Oscar 2022: ‘No Ritmo do Coração’ vence e faz história

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A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizou na noite do último domingo (27), no Dolby Theatre, em Los Angeles, a 94a cerimônia de entrega do Oscar. E o favoritismo de “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, EUA / França / Canadá) se confirmou […]

POR Ana Carolina Garcia28/03/2022|18 min de leitura

Oscar 2022: ‘No Ritmo do Coração’ vence e faz história

“No Ritmo do Coração”: equipe comemora a vitória no Oscar 2022 (Foto: Divulgação – Crédito: Michael Baker / A.M.P.A.S.).

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A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizou na noite do último domingo (27), no Dolby Theatre, em Los Angeles, a 94a cerimônia de entrega do Oscar. E o favoritismo de “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, EUA / França / Canadá) se confirmou com vitórias nas três categorias nas quais concorria: melhor filme, ator coadjuvante para Troy Kotsur e roteiro adaptado para Siân Heder.

 

Esnobada pela AMPAS na disputa de melhor direção, Heder teve a oportunidade de ver seu filme ovacionado pela plateia, que aderiu à linguagem de sinais em respeito aos atores surdos deste que se tornou o primeiro longa-metragem produzido por e para o streaming a vencer a estatueta principal do Oscar. Com isso, a AppleTV+ concretizou o sonho dourado que há tempos é perseguido pela Netflix, que, nos últimos anos, amargou derrotas significativas mesmo chegando com o status de favorita, por vezes, liderando em número de indicações, como agora com “Ataque dos Cães” (The Power of the Dog – 2021, Reino Unido / Canadá / Austrália / Nova Zelândia / EUA), que levou apenas uma das 12 estatuetas que disputava, no caso, a de melhor direção para Jane Campion, que se tornou a terceira mulher a vencer esta estatueta – as outras são Kathryn Bigelow por “Guerra ao Terror” (The Hurt Locker – 2008, EUA) e Cholé Zhao por “Nomadland” (Nomadland – 2020, EUA).

 

Yuh-jung Youn entrega a estatueta de melhor ator coadjuvante para Troy Kotsur (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

A vitória de “No Ritmo do Coração” tem peso enorme sobretudo por questões de representatividade e inclusão, pois deu lugar de destaque a uma parcela da sociedade que pouco foi retratada pela indústria cinematográfica, a de deficientes auditivos. E o maior trunfo deste longa é a escalação de seu elenco, composto por coadjuvantes que são surdos na vida real, Daniel Durant, Marlee Matlin e o já citado Troy Kotsur. Cravando seu nome na História da AMPAS como o primeiro ator surdo a vencer a estatueta dourada, Troy Kotsur foi aplaudido de pé ao subir ao palco para agradecer o prêmio – Matlin foi a primeira atriz a conquistar tal feito, mas na categoria principal por “Filhos do Silêncio” (Children of a Lesser God – 1986, EUA).  “É incrível que o nosso filme tenha atingido o público de todo o mundo. Até da Casa Branca”, disse o ator, enaltecendo sua diretora, Siân Heder, por colocar os deficientes auditivos no mesmo patamar que pessoas ouvintes numa indústria competitiva como a de Hollywood.

 

A comunidade latina também foi lembrada no Oscar não apenas pela vitória de “Encanto” (Encanto – 2021, EUA) como melhor animação, mas, especialmente, pela coroação de Ariana DeBose como atriz coadjuvante por seu desempenho em “Amor, Sublime Amor” (West Side Story – 2021, EUA), de Steven Spielberg. Primeira atriz afro-latina agraciada com o Golden Boy, DeBose interpreta uma personagem que, há 60 anos, deu o mesmo prêmio à primeira atriz de origem latina a subir ao palco da cerimônia do Oscar como vencedora, Rita Moreno – as duas dividiram a cena na nova versão desta adaptação cinematográfica de um dos maiores sucessos da Broadway.

 

“Amor, Sublime Amor”: Ariana DeBose agradeceu Steven Spielberg e Rita Moreno em seu discurso (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

“Agora eu vejo o porquê de a Anita dizer ‘eu quero estar na América’, porque mesmo neste mundo fatigado em que vivemos, os sonhos se tornam realidade. E isso é realmente uma coisa animadora agora”, afirmou Ariana DeBose, agradecendo, em seguida, Steven Spielberg e Rita Moreno, dizendo a ela: “Sua Anita abriu o caminho para toneladas de Anitas como eu. E eu te amo muito!”. A atriz seguiu seu discurso, um dos mais significativos da noite, relembrando o passado e encorajando pessoas mundo afora. “Por fim, imagine essa garotinha no banco de trás de um Ford Focus branco, olhe nos olhos dela: você vê uma mulher de cor queer, abertamente queer, uma afro-latina que encontrou sua força na vida através da arte. E é isso que acredito que estamos aqui para comemorar. Sim, então, para qualquer um que já questionou sua identidade alguma vez, sempre, sempre, ou você se encontra vivendo em espaços cinzentos, eu prometo a você: há de fato um lugar para nós. Obrigado à Academia e obrigado a todos”, finalizou DeBose, sendo bastante aplaudida pelos presentes.

 

Jessica Chastain vence como melhor atriz por “Os Olhos de Tammy Faye” (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

Vencedora do Oscar de melhor atriz por “Os Olhos de Tammy Faye” (The Eyes of Tammy Faye – 2021), Jessica Chastain também fez um discurso forte e politizado, lembrando o projeto de lei que quer proibir o uso do termo “gay” na Flórida. “Estamos diante de uma legislação discriminatória e preconceituosa que está varrendo nosso país com o único objetivo de nos dividir ainda mais. Há violência e crimes de ódio sendo perpetuados em civis inocentes em todo o mundo. E em momentos como esse, penso em Tammy (Faye) e me inspiro em seus atos radicais de amor. Conversamos muito sobre o amor. E sou inspirada por sua compaixão, e vejo isso como um princípio orientador que nos leva adiante. E nos conecta a todos no desejo de que queremos ser aceitos por quem somos, aceitos por quem amamos e viver uma vida sem medo de violência ou terror. E para qualquer um de vocês que de fato se sente sem esperança ou sozinho, eu simplesmente sei que você é amado incondicionalmente pela sua singularidade”, afirmou a atriz.

 

A cerimônia do Oscar sempre serviu de palco para manifestações políticas, principalmente em tempos de guerra, como o atual. Geralmente por parte dos apresentadores e vencedores. Mas, este ano, a Academia chamou para si a responsabilidade de se posicionar e pedir o apoio de todos os presentes à população ucraniana, que tem sofrido com a invasão de seu país pela Rússia, por meio de um momento de silêncio. Não apenas isto, a instituição também pediu ao telespectador que ajude a Ucrânia da maneira que puderem, pois, neste momento, qualquer ajuda é importante face à crise humanitária imposta pelo horror do conflito.

 

“O Poderoso Chefão” Al Pacino, Francis Ford Coppola e Robert De Niro (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

Celebrando Hollywood e a História do cinema, a AMPAS proporcionou uma viagem nostálgica ao telespectador ao homenagear o 50o aniversário de “O Poderoso Chefão” (The Godfather – 1972, EUA) naquele que deveria ser um dos momentos mais memoráveis desta edição, principalmente pela presença do diretor Francis Ford Coppola e dos atores Al Pacino e Robert De Niro no palco. Apresentado por Sean ‘Diddy’ Combs, o momento foi ofuscado por uma plateia ainda confusa com o acontecimento de minutos antes, quando Will Smith subiu ao palco e deu um tapa na cara de Chris Rock devido à piada de péssimo gosto com o cabelo raspado de Jada Pinkett-Smith, que sofre de alopecia. Não é de hoje que Rock alfineta o casal, mas o seu desrespeito à uma condição de saúde e a reação de Smith em defender sua esposa deixaram a plateia atônita, colocando nos ombros de Diddy a responsabilidade de contornar a situação. Pouco tempo depois, Will Smith retornou ao palco para receber sua estatueta de melhor ator por “King Richard: Criando Campeãs” (King Richard – 2021, EUA) e aproveitou para se desculpar com a Academia.

 

Will Smith com o Oscar de melhor ator recebido por sua atuação em “King Richard: Criando Campeãs” (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

“Richard Williams (pai das tenistas Venus e Serena, interpretado por ele no filme) era defensor da sua família. Neste momento da minha vida, eu sou tomado pelo que Deus me pede para ser e fazer deste mundo. Ao fazer esse filme, eu pude proteger uma das pessoas mais fortes e delicadas que já pude conhecer. Eu pude proteger as duas atrizes que fizeram os papéis de Venus e Serena Williams. Na minha vida, neste momento, estão pedindo para que eu ame e proteja as pessoas”, disse Smith, relatando, ainda, a conversa que teve durante o intervalo com outro indicado, Denzel Washington, sobre o desrespeito e os abusos enfrentados por parte dos profissionais da indústria cinematográfica. “Quero pedir desculpas aos membros da Academia e aos outros indicados. Este é um momento lindo. Não estou chorando por ganhar um prêmio… É sobre levar a luz a todas as pessoas. A arte imita a vida, eu pareço um pai maluco como realmente falaram, mas amor faz com que você faça coisas doidas. Agradeço em nome de Richard e de toda a família Williams. Espero que a academia me chame para uma próxima festa”, completou o ator.

 

De acordo com a Variety, Chris Rock afirmou que não prestará nenhuma queixa contra Will Smith na polícia, mas oficiais da LAPD afirmaram que ficarão à disposição caso as partes envolvidas queiram levar o assunto adiante e em outra esfera que não a cerimônia do Oscar, que, apesar de tantos momentos importantes para o cinema, será sempre lembrada pelo episódio envolvendo duas personalidades queridas pelo público.

 

Numericamente falando, o grande vencedor da noite foi “Duna” (Dune: Part One – 2021, EUA / Canadá), de Denis Villeneuve. Remake do clássico de David Lynch, o longa recebeu seis das 10 estatuetas às quais concorria: som, fotografia, efeitos visuais, edição, design de produção, trilha sonora. E dentre os 10 títulos indicados à categoria de melhor filme, três saíram do Dolby Theatre sem nenhum prêmio: “Não Olhe Para Cima” (Don’t Look Up – 2021, EUA), de Adam McCay; “O Beco do Pesadelo” (Nightmare Alley – 2021, EUA / México / Canadá), de Guillermo del Toro; e “Licorice Pizza” (Licorice Pizza – 2021, EUA / Canadá), de Paul Thomas Anderson.

 

Realizada no formato presencial, mas seguindo protocolo de segurança contra a Covid-19 que consistia, prioritariamente, na apresentação obrigatória de dois testes de RT-PCR negativos de todos os presentes, a cerimônia começou, de fato, uma hora antes do início da transmissão, quando foram entregues as estatuetas das oito categorias técnicas vetadas do show ao vivo – trilha sonora, design de produção, edição, maquiagem e cabelo, som, curta-metragem, documentário (curta-metragem) e animação (curta-metragem). Estes prêmios foram apresentados por Jason Momoa e Josh Brolin, e, posteriormente, exibidos com cortes na transmissão televisiva.

 

Pela primeira vez apresentada por três mulheres, Amy Schumer, Regina Hall e Wanda Sykes, a cerimônia do Oscar 2022 conseguiu celebrar a essência de Hollywood, recuperando agilidade, mas sem economizar tanto no quesito tempo, o que torna ainda mais questionável o corte das oito categorias, pois seus profissionais foram relegados, sim, ao segundo plano. E apesar de alguns tropeços e da agressão física, esta edição conseguiu superar a anterior, completamente insossa.

 

Confira a lista completa de vencedores:

Melhor filme:

– “No Ritmo do Coração”.

Melhor direção:

– Jane Campion – “Ataque dos Cães”.

Melhor ator:

– Will Smith – “King Richard: Criando Campeãs”.

Melhor atriz:

– Jessica Chastain – “Os Olhos de Tammy Faye”.

Melhor ator coadjuvante:

– Troy Kotsur – “No Ritmo do Coração”.

Melhor atriz coadjuvante:

– Ariana DeBose – “Amor, Sublime Amor”.

Melhor roteiro original:

– Kenneth Branagh – “Belfast” (Belfast – 2021, Reino Unido).

Melhor roteiro adaptado:

– Siân Heder – “No Ritmo do Coração”.

Melhor animação:

– “Encanto” (Encanto – 2021, EUA).

Melhor filme internacional:

– “Drive My Car” (Doraibu mai kâ – 2021, Japão), de Ryûsuke Hamaguchi.

Melhor fotografia:

– Greig Fraser – “Duna”.

Melhor edição (montagem):

– Joe Walker – “Duna”.

Melhor design de produção:

– Patrice Vermette e Zsuzsanna Sipos – “Duna”.

Melhor figurino:

– Jenny Beavan – “Cruella” (Cruella – 2021, EUA).

Melhor maquiagem e cabelo:

– Stephanie Ingram, Linda Dowds e Justin Raleigh – “Os Olhos de Tammy Faye”.

Melhor trilha sonora:

– Hans Zimmer – “Duna”.

Melhor canção original:

– “No Time to Die”, de Billie Eilish e Finneas O’Connell – “Sem Tempo Para Morrer”.

Melhor som:

– Mac Ruth, Mark A. Mangini, Theo Green, Doug Hemphill e Ron Bartlett – “Duna”.

Melhores efeitos visuais:

– Paul Lambert, Tristan Myles, Brian Connor e Gerd Nefzer – “Duna”.

Melhor documentário:

– “Summer of Soul (…ou, Quando A Revolução Não Pode Ser Televisionada)” (Summer of Soul (…Or, When the Revolution Could Not Be Televised) – 2021, EUA).

Melhor documentário (curta):

– “The Queen of Basketball” (The Queen of Basketball – 2021, EUA).

Melhor animação (curta):

– “The Windshield Wiper” (The Windshield Wiper – 2021, Espanha / EUA).

Melhor curta:

– “The Long Goodbye” (The Long Goodbye – 2021, Reino Unido / Países Baixos).

 

Galeria de fotos oficiais do Oscar 2022:

 

Clique na foto para ver em tamanho ampliado:

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A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizou na noite do último domingo (27), no Dolby Theatre, em Los Angeles, a 94a cerimônia de entrega do Oscar. E o favoritismo de “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, EUA / França / Canadá) se confirmou com vitórias nas três categorias nas quais concorria: melhor filme, ator coadjuvante para Troy Kotsur e roteiro adaptado para Siân Heder.

 

Esnobada pela AMPAS na disputa de melhor direção, Heder teve a oportunidade de ver seu filme ovacionado pela plateia, que aderiu à linguagem de sinais em respeito aos atores surdos deste que se tornou o primeiro longa-metragem produzido por e para o streaming a vencer a estatueta principal do Oscar. Com isso, a AppleTV+ concretizou o sonho dourado que há tempos é perseguido pela Netflix, que, nos últimos anos, amargou derrotas significativas mesmo chegando com o status de favorita, por vezes, liderando em número de indicações, como agora com “Ataque dos Cães” (The Power of the Dog – 2021, Reino Unido / Canadá / Austrália / Nova Zelândia / EUA), que levou apenas uma das 12 estatuetas que disputava, no caso, a de melhor direção para Jane Campion, que se tornou a terceira mulher a vencer esta estatueta – as outras são Kathryn Bigelow por “Guerra ao Terror” (The Hurt Locker – 2008, EUA) e Cholé Zhao por “Nomadland” (Nomadland – 2020, EUA).

 

Yuh-jung Youn entrega a estatueta de melhor ator coadjuvante para Troy Kotsur (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

A vitória de “No Ritmo do Coração” tem peso enorme sobretudo por questões de representatividade e inclusão, pois deu lugar de destaque a uma parcela da sociedade que pouco foi retratada pela indústria cinematográfica, a de deficientes auditivos. E o maior trunfo deste longa é a escalação de seu elenco, composto por coadjuvantes que são surdos na vida real, Daniel Durant, Marlee Matlin e o já citado Troy Kotsur. Cravando seu nome na História da AMPAS como o primeiro ator surdo a vencer a estatueta dourada, Troy Kotsur foi aplaudido de pé ao subir ao palco para agradecer o prêmio – Matlin foi a primeira atriz a conquistar tal feito, mas na categoria principal por “Filhos do Silêncio” (Children of a Lesser God – 1986, EUA).  “É incrível que o nosso filme tenha atingido o público de todo o mundo. Até da Casa Branca”, disse o ator, enaltecendo sua diretora, Siân Heder, por colocar os deficientes auditivos no mesmo patamar que pessoas ouvintes numa indústria competitiva como a de Hollywood.

 

A comunidade latina também foi lembrada no Oscar não apenas pela vitória de “Encanto” (Encanto – 2021, EUA) como melhor animação, mas, especialmente, pela coroação de Ariana DeBose como atriz coadjuvante por seu desempenho em “Amor, Sublime Amor” (West Side Story – 2021, EUA), de Steven Spielberg. Primeira atriz afro-latina agraciada com o Golden Boy, DeBose interpreta uma personagem que, há 60 anos, deu o mesmo prêmio à primeira atriz de origem latina a subir ao palco da cerimônia do Oscar como vencedora, Rita Moreno – as duas dividiram a cena na nova versão desta adaptação cinematográfica de um dos maiores sucessos da Broadway.

 

“Amor, Sublime Amor”: Ariana DeBose agradeceu Steven Spielberg e Rita Moreno em seu discurso (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

“Agora eu vejo o porquê de a Anita dizer ‘eu quero estar na América’, porque mesmo neste mundo fatigado em que vivemos, os sonhos se tornam realidade. E isso é realmente uma coisa animadora agora”, afirmou Ariana DeBose, agradecendo, em seguida, Steven Spielberg e Rita Moreno, dizendo a ela: “Sua Anita abriu o caminho para toneladas de Anitas como eu. E eu te amo muito!”. A atriz seguiu seu discurso, um dos mais significativos da noite, relembrando o passado e encorajando pessoas mundo afora. “Por fim, imagine essa garotinha no banco de trás de um Ford Focus branco, olhe nos olhos dela: você vê uma mulher de cor queer, abertamente queer, uma afro-latina que encontrou sua força na vida através da arte. E é isso que acredito que estamos aqui para comemorar. Sim, então, para qualquer um que já questionou sua identidade alguma vez, sempre, sempre, ou você se encontra vivendo em espaços cinzentos, eu prometo a você: há de fato um lugar para nós. Obrigado à Academia e obrigado a todos”, finalizou DeBose, sendo bastante aplaudida pelos presentes.

 

Jessica Chastain vence como melhor atriz por “Os Olhos de Tammy Faye” (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

Vencedora do Oscar de melhor atriz por “Os Olhos de Tammy Faye” (The Eyes of Tammy Faye – 2021), Jessica Chastain também fez um discurso forte e politizado, lembrando o projeto de lei que quer proibir o uso do termo “gay” na Flórida. “Estamos diante de uma legislação discriminatória e preconceituosa que está varrendo nosso país com o único objetivo de nos dividir ainda mais. Há violência e crimes de ódio sendo perpetuados em civis inocentes em todo o mundo. E em momentos como esse, penso em Tammy (Faye) e me inspiro em seus atos radicais de amor. Conversamos muito sobre o amor. E sou inspirada por sua compaixão, e vejo isso como um princípio orientador que nos leva adiante. E nos conecta a todos no desejo de que queremos ser aceitos por quem somos, aceitos por quem amamos e viver uma vida sem medo de violência ou terror. E para qualquer um de vocês que de fato se sente sem esperança ou sozinho, eu simplesmente sei que você é amado incondicionalmente pela sua singularidade”, afirmou a atriz.

 

A cerimônia do Oscar sempre serviu de palco para manifestações políticas, principalmente em tempos de guerra, como o atual. Geralmente por parte dos apresentadores e vencedores. Mas, este ano, a Academia chamou para si a responsabilidade de se posicionar e pedir o apoio de todos os presentes à população ucraniana, que tem sofrido com a invasão de seu país pela Rússia, por meio de um momento de silêncio. Não apenas isto, a instituição também pediu ao telespectador que ajude a Ucrânia da maneira que puderem, pois, neste momento, qualquer ajuda é importante face à crise humanitária imposta pelo horror do conflito.

 

“O Poderoso Chefão” Al Pacino, Francis Ford Coppola e Robert De Niro (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

Celebrando Hollywood e a História do cinema, a AMPAS proporcionou uma viagem nostálgica ao telespectador ao homenagear o 50o aniversário de “O Poderoso Chefão” (The Godfather – 1972, EUA) naquele que deveria ser um dos momentos mais memoráveis desta edição, principalmente pela presença do diretor Francis Ford Coppola e dos atores Al Pacino e Robert De Niro no palco. Apresentado por Sean ‘Diddy’ Combs, o momento foi ofuscado por uma plateia ainda confusa com o acontecimento de minutos antes, quando Will Smith subiu ao palco e deu um tapa na cara de Chris Rock devido à piada de péssimo gosto com o cabelo raspado de Jada Pinkett-Smith, que sofre de alopecia. Não é de hoje que Rock alfineta o casal, mas o seu desrespeito à uma condição de saúde e a reação de Smith em defender sua esposa deixaram a plateia atônita, colocando nos ombros de Diddy a responsabilidade de contornar a situação. Pouco tempo depois, Will Smith retornou ao palco para receber sua estatueta de melhor ator por “King Richard: Criando Campeãs” (King Richard – 2021, EUA) e aproveitou para se desculpar com a Academia.

 

Will Smith com o Oscar de melhor ator recebido por sua atuação em “King Richard: Criando Campeãs” (Foto: Divulgação – Crédito: Blaine Ohigashi / A.M.P.A.S.).

 

“Richard Williams (pai das tenistas Venus e Serena, interpretado por ele no filme) era defensor da sua família. Neste momento da minha vida, eu sou tomado pelo que Deus me pede para ser e fazer deste mundo. Ao fazer esse filme, eu pude proteger uma das pessoas mais fortes e delicadas que já pude conhecer. Eu pude proteger as duas atrizes que fizeram os papéis de Venus e Serena Williams. Na minha vida, neste momento, estão pedindo para que eu ame e proteja as pessoas”, disse Smith, relatando, ainda, a conversa que teve durante o intervalo com outro indicado, Denzel Washington, sobre o desrespeito e os abusos enfrentados por parte dos profissionais da indústria cinematográfica. “Quero pedir desculpas aos membros da Academia e aos outros indicados. Este é um momento lindo. Não estou chorando por ganhar um prêmio… É sobre levar a luz a todas as pessoas. A arte imita a vida, eu pareço um pai maluco como realmente falaram, mas amor faz com que você faça coisas doidas. Agradeço em nome de Richard e de toda a família Williams. Espero que a academia me chame para uma próxima festa”, completou o ator.

 

De acordo com a Variety, Chris Rock afirmou que não prestará nenhuma queixa contra Will Smith na polícia, mas oficiais da LAPD afirmaram que ficarão à disposição caso as partes envolvidas queiram levar o assunto adiante e em outra esfera que não a cerimônia do Oscar, que, apesar de tantos momentos importantes para o cinema, será sempre lembrada pelo episódio envolvendo duas personalidades queridas pelo público.

 

Numericamente falando, o grande vencedor da noite foi “Duna” (Dune: Part One – 2021, EUA / Canadá), de Denis Villeneuve. Remake do clássico de David Lynch, o longa recebeu seis das 10 estatuetas às quais concorria: som, fotografia, efeitos visuais, edição, design de produção, trilha sonora. E dentre os 10 títulos indicados à categoria de melhor filme, três saíram do Dolby Theatre sem nenhum prêmio: “Não Olhe Para Cima” (Don’t Look Up – 2021, EUA), de Adam McCay; “O Beco do Pesadelo” (Nightmare Alley – 2021, EUA / México / Canadá), de Guillermo del Toro; e “Licorice Pizza” (Licorice Pizza – 2021, EUA / Canadá), de Paul Thomas Anderson.

 

Realizada no formato presencial, mas seguindo protocolo de segurança contra a Covid-19 que consistia, prioritariamente, na apresentação obrigatória de dois testes de RT-PCR negativos de todos os presentes, a cerimônia começou, de fato, uma hora antes do início da transmissão, quando foram entregues as estatuetas das oito categorias técnicas vetadas do show ao vivo – trilha sonora, design de produção, edição, maquiagem e cabelo, som, curta-metragem, documentário (curta-metragem) e animação (curta-metragem). Estes prêmios foram apresentados por Jason Momoa e Josh Brolin, e, posteriormente, exibidos com cortes na transmissão televisiva.

 

Pela primeira vez apresentada por três mulheres, Amy Schumer, Regina Hall e Wanda Sykes, a cerimônia do Oscar 2022 conseguiu celebrar a essência de Hollywood, recuperando agilidade, mas sem economizar tanto no quesito tempo, o que torna ainda mais questionável o corte das oito categorias, pois seus profissionais foram relegados, sim, ao segundo plano. E apesar de alguns tropeços e da agressão física, esta edição conseguiu superar a anterior, completamente insossa.

 

Confira a lista completa de vencedores:

Melhor filme:

– “No Ritmo do Coração”.

Melhor direção:

– Jane Campion – “Ataque dos Cães”.

Melhor ator:

– Will Smith – “King Richard: Criando Campeãs”.

Melhor atriz:

– Jessica Chastain – “Os Olhos de Tammy Faye”.

Melhor ator coadjuvante:

– Troy Kotsur – “No Ritmo do Coração”.

Melhor atriz coadjuvante:

– Ariana DeBose – “Amor, Sublime Amor”.

Melhor roteiro original:

– Kenneth Branagh – “Belfast” (Belfast – 2021, Reino Unido).

Melhor roteiro adaptado:

– Siân Heder – “No Ritmo do Coração”.

Melhor animação:

– “Encanto” (Encanto – 2021, EUA).

Melhor filme internacional:

– “Drive My Car” (Doraibu mai kâ – 2021, Japão), de Ryûsuke Hamaguchi.

Melhor fotografia:

– Greig Fraser – “Duna”.

Melhor edição (montagem):

– Joe Walker – “Duna”.

Melhor design de produção:

– Patrice Vermette e Zsuzsanna Sipos – “Duna”.

Melhor figurino:

– Jenny Beavan – “Cruella” (Cruella – 2021, EUA).

Melhor maquiagem e cabelo:

– Stephanie Ingram, Linda Dowds e Justin Raleigh – “Os Olhos de Tammy Faye”.

Melhor trilha sonora:

– Hans Zimmer – “Duna”.

Melhor canção original:

– “No Time to Die”, de Billie Eilish e Finneas O’Connell – “Sem Tempo Para Morrer”.

Melhor som:

– Mac Ruth, Mark A. Mangini, Theo Green, Doug Hemphill e Ron Bartlett – “Duna”.

Melhores efeitos visuais:

– Paul Lambert, Tristan Myles, Brian Connor e Gerd Nefzer – “Duna”.

Melhor documentário:

– “Summer of Soul (…ou, Quando A Revolução Não Pode Ser Televisionada)” (Summer of Soul (…Or, When the Revolution Could Not Be Televised) – 2021, EUA).

Melhor documentário (curta):

– “The Queen of Basketball” (The Queen of Basketball – 2021, EUA).

Melhor animação (curta):

– “The Windshield Wiper” (The Windshield Wiper – 2021, Espanha / EUA).

Melhor curta:

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