Desde 2017, a estatueta do Oscar de direção não é entregue a cineastas americanos. Na ocasião, Damien Chazelle foi agraciado por seu trabalho no musical “La La Land – Cantando Estações” (La La Land – 2016), que protagonizou a maior gafe daquela edição por ter sido equivocadamente anunciado como melhor filme. Em 2018, 2019 e […]
POR Ana Carolina Garcia23/04/2021|17 min de leitura
Desde 2017, a estatueta do Oscar de direção não é entregue a cineastas americanos. Na ocasião, Damien Chazelle foi agraciado por seu trabalho no musical “La La Land – Cantando Estações” (La La Land – 2016), que protagonizou a maior gafe daquela edição por ter sido equivocadamente anunciado como melhor filme. Em 2018, 2019 e 2020, o Golden Boy ficou com dois mexicanos, Guillermo del Toro, por “A Forma da Água” (The Shape of Water – 2017), e Alfonso Cuarón, por “Roma” (Idem – 2018), e um sul-coreano, Bong Joon-ho, por “Parasita” (Gisaengchung – 2019, Coreia do Sul). Este ano, a disputa está entre dois americanos, um dinamarquês, uma britânica e uma chinesa, apontada como franca favorita.
Os cinco indicados ao prêmio de melhor direção da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) são: Chloé Zhao por “Nomadland” (Idem – 2020), Emerald Fennell por “Bela Vingança” (Promising Young Woman – 2020), Thomas Vinterberg por “Druk – Mais Uma Rodada” (Druk – 2020, Dinamarca), David Fincher por “Mank” (Idem – 2020) e Lee Isaac Chung por “Minari – Em Busca da Felicidade” (Minari – 2020). De todos os concorrentes, apenas Vinterberg e Fincher não disputam as estatuetas de roteiro, original ou adaptado, nem de filme – Fincher é o único que não assina o roteiro de seu longa-metragem, e Zhao também concorre à melhor edição.
Pela primeira vez em sua História, a AMPAS coloca entre os finalistas de melhor direção duas mulheres, Emerald Fennell e Chloé Zhao, que ainda deixa sua marca na instituição por ser a primeira cineasta de origem asiática a disputar esta estatueta, mostrando, novamente, a preocupação da Academia com questões como representatividade, diversidade e inclusão, algo observado nesta edição também em outras categorias, sobretudo as de filme e atores, principais e coadjuvantes. Contudo, os desempenhos das cineastas ainda não puderam ser analisados pela coluna – “Nomadland”, já em pré-estreia, em virtude da pandemia de Covid-19, e “Bela Vingança” porque não estreou no Brasil.
Com 58 prêmios recebidos pela direção de “Nomadland”, a chinesa Chloé Zhao assume a posição de favorita ao Oscar por ter vencido os dois maiores indicativos desta categoria: o Globo de Ouro e o DGA Awards, concedidos respectivamente pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) e pelo Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos (Directors Guild of America – DGA). Contudo, é importante ressaltar que o Globo de Ouro exerce influência somente sobre a campanha dos indicados, não na votação propriamente dita porque é entregue por jornalistas. Ao contrário do DGA Awards, pois parte dos membros do Sindicato também integra a AMPAS e tem direito a voto.
Chloé Zhao, que tem como próximo filme um título do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), “Os Eternos” (The Eternals – 2021), tem como principal adversária na corrida pela estatueta do Oscar a britânica Emerald Fennell, que já recebeu 13 prêmios pela direção de “Bela Vingança” até a presente data.
Muito atrás na corrida, considerando a quantidade de prêmios já conquistados, neste caso, somente dois, está o dinamarquês Thomas Vinterberg com “Druk – Mais Uma Rodada”, filme dedicado à memória de sua filha, Ida Maria Vinterberg, escalada para viver a filha do protagonista, mas vitimada por um acidente de carro fatal poucos dias antes de iniciar as filmagens. A tragédia envolvendo a jovem levou seu pai a substituir o casal de filhos do personagem de Mads Mikkelsen por dois meninos e modificar um pouco a trama, ambientada na escola frequentada por Ida, tendo parte de seus colegas de classe no elenco. Ou seja, este longa se tornou um projeto de cunho pessoal para o cineasta, que realiza uma condução impecável, explorando com objetividade todas as camadas da trama que assume o tom crítico aos riscos do consumo desmedido de álcool, capaz de levar o indivíduo à dependência, transformando sua vida até destrui-la por completo, ao mesmo tempo em que transmite a mensagem da importância de despertar para a vida.
Nesta edição, os americanos David Fincher e Lee Isaac Chung brigam por seus trabalhos em duas produções importantes, sendo que o primeiro precisa lidar com preconceito de parte dos votantes da Academia, que não concorda com o tratamento igualitário conferido a títulos de estúdios tradicionais e plataformas de streaming, como é o caso de “Mank” – mesmo num ano atípico no qual regras de elegibilidade foram afrouxadas em decorrência da pandemia de Covid-19, que interrompeu as atividades nos centros de produção e salas de exibição ao redor do globo, impondo adiamentos e revisões de estratégias de lançamento, levando longas-metragens originalmente pensados para a tela grande diretamente para a telinha do streaming, como “Os 7 de Chicago” (The Trial of the Chicago 7 – 2020), de Aaron Sorkin, produzido pela Paramount Pictures e DreamWorks SKG que estreou na Netflix.
Sem nenhum prêmio recebido pela direção de “Mank” até o momento, David Fincher, assim como Thomas Vinterberg, tem no longa um projeto de cunho pessoal, pois o roteiro foi escrito por seu falecido pai, Jack Fincher. Para apresentar ao espectador o modus operandi da indústria cinematográfica por meio do turbulento relacionamento entre Orson Welles e Herman J. Mankiewicz, que sempre acusou o primeiro de não ter participado do roteiro de “Cidadão Kane” (Citizen Kane – 1941), o cineasta realiza um trabalho impecável sobre estrelato, ascensão e queda por meio da trajetória de Mankiewicz, resgatando a essência do cinema clássico, principalmente em sua estética.
Com apenas um prêmio conquistado pela direção de “Minari – Em Busca da Felicidade”, Lee Isaac Chung utiliza a sensibilidade como elemento principal, chamando a atenção pela maneira com a qual a câmera capta as imagens, apostando no olhar inocente característico dos primeiros anos da infância. Assim, o drama sobre imigração e busca por uma vida melhor, calcada no conceito do sonho americano, se torna uma produção leve e delicada que em nenhum momento cai na armadilha da pieguice.
Considerando não apenas os resultados do Globo de Ouro e do DGA Awards, mas o fato de a Academia não ter o hábito de surpreender muito com sua votação, pode-se dizer que Chloé Zhao tem chances reais de ganhar a estatueta dourada. Emerald Fennell é sua adversária mais forte, enquanto Thomas Vinterberg, Lee Isaac Chung e David Fincher têm chances menores na disputa.
A 93ª cerimônia de entrega do Oscar será realizada no próximo domingo, dia 25, em locações distintas, dentro e fora dos Estados Unidos, tendo a Union Station e o Dolby Theatre, ambas em Los Angeles, como palcos principais, devido à pandemia de Covid-19, que impôs testes de PCR aos profissionais envolvidos e aos poucos convidados de cada locação (apresentadores, indicados e um acompanhante, cada, exceto em Paris, onde acompanhantes não serão permitidos, assim como alimentos e bebidas). No Brasil, a maior festa do cinema mundial será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura TNT e pela Rede Globo (após o “Big Brother Brasil”).
Confira um pequeno perfil dos indicados:
– Chloé Zhao:
Nascida em 31 de março de 1982 em Pequim, China, Zhao Ting, mais conhecida como Chloé Zhao, sempre recebeu influência da cultura ocidental, o que a levou para Londres (Inglaterra) durante a adolescência e, posteriormente, para Los Angeles, no estado americano da Califórnia. Formada em Ciências Políticas pela Mount Holyoke College, em South Hadley (Massachusetts, EUA), Zhao deu nova guinada em sua vida e começou a estudar Cinema na Tisch School of the Arts, da Universidade de Nova York, onde foi aluna de Spike Lee.
Em 2005, Chloé Zhao trabalhou pela primeira vez com entretenimento, criando as legendas da série “Yue-Sai’s World” (Idem – 2005), falada em inglês e mandarim. Três anos depois, assumiu as funções de diretora, roteirista, produtora e montadora do curta-metragem “Post” (Idem – 2008). Em 2015, assumiu as mesmas funções, mas como estreante em longas-metragens no drama “Songs My Brothers Taught Me” (Idem – 2015), seguido por “Domando o Destino” (The Rider – 2017). Os dois filmes foram bem recebidos pela crítica e colocaram Zhao como uma promessa do cinema, abrindo caminho para “Nomadland”.
Esta é a sua primeira vez em que concorre ao Oscar. E em quatro categorias: filme, direção, roteiro adaptado e edição.
* Entre os 59 prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Nomadland”, estão: os já citados Globo de Ouro e DGA Awards; o BAFTA Film Award, do BAFTA Awards; o BSFC Award, da Boston Society of Film Critics Awards; o Critics Choice Award, da Broadcast Film Critics Association Awards; o Capri Director Award, da Capri, Hollywood; o DFWFCA Award, da Dallas-Fort Worth Film Critics Association Awards; o Sierra Award, da Las Vegas Film Critics Society Awards; o LAFCA Award, da Los Angeles Film Critics Association Awards; o NSFC Award, da National Society of Film Critics Awards, USA; o NYFCC Award, do New York Film Critics Circle Awards; o Director of the Year Award, do Palm Springs International Film Festival; o SDFCS Award, da San Diego Film Critics Society Awards; e o TFCA Award, da Toronto Film Critics Association Awards.
– Emerald Fennell:
Nascida em 1o de outubro de 1985 em Londres, Inglaterra, Emerald Lilly Fennell estudou Inglês na Universidade de Oxford, onde começou a atuar em peças de teatro. Estreou profissionalmente como atriz em 2006, participando de um episódio da série britânica “Trial & Retribution” (Idem – desde 1997). Quatro anos mais tarde, atuou em seu primeiro longa-metragem, “Mr. Nice” (Idem – 2010), de Bernard Rose. Nos anos seguintes, conciliou televisão e cinema, atuando em filmes como “Albert Nobbs” (Idem – 2011), de Rodrigo García, “Anna Karenina” (Idem – 2012), de Joe Wright, “A Garota Dinamarquesa” (The Danish Girl – 2015), de Tom Hooper, e “Peter Pan” (Pan – 2015), também dirigido por Joe Wright.
A experiência como atriz em produções britânicas despertou o interesse em trabalhar por trás das câmeras, inicialmente como roteirista de episódios da série “Drifters” (Idem – 2013 – 2016), em 2016. Pouco tempo depois assumiu direção, produção e roteiro do curta-metragem “Careful How You Go” (Idem – 2018), mesmas funções assumidas em seu longa-metragem de estreia, “Bela Vingança”. Mas a carreira no cinema não deixou a paixão pela TV em segundo plano, pois Fennell segue trabalhando em produções televisivas, tanto nos bastidores, como roteirista em “Killing Eve: Dupla Obsessão” (Killing Eve – desde 2018), quanto atriz em “The Crown” (Idem – desde 2016), no papel de Camilla Parker Bowles.
Esta é a sua primeira vez em que concorre ao Oscar. E em três categorias: filme, direção e roteiro original.
* Entre os 13 prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Bela Vingança”, estão: o Filmmaker on the Rise Award, da Hollywood Critics Association; o Sierra Award, da Las Vegas Film Critics Society Awards; o NFCS Award, da Nevada Film Critics Society; o NYFCO Award de diretor(a) estreante, do New York Film Critics, Online; e o Directors to Watch (SFC Award), do Sunset Film Circle Awards.
– Thomas Vinterberg:
Nascido em 19 de maio de 1969 em Copenhague, Dinamarca, Thomas Vinterberg ingressou na Danske Filmskole (Academia de Cinema da Dinamarca) aos 19 anos de idade. No mesmo ano, atuou na série televisiva “Ung-TV” (Idem – 1986 – 1988), mas o interesse pelos bastidores do cinema falou mais alto e, em 1990, estreou como diretor, produtor executivo e roteirista com o drama “Sneblind – 1990, Dinamarca). Filho do crítico de cinema Søren Vinterberg, o cineasta realizou curtas-metragens nos anos seguintes, voltando aos longas com “The Biggest Heroes” (De største helte – 1996, Dinamarca). Nessa época, Vinterberg criou, ao lado de Lars von Trier, o movimento Dogma 95, que estipulou regras para a produção de filmes, fugindo do padrão instituído por Hollywood, tendo “Festa de Família” (Festen – 1998, Dinamarca / Suécia) como seu primeiro longa a seguir tais regras.
O sucesso de “Festa de Família” colocou Thomas Vinterberg como um dos profissionais mais cobiçados do cinema, inclusive por Hollywood, onde estreou com “Dogma do Amor” (It’s All About Love – 2003), dirigindo Joaquin Phoenix, Claire Dane e Sean Penn. Após este filme, o cineasta voltou ao seu país de origem, trabalhando em títulos como “Querida Wendy” (Dear Wendy – 2005), “Quando um Homem Volta para Casa” (En mand kommer hjem – 2007) e “A Caça” (Jagten – 2012), um de seus maiores sucessos. Em 2018, Vinterberg levou às telas o drama do submarino russo Kursk, que afundou no Mar de Barents em agosto de 2000, em “Kursk – A Última Missão” (Kursk – 2018). Menos badalado que outros projetos do cineasta, o longa tem em sua trilha sonora a canção “Enter Sandman”, da banda americana Metallica, dirigida por Vinterberg no videoclipe de “The Day That Never Comes” (2008).
Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.
* Os três prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Druk – Mais Uma Rodada” são: o Robert, do Danish Film Awards; o European Film Award, do European Film Awards; e o Creative Impact in Directing Award, do Palm Springs International Film Festival.
– David Fincher:
Nascido em 28 de agosto de 1962 em Denver, no estado americano do Colorado, David Andrew Leo Fincher começou a carreira como assistente de câmera do departamento de efeitos visuais da Industrial Light & Magic em “Guerra nas Estreças – Episódio VI: O Retorno do Jedi” (Star Wars: Episode VI – Return of the Jedi – 1983), de Richard Marquand. Na companhia criada por George Lucas, Fincher trabalhou em mais dois filmes, “A História Sem Fim” (Die unendliche Geschichte – 1984, Alemanha) e “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (Indiana Jones and the Temple of Doom – 1982), respectivamente dirigidos por Wolfgang Petersen e Steven Spielberg, mas o interesse pela direção falou mais alto. Assim, Fincher trilhou pelo mundo da publicidade e do videoclipe, bastante popular nos anos 1980 e 1990, realizando trabalhos memoráveis que deixaram suas marcas na História da MTV, com George Michael (“Freedom! ’90”), Madonna (“Express Yourself”, “Oh Father” e “Vogue”) e Aerosmith (“Janie’s Got a Gun”), por exemplo. À época, o cineasta bateu o recorde da emissora voltada para a indústria fonográfica como o único diretor a concorrer, por duas vezes, ao MTV Video Music Awards com três videoclipes na mesma edição.
Já com certa notoriedade, David Fincher estreou na direção de longas-metragens com “Alien 3” (Alien³ – 1992), mas sem abandonar suas raízes na publicidade e nos clipes musicais, trabalhando novamente com Madonna em “Bad Girl”. A consagração chegou com seu segundo filme, “Seven: Os Sete Crimes Capitais” (Se7en – 1995), estrelado por Morgan Freeman e Brad Pitt. Aclamado pelo público e pela crítica, o longa abriu de vez as portas da indústria hollywoodiana para o cineasta, que, desde então, dirigiu títulos como “Vidas em Jogo” (The Game – 1997), “Clube da Luta” (Fight Club – 1999), “O Quarto do Pânico” (Panic Room – 2002), “O Curioso Caso de Benjamin Button” (The Curious Case of Benjamin Button – 2008), “A Rede Social” (The Social Network – 2010), “Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres” (The Girl with the Dragon Tattoo – 2011) e “Garota Exemplar” (Gone Girl – 2014). Nos últimos anos, David Fincher assumiu a produção executiva de curtas e longas-metragens, bem como roteirizou três curtas, “Beat the Devil” (Idem – 2003), “Ticker” (Idem – 2003) e “The Hire” (Idem – 2004).
Esta é a sua terceira indicação ao Oscar de melhor direção. As outras duas foram por “O Curioso Caso de Benjamin Button” e “A Rede Social”, em 2009 e 2011, respectivamente.
* O cineasta ainda não recebeu nenhum prêmio pela direção de “Mank”.
– Lee Isaac Chung:
Nascido em 19 de outubro de 1978 em Denver, no estado americano do Colorado, Lee Isaac Chung é filho de imigrantes coreanos e se interessou por outras áreas antes de iniciar no cinema. Formado em Ecologia pela Universidade de Yale, Chung cogitou estudar Medicina, mas desistiu para ingressar no curso de cinema, finalizando seu mestrado pela Universidade de Utah em 2004, mesmo ano em que realizou seu primeiro curta-metragem, “Highway” (Idem – 2004). Trabalhou em outros curtas até estrear em longas-metragens com o drama “Munyurangabo” (Idem – 2007, Ruanda / EUA), no qual também assumiu as funções de produtor, diretor de fotografia, editor e roteirista. Este filme foi lançado pela Almond Tree Films Rwanda.
Criada por Chung, Jenny Lund e Samuel Anderson com o intuito de produzir e ensinar a arte cinematográfica no país africano, a Almond Tree Films Rwanda foi responsável pelos três longas-metragens seguintes do cineasta, “Lucky Life” (Idem – 2010), “Abigail Harm” (Idem – 2012) e “I Have Seen My Last Born” (Idem – 2015). “Minari – Em Busca da Felicidade” é o primeiro filme do cineasta que não foi produzido por sua companhia, mas pela Plan B Entertainment.
Esta é a sua primeira vez em que concorre ao Oscar. E em duas categorias: direção e roteiro original.
* O único prêmio individual recebido por seu trabalho na direção de “Minari – Em Busca da Felicidade” é: o AFCA Award, da Austin Film Critics Association.
Desde 2017, a estatueta do Oscar de direção não é entregue a cineastas americanos. Na ocasião, Damien Chazelle foi agraciado por seu trabalho no musical “La La Land – Cantando Estações” (La La Land – 2016), que protagonizou a maior gafe daquela edição por ter sido equivocadamente anunciado como melhor filme. Em 2018, 2019 e 2020, o Golden Boy ficou com dois mexicanos, Guillermo del Toro, por “A Forma da Água” (The Shape of Water – 2017), e Alfonso Cuarón, por “Roma” (Idem – 2018), e um sul-coreano, Bong Joon-ho, por “Parasita” (Gisaengchung – 2019, Coreia do Sul). Este ano, a disputa está entre dois americanos, um dinamarquês, uma britânica e uma chinesa, apontada como franca favorita.
Os cinco indicados ao prêmio de melhor direção da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) são: Chloé Zhao por “Nomadland” (Idem – 2020), Emerald Fennell por “Bela Vingança” (Promising Young Woman – 2020), Thomas Vinterberg por “Druk – Mais Uma Rodada” (Druk – 2020, Dinamarca), David Fincher por “Mank” (Idem – 2020) e Lee Isaac Chung por “Minari – Em Busca da Felicidade” (Minari – 2020). De todos os concorrentes, apenas Vinterberg e Fincher não disputam as estatuetas de roteiro, original ou adaptado, nem de filme – Fincher é o único que não assina o roteiro de seu longa-metragem, e Zhao também concorre à melhor edição.
Pela primeira vez em sua História, a AMPAS coloca entre os finalistas de melhor direção duas mulheres, Emerald Fennell e Chloé Zhao, que ainda deixa sua marca na instituição por ser a primeira cineasta de origem asiática a disputar esta estatueta, mostrando, novamente, a preocupação da Academia com questões como representatividade, diversidade e inclusão, algo observado nesta edição também em outras categorias, sobretudo as de filme e atores, principais e coadjuvantes. Contudo, os desempenhos das cineastas ainda não puderam ser analisados pela coluna – “Nomadland”, já em pré-estreia, em virtude da pandemia de Covid-19, e “Bela Vingança” porque não estreou no Brasil.
Com 58 prêmios recebidos pela direção de “Nomadland”, a chinesa Chloé Zhao assume a posição de favorita ao Oscar por ter vencido os dois maiores indicativos desta categoria: o Globo de Ouro e o DGA Awards, concedidos respectivamente pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) e pelo Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos (Directors Guild of America – DGA). Contudo, é importante ressaltar que o Globo de Ouro exerce influência somente sobre a campanha dos indicados, não na votação propriamente dita porque é entregue por jornalistas. Ao contrário do DGA Awards, pois parte dos membros do Sindicato também integra a AMPAS e tem direito a voto.
Chloé Zhao, que tem como próximo filme um título do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), “Os Eternos” (The Eternals – 2021), tem como principal adversária na corrida pela estatueta do Oscar a britânica Emerald Fennell, que já recebeu 13 prêmios pela direção de “Bela Vingança” até a presente data.
Muito atrás na corrida, considerando a quantidade de prêmios já conquistados, neste caso, somente dois, está o dinamarquês Thomas Vinterberg com “Druk – Mais Uma Rodada”, filme dedicado à memória de sua filha, Ida Maria Vinterberg, escalada para viver a filha do protagonista, mas vitimada por um acidente de carro fatal poucos dias antes de iniciar as filmagens. A tragédia envolvendo a jovem levou seu pai a substituir o casal de filhos do personagem de Mads Mikkelsen por dois meninos e modificar um pouco a trama, ambientada na escola frequentada por Ida, tendo parte de seus colegas de classe no elenco. Ou seja, este longa se tornou um projeto de cunho pessoal para o cineasta, que realiza uma condução impecável, explorando com objetividade todas as camadas da trama que assume o tom crítico aos riscos do consumo desmedido de álcool, capaz de levar o indivíduo à dependência, transformando sua vida até destrui-la por completo, ao mesmo tempo em que transmite a mensagem da importância de despertar para a vida.
Nesta edição, os americanos David Fincher e Lee Isaac Chung brigam por seus trabalhos em duas produções importantes, sendo que o primeiro precisa lidar com preconceito de parte dos votantes da Academia, que não concorda com o tratamento igualitário conferido a títulos de estúdios tradicionais e plataformas de streaming, como é o caso de “Mank” – mesmo num ano atípico no qual regras de elegibilidade foram afrouxadas em decorrência da pandemia de Covid-19, que interrompeu as atividades nos centros de produção e salas de exibição ao redor do globo, impondo adiamentos e revisões de estratégias de lançamento, levando longas-metragens originalmente pensados para a tela grande diretamente para a telinha do streaming, como “Os 7 de Chicago” (The Trial of the Chicago 7 – 2020), de Aaron Sorkin, produzido pela Paramount Pictures e DreamWorks SKG que estreou na Netflix.
Sem nenhum prêmio recebido pela direção de “Mank” até o momento, David Fincher, assim como Thomas Vinterberg, tem no longa um projeto de cunho pessoal, pois o roteiro foi escrito por seu falecido pai, Jack Fincher. Para apresentar ao espectador o modus operandi da indústria cinematográfica por meio do turbulento relacionamento entre Orson Welles e Herman J. Mankiewicz, que sempre acusou o primeiro de não ter participado do roteiro de “Cidadão Kane” (Citizen Kane – 1941), o cineasta realiza um trabalho impecável sobre estrelato, ascensão e queda por meio da trajetória de Mankiewicz, resgatando a essência do cinema clássico, principalmente em sua estética.
Com apenas um prêmio conquistado pela direção de “Minari – Em Busca da Felicidade”, Lee Isaac Chung utiliza a sensibilidade como elemento principal, chamando a atenção pela maneira com a qual a câmera capta as imagens, apostando no olhar inocente característico dos primeiros anos da infância. Assim, o drama sobre imigração e busca por uma vida melhor, calcada no conceito do sonho americano, se torna uma produção leve e delicada que em nenhum momento cai na armadilha da pieguice.
Considerando não apenas os resultados do Globo de Ouro e do DGA Awards, mas o fato de a Academia não ter o hábito de surpreender muito com sua votação, pode-se dizer que Chloé Zhao tem chances reais de ganhar a estatueta dourada. Emerald Fennell é sua adversária mais forte, enquanto Thomas Vinterberg, Lee Isaac Chung e David Fincher têm chances menores na disputa.
A 93ª cerimônia de entrega do Oscar será realizada no próximo domingo, dia 25, em locações distintas, dentro e fora dos Estados Unidos, tendo a Union Station e o Dolby Theatre, ambas em Los Angeles, como palcos principais, devido à pandemia de Covid-19, que impôs testes de PCR aos profissionais envolvidos e aos poucos convidados de cada locação (apresentadores, indicados e um acompanhante, cada, exceto em Paris, onde acompanhantes não serão permitidos, assim como alimentos e bebidas). No Brasil, a maior festa do cinema mundial será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura TNT e pela Rede Globo (após o “Big Brother Brasil”).
Confira um pequeno perfil dos indicados:
– Chloé Zhao:
Nascida em 31 de março de 1982 em Pequim, China, Zhao Ting, mais conhecida como Chloé Zhao, sempre recebeu influência da cultura ocidental, o que a levou para Londres (Inglaterra) durante a adolescência e, posteriormente, para Los Angeles, no estado americano da Califórnia. Formada em Ciências Políticas pela Mount Holyoke College, em South Hadley (Massachusetts, EUA), Zhao deu nova guinada em sua vida e começou a estudar Cinema na Tisch School of the Arts, da Universidade de Nova York, onde foi aluna de Spike Lee.
Em 2005, Chloé Zhao trabalhou pela primeira vez com entretenimento, criando as legendas da série “Yue-Sai’s World” (Idem – 2005), falada em inglês e mandarim. Três anos depois, assumiu as funções de diretora, roteirista, produtora e montadora do curta-metragem “Post” (Idem – 2008). Em 2015, assumiu as mesmas funções, mas como estreante em longas-metragens no drama “Songs My Brothers Taught Me” (Idem – 2015), seguido por “Domando o Destino” (The Rider – 2017). Os dois filmes foram bem recebidos pela crítica e colocaram Zhao como uma promessa do cinema, abrindo caminho para “Nomadland”.
Esta é a sua primeira vez em que concorre ao Oscar. E em quatro categorias: filme, direção, roteiro adaptado e edição.
* Entre os 59 prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Nomadland”, estão: os já citados Globo de Ouro e DGA Awards; o BAFTA Film Award, do BAFTA Awards; o BSFC Award, da Boston Society of Film Critics Awards; o Critics Choice Award, da Broadcast Film Critics Association Awards; o Capri Director Award, da Capri, Hollywood; o DFWFCA Award, da Dallas-Fort Worth Film Critics Association Awards; o Sierra Award, da Las Vegas Film Critics Society Awards; o LAFCA Award, da Los Angeles Film Critics Association Awards; o NSFC Award, da National Society of Film Critics Awards, USA; o NYFCC Award, do New York Film Critics Circle Awards; o Director of the Year Award, do Palm Springs International Film Festival; o SDFCS Award, da San Diego Film Critics Society Awards; e o TFCA Award, da Toronto Film Critics Association Awards.
– Emerald Fennell:
Nascida em 1o de outubro de 1985 em Londres, Inglaterra, Emerald Lilly Fennell estudou Inglês na Universidade de Oxford, onde começou a atuar em peças de teatro. Estreou profissionalmente como atriz em 2006, participando de um episódio da série britânica “Trial & Retribution” (Idem – desde 1997). Quatro anos mais tarde, atuou em seu primeiro longa-metragem, “Mr. Nice” (Idem – 2010), de Bernard Rose. Nos anos seguintes, conciliou televisão e cinema, atuando em filmes como “Albert Nobbs” (Idem – 2011), de Rodrigo García, “Anna Karenina” (Idem – 2012), de Joe Wright, “A Garota Dinamarquesa” (The Danish Girl – 2015), de Tom Hooper, e “Peter Pan” (Pan – 2015), também dirigido por Joe Wright.
A experiência como atriz em produções britânicas despertou o interesse em trabalhar por trás das câmeras, inicialmente como roteirista de episódios da série “Drifters” (Idem – 2013 – 2016), em 2016. Pouco tempo depois assumiu direção, produção e roteiro do curta-metragem “Careful How You Go” (Idem – 2018), mesmas funções assumidas em seu longa-metragem de estreia, “Bela Vingança”. Mas a carreira no cinema não deixou a paixão pela TV em segundo plano, pois Fennell segue trabalhando em produções televisivas, tanto nos bastidores, como roteirista em “Killing Eve: Dupla Obsessão” (Killing Eve – desde 2018), quanto atriz em “The Crown” (Idem – desde 2016), no papel de Camilla Parker Bowles.
Esta é a sua primeira vez em que concorre ao Oscar. E em três categorias: filme, direção e roteiro original.
* Entre os 13 prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Bela Vingança”, estão: o Filmmaker on the Rise Award, da Hollywood Critics Association; o Sierra Award, da Las Vegas Film Critics Society Awards; o NFCS Award, da Nevada Film Critics Society; o NYFCO Award de diretor(a) estreante, do New York Film Critics, Online; e o Directors to Watch (SFC Award), do Sunset Film Circle Awards.
– Thomas Vinterberg:
Nascido em 19 de maio de 1969 em Copenhague, Dinamarca, Thomas Vinterberg ingressou na Danske Filmskole (Academia de Cinema da Dinamarca) aos 19 anos de idade. No mesmo ano, atuou na série televisiva “Ung-TV” (Idem – 1986 – 1988), mas o interesse pelos bastidores do cinema falou mais alto e, em 1990, estreou como diretor, produtor executivo e roteirista com o drama “Sneblind – 1990, Dinamarca). Filho do crítico de cinema Søren Vinterberg, o cineasta realizou curtas-metragens nos anos seguintes, voltando aos longas com “The Biggest Heroes” (De største helte – 1996, Dinamarca). Nessa época, Vinterberg criou, ao lado de Lars von Trier, o movimento Dogma 95, que estipulou regras para a produção de filmes, fugindo do padrão instituído por Hollywood, tendo “Festa de Família” (Festen – 1998, Dinamarca / Suécia) como seu primeiro longa a seguir tais regras.
O sucesso de “Festa de Família” colocou Thomas Vinterberg como um dos profissionais mais cobiçados do cinema, inclusive por Hollywood, onde estreou com “Dogma do Amor” (It’s All About Love – 2003), dirigindo Joaquin Phoenix, Claire Dane e Sean Penn. Após este filme, o cineasta voltou ao seu país de origem, trabalhando em títulos como “Querida Wendy” (Dear Wendy – 2005), “Quando um Homem Volta para Casa” (En mand kommer hjem – 2007) e “A Caça” (Jagten – 2012), um de seus maiores sucessos. Em 2018, Vinterberg levou às telas o drama do submarino russo Kursk, que afundou no Mar de Barents em agosto de 2000, em “Kursk – A Última Missão” (Kursk – 2018). Menos badalado que outros projetos do cineasta, o longa tem em sua trilha sonora a canção “Enter Sandman”, da banda americana Metallica, dirigida por Vinterberg no videoclipe de “The Day That Never Comes” (2008).
Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.
* Os três prêmios individuais recebidos por seu trabalho na direção de “Druk – Mais Uma Rodada” são: o Robert, do Danish Film Awards; o European Film Award, do European Film Awards; e o Creative Impact in Directing Award, do Palm Springs International Film Festival.
– David Fincher:
Nascido em 28 de agosto de 1962 em Denver, no estado americano do Colorado, David Andrew Leo Fincher começou a carreira como assistente de câmera do departamento de efeitos visuais da Industrial Light & Magic em “Guerra nas Estreças – Episódio VI: O Retorno do Jedi” (Star Wars: Episode VI – Return of the Jedi – 1983), de Richard Marquand. Na companhia criada por George Lucas, Fincher trabalhou em mais dois filmes, “A História Sem Fim” (Die unendliche Geschichte – 1984, Alemanha) e “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (Indiana Jones and the Temple of Doom – 1982), respectivamente dirigidos por Wolfgang Petersen e Steven Spielberg, mas o interesse pela direção falou mais alto. Assim, Fincher trilhou pelo mundo da publicidade e do videoclipe, bastante popular nos anos 1980 e 1990, realizando trabalhos memoráveis que deixaram suas marcas na História da MTV, com George Michael (“Freedom! ’90”), Madonna (“Express Yourself”, “Oh Father” e “Vogue”) e Aerosmith (“Janie’s Got a Gun”), por exemplo. À época, o cineasta bateu o recorde da emissora voltada para a indústria fonográfica como o único diretor a concorrer, por duas vezes, ao MTV Video Music Awards com três videoclipes na mesma edição.
Já com certa notoriedade, David Fincher estreou na direção de longas-metragens com “Alien 3” (Alien³ – 1992), mas sem abandonar suas raízes na publicidade e nos clipes musicais, trabalhando novamente com Madonna em “Bad Girl”. A consagração chegou com seu segundo filme, “Seven: Os Sete Crimes Capitais” (Se7en – 1995), estrelado por Morgan Freeman e Brad Pitt. Aclamado pelo público e pela crítica, o longa abriu de vez as portas da indústria hollywoodiana para o cineasta, que, desde então, dirigiu títulos como “Vidas em Jogo” (The Game – 1997), “Clube da Luta” (Fight Club – 1999), “O Quarto do Pânico” (Panic Room – 2002), “O Curioso Caso de Benjamin Button” (The Curious Case of Benjamin Button – 2008), “A Rede Social” (The Social Network – 2010), “Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres” (The Girl with the Dragon Tattoo – 2011) e “Garota Exemplar” (Gone Girl – 2014). Nos últimos anos, David Fincher assumiu a produção executiva de curtas e longas-metragens, bem como roteirizou três curtas, “Beat the Devil” (Idem – 2003), “Ticker” (Idem – 2003) e “The Hire” (Idem – 2004).
Esta é a sua terceira indicação ao Oscar de melhor direção. As outras duas foram por “O Curioso Caso de Benjamin Button” e “A Rede Social”, em 2009 e 2011, respectivamente.
* O cineasta ainda não recebeu nenhum prêmio pela direção de “Mank”.
– Lee Isaac Chung:
Nascido em 19 de outubro de 1978 em Denver, no estado americano do Colorado, Lee Isaac Chung é filho de imigrantes coreanos e se interessou por outras áreas antes de iniciar no cinema. Formado em Ecologia pela Universidade de Yale, Chung cogitou estudar Medicina, mas desistiu para ingressar no curso de cinema, finalizando seu mestrado pela Universidade de Utah em 2004, mesmo ano em que realizou seu primeiro curta-metragem, “Highway” (Idem – 2004). Trabalhou em outros curtas até estrear em longas-metragens com o drama “Munyurangabo” (Idem – 2007, Ruanda / EUA), no qual também assumiu as funções de produtor, diretor de fotografia, editor e roteirista. Este filme foi lançado pela Almond Tree Films Rwanda.
Criada por Chung, Jenny Lund e Samuel Anderson com o intuito de produzir e ensinar a arte cinematográfica no país africano, a Almond Tree Films Rwanda foi responsável pelos três longas-metragens seguintes do cineasta, “Lucky Life” (Idem – 2010), “Abigail Harm” (Idem – 2012) e “I Have Seen My Last Born” (Idem – 2015). “Minari – Em Busca da Felicidade” é o primeiro filme do cineasta que não foi produzido por sua companhia, mas pela Plan B Entertainment.
Esta é a sua primeira vez em que concorre ao Oscar. E em duas categorias: direção e roteiro original.
* O único prêmio individual recebido por seu trabalho na direção de “Minari – Em Busca da Felicidade” é: o AFCA Award, da Austin Film Critics Association.