Francis Ford Coppola chama filmes da Marvel de ‘desprezíveis’
Homenageado com o Prix Lumière no festival que leva o sobrenome dos pais do cinema, Louis e Auguste Lumière, em Lyon, França, na última sexta-feira, dia 18, Francis Ford Coppola aumentou a polêmica em torno dos filmes de super-heróis, chamando as produções do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) de “desprezíveis”. A crítica de Coppola foi […]
POR Ana Carolina Garcia21/10/2019|7 min de leitura
Homenageado com o Prix Lumière no festival que leva o sobrenome dos pais do cinema, Louis e Auguste Lumière, em Lyon, França, na última sexta-feira, dia 18, Francis Ford Coppola aumentou a polêmica em torno dos filmes de super-heróis, chamando as produções do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) de “desprezíveis”. A crítica de Coppola foi feita poucos dias após a de Martin Scorsese, que disse que tais longas, sem citar DC e Marvel, “não são cinema”.
“Quando Martin Scorsese diz que filmes da Marvel não são cinema, ele está certo porque esperamos aprender algo com o cinema, esperamos ganhar algo, algum conhecimento, alguma inspiração. Eu não sei o que alguém ganha vendo o mesmo filme repetidamente. Martin foi gentil. Ele não disse que são desprezíveis, que é o que eu digo”, afirmou Coppola, receptor do Irving G. Thalberg Memorial Award, concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) em 2010 (foto acima) e vencedor de cinco estatuetas do Oscar – roteiro adaptado por “Patton, Rebelde ou Herói?” (Patton – 1970), “O Poderoso Chefão” (The Godfather – 1972) e “O Poderoso Chefão 2” (The Godfather: Part II – 1974), produção que também lhe rendeu as estatuetas de filme e direção.
Amigo de longa data de Scorsese, Francis Ford Coppola engrossou o coro contra o filão mais rentável de Hollywood, responsável por manter as engrenagens da indústria funcionando com faturamentos para lá de expressivos, vide o de “Vingadores: Ultimato” (Avengers: Endgame – 2019). Com direção dos irmãos Anthony e Joe Russo, o longa arrecadou US$ 2,797 bilhões mundialmente, tornando-se a maior bilheteria da História, segundo o Box Office Mojo.
Após a declaração de Coppola, James Gunn, um dos nomes mais importantes do UCM e diretor e roteirista de “Esquadrão Suicida 2” (Suicide Squad 2 – 2021), da DC/Warner, recorreu novamente ao Twitter para defender o filão: “Muitos dos nossos avós achavam que filmes de gângster eram todos iguais, frequentemente os chamando de ‘desprezíveis’. Nossos avós pensavam o mesmo de faroestes, e acreditavam que as obras de John Ford, Sam Peckinpah e Sergio Leone eram todas iguais. Eu lembro de um tio-avô para quem eu estava surtando com ‘Star Wars’. Ele me respondeu dizendo, ‘Eu vi esse filme quando se chamava 2001 – Uma Odisseia no Espaço, e, rapaz, era um tédio!’. Filmes de super-heróis simplesmente são os equivalentes modernos aos faroestes, gângsters e aventuras no espaço. Alguns filmes de super-heróis são terríveis, outros são lindos. Assim como faroestes e gângsters (e, antes disso, apenas FILMES), nem todo mundo irá gostar deles, mesmo alguns gênios. E está tudo bem”.
De acordo com o Daily Mail, Sebastian Stan também se manifestou contra as declarações de Coppola durante a Fandemic Tour Houston, no último domingo, dia 20. “Ele (Coppola) é um dos meus heróis e eu o estava ouvindo enquanto passava o dia com todos vocês. As pessoas vêm até mim e dizem: ‘Muito obrigado por esse personagem’, ‘Este filme me ajudou muito’, ‘Este filme me inspirou. Agora me sinto melhor. Agora me sinto menos sozinho’, então como você pode diz que esses filmes não estão ajudando as pessoas?”, disse o intérprete de Bucky Barnes / Soldado Invernal.
As críticas em relação aos filmes de super-heróis não se restringem à qualidade de cada um porque englobam também o forte apelo comercial, uma vez que tais produções dominam as salas de exibição das grandes redes, dentro e fora dos Estados Unidos. Neste ponto, é necessário ressaltar que a ansiedade que toma conta do público a cada lançamento impulsiona também mercados paralelos, pois os heróis vendem de camisas a brinquedos, tanto para crianças quanto para adultos.
E foi pelo viés comercial que Martin Scorsese voltou a criticar os filmes de super-heróis nesta segunda-feira, dia 21, no Rome Film Fest, em Roma, Itália, onde divulga seu novo longa, “O Irlandês” (The Irishman – 2019), produção original Netflix que tem lançamento agendado para 27 de novembro, mas que será exibido em alguns cinemas para cumprir exigências de instituições responsáveis por prêmios importantes, como a AMPAS. De acordo com o The Hollywood Reporter, o cineasta disse que seu novo trabalho é sobre “mortalidade e o desenrolar de uma vida”, chamando-o, também, de “experiência humana imediata”, e que espera que as redes continuem “apoiando este tipo de cinema narrativo”.
“Agora os cinemas parecem apoiar principalmente o parque temático, o parque de diversões e os filmes de quadrinhos. Eles estão controlando os cinemas. Eu acho que eles podem ter esses filmes; está bem. Só que isso não deve se tornar o que nossos jovens acreditam que é cinema. Simplesmente não deveria”, disse Scorsese, que completou: “Este é o mundo em que vivemos. Nossos filhos são, não sei o que estão fazendo com esses dispositivos. Eles percebem a realidade de maneira diferente. Eles percebem até o conceito de como a história deveria ser (diferente). Como eles vão saber sobre a Segunda Guerra Mundial? Como eles vão saber sobre o Vietnã? O que eles pensam sobre o Afeganistão? O que eles pensam disso tudo? Eles estão percebendo isso aos poucos. Parece não haver continuidade da história”.
Atualmente, longas-metragens de conteúdo histórico continuam sendo produzidos e obtendo bons resultados, inclusive em termos de premiações, o que acaba por chamar ainda mais a atenção do público. No entanto, o cinema escapista costuma reinar, principalmente junto à fatia mais jovem da plateia, que procura prioritariamente diversão. Neste ponto, é inegável a preferência do grande público pelo filão de herói, tal qual a pelo musical e faroeste na Era de Ouro de Hollywood. Isto acaba levando à pergunta: se as redes de cinemas diminuírem o espaço concedido aos heróis, o espectador / fã deixará de assistir ao filme repetidamente para dar vez à produção em cartaz na sala ao lado, de qualquer gênero cinematográfico? Dificilmente, pois o que este filão conquistou nos últimos anos equivale à devoção dos fãs de rock à sua banda favorita. Ou seja, o público tem à sua disposição dezenas de bons shows pela cidade, mas não abre mão daquele show específico, celebrando-o como o grande evento que ele de fato é. E nos últimos anos, as sessões de longas do UCM se transformaram em grandes eventos para os seus fãs, de todas as idades, independentemente da quantidade de salas que os exibem. Se for apenas uma por rede, todas as outras serão “engolidas”. E o mercado é obrigado a refletir a preferência dos clientes em sua programação porque precisa das salas cheias para se manter de pé, sobretudo no momento de fortalecimento das plataformas de streaming e crise econômica mundial.
Homenageado com o Prix Lumière no festival que leva o sobrenome dos pais do cinema, Louis e Auguste Lumière, em Lyon, França, na última sexta-feira, dia 18, Francis Ford Coppola aumentou a polêmica em torno dos filmes de super-heróis, chamando as produções do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) de “desprezíveis”. A crítica de Coppola foi feita poucos dias após a de Martin Scorsese, que disse que tais longas, sem citar DC e Marvel, “não são cinema”.
“Quando Martin Scorsese diz que filmes da Marvel não são cinema, ele está certo porque esperamos aprender algo com o cinema, esperamos ganhar algo, algum conhecimento, alguma inspiração. Eu não sei o que alguém ganha vendo o mesmo filme repetidamente. Martin foi gentil. Ele não disse que são desprezíveis, que é o que eu digo”, afirmou Coppola, receptor do Irving G. Thalberg Memorial Award, concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) em 2010 (foto acima) e vencedor de cinco estatuetas do Oscar – roteiro adaptado por “Patton, Rebelde ou Herói?” (Patton – 1970), “O Poderoso Chefão” (The Godfather – 1972) e “O Poderoso Chefão 2” (The Godfather: Part II – 1974), produção que também lhe rendeu as estatuetas de filme e direção.
Amigo de longa data de Scorsese, Francis Ford Coppola engrossou o coro contra o filão mais rentável de Hollywood, responsável por manter as engrenagens da indústria funcionando com faturamentos para lá de expressivos, vide o de “Vingadores: Ultimato” (Avengers: Endgame – 2019). Com direção dos irmãos Anthony e Joe Russo, o longa arrecadou US$ 2,797 bilhões mundialmente, tornando-se a maior bilheteria da História, segundo o Box Office Mojo.
Após a declaração de Coppola, James Gunn, um dos nomes mais importantes do UCM e diretor e roteirista de “Esquadrão Suicida 2” (Suicide Squad 2 – 2021), da DC/Warner, recorreu novamente ao Twitter para defender o filão: “Muitos dos nossos avós achavam que filmes de gângster eram todos iguais, frequentemente os chamando de ‘desprezíveis’. Nossos avós pensavam o mesmo de faroestes, e acreditavam que as obras de John Ford, Sam Peckinpah e Sergio Leone eram todas iguais. Eu lembro de um tio-avô para quem eu estava surtando com ‘Star Wars’. Ele me respondeu dizendo, ‘Eu vi esse filme quando se chamava 2001 – Uma Odisseia no Espaço, e, rapaz, era um tédio!’. Filmes de super-heróis simplesmente são os equivalentes modernos aos faroestes, gângsters e aventuras no espaço. Alguns filmes de super-heróis são terríveis, outros são lindos. Assim como faroestes e gângsters (e, antes disso, apenas FILMES), nem todo mundo irá gostar deles, mesmo alguns gênios. E está tudo bem”.
De acordo com o Daily Mail, Sebastian Stan também se manifestou contra as declarações de Coppola durante a Fandemic Tour Houston, no último domingo, dia 20. “Ele (Coppola) é um dos meus heróis e eu o estava ouvindo enquanto passava o dia com todos vocês. As pessoas vêm até mim e dizem: ‘Muito obrigado por esse personagem’, ‘Este filme me ajudou muito’, ‘Este filme me inspirou. Agora me sinto melhor. Agora me sinto menos sozinho’, então como você pode diz que esses filmes não estão ajudando as pessoas?”, disse o intérprete de Bucky Barnes / Soldado Invernal.
As críticas em relação aos filmes de super-heróis não se restringem à qualidade de cada um porque englobam também o forte apelo comercial, uma vez que tais produções dominam as salas de exibição das grandes redes, dentro e fora dos Estados Unidos. Neste ponto, é necessário ressaltar que a ansiedade que toma conta do público a cada lançamento impulsiona também mercados paralelos, pois os heróis vendem de camisas a brinquedos, tanto para crianças quanto para adultos.
E foi pelo viés comercial que Martin Scorsese voltou a criticar os filmes de super-heróis nesta segunda-feira, dia 21, no Rome Film Fest, em Roma, Itália, onde divulga seu novo longa, “O Irlandês” (The Irishman – 2019), produção original Netflix que tem lançamento agendado para 27 de novembro, mas que será exibido em alguns cinemas para cumprir exigências de instituições responsáveis por prêmios importantes, como a AMPAS. De acordo com o The Hollywood Reporter, o cineasta disse que seu novo trabalho é sobre “mortalidade e o desenrolar de uma vida”, chamando-o, também, de “experiência humana imediata”, e que espera que as redes continuem “apoiando este tipo de cinema narrativo”.
“Agora os cinemas parecem apoiar principalmente o parque temático, o parque de diversões e os filmes de quadrinhos. Eles estão controlando os cinemas. Eu acho que eles podem ter esses filmes; está bem. Só que isso não deve se tornar o que nossos jovens acreditam que é cinema. Simplesmente não deveria”, disse Scorsese, que completou: “Este é o mundo em que vivemos. Nossos filhos são, não sei o que estão fazendo com esses dispositivos. Eles percebem a realidade de maneira diferente. Eles percebem até o conceito de como a história deveria ser (diferente). Como eles vão saber sobre a Segunda Guerra Mundial? Como eles vão saber sobre o Vietnã? O que eles pensam sobre o Afeganistão? O que eles pensam disso tudo? Eles estão percebendo isso aos poucos. Parece não haver continuidade da história”.
Atualmente, longas-metragens de conteúdo histórico continuam sendo produzidos e obtendo bons resultados, inclusive em termos de premiações, o que acaba por chamar ainda mais a atenção do público. No entanto, o cinema escapista costuma reinar, principalmente junto à fatia mais jovem da plateia, que procura prioritariamente diversão. Neste ponto, é inegável a preferência do grande público pelo filão de herói, tal qual a pelo musical e faroeste na Era de Ouro de Hollywood. Isto acaba levando à pergunta: se as redes de cinemas diminuírem o espaço concedido aos heróis, o espectador / fã deixará de assistir ao filme repetidamente para dar vez à produção em cartaz na sala ao lado, de qualquer gênero cinematográfico? Dificilmente, pois o que este filão conquistou nos últimos anos equivale à devoção dos fãs de rock à sua banda favorita. Ou seja, o público tem à sua disposição dezenas de bons shows pela cidade, mas não abre mão daquele show específico, celebrando-o como o grande evento que ele de fato é. E nos últimos anos, as sessões de longas do UCM se transformaram em grandes eventos para os seus fãs, de todas as idades, independentemente da quantidade de salas que os exibem. Se for apenas uma por rede, todas as outras serão “engolidas”. E o mercado é obrigado a refletir a preferência dos clientes em sua programação porque precisa das salas cheias para se manter de pé, sobretudo no momento de fortalecimento das plataformas de streaming e crise econômica mundial.