‘Oppenheimer’: a nova obra-prima de Christopher Nolan
Em 2017, Christopher Nolan levou às telas de cinema um dos episódios mais importantes da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), a Operação Dínamo, que consistia no resgate de cerca de 400 mil homens das tropas Aliadas que foram encurralados pelo exército alemão em Dunquerque, cidade no litoral norte da França, entre 25 de maio […]
POR Ana Carolina Garcia19/07/2023|5 min de leitura
Em 2017, Christopher Nolan levou às telas de cinema um dos episódios mais importantes da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), a Operação Dínamo, que consistia no resgate de cerca de 400 mil homens das tropas Aliadas que foram encurralados pelo exército alemão em Dunquerque, cidade no litoral norte da França, entre 25 de maio e 04 de junho de 1940, tendo o mar como única rota de fuga. Também chamada de “Milagre de Dunquerque”, a operação contou com a participação de civis em barcos particulares e foi retratada em “Dunkirk” (Dunkirk – 2017, Reino Unido / Países Baixos / França / EUA), que não utiliza o clichê do herói de guerra para apresentar uma história cujo protagonista é o horror originado pelo conflito.
Agora, seis anos depois, o cineasta volta ao tema da Segunda Guerra Mundial, mas sem mostrar o conflito propriamente dito, abordando os bastidores daquele que se tornaria um dos capítulos mais importantes e tristes da História da humanidade: o Projeto Manhattan, que possibilitou o desenvolvimento das bombas atômicas lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 06 e 09 de agosto de 1945, respectivamente. Essa é a trama principal de “Oppenheimer” (Oppenheimer – 2023, Reino Unido / EUA), que chega ao circuito nesta quinta-feira (20).
Traçando um paralelo com o mito de Prometeu, “Oppenheimer” faz um estudo cuidadoso do cenário político americano dos anos 1940 e 1950, apresentando a luta contra o comunismo antes mesmo da Guerra Fria (1947 – 1991). Para tanto, coloca a mente por trás das bombas, J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), no centro da ação, explorando tanto o fascínio pela ciência e pelo poder quanto o horror causado pelas consequências dos dois lançamentos que buscavam a rendição japonesa. Neste sentido, o longa tece uma crítica aberta à ambição desmedida pelo poder absoluto de homens que desejavam demonstrar sua força por meio de armas de destruição em massa, mesmo com o risco de reações em cadeia que poderiam levar a humanidade à extinção devido à destruição do planeta.
Dominando a arte cinematográfica como poucos, Christopher Nolan realiza uma produção, no mínimo, magistral, pois ele consegue não apenas juntar as peças do quebra-cabeça político com eficiência, oferecidas pelo roteiro escrito por ele em parceria com Kai Bird e Martin Sherwin, como também orientar um elenco que reúne alguns dos maiores nomes do cinema mundial. Todos com competência, atuando em total comunhão em prol da trama proposta pelo cineasta – e isso torna extremamente difícil apontar algum destaque, pois todos têm espaço para brilhar.
Obviamente, Murphy tem sobre seus ombros a responsabilidade de concentrar os holofotes, construindo J. Robert Oppenheimer de maneira a expor a paixão pela ciência e a relação amistosa com Albert Einstein (Tom Conti) como condutoras das ações que o levaram à liderança do Projeto Manhattan, sendo obrigado a controlar o próprio ego e os dos demais enquanto tentava compreender o jogo político que não permitiria a ele nenhum poder de decisão sobre sua criação, a bomba atômica. É uma atuação repleta de nuances, que desnuda o cientista para mostrar à plateia que ele era mais uma peça no tabuleiro, posteriormente descartada quando não mais tivesse utilidade. Isso no contexto da crescente histeria anticomunista que amedrontou a sociedade americana durante muitos anos, o que leva à apresentação de figuras importantes como Leslie Groves, defendido por um Matt Damon mais maduro, e Lewis Strauss, interpretado por Robert Downey Jr., que pôde esmiuçar todo o talento dramático e versatilidade há tempos escondidos sob a armadura do Homem de Ferro.
Primoroso tecnicamente, sobretudo no que tange à montagem, direção de fotografia, direção de arte e efeitos sonoros, “Oppenheimer” é um filme potente que leva o espectador à reflexão a todo instante, sem cansá-lo no decorrer de suas três horas de duração – importante ressaltar a bela opção da fotografia em preto e branco para destacar os bastidores do complexo jogo político. É um filme necessário para melhor compreensão dos eventos que levaram aos lançamentos das bombas atômicas, que significaram não apenas o final da Segunda Guerra Mundial, mas o início da Guerra Fria e da corrida armamentista por potências que desejavam armas de destruição em massa em seus arsenais. E, assim como “Dunkirk”, o real protagonista de “Oppenheimer” é o horror promovido pela humanidade (assista ao trailer oficial legendado):
Em 2017, Christopher Nolan levou às telas de cinema um dos episódios mais importantes da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), a Operação Dínamo, que consistia no resgate de cerca de 400 mil homens das tropas Aliadas que foram encurralados pelo exército alemão em Dunquerque, cidade no litoral norte da França, entre 25 de maio e 04 de junho de 1940, tendo o mar como única rota de fuga. Também chamada de “Milagre de Dunquerque”, a operação contou com a participação de civis em barcos particulares e foi retratada em “Dunkirk” (Dunkirk – 2017, Reino Unido / Países Baixos / França / EUA), que não utiliza o clichê do herói de guerra para apresentar uma história cujo protagonista é o horror originado pelo conflito.
Agora, seis anos depois, o cineasta volta ao tema da Segunda Guerra Mundial, mas sem mostrar o conflito propriamente dito, abordando os bastidores daquele que se tornaria um dos capítulos mais importantes e tristes da História da humanidade: o Projeto Manhattan, que possibilitou o desenvolvimento das bombas atômicas lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 06 e 09 de agosto de 1945, respectivamente. Essa é a trama principal de “Oppenheimer” (Oppenheimer – 2023, Reino Unido / EUA), que chega ao circuito nesta quinta-feira (20).
Traçando um paralelo com o mito de Prometeu, “Oppenheimer” faz um estudo cuidadoso do cenário político americano dos anos 1940 e 1950, apresentando a luta contra o comunismo antes mesmo da Guerra Fria (1947 – 1991). Para tanto, coloca a mente por trás das bombas, J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), no centro da ação, explorando tanto o fascínio pela ciência e pelo poder quanto o horror causado pelas consequências dos dois lançamentos que buscavam a rendição japonesa. Neste sentido, o longa tece uma crítica aberta à ambição desmedida pelo poder absoluto de homens que desejavam demonstrar sua força por meio de armas de destruição em massa, mesmo com o risco de reações em cadeia que poderiam levar a humanidade à extinção devido à destruição do planeta.
Dominando a arte cinematográfica como poucos, Christopher Nolan realiza uma produção, no mínimo, magistral, pois ele consegue não apenas juntar as peças do quebra-cabeça político com eficiência, oferecidas pelo roteiro escrito por ele em parceria com Kai Bird e Martin Sherwin, como também orientar um elenco que reúne alguns dos maiores nomes do cinema mundial. Todos com competência, atuando em total comunhão em prol da trama proposta pelo cineasta – e isso torna extremamente difícil apontar algum destaque, pois todos têm espaço para brilhar.
Obviamente, Murphy tem sobre seus ombros a responsabilidade de concentrar os holofotes, construindo J. Robert Oppenheimer de maneira a expor a paixão pela ciência e a relação amistosa com Albert Einstein (Tom Conti) como condutoras das ações que o levaram à liderança do Projeto Manhattan, sendo obrigado a controlar o próprio ego e os dos demais enquanto tentava compreender o jogo político que não permitiria a ele nenhum poder de decisão sobre sua criação, a bomba atômica. É uma atuação repleta de nuances, que desnuda o cientista para mostrar à plateia que ele era mais uma peça no tabuleiro, posteriormente descartada quando não mais tivesse utilidade. Isso no contexto da crescente histeria anticomunista que amedrontou a sociedade americana durante muitos anos, o que leva à apresentação de figuras importantes como Leslie Groves, defendido por um Matt Damon mais maduro, e Lewis Strauss, interpretado por Robert Downey Jr., que pôde esmiuçar todo o talento dramático e versatilidade há tempos escondidos sob a armadura do Homem de Ferro.
Primoroso tecnicamente, sobretudo no que tange à montagem, direção de fotografia, direção de arte e efeitos sonoros, “Oppenheimer” é um filme potente que leva o espectador à reflexão a todo instante, sem cansá-lo no decorrer de suas três horas de duração – importante ressaltar a bela opção da fotografia em preto e branco para destacar os bastidores do complexo jogo político. É um filme necessário para melhor compreensão dos eventos que levaram aos lançamentos das bombas atômicas, que significaram não apenas o final da Segunda Guerra Mundial, mas o início da Guerra Fria e da corrida armamentista por potências que desejavam armas de destruição em massa em seus arsenais. E, assim como “Dunkirk”, o real protagonista de “Oppenheimer” é o horror promovido pela humanidade (assista ao trailer oficial legendado):