Exibido nos Estados Unidos entre 1989 e 1999, o “Hard Copy” (Idem) era um programa jornalístico de linha sensacionalista que vasculhava absolutamente tudo que pudesse lhe render uma chamada sobre escândalos e/ou crimes. Se a história contasse com o envolvimento de algum famoso, melhor ainda para a equipe e para a audiência. Em janeiro de […]
POR Ana Carolina Garcia16/02/2018|5 min de leitura
Exibido nos Estados Unidos entre 1989 e 1999, o “Hard Copy” (Idem) era um programa jornalístico de linha sensacionalista que vasculhava absolutamente tudo que pudesse lhe render uma chamada sobre escândalos e/ou crimes. Se a história contasse com o envolvimento de algum famoso, melhor ainda para a equipe e para a audiência. Em janeiro de 1994, a patinadora Nancy Kerrigan foi atacada após o treino para os Jogos Olímpicos. O assunto, obviamente, foi esmiuçado pelo programa, sobretudo após o FBI concluir que uma de suas adversárias estava envolvida no caso. E não era uma adversária qualquer. Era Tonya Harding, a primeira mulher a realizar um Triple Axel. Tudo isto é mostrado em “Eu, Tonya” (I, Tonya – 2017), que chega às salas de exibição brasileiras nesta quinta-feira, dia 15.
Sob a habilidosa direção de Craig Gillespie, o longa começa como uma espécie de programa especial ou documentário sobre Tonya (Margot Robbie), reunindo depoimentos de pessoas importantes durante a sua trajetória, principalmente da mãe, LaVona Golden (Allison Janney), e do ex-marido, Jeff Gilloly (Sebastian Stan), além do jornalista do Hard Copy, Martin Maddox (Bobby Cannavale). A partir disto, a trama é apresentada por meio de flashbacks inseridos com precisão pela montagem de Tatiana S. Riegel, desde o primeiro contato com a treinadora até o julgamento, passando pelos abusos físicos e psicológicos conferidos tanto pela mãe quanto por Jeff, de acordo com a patinadora.
Com o roteiro inteligente de Steven Rogers, “Eu, Tonya” sai da zona de conforto de cinebiografias convencionais e assume o tom dramático temperado com boas doses de deboche. De narrativa ágil, o longa quebra a quarta parede diversas vezes para dar a visão dos fatos de cada um dos envolvidos, mas sempre que possível com a intenção de colocar a protagonista como a inocente vitimada por uma trama executada sem o seu conhecimento e aprovação.
Apesar de assumir o tom de defesa da retratada, o longa funciona enquanto ficção por ter como base não apenas o roteiro bem elaborado, mas também a atuação de todo o elenco que, curiosamente, reúne dois intérpretes de personagens famosos dos quadrinhos da DC e da Marvel: Margot Robbie (Arlequina) e Sebastian Stan (Soldado Invernal). Completamente integrados entre si e dedicados aos seus respectivos personagens, os atores abrilhantam o filme e se tornam um espetáculo à parte, destacando-se o trio poderoso formado por Robbie, Stan e Janney.
Indicada ao Oscar de melhor atriz, Margot Robbie surge na tela como uma mulher movida pela dor oriunda do tratamento oferecido pela mãe e pelo marido, ambos controladores e abusivos, sendo que a primeira age como sua maior inimiga. É um rico trabalho de composição da atriz, que esbanja química em cena com Janney e principalmente com Stan. Rosto conhecido do grande público por causa dos filmes da Marvel, o ator romeno explora com propriedade todas as nuances de seu personagem, desde a suavidade e entrega dos bons momentos do casal até o envolvimento no ataque à Kerrigan (Caitlin Carver). No entanto, Stan se sobressai nas sequências de inquietação e violência doméstica, mostrando sua versatilidade profissional.
Também concorrendo ao Golden Boy e com o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante em casa, Allison Janney constrói LaVona de maneira a apresentar ao público as consequências dos atos de uma mulher que desconhece os significados de amor e maternidade, bem como de suas atribuições. Com isso, vê na filha a chance de recuperar o dinheiro “gasto” em sua criação, mas jogando tudo em sua cara com ódio injustificável.
Contando com caracterizações e reconstituições de época eficientes, “Eu, Tonya” é mais do que uma simples biografia. É uma obra ficcional sobre abusos físico e emocional, bem como da ambição desmedida que coloca tudo a perder pela crença de que o preço pelos seus atos não será cobrado. Mas, no final, a conta chega e a um custo altíssimo.
*Indicado a três estatuetas do Oscar: melhor atriz para Margot Robbie, atriz coadjuvante para Allison Janney e montagem para Tatiana S. Riegel.
Exibido nos Estados Unidos entre 1989 e 1999, o “Hard Copy” (Idem) era um programa jornalístico de linha sensacionalista que vasculhava absolutamente tudo que pudesse lhe render uma chamada sobre escândalos e/ou crimes. Se a história contasse com o envolvimento de algum famoso, melhor ainda para a equipe e para a audiência. Em janeiro de 1994, a patinadora Nancy Kerrigan foi atacada após o treino para os Jogos Olímpicos. O assunto, obviamente, foi esmiuçado pelo programa, sobretudo após o FBI concluir que uma de suas adversárias estava envolvida no caso. E não era uma adversária qualquer. Era Tonya Harding, a primeira mulher a realizar um Triple Axel. Tudo isto é mostrado em “Eu, Tonya” (I, Tonya – 2017), que chega às salas de exibição brasileiras nesta quinta-feira, dia 15.
Sob a habilidosa direção de Craig Gillespie, o longa começa como uma espécie de programa especial ou documentário sobre Tonya (Margot Robbie), reunindo depoimentos de pessoas importantes durante a sua trajetória, principalmente da mãe, LaVona Golden (Allison Janney), e do ex-marido, Jeff Gilloly (Sebastian Stan), além do jornalista do Hard Copy, Martin Maddox (Bobby Cannavale). A partir disto, a trama é apresentada por meio de flashbacks inseridos com precisão pela montagem de Tatiana S. Riegel, desde o primeiro contato com a treinadora até o julgamento, passando pelos abusos físicos e psicológicos conferidos tanto pela mãe quanto por Jeff, de acordo com a patinadora.
Com o roteiro inteligente de Steven Rogers, “Eu, Tonya” sai da zona de conforto de cinebiografias convencionais e assume o tom dramático temperado com boas doses de deboche. De narrativa ágil, o longa quebra a quarta parede diversas vezes para dar a visão dos fatos de cada um dos envolvidos, mas sempre que possível com a intenção de colocar a protagonista como a inocente vitimada por uma trama executada sem o seu conhecimento e aprovação.
Apesar de assumir o tom de defesa da retratada, o longa funciona enquanto ficção por ter como base não apenas o roteiro bem elaborado, mas também a atuação de todo o elenco que, curiosamente, reúne dois intérpretes de personagens famosos dos quadrinhos da DC e da Marvel: Margot Robbie (Arlequina) e Sebastian Stan (Soldado Invernal). Completamente integrados entre si e dedicados aos seus respectivos personagens, os atores abrilhantam o filme e se tornam um espetáculo à parte, destacando-se o trio poderoso formado por Robbie, Stan e Janney.
Indicada ao Oscar de melhor atriz, Margot Robbie surge na tela como uma mulher movida pela dor oriunda do tratamento oferecido pela mãe e pelo marido, ambos controladores e abusivos, sendo que a primeira age como sua maior inimiga. É um rico trabalho de composição da atriz, que esbanja química em cena com Janney e principalmente com Stan. Rosto conhecido do grande público por causa dos filmes da Marvel, o ator romeno explora com propriedade todas as nuances de seu personagem, desde a suavidade e entrega dos bons momentos do casal até o envolvimento no ataque à Kerrigan (Caitlin Carver). No entanto, Stan se sobressai nas sequências de inquietação e violência doméstica, mostrando sua versatilidade profissional.
Também concorrendo ao Golden Boy e com o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante em casa, Allison Janney constrói LaVona de maneira a apresentar ao público as consequências dos atos de uma mulher que desconhece os significados de amor e maternidade, bem como de suas atribuições. Com isso, vê na filha a chance de recuperar o dinheiro “gasto” em sua criação, mas jogando tudo em sua cara com ódio injustificável.
Contando com caracterizações e reconstituições de época eficientes, “Eu, Tonya” é mais do que uma simples biografia. É uma obra ficcional sobre abusos físico e emocional, bem como da ambição desmedida que coloca tudo a perder pela crença de que o preço pelos seus atos não será cobrado. Mas, no final, a conta chega e a um custo altíssimo.
*Indicado a três estatuetas do Oscar: melhor atriz para Margot Robbie, atriz coadjuvante para Allison Janney e montagem para Tatiana S. Riegel.