‘Pieces of a Woman’: luto e consequências

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Há algum tempo, partos domiciliares se tornaram temas de debates mundo afora devido aos benefícios e riscos para mãe e bebê, sobretudo em casos de intercorrências. Disponível no catálogo da Netflix, “Pieces of a Woman” (Idem – 2020) propõe discutir a questão sob a ótica da tragédia.   Com produção executiva de Martin Scorsese e […]

POR Ana Carolina Garcia17/01/2021|4 min de leitura

‘Pieces of a Woman’: luto e consequências

“Pieces of a Woman” está disponível no catálogo da Netflix (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

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Há algum tempo, partos domiciliares se tornaram temas de debates mundo afora devido aos benefícios e riscos para mãe e bebê, sobretudo em casos de intercorrências. Disponível no catálogo da Netflix, “Pieces of a Woman” (Idem – 2020) propõe discutir a questão sob a ótica da tragédia.

 

Com produção executiva de Martin Scorsese e direção de Kornél Mundruczó, o longa começa mostrando Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf) à espera do nascimento da primeira filha. Optando pelo parto domiciliar, o casal é surpreendido pela troca de sua parteira de confiança, ocupada com a chegada de outro bebê. Mas as coisas não saem como o previsto, levando dor ao invés de felicidade.

 

Prendendo a atenção do espectador em seu ato inicial, focado no parto e contando com plano sequência que potencializa a atmosfera de tensão, “Pieces of a Woman” explora as diversas fases do luto e suas consequências, priorizando as atitudes da protagonista, confrontada pela própria mãe, que nunca aprovou a escolha da filha e do genro pelo parto domiciliar. Neste ponto, o diálogo entre Martha e Elizabeth (Ellen Burstyn) se destaca numa cena carregada de emoção, guiada pela explosão da veterana, vencedora do Oscar de melhor atriz por “Alice Não Mora Mais Aqui” (Alice Doesn’t Live Here Anymore – 1974), que passeia com segurança pela fragilidade e força, por vezes, assumindo posição de vilania para a câmera de Mundruczó por demonstrar seu amor materno por meios tortuosos. Burstyn rouba todas as cenas, ofuscando até mesmo Kirby e LaBeouf.

 

 

Apostando na introspecção, Vanessa Kirby faz de Martha uma mulher que precisa lidar com um turbilhão de emoções distintas, da tristeza ao remorso, passando pela compaixão no ato final guiado pelo drama de tribunal. Trabalho de composição interessante, a atuação de Kirby tem como um dos pilares o jogo cênico com Shia LaBeouf, que mergulha na dor de um homem que vê seus sonhos escoarem pelo ralo, o que o leva à recaída da dependência química, agravando a crise matrimonial e transformando a relação de afeto entre eles em abusiva.

 

Contudo, o destino traçado para o personagem de Shia LaBeouf é um dos responsáveis pelo enfraquecimento da trama roteirizada por Kata Wéber, pois é imputada a Sean a exclusividade dos problemas tanto do matrimônio quanto de Martha, ignorando o afastamento da esposa que surte um implacável efeito dominó tende como combustível a dificuldade mútua de compreensão e suporte emocional porque ambos sofrem do mesmo luto. Porém, este não é o único responsável pelo enfraquecimento, pois conforme a trama avança e os desdobramentos do luto tomam conta da narrativa, a produção começa a se distanciar da discussão que se propôs a fazer, no primeiro ato, sobre a questão do parto domiciliar e a responsabilidade de decisões que levaram à morte da bebê.

 

Utilizando as diferentes etapas da construção de uma ponte como metáfora para as fases do luto, “Pieces of a Woman” é, na verdade, um filme sobre dor e superação de uma mulher que nunca aceitou imposições familiares nem convenções sociais, enfrentando a todos por sua liberdade, inclusive de escolha, buscando restabelecer sua paz interior para, então, reencontrar a felicidade.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

Há algum tempo, partos domiciliares se tornaram temas de debates mundo afora devido aos benefícios e riscos para mãe e bebê, sobretudo em casos de intercorrências. Disponível no catálogo da Netflix, “Pieces of a Woman” (Idem – 2020) propõe discutir a questão sob a ótica da tragédia.

 

Com produção executiva de Martin Scorsese e direção de Kornél Mundruczó, o longa começa mostrando Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf) à espera do nascimento da primeira filha. Optando pelo parto domiciliar, o casal é surpreendido pela troca de sua parteira de confiança, ocupada com a chegada de outro bebê. Mas as coisas não saem como o previsto, levando dor ao invés de felicidade.

 

Prendendo a atenção do espectador em seu ato inicial, focado no parto e contando com plano sequência que potencializa a atmosfera de tensão, “Pieces of a Woman” explora as diversas fases do luto e suas consequências, priorizando as atitudes da protagonista, confrontada pela própria mãe, que nunca aprovou a escolha da filha e do genro pelo parto domiciliar. Neste ponto, o diálogo entre Martha e Elizabeth (Ellen Burstyn) se destaca numa cena carregada de emoção, guiada pela explosão da veterana, vencedora do Oscar de melhor atriz por “Alice Não Mora Mais Aqui” (Alice Doesn’t Live Here Anymore – 1974), que passeia com segurança pela fragilidade e força, por vezes, assumindo posição de vilania para a câmera de Mundruczó por demonstrar seu amor materno por meios tortuosos. Burstyn rouba todas as cenas, ofuscando até mesmo Kirby e LaBeouf.

 

 

Apostando na introspecção, Vanessa Kirby faz de Martha uma mulher que precisa lidar com um turbilhão de emoções distintas, da tristeza ao remorso, passando pela compaixão no ato final guiado pelo drama de tribunal. Trabalho de composição interessante, a atuação de Kirby tem como um dos pilares o jogo cênico com Shia LaBeouf, que mergulha na dor de um homem que vê seus sonhos escoarem pelo ralo, o que o leva à recaída da dependência química, agravando a crise matrimonial e transformando a relação de afeto entre eles em abusiva.

 

Contudo, o destino traçado para o personagem de Shia LaBeouf é um dos responsáveis pelo enfraquecimento da trama roteirizada por Kata Wéber, pois é imputada a Sean a exclusividade dos problemas tanto do matrimônio quanto de Martha, ignorando o afastamento da esposa que surte um implacável efeito dominó tende como combustível a dificuldade mútua de compreensão e suporte emocional porque ambos sofrem do mesmo luto. Porém, este não é o único responsável pelo enfraquecimento, pois conforme a trama avança e os desdobramentos do luto tomam conta da narrativa, a produção começa a se distanciar da discussão que se propôs a fazer, no primeiro ato, sobre a questão do parto domiciliar e a responsabilidade de decisões que levaram à morte da bebê.

 

Utilizando as diferentes etapas da construção de uma ponte como metáfora para as fases do luto, “Pieces of a Woman” é, na verdade, um filme sobre dor e superação de uma mulher que nunca aceitou imposições familiares nem convenções sociais, enfrentando a todos por sua liberdade, inclusive de escolha, buscando restabelecer sua paz interior para, então, reencontrar a felicidade.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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