Historicamente conflituosa, a região da antiga Iugoslávia foi palco do maior conflito armado em solo europeu no pós-Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Bósnia (1992 – 1995), que teve como um dos episódios mais sangrentos o Massacre de Srebrenica, em julho de 1995, quando tropas sérvio-bósnias, lideradas por Radovan Karadzic e pelo General Ratko Mladíc, […]
POR Ana Carolina Garcia24/07/2021|4 min de leitura
Historicamente conflituosa, a região da antiga Iugoslávia foi palco do maior conflito armado em solo europeu no pós-Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Bósnia (1992 – 1995), que teve como um dos episódios mais sangrentos o Massacre de Srebrenica, em julho de 1995, quando tropas sérvio-bósnias, lideradas por Radovan Karadzic e pelo General Ratko Mladíc, exterminaram mais de oito mil pessoas, a maioria meninos e homens de origem muçulmana, enterrando-as em valas comuns, posteriormente reabertas com escavadeiras para que os restos mortais das vítimas fossem divididos com o objetivo de esconder, de alguma maneira, o genocídio de habitantes de uma cidade que estava na chamada zona de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Hoje, 26 anos após a barbárie, os sobreviventes ainda tentam lidar com o trauma e a dor da perda de familiares e amigos. Um deles, Hasan Nuhanović, que à época trabalhava como intérprete da ONU, escreveu suas memórias num livro, “Under the UN Flag”, que inspirou “Quo Vadis, Aida?” (Quo Vadis, Aida? – 2020, Bósnia e Herzegovina), selecionado para o Festival do Rio 2021, que acontece em parceria com a Rede Telecine, responsável por exibir os longas tanto em sua grade quanto em sua plataforma de streaming até o próximo dia 31.
“Quo Vadis, Aida?” começa em 11 de julho de 1995, mostrando os habitantes de Srebrenica abandonando suas casas em busca de abrigo após a invasão sérvia. Professora do Ensino Fundamental, Aida Selmanagic (Jasna Djuricic) trabalha como intérprete da ONU e se desespera ao perceber o perigo enfrentado pela população, tentando salvar o marido e os dois filhos enquanto corre de um lado para o outro na base das Nações Unidas, sem recursos para abrigar os refugiados.
Usando como fio condutor a luta incansável da esposa e mãe para proteger seu bem maior, a cineasta Jasmila Zbanic, nascida em Sarajevo, realiza um dos filmes mais potentes e impactantes dos últimos anos, apresentando o horror da guerra com emoção e objetividade para criar uma espécie de documento para que as novas gerações não cometam os atos das anteriores. Com isso, o longa se desenvolve com esmero, explorando o horror imposto a inocentes, muitas vezes transmitido somente pelo olhar dos atores, principalmente daqueles que, assim como Zbanic, testemunharam a Guerra da Bósnia. Em total sintonia, o elenco demonstra respeito para com a história que se propôs a contar na tela grande, bem como para com as vítimas, fatais ou não.
Não há como negar que, apesar do roteiro impecável, a força motriz de “Quo Vadis, Aida?” é a atuação de Jasna Djuricic, que condensa na protagonista a dor implacável da ferida que nunca cicatrizará, defendendo Aida com garra e determinação para que o espectador consiga dimensionar as consequências da guerra sobre Srebrenica. É um desempenho muito poderoso, assim como o de seu marido na vida real, Boris Isakovic (General Mladíc), que surge na tela como uma figura monstruosa e sem limites.
Indicado ao Oscar de melhor filme internacional e ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, “Quo Vadis, Aida?” ultrapassa a barreira do drama de guerra ao conquistar espaço enquanto documento de um massacre que não pode ser esquecido, honrando a memória das vítimas ao expor tanto a impotência da ONU face às tropas sérvio-bósnias quanto a resiliência dos sobreviventes por meio da protagonista, obrigada a conviver com um carrasco em prol de seu trabalho como educadora infantil, surtindo o efeito de um soco no estômago do espectador.
Historicamente conflituosa, a região da antiga Iugoslávia foi palco do maior conflito armado em solo europeu no pós-Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Bósnia (1992 – 1995), que teve como um dos episódios mais sangrentos o Massacre de Srebrenica, em julho de 1995, quando tropas sérvio-bósnias, lideradas por Radovan Karadzic e pelo General Ratko Mladíc, exterminaram mais de oito mil pessoas, a maioria meninos e homens de origem muçulmana, enterrando-as em valas comuns, posteriormente reabertas com escavadeiras para que os restos mortais das vítimas fossem divididos com o objetivo de esconder, de alguma maneira, o genocídio de habitantes de uma cidade que estava na chamada zona de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Hoje, 26 anos após a barbárie, os sobreviventes ainda tentam lidar com o trauma e a dor da perda de familiares e amigos. Um deles, Hasan Nuhanović, que à época trabalhava como intérprete da ONU, escreveu suas memórias num livro, “Under the UN Flag”, que inspirou “Quo Vadis, Aida?” (Quo Vadis, Aida? – 2020, Bósnia e Herzegovina), selecionado para o Festival do Rio 2021, que acontece em parceria com a Rede Telecine, responsável por exibir os longas tanto em sua grade quanto em sua plataforma de streaming até o próximo dia 31.
“Quo Vadis, Aida?” começa em 11 de julho de 1995, mostrando os habitantes de Srebrenica abandonando suas casas em busca de abrigo após a invasão sérvia. Professora do Ensino Fundamental, Aida Selmanagic (Jasna Djuricic) trabalha como intérprete da ONU e se desespera ao perceber o perigo enfrentado pela população, tentando salvar o marido e os dois filhos enquanto corre de um lado para o outro na base das Nações Unidas, sem recursos para abrigar os refugiados.
Usando como fio condutor a luta incansável da esposa e mãe para proteger seu bem maior, a cineasta Jasmila Zbanic, nascida em Sarajevo, realiza um dos filmes mais potentes e impactantes dos últimos anos, apresentando o horror da guerra com emoção e objetividade para criar uma espécie de documento para que as novas gerações não cometam os atos das anteriores. Com isso, o longa se desenvolve com esmero, explorando o horror imposto a inocentes, muitas vezes transmitido somente pelo olhar dos atores, principalmente daqueles que, assim como Zbanic, testemunharam a Guerra da Bósnia. Em total sintonia, o elenco demonstra respeito para com a história que se propôs a contar na tela grande, bem como para com as vítimas, fatais ou não.
Não há como negar que, apesar do roteiro impecável, a força motriz de “Quo Vadis, Aida?” é a atuação de Jasna Djuricic, que condensa na protagonista a dor implacável da ferida que nunca cicatrizará, defendendo Aida com garra e determinação para que o espectador consiga dimensionar as consequências da guerra sobre Srebrenica. É um desempenho muito poderoso, assim como o de seu marido na vida real, Boris Isakovic (General Mladíc), que surge na tela como uma figura monstruosa e sem limites.
Indicado ao Oscar de melhor filme internacional e ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, “Quo Vadis, Aida?” ultrapassa a barreira do drama de guerra ao conquistar espaço enquanto documento de um massacre que não pode ser esquecido, honrando a memória das vítimas ao expor tanto a impotência da ONU face às tropas sérvio-bósnias quanto a resiliência dos sobreviventes por meio da protagonista, obrigada a conviver com um carrasco em prol de seu trabalho como educadora infantil, surtindo o efeito de um soco no estômago do espectador.