Não é novidade para ninguém que o sistema público de saúde brasileiro está moral e economicamente falido há muitos anos. É tanto tempo que é impossível dizer quando isto começou exatamente, apesar de sabermos o motivo: o descaso de governantes para com o povo que os elegeu. Não há leitos, medicamentos, equipamentos, marcações de exames de urgência… nem mesmo o básico tanto para pacientes quanto para profissionais, que se colocam no front diariamente, tentando fazer milagres sem condições mínimas para exercerem sua profissão. E, uma vez na linha de frente desta vergonhosa realidade, os médicos são obrigados a fazer uma escolha bastante complexa entre vida e morte.

 

Na mídia, muito se fala sobre as consequências deste cenário caótico para os pacientes, mas pouco, ou quase nada, é dito sobre a equipe médica, pressionada todos os lados, muitas vezes trabalhando no limite físico e emocional. E é esta a abordagem do novo longa-metragem produzido e dirigido por Andrucha Waddington, “Sob Pressão” (2016), uma das estreias desta quinta-feira, dia 17.

 

Baseado no livro “Sob Pressão – A Rotina de um Médico Brasileiro”, de Márcio Maranhão, este drama é ambientado num hospital público do subúrbio do Rio de Janeiro, localizado próximo a uma comunidade afetada pela guerra entre traficantes e policiais. Numa manhã de intenso tiroteio, três vítimas são levadas ao local: o chefe do morro, um policial e um menino vítima de bala perdida, filho de um dono de jornal. Com apenas duas salas de cirurgia, a equipe chefiada pelo Dr. Evandro (Júlio Andrade) parte da premissa da escolha sobre quem terá direito à vida.

Rodado numa ala desativada da Santa Casa de Misericórdia de Cascadura, Zona Norte do Rio, para conceder o máximo de veracidade possível às sequências, “Sob Pressão” pode ser comparado aos episódios de “Plantão Médico” (E.R. – 1994 – 2009), série que levou George Clooney ao estrelato, mas elevando toda a tensão à potência máxima devido ao roteiro bem alicerçado de Renato Fagundes e Leandro Assis, que escancara na tela a falência do sistema e o lado humano e frágil da equipe de Evandro, bem como os problemas e/ou traumas individuais de cada um de seus integrantes.

 

Apesar do bom roteiro e da montagem ágil, a força deste longa está em seu elenco em total sintonia entre si e com seus respectivos personagens e, acima de tudo, totalmente imerso ao caos que a trama se propõe a contar, brindando a plateia com atuações primorosas, especialmente Ícaro Silva (Dr. Paulo) e Júlio Andrade, também em cartaz com “Maresia” (2016). Os dois atores transitam com muita naturalidade entre a razão e a emoção, exprimindo toda a tensão do que Dr. Paulo classifica como “medicina de guerra”.

 

Um dos melhores lançamentos nacionais dos últimos anos, “Sob Pressão” é um filme de ação ininterrupta que faz crítica direta à falência do sistema de saúde e que pode ser considerado um triste retrato de um país assolado pela corrupção, incapaz oferecer condições minimamente dignas ao seu povo.

 

Assista ao trailer oficial: