Bastante fértil para a indústria hollywoodiana, o ano de 2001 foi marcado por uma revolução no cinema de animação, colocando a DreamWorks SKG e a Disney / Pixar no mesmo patamar com uma briga de “monstros” que conquistaram, na mesma intensidade, o público de todas as idades. Foi o ano de “Shrek” (Shrek – 2001) […]
POR Ana Carolina Garcia07/07/2021|8 min de leitura
Bastante fértil para a indústria hollywoodiana, o ano de 2001 foi marcado por uma revolução no cinema de animação, colocando a DreamWorks SKG e a Disney / Pixar no mesmo patamar com uma briga de “monstros” que conquistaram, na mesma intensidade, o público de todas as idades. Foi o ano de “Shrek” (Shrek – 2001) e “Monstros S.A.” (Monsters, Inc. – 2001), que estrearam com intervalo de poucos meses.
Quando se fala na vertente animada do cinema, o primeiro estúdio que se pensa é a Disney, responsável por alguns dos maiores clássicos do gênero, entre eles, “A Branca de Neve e os Sete Anões” (Snow White and the Seven Dwarfs – 1937) e “A Bela e a Fera” (Beauty and the Beast – 1991), que está celebrando seu 30o aniversário. Após significativo período de apatia, o departamento de animação da Casa do Mickey renasceu e retomou o lugar que sempre lhe pertenceu sem nenhum concorrente à altura no final dos anos 1980. Porém, em 2001, a Disney foi surpreendida por um filme protagonizado por um personagem completamente fora dos padrões de beleza instituídos por seu mundo mágico: o ogro Shrek (voz de Mike Myers).
Lançado nos Estados Unidos em maio daquele ano, chegando ao Brasil em junho, “Shrek” chegou ao circuito comercial surtindo o efeito de um furacão sobre a concorrência, que pleiteava junto à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) a criação de uma categoria voltada para longas de animação no Oscar. O pedido da Disney foi atendido e, em 2002, a primeira estatueta de melhor animação foi entregue, mas para o ogro da DreamWorks, não para sua grande aposta, “Monstros S.A.”. Quando a vitória de “Shrek” foi anunciada, o estúdio do Mickey sentiu o impacto do ogro que revolucionou esta vertente cinematográfica, inclusive pelo fato de a DreamWorks ter sido fundada, em 1994, por Steven Spielberg, David Geffen e Jeffrey Katzenberg, homem que participou ativamente do renascimento das animações da Disney no final da década de 1980 e início da de 1990.
Produzido em parceria com a Pacific Data Images (PDI), “Shrek” apostou tanto no desenvolvimento da trama quanto no avanço tecnológico que proporcionou ao gênero um visual que nenhum outro filme havia conseguido. Com isso, o espectador e os outros estúdios se surpreenderam com a riqueza de detalhes de cenários e personagens, o que inclui não apenas cabelos e pêlos em movimento, como poros e roupas, por exemplo. Desta forma, o longa deixou sua marca na História, impondo mudanças drásticas à própria Disney por apresentar uma trama voltada para o público adulto, mas sem negligenciar a diversão dos baixinhos.
Subvertendo o conceito de contos de fadas, “Shrek” é uma animação politicamente incorreta que mostra o personagem título buscando a paz no pântano que chama de lar. Mas a ascensão de Lorde Farquaad (voz de John Lithgow) ao poder e a subsequente expulsão dos personagens do reino, como Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve, que se abrigam no quintal do ogro, o obrigam a negociar com Farquaad, aceitando a proposta de resgatar a Princesa Fiona (voz de Cameron Diaz) da torre de um castelo sem saber que o mesmo pertence a um dragão. Acompanhado pelo Burro (voz de Eddie Murphy), Shrek embarca na missão que, caso concluída com êxito, devolverá as casas aos personagens de histórias infantis, deixando o pântano livre.
Com direção de Andrew Adamson e Vicky Jenson, “Shrek” reflete, de certa maneira, os sentimentos de Katzenberg, que saiu da Disney de forma um tanto turbulenta – Lorde Farquaad lembra Michael Eisner, ex-todo poderoso da Casa do Mickey. Assim, o deboche para com personagens de clássicos que chegaram às telas por meio da Disney toma conta da narrativa, embalada por canções de sucesso como “All Star” e “I’m a Believer”, interpretadas pelo grupo Smash Mouth. Esta opção de deixar a “fofurice” de lado atinge seu ápice nos créditos finais, marcados pelo divertido karaokê, que conta com performances de “Like a Virgin” (Madonna) e “Y.M.C.A.” (Village People), por exemplo.
Oferecendo uma visão pós-moderna do universo dos contos de fadas, “Shrek” ganhou três continuações e tantos outros títulos derivados, inclusive o filme solo do Gato de Botas, personagem dublado por Antonio Banderas, “Gato de Botas” (Puss in Bootos – 2011), que tem uma sequência confirmada para o próximo ano, “Puss in Boots: The Last Wish” (Puss in Boots: The Last Wish – 2022). No entanto, por trás de todo o deboche e ironia, “Shrek” transmite a importante mensagem de que ninguém deve ser julgado pela aparência, mas pela essência, caráter e bondade que guiam suas atitudes. Neste ponto, inevitavelmente, se aproxima de “A Bela e a Fera”, que ganhou remake em live-action em 2017, e de “Monstros S.A.”.
Lançado em novembro de 2001 nos Estados Unidos e no Brasil, “Monstros S.A.” parte do mesmo princípio de “Shrek”: os personagens precisam causar medo conscientemente para garantir a própria sobrevivência, beneficiados pela aparência “monstruosa”. Se no longa da DreamWorks o que estava em jogo era o pântano, no da Disney / Pixar é toda a cidade de Monstrópolis, abastecida pela energia gerada pelos gritos das crianças assustadas pelos funcionários da fábrica que dá nome à animação, e constantemente preocupada com a possibilidade de alguma criança escapar pelas portas da usina e contaminar a todos.
Mantendo o padrão de qualidade instituído pela Disney, “Monstros S.A.” segue fórmula que o insere no contexto mais tradicional do cinema de animação no que tange à construção de sua história, baseada na eterna luta do bem contra o mal. Além disso, não há a ousadia de “Shrek” em dialogar diretamente com a fatia adulta do público. Porém, o longa consegue conquistar esta parcela importante da plateia pelo tom cômico que domina a narrativa, sobretudo quando os assustadores, Sullivan ‘Sully’ (voz de John Goodman) e Mike (voz de Billy Crystal), entram em pânico ao conhecer Boo (voz de Mary Gibbs), que invadiu a Monstros S.A. após a tentativa de trapaça do vilão Randall (voz de Steve Buscemi).
Dirigido por Pete Docter, David Silverman e Lee Unkrich, “Monstros S.A.” aborda um tema interessante e ainda atual: a perda da inocência nas novas gerações de crianças. Afinal, brincadeiras de outrora e, até mesmo, cantigas de ninar não têm o mesmo efeito sobre os baixinhos, cada vez mais expostos, por exemplo, à tecnologia dos tablets e videogames de ponta e à violência cotidiana, seja por meio da realidade na qual estão inseridos ou pelo noticiário e produções televisivas e cinematográficas. Isto pode ser resumido no comercial da fábrica, que diz: “A era da inocência está acabando. Crianças humanas são difíceis de assustar”.
De certa forma, esta constatação do comercial da Monstros S.A. se torna o fio condutor da trama à medida que a relação entre Sullivan e Boo se fortalece, mudando a visão do assustador recordista e invejado por Randall, sempre em segundo lugar apesar dos esforços. Com isso, o longa explora o medo sob todos os aspectos, discutindo se é válido ou não causar uma situação que poderá ocasionar traumas à criança ao invés de obter resultados satisfatórios por meio da felicidade expressada por gargalhadas genuínas. No caso do filme, mais poderosas em termos de energia do que os gritos de pavor.
Vencedor do Oscar de melhor canção original (“If I Didn’t Have You”) para Randy Newman, “Monstros S.A.” também originou diversos títulos ao longo dos anos, entre eles, o prelúdio “Universidade Monstros” (Monsters University – 2013) e a série “Monstros no Trabalho” (Monsters at Work – 2021), que é ambientada no dia seguinte à descoberta de Mike e Sully sobre o poder do riso e estreia nesta quarta-feira, dia 07, na Disney+, plataforma que tem disponibilizado aos assinantes catálogo variado e repleto de produções derivadas de sucessos do estúdio do Mickey na tela grande, inclusive do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM).
Sucessos de público e crítica, “Monstros S.A.” e “Shrek” se tornaram dois dos filmes mais lucrativos de 2001, ocupando a 3a e 4a posições do ranking das maiores bilheterias mundiais daquele ano com arrecadações de US$ 528,7 milhões e US$ 484,4 milhões, respectivamente, segundo o Box Office Mojo. São duas produções que se destacam na História do cinema e que resistiram bravamente ao teste do tempo devido à mensagem universal transmitida ao espectador.
Bastante fértil para a indústria hollywoodiana, o ano de 2001 foi marcado por uma revolução no cinema de animação, colocando a DreamWorks SKG e a Disney / Pixar no mesmo patamar com uma briga de “monstros” que conquistaram, na mesma intensidade, o público de todas as idades. Foi o ano de “Shrek” (Shrek – 2001) e “Monstros S.A.” (Monsters, Inc. – 2001), que estrearam com intervalo de poucos meses.
Quando se fala na vertente animada do cinema, o primeiro estúdio que se pensa é a Disney, responsável por alguns dos maiores clássicos do gênero, entre eles, “A Branca de Neve e os Sete Anões” (Snow White and the Seven Dwarfs – 1937) e “A Bela e a Fera” (Beauty and the Beast – 1991), que está celebrando seu 30o aniversário. Após significativo período de apatia, o departamento de animação da Casa do Mickey renasceu e retomou o lugar que sempre lhe pertenceu sem nenhum concorrente à altura no final dos anos 1980. Porém, em 2001, a Disney foi surpreendida por um filme protagonizado por um personagem completamente fora dos padrões de beleza instituídos por seu mundo mágico: o ogro Shrek (voz de Mike Myers).
Lançado nos Estados Unidos em maio daquele ano, chegando ao Brasil em junho, “Shrek” chegou ao circuito comercial surtindo o efeito de um furacão sobre a concorrência, que pleiteava junto à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) a criação de uma categoria voltada para longas de animação no Oscar. O pedido da Disney foi atendido e, em 2002, a primeira estatueta de melhor animação foi entregue, mas para o ogro da DreamWorks, não para sua grande aposta, “Monstros S.A.”. Quando a vitória de “Shrek” foi anunciada, o estúdio do Mickey sentiu o impacto do ogro que revolucionou esta vertente cinematográfica, inclusive pelo fato de a DreamWorks ter sido fundada, em 1994, por Steven Spielberg, David Geffen e Jeffrey Katzenberg, homem que participou ativamente do renascimento das animações da Disney no final da década de 1980 e início da de 1990.
Produzido em parceria com a Pacific Data Images (PDI), “Shrek” apostou tanto no desenvolvimento da trama quanto no avanço tecnológico que proporcionou ao gênero um visual que nenhum outro filme havia conseguido. Com isso, o espectador e os outros estúdios se surpreenderam com a riqueza de detalhes de cenários e personagens, o que inclui não apenas cabelos e pêlos em movimento, como poros e roupas, por exemplo. Desta forma, o longa deixou sua marca na História, impondo mudanças drásticas à própria Disney por apresentar uma trama voltada para o público adulto, mas sem negligenciar a diversão dos baixinhos.
Subvertendo o conceito de contos de fadas, “Shrek” é uma animação politicamente incorreta que mostra o personagem título buscando a paz no pântano que chama de lar. Mas a ascensão de Lorde Farquaad (voz de John Lithgow) ao poder e a subsequente expulsão dos personagens do reino, como Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve, que se abrigam no quintal do ogro, o obrigam a negociar com Farquaad, aceitando a proposta de resgatar a Princesa Fiona (voz de Cameron Diaz) da torre de um castelo sem saber que o mesmo pertence a um dragão. Acompanhado pelo Burro (voz de Eddie Murphy), Shrek embarca na missão que, caso concluída com êxito, devolverá as casas aos personagens de histórias infantis, deixando o pântano livre.
Com direção de Andrew Adamson e Vicky Jenson, “Shrek” reflete, de certa maneira, os sentimentos de Katzenberg, que saiu da Disney de forma um tanto turbulenta – Lorde Farquaad lembra Michael Eisner, ex-todo poderoso da Casa do Mickey. Assim, o deboche para com personagens de clássicos que chegaram às telas por meio da Disney toma conta da narrativa, embalada por canções de sucesso como “All Star” e “I’m a Believer”, interpretadas pelo grupo Smash Mouth. Esta opção de deixar a “fofurice” de lado atinge seu ápice nos créditos finais, marcados pelo divertido karaokê, que conta com performances de “Like a Virgin” (Madonna) e “Y.M.C.A.” (Village People), por exemplo.
Oferecendo uma visão pós-moderna do universo dos contos de fadas, “Shrek” ganhou três continuações e tantos outros títulos derivados, inclusive o filme solo do Gato de Botas, personagem dublado por Antonio Banderas, “Gato de Botas” (Puss in Bootos – 2011), que tem uma sequência confirmada para o próximo ano, “Puss in Boots: The Last Wish” (Puss in Boots: The Last Wish – 2022). No entanto, por trás de todo o deboche e ironia, “Shrek” transmite a importante mensagem de que ninguém deve ser julgado pela aparência, mas pela essência, caráter e bondade que guiam suas atitudes. Neste ponto, inevitavelmente, se aproxima de “A Bela e a Fera”, que ganhou remake em live-action em 2017, e de “Monstros S.A.”.
Lançado em novembro de 2001 nos Estados Unidos e no Brasil, “Monstros S.A.” parte do mesmo princípio de “Shrek”: os personagens precisam causar medo conscientemente para garantir a própria sobrevivência, beneficiados pela aparência “monstruosa”. Se no longa da DreamWorks o que estava em jogo era o pântano, no da Disney / Pixar é toda a cidade de Monstrópolis, abastecida pela energia gerada pelos gritos das crianças assustadas pelos funcionários da fábrica que dá nome à animação, e constantemente preocupada com a possibilidade de alguma criança escapar pelas portas da usina e contaminar a todos.
Mantendo o padrão de qualidade instituído pela Disney, “Monstros S.A.” segue fórmula que o insere no contexto mais tradicional do cinema de animação no que tange à construção de sua história, baseada na eterna luta do bem contra o mal. Além disso, não há a ousadia de “Shrek” em dialogar diretamente com a fatia adulta do público. Porém, o longa consegue conquistar esta parcela importante da plateia pelo tom cômico que domina a narrativa, sobretudo quando os assustadores, Sullivan ‘Sully’ (voz de John Goodman) e Mike (voz de Billy Crystal), entram em pânico ao conhecer Boo (voz de Mary Gibbs), que invadiu a Monstros S.A. após a tentativa de trapaça do vilão Randall (voz de Steve Buscemi).
Dirigido por Pete Docter, David Silverman e Lee Unkrich, “Monstros S.A.” aborda um tema interessante e ainda atual: a perda da inocência nas novas gerações de crianças. Afinal, brincadeiras de outrora e, até mesmo, cantigas de ninar não têm o mesmo efeito sobre os baixinhos, cada vez mais expostos, por exemplo, à tecnologia dos tablets e videogames de ponta e à violência cotidiana, seja por meio da realidade na qual estão inseridos ou pelo noticiário e produções televisivas e cinematográficas. Isto pode ser resumido no comercial da fábrica, que diz: “A era da inocência está acabando. Crianças humanas são difíceis de assustar”.
De certa forma, esta constatação do comercial da Monstros S.A. se torna o fio condutor da trama à medida que a relação entre Sullivan e Boo se fortalece, mudando a visão do assustador recordista e invejado por Randall, sempre em segundo lugar apesar dos esforços. Com isso, o longa explora o medo sob todos os aspectos, discutindo se é válido ou não causar uma situação que poderá ocasionar traumas à criança ao invés de obter resultados satisfatórios por meio da felicidade expressada por gargalhadas genuínas. No caso do filme, mais poderosas em termos de energia do que os gritos de pavor.
Vencedor do Oscar de melhor canção original (“If I Didn’t Have You”) para Randy Newman, “Monstros S.A.” também originou diversos títulos ao longo dos anos, entre eles, o prelúdio “Universidade Monstros” (Monsters University – 2013) e a série “Monstros no Trabalho” (Monsters at Work – 2021), que é ambientada no dia seguinte à descoberta de Mike e Sully sobre o poder do riso e estreia nesta quarta-feira, dia 07, na Disney+, plataforma que tem disponibilizado aos assinantes catálogo variado e repleto de produções derivadas de sucessos do estúdio do Mickey na tela grande, inclusive do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM).
Sucessos de público e crítica, “Monstros S.A.” e “Shrek” se tornaram dois dos filmes mais lucrativos de 2001, ocupando a 3a e 4a posições do ranking das maiores bilheterias mundiais daquele ano com arrecadações de US$ 528,7 milhões e US$ 484,4 milhões, respectivamente, segundo o Box Office Mojo. São duas produções que se destacam na História do cinema e que resistiram bravamente ao teste do tempo devido à mensagem universal transmitida ao espectador.