro original por “Faça a Coisa Certa” e documentário por “4 Little Girls” (Idem – 1997).
* Entre os cinco prêmios individuais recebidos por por seu trabalho na direção de “Infiltrado na Klan”, estão: o LAOFCS Award, da Los Angeles Online Film Critics Society Awards; o NFCS Award, da Nevada Film Critics Society; o SFFCC Award, do San Francisco Film Critics Circle; e o SLFCA Award, St. Louis Film Critics Association, US.
– Alfonso Cuarón:
Nascido em 28 de novembro de 1961 na Cidade do México (México), Alfonso Cuáron se apaixonou pelo cinema ainda na infância, quando ganhou sua primeira câmera. Conciliou os cursos de filosofia e cinema, este último no Centro Universitario de Estudios Cinematográficos, de onde foi expulso em meados dos anos de 1980 por colaborar em um curta em inglês, “Vengance is Mine” (Idem – 1985), desagradando a alguns professores. Após este episódio, quase desistiu da carreira cinematográfica, mas acabou aceitando convites para trabalhar em diversas funções, de editor a diretor assistente e roteirista, somente estreando como diretor de longas-metragens na comédia romântica “Sólo con tu pareja” (Idem – 1991). Estreou em Hollywood em 1995, com “A Princesinha” (A Little Princess – 1995), filme que lhe abriu as portas do mercado americano. Assim como outros diretores, Cuáron continuou sua carreira assumindo funções variadas em seus projetos. Vencedor das estatuetas de melhor direção e edição por “Gravidade” (Gravity – 2013), Cuarón concorre a quatro estatuetas este ano por “Roma”, nas categorias de melhor filme, direção, fotografia e roteiro original. O cineasta foi indicado ainda às categorias de melhor filme por “Gravidade”; roteiro original por “E Sua Mãe Também” (Y tu mamá también – 2001); e roteiro adaptado e edição (montagem) por “Filhos da Esperança” (Children of Men – 2006).
* Entre os 38 prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Roma”, estão: os já citados Globo de Ouro e DGA Awards; o David Lean Award for Direction, do BAFTA Awards; o Critics Choice Award, da Broadcast Film Critics Association Awards; o CFCA Award, da Chicago Film Critics Association Awards; o DFCC, do Dublin Film Critics Circle Awards; o LEJA Award, da Latino Entertainment Journalists Association Awards; o ALFS Award, do London Critics Circle Film Awards; o NSFC Award, da National Society of Film Critics Awards, USA; o NYFCC Award, do New York Film Critics Circle Awards; o TFCA Award, da Toronto Film Critics Association Awards; e o WAFCA Award, da Washington DC Area Film Critics Association Awards.
– Pawel Pawlikowski:
Nascido em 15 de setembro de 1957, em Varsóvia, Polônia, Pawel Pawlikowski se interessou pelo cinema após se formar em Literatura e Filosofia pela Universidade de Oxford. Iniciou a carreira em 1987, dirigindo um episódio da série britânica “Open Space” (Idem – 1983 – 1995). Seu trabalho seguinte foi o documentário “From Moscow to Pietushki: A Journey with Benedict Yerofeyev” (Idem – 1990), produzido para a televisão, assim como “Serbian Epics” (Idem – 1992), que lhe rendeu certa notoriedade. Estreou no cinema com o drama “The Stringer” (Idem – 1998), chamando atenção da crítica internacional no seu segundo longa, “Last Resort” (Idem – 2000), título pelo qual ganhou o BAFTA Awards de melhor diretor / roteirista estreante. Em 2013, dirigiu o primeiro longa polonês a vencer a estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro, “Ida” (Idem – 2013). Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.
* Os dois prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Guerra Fria” são: a Palma de Ouro, do Festival de Cannes; e o European Film Award, do European Film Awards.
– Yorgos Lanthimos:
Nascido em 27 de maio de 1973, em Atenas, Grécia, Yorgos Lanthimos estudou Filme e Televisão na ateniense Stavrakos Film School. Trabalhou em diversos videoclipes e comerciais até realizar seu primeiro curta-metragem, “O viasmos tis Hlois” (Idem – 1995). Em 2001, estreou na direção de longas-metragens com a comédia “O kalyteros mou filos” (Idem – 2001), dividindo a função com Lakis Lazopoulos. Seu primeiro filme solo foi “Kinetta” (Idem – 2005), seguido de “Dente Canino” (Kynodontas – 2009), aclamado em Cannes, onde venceu o Award of the Youth e o Un Certain Regard Award, e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Nos anos seguintes, chamou a atenção com “O Lagosta” (The Lobster – 2015) e “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (The Killing of a Sacred Deer – 2017). Este ano concorre às estatuetas de melhor filme e direção por “A Favorita”. Em 2017, foi indicado ao Oscar de roteiro original por “O Lagosta”, ao lado de Efthymis Filippou.
* Os quatro prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “A Favorita” são: o ACCA, da Awards Circuit Community Awards; o British Independent Film Award, da British Independent Film Awards; o NMFC Award, do New Mexico Film Critics; e o OFTA Film Award, da Online Film & Television Association.