‘Top Gun: Maverick’: decolagem rumo ao Oscar 2023?
Há cerca de dois meses, “Batman” (The Batman – 2022, EUA), de Matt Reeves, foi apontado como concorrente em potencial na disputa por uma vaga entre os finalistas da próxima edição do Oscar, que será realizada em 12 de março de 2023. Mas o caminho até o palco do Dolby Theatre é longo e cheio […]
POR Ana Carolina Garcia06/06/2022|12 min de leitura
Há cerca de dois meses, “Batman” (The Batman – 2022, EUA), de Matt Reeves, foi apontado como concorrente em potencial na disputa por uma vaga entre os finalistas da próxima edição do Oscar, que será realizada em 12 de março de 2023. Mas o caminho até o palco do Dolby Theatre é longo e cheio de obstáculos que serão enfrentados também por outro blockbuster, cujo protagonista é uma espécie de herói sem máscara nem capa, conhecido por despertar diferentes sentimentos em seus colegas de farda, Pete ‘Maverick’ Mitchell, o indisciplinado piloto de “Top Gun: Maverick” (Top Gun: Maverick – 2022, EUA), de Joseph Kosinski.
Produzido e estrelado por Tom Cruise, “Top Gun: Maverick” tem sido apontado pela imprensa americana como possível adversário de peso na corrida pela estatueta dourada, algo que geralmente tem início no segundo semestre, especialmente com os festivais de Veneza e Toronto. Eventos que, de certa maneira, funcionam como indicativos da temporada de prêmios dos Estados Unidos. De acordo com o The New York Times, a aclamação deste longa-metragem no Festival de Cannes, em maio deste ano, o coloca numa posição confortável, ao lado de títulos como “Armageddon Time” (Armageddon Time – 2022, EUA / Brasil) e “Elvis” (Elvis – 2022, Austrália / EUA), respectivamente dirigidos por James Gray e Baz Luhrmann.
Ainda é muito prematuro para falar sobre as chances de qualquer filme no próximo Oscar, principalmente um que, assim como “Batman”, terá o preconceito contra blockbusters como maior obstáculo. No entanto, “Top Gun: Maverick” tem alguns elementos que podem beneficiá-lo, dentre eles, o viés nacionalista e o fato de ser a celebração máxima da experiência cinematográfica proporcionada pela sala de exibição no momento no qual o papel e o impacto das plataformas digitais são amplamente discutidos. Este debate foi impulsionado pela pandemia do novo coronavírus, que causou efeito dominó no cronograma da indústria cinematográfica e, consequentemente, grave crise econômica no setor, atingindo com força os exibidores. Os mesmos que temeram a extinção do modelo tradicional de cinema ao testemunharem a ascensão do streaming como única opção de entretenimento seguro nos meses de lockdown, quando as salas tiveram de fechar suas portas e as atividades nos centros de produção foram paralisadas.
Além disso, há o peso da consagração de um título original de plataforma digital, no caso, da AppleTV+, como melhor filme no Oscar 2022: “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, França / Canadá / EUA). Dirigido e roteirizado por Siân Heder, o longa foi o primeiro do streaming a concretizar o sonho dourado em forma de estatueta principal, algo há anos almejado pela Netflix. Ou seja, se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) certificar as qualidades da nova missão de Maverick, daqui a alguns meses, isso significará não apenas a exaltação à essência da sétima-arte, como também o reconhecimento tardio ao cinema comercial, responsável por manter as engrenagens da fábrica hollywoodiana funcionando em sua plenitude, sobretudo ao gênero de ação, agraciado somente uma vez com a estatueta de melhor filme, há 50 anos, com “Operação França” (The French Connection – 1971, EUA), de William Friedkin. Ambos os longas também são classificados como drama, sendo que “Operação França” ainda engloba o gênero policial.
Já considerado finalista em categorias técnicas, seguindo os passos de seu antecessor, “Top Gun – Ases Indomáveis” (Top Gun – 1986, EUA), que venceu o Golden Boy de melhor canção (“Take My Breath Away”) e concorreu a outras três categorias (edição, som e efeitos sonoros), o novo longa pode ser encarado como aquele que driblou a crise ao arrastar para as salas de exibição não o público mais jovem, mas uma parcela significativa de maiores de 35 anos. Aquela que ainda não se sente segura em locais fechados devido à pandemia – que, infelizmente, não acabou. E isto se deve ao fator nostalgia, pois o clássico dirigido por Tony Scott é um dos títulos mais queridos da filmografia de Tom Cruise, alçado, definitivamente, ao estrelato como Pete ‘Maverick’ Mitchell.
À época de seu lançamento, “Top Gun – Ases Indomáveis” não caiu rapidamente nas graças da crítica especializada, mas se tornou paixão mundial, sendo, ainda hoje, um dos poucos dramas de ação a conquistar a fatia feminina do público. De acordo com o Box Office Mojo, o clássico faturou US$ 357,2 milhões ao redor do globo, valor já superado por sua sequência. Em cartaz há pouco mais de duas semanas, “Top Gun: Maverick” soma, até a presente data, US$ 552 milhões, além de ser a maior abertura dos 40 anos de carreira de Tom Cruise no mercado americano, US$ 156 milhões, e, também, da História para o feriado do Memorial Day. Detalhe: o filme não estreou na Rússia, devido à guerra da Ucrânia, nem na China, o mercado mais rentável do cinema contemporâneo. Este número superou até mesmo as expectativas da Paramount Pictures, que há anos sonhava com a continuação, assim como os fãs – os executivos do estúdio também se surpreenderam com a queda de 32%, na segunda semana, nos Estados Unidos, em comparação à abertura cuja arrecadação ultrapassou os US$ 100 milhões, sendo a segunda menor da História, ficando atrás somente de “Shrek 2” (Shrek 2 – 2004, EUA), que foi de 33%, de acordo com a Comscore.
A cobrança por outro longa-metragem que mostrasse os desdobramentos da história de Maverick após o combate contra os MIG’s russos no Oceano Índico e sua decisão em se tornar instrutor na escola de pilotos de caça da Marinha, conhecida como Top Gun, ganhou força à medida que a indústria hollywoodiana vasculhava o passado para obter lucro no presente, levando de volta à tela grande personagens icônicos, como por exemplo, Rocky Balboa e John Rambo, ambos interpretados por Sylvester Stallone, no spin-off da franquia “Rocky” (Rocky – iniciada em 1976), a trilogia “Creed” (Creed – iniciada em 2015), e na sequência “Rambo: Até o Fim” (Rambo: Last Blood – 2019, EUA / Hong Kong / França / Bulgária / Espanha / Suécia). Contudo, o fracasso sempre foi um risco, porque os espectadores precisam de elementos originais que prendam sua atenção da primeira à última cena – dirigida por Paul Feig, a versão feminina do clássico “Caça-Fantasmas” (Ghostbusters – 1984, EUA), “Caça-Fantasmas” (Ghostbusters – 2016, EUA / Austrália), é um dos exemplares de revisita fracassada. Por esta razão, Tom Cruise optou pela cautela antes de retornar ao cockpit. Afinal, não basta se esconder por trás de uma marca pré-estabelecida, pois sem uma trama coerente, conduzida com firmeza e sensibilidade, tendo a comunhão de toda a equipe, não somente do elenco, como alicerces, o filme não se sustentará nem atrairá o público, levando-o aos cinemas. E foi este o recado dado por Cruise: sequências são bem-vindas desde que realizadas com esmero, como “Top Gun: Maverick”, que precisava encontrar a história ideal, alinhada com o avanço tecnológico.
“Top Gun: Maverick” tinha de driblar a dificuldade imposta pela enorme expectativa dos fãs do clássico, mas de maneira a conquistar a nova geração de cinéfilos, acostumada a consumir produções que dependem do uso de computação gráfica (CGI), oferecendo a ela uma experiência cinematográfica mais orgânica por meio de uma superprodução que pode ser chamada de “cinema de ação raiz”, permitindo, assim, o maior alcance da trama original. Com isso, uma fase de redescoberta de “Top Gun – Ases Indomáveis” foi iniciada, tornando-o um dos títulos mais procurados / acessados dos últimos dias tanto na TV por assinatura quanto no streaming.
Discreto em sua vida pessoal, Tom Cruise é a personificação do astro de Hollywood, não há como negar, e conhece o modus operandi da indústria como poucos. Mesmo assim, o ator e produtor foi muito atacado nas últimas duas décadas por sua crença na Igreja da Cientologia, sobretudo após o divórcio de Katie Holmes, com quem tem uma filha, Suri – Cruise tem outros dois filhos, Isabella e Connor, com Nicole Kidman. Alvo constante da imprensa sensacionalista, Cruise teve de enfrentar um turbilhão de manchetes desrespeitosas que chegou a ofuscar um pouco suas realizações profissionais, mas o superou, tal qual Pete Mitchell, que surge em “Top Gun: Maverick” como um homem que tem como única opção vencer as adversidades para poder, finalmente, se apresentar de fato à nova geração, mostrando todo o potencial que o torna único em sua profissão. É neste ponto que criador e criatura se transformam num só, impedindo os old school fans, termo usado por Dave Grohl no show do Foo Fighters no Rock in Rio 2019 para se referir aos seus fãs desde a época do Nirvana, de dissociá-los.
Ovacionado no Festival de Cannes deste ano, onde apresentou “Top Gun: Maverick” (fora de competição) e recebeu uma Palma de Ouro honorária, Tom Cruise sempre teve lugar de destaque dentre as notícias relacionadas ao showbusiness, mas há muito tempo não se falava tanto e tão bem dele como nas últimas semanas. Isto se deve ao resultado impressionante do novo longa, um dos raros casos de sintonia entre público e crítica especializada. Comprovando sua importância e potencial de rentabilidade para a indústria que, equivocadamente, o subestimou por um período de tempo, o astro é um dos poucos que não se rendeu ao streaming, mesmo quando a pandemia atrasou a estreia desta sequência em cerca de dois anos – o ator se recusou a lançá-la em plataformas digitais.
A recusa de migrar para o streaming em meio à crise sanitária, que colocou em xeque a capacidade da indústria cinematográfica de lidar com situações adversas e inesperadas, é reflexo do compromisso de Tom Cruise para com o cinema em sua essência, calcada no espetáculo que só pode ser proporcionado pela sala de exibição, local tradicionalmente de socialização, bem como de sua preocupação para com os inúmeros profissionais que tiram seu sustento da fábrica de sonhos hollywoodiana, algo observado na bronca dada em parte da equipe de “Missão Impossível 7”, agora chamado de “Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1” (Mission: Impossible – Dead Reckoning – Part One – 2023, EUA), previsto para 14 de julho de 2023. Há filmes que precisam da tela grande e, definitivamente, “Top Gun: Maverick” é um deles.
É imprescindível ressaltar que tanto os estúdios quanto os exibidores necessitam da receita oriunda de blockbusters, especialmente no momento atual, para se manterem de pé. Por esta razão, não reconhecer tais filmes é o mesmo que atacar o pote de ouro no final do arco-íris, pois eles possibilitam a produção e/ou distribuição de tantos outros longas-metragens. Economicamente falando, sem o retorno em cifras dos blockbusters, protagonizados ou não por super-heróis, muitos exibidores já teriam fechado suas portas e, portanto, não haveria tela para ninguém, nem para os cineastas que criticam tais títulos, entre eles, dois críticos ferrenhos do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), Francis Ford Coppola e Martin Scorsese, que tem no currículo como diretor duas produções originais Netflix, “O Irlandês” (The Irishman – 2019, EUA) e a minissérie “Faz de Conta que NY é uma Cidade” (Pretend It’s a City – 2021, EUA) – Coppola e Scorsese dirigiram Cruise em “Vidas Sem Rumo” (The Outsiders – 1983, EUA / França) e “A Cor do Dinheiro” (The Color of Money – 1986, EUA), respectivamente.
Prestes a completar 60 anos de idade, Tom Cruise finalmente conquistou a nova geração e recuperou o respeito e prestígio junto à comunidade hollywoodiana, que nunca deveria ter colocado seu potencial e comprometimento em xeque. Maior astro de Hollywood em atividade, Tom Cruise saiu triunfante do cockpit, sendo um dos poucos a ser homenageado com a já citada Palma de Ouro honorária no Festival de Cannes, um dos mais importantes do mundo. E, quem sabe, conseguirá uma possível aterrissagem no Dolby Theatre como finalista após mais de 20 anos sem concorrer à estatueta do Oscar. Seria um belo reconhecimento da AMPAS a um profissional a quem Hollywood deve muito.
Há cerca de dois meses, “Batman” (The Batman – 2022, EUA), de Matt Reeves, foi apontado como concorrente em potencial na disputa por uma vaga entre os finalistas da próxima edição do Oscar, que será realizada em 12 de março de 2023. Mas o caminho até o palco do Dolby Theatre é longo e cheio de obstáculos que serão enfrentados também por outro blockbuster, cujo protagonista é uma espécie de herói sem máscara nem capa, conhecido por despertar diferentes sentimentos em seus colegas de farda, Pete ‘Maverick’ Mitchell, o indisciplinado piloto de “Top Gun: Maverick” (Top Gun: Maverick – 2022, EUA), de Joseph Kosinski.
Produzido e estrelado por Tom Cruise, “Top Gun: Maverick” tem sido apontado pela imprensa americana como possível adversário de peso na corrida pela estatueta dourada, algo que geralmente tem início no segundo semestre, especialmente com os festivais de Veneza e Toronto. Eventos que, de certa maneira, funcionam como indicativos da temporada de prêmios dos Estados Unidos. De acordo com o The New York Times, a aclamação deste longa-metragem no Festival de Cannes, em maio deste ano, o coloca numa posição confortável, ao lado de títulos como “Armageddon Time” (Armageddon Time – 2022, EUA / Brasil) e “Elvis” (Elvis – 2022, Austrália / EUA), respectivamente dirigidos por James Gray e Baz Luhrmann.
Ainda é muito prematuro para falar sobre as chances de qualquer filme no próximo Oscar, principalmente um que, assim como “Batman”, terá o preconceito contra blockbusters como maior obstáculo. No entanto, “Top Gun: Maverick” tem alguns elementos que podem beneficiá-lo, dentre eles, o viés nacionalista e o fato de ser a celebração máxima da experiência cinematográfica proporcionada pela sala de exibição no momento no qual o papel e o impacto das plataformas digitais são amplamente discutidos. Este debate foi impulsionado pela pandemia do novo coronavírus, que causou efeito dominó no cronograma da indústria cinematográfica e, consequentemente, grave crise econômica no setor, atingindo com força os exibidores. Os mesmos que temeram a extinção do modelo tradicional de cinema ao testemunharem a ascensão do streaming como única opção de entretenimento seguro nos meses de lockdown, quando as salas tiveram de fechar suas portas e as atividades nos centros de produção foram paralisadas.
Além disso, há o peso da consagração de um título original de plataforma digital, no caso, da AppleTV+, como melhor filme no Oscar 2022: “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, França / Canadá / EUA). Dirigido e roteirizado por Siân Heder, o longa foi o primeiro do streaming a concretizar o sonho dourado em forma de estatueta principal, algo há anos almejado pela Netflix. Ou seja, se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) certificar as qualidades da nova missão de Maverick, daqui a alguns meses, isso significará não apenas a exaltação à essência da sétima-arte, como também o reconhecimento tardio ao cinema comercial, responsável por manter as engrenagens da fábrica hollywoodiana funcionando em sua plenitude, sobretudo ao gênero de ação, agraciado somente uma vez com a estatueta de melhor filme, há 50 anos, com “Operação França” (The French Connection – 1971, EUA), de William Friedkin. Ambos os longas também são classificados como drama, sendo que “Operação França” ainda engloba o gênero policial.
Já considerado finalista em categorias técnicas, seguindo os passos de seu antecessor, “Top Gun – Ases Indomáveis” (Top Gun – 1986, EUA), que venceu o Golden Boy de melhor canção (“Take My Breath Away”) e concorreu a outras três categorias (edição, som e efeitos sonoros), o novo longa pode ser encarado como aquele que driblou a crise ao arrastar para as salas de exibição não o público mais jovem, mas uma parcela significativa de maiores de 35 anos. Aquela que ainda não se sente segura em locais fechados devido à pandemia – que, infelizmente, não acabou. E isto se deve ao fator nostalgia, pois o clássico dirigido por Tony Scott é um dos títulos mais queridos da filmografia de Tom Cruise, alçado, definitivamente, ao estrelato como Pete ‘Maverick’ Mitchell.
À época de seu lançamento, “Top Gun – Ases Indomáveis” não caiu rapidamente nas graças da crítica especializada, mas se tornou paixão mundial, sendo, ainda hoje, um dos poucos dramas de ação a conquistar a fatia feminina do público. De acordo com o Box Office Mojo, o clássico faturou US$ 357,2 milhões ao redor do globo, valor já superado por sua sequência. Em cartaz há pouco mais de duas semanas, “Top Gun: Maverick” soma, até a presente data, US$ 552 milhões, além de ser a maior abertura dos 40 anos de carreira de Tom Cruise no mercado americano, US$ 156 milhões, e, também, da História para o feriado do Memorial Day. Detalhe: o filme não estreou na Rússia, devido à guerra da Ucrânia, nem na China, o mercado mais rentável do cinema contemporâneo. Este número superou até mesmo as expectativas da Paramount Pictures, que há anos sonhava com a continuação, assim como os fãs – os executivos do estúdio também se surpreenderam com a queda de 32%, na segunda semana, nos Estados Unidos, em comparação à abertura cuja arrecadação ultrapassou os US$ 100 milhões, sendo a segunda menor da História, ficando atrás somente de “Shrek 2” (Shrek 2 – 2004, EUA), que foi de 33%, de acordo com a Comscore.
A cobrança por outro longa-metragem que mostrasse os desdobramentos da história de Maverick após o combate contra os MIG’s russos no Oceano Índico e sua decisão em se tornar instrutor na escola de pilotos de caça da Marinha, conhecida como Top Gun, ganhou força à medida que a indústria hollywoodiana vasculhava o passado para obter lucro no presente, levando de volta à tela grande personagens icônicos, como por exemplo, Rocky Balboa e John Rambo, ambos interpretados por Sylvester Stallone, no spin-off da franquia “Rocky” (Rocky – iniciada em 1976), a trilogia “Creed” (Creed – iniciada em 2015), e na sequência “Rambo: Até o Fim” (Rambo: Last Blood – 2019, EUA / Hong Kong / França / Bulgária / Espanha / Suécia). Contudo, o fracasso sempre foi um risco, porque os espectadores precisam de elementos originais que prendam sua atenção da primeira à última cena – dirigida por Paul Feig, a versão feminina do clássico “Caça-Fantasmas” (Ghostbusters – 1984, EUA), “Caça-Fantasmas” (Ghostbusters – 2016, EUA / Austrália), é um dos exemplares de revisita fracassada. Por esta razão, Tom Cruise optou pela cautela antes de retornar ao cockpit. Afinal, não basta se esconder por trás de uma marca pré-estabelecida, pois sem uma trama coerente, conduzida com firmeza e sensibilidade, tendo a comunhão de toda a equipe, não somente do elenco, como alicerces, o filme não se sustentará nem atrairá o público, levando-o aos cinemas. E foi este o recado dado por Cruise: sequências são bem-vindas desde que realizadas com esmero, como “Top Gun: Maverick”, que precisava encontrar a história ideal, alinhada com o avanço tecnológico.
“Top Gun: Maverick” tinha de driblar a dificuldade imposta pela enorme expectativa dos fãs do clássico, mas de maneira a conquistar a nova geração de cinéfilos, acostumada a consumir produções que dependem do uso de computação gráfica (CGI), oferecendo a ela uma experiência cinematográfica mais orgânica por meio de uma superprodução que pode ser chamada de “cinema de ação raiz”, permitindo, assim, o maior alcance da trama original. Com isso, uma fase de redescoberta de “Top Gun – Ases Indomáveis” foi iniciada, tornando-o um dos títulos mais procurados / acessados dos últimos dias tanto na TV por assinatura quanto no streaming.
Discreto em sua vida pessoal, Tom Cruise é a personificação do astro de Hollywood, não há como negar, e conhece o modus operandi da indústria como poucos. Mesmo assim, o ator e produtor foi muito atacado nas últimas duas décadas por sua crença na Igreja da Cientologia, sobretudo após o divórcio de Katie Holmes, com quem tem uma filha, Suri – Cruise tem outros dois filhos, Isabella e Connor, com Nicole Kidman. Alvo constante da imprensa sensacionalista, Cruise teve de enfrentar um turbilhão de manchetes desrespeitosas que chegou a ofuscar um pouco suas realizações profissionais, mas o superou, tal qual Pete Mitchell, que surge em “Top Gun: Maverick” como um homem que tem como única opção vencer as adversidades para poder, finalmente, se apresentar de fato à nova geração, mostrando todo o potencial que o torna único em sua profissão. É neste ponto que criador e criatura se transformam num só, impedindo os old school fans, termo usado por Dave Grohl no show do Foo Fighters no Rock in Rio 2019 para se referir aos seus fãs desde a época do Nirvana, de dissociá-los.
Ovacionado no Festival de Cannes deste ano, onde apresentou “Top Gun: Maverick” (fora de competição) e recebeu uma Palma de Ouro honorária, Tom Cruise sempre teve lugar de destaque dentre as notícias relacionadas ao showbusiness, mas há muito tempo não se falava tanto e tão bem dele como nas últimas semanas. Isto se deve ao resultado impressionante do novo longa, um dos raros casos de sintonia entre público e crítica especializada. Comprovando sua importância e potencial de rentabilidade para a indústria que, equivocadamente, o subestimou por um período de tempo, o astro é um dos poucos que não se rendeu ao streaming, mesmo quando a pandemia atrasou a estreia desta sequência em cerca de dois anos – o ator se recusou a lançá-la em plataformas digitais.
A recusa de migrar para o streaming em meio à crise sanitária, que colocou em xeque a capacidade da indústria cinematográfica de lidar com situações adversas e inesperadas, é reflexo do compromisso de Tom Cruise para com o cinema em sua essência, calcada no espetáculo que só pode ser proporcionado pela sala de exibição, local tradicionalmente de socialização, bem como de sua preocupação para com os inúmeros profissionais que tiram seu sustento da fábrica de sonhos hollywoodiana, algo observado na bronca dada em parte da equipe de “Missão Impossível 7”, agora chamado de “Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1” (Mission: Impossible – Dead Reckoning – Part One – 2023, EUA), previsto para 14 de julho de 2023. Há filmes que precisam da tela grande e, definitivamente, “Top Gun: Maverick” é um deles.
É imprescindível ressaltar que tanto os estúdios quanto os exibidores necessitam da receita oriunda de blockbusters, especialmente no momento atual, para se manterem de pé. Por esta razão, não reconhecer tais filmes é o mesmo que atacar o pote de ouro no final do arco-íris, pois eles possibilitam a produção e/ou distribuição de tantos outros longas-metragens. Economicamente falando, sem o retorno em cifras dos blockbusters, protagonizados ou não por super-heróis, muitos exibidores já teriam fechado suas portas e, portanto, não haveria tela para ninguém, nem para os cineastas que criticam tais títulos, entre eles, dois críticos ferrenhos do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), Francis Ford Coppola e Martin Scorsese, que tem no currículo como diretor duas produções originais Netflix, “O Irlandês” (The Irishman – 2019, EUA) e a minissérie “Faz de Conta que NY é uma Cidade” (Pretend It’s a City – 2021, EUA) – Coppola e Scorsese dirigiram Cruise em “Vidas Sem Rumo” (The Outsiders – 1983, EUA / França) e “A Cor do Dinheiro” (The Color of Money – 1986, EUA), respectivamente.
Prestes a completar 60 anos de idade, Tom Cruise finalmente conquistou a nova geração e recuperou o respeito e prestígio junto à comunidade hollywoodiana, que nunca deveria ter colocado seu potencial e comprometimento em xeque. Maior astro de Hollywood em atividade, Tom Cruise saiu triunfante do cockpit, sendo um dos poucos a ser homenageado com a já citada Palma de Ouro honorária no Festival de Cannes, um dos mais importantes do mundo. E, quem sabe, conseguirá uma possível aterrissagem no Dolby Theatre como finalista após mais de 20 anos sem concorrer à estatueta do Oscar. Seria um belo reconhecimento da AMPAS a um profissional a quem Hollywood deve muito.