Mãe pela segunda vez

  • Icon instagram_blue
  • Icon youtube_blue
  • Icon x_blue
  • Icon facebook_blue
  • Icon google_blue

Eu já tinha o Léo, meu primeiro filho, que amava muito, tanto que nem sabia se conseguiria amar outro filho e se daria conta trabalhando tanto. Mas, ser mãe tinha sido tão bom, que queria ser de novo. Então engravidei. Não era para ser, acabei abortando, involuntariamente. Para tentar de novo foram vários procedimentos – […]

POR Cheryl Berno28/10/2018|6 min de leitura

Mãe pela segunda vez
| Siga-nos Google News

Eu já tinha o Léo, meu primeiro filho, que amava muito, tanto que nem sabia se conseguiria amar outro filho e se daria conta trabalhando tanto. Mas, ser mãe tinha sido tão bom, que queria ser de novo. Então engravidei. Não era para ser, acabei abortando, involuntariamente. Para tentar de novo foram vários procedimentos – mulher que quer ter filho passa muita coisa. Mas, consegui e estava tudo bem, até viajei, andei muito, só não fui na montanha russa, mas estava bem. Já com 6 meses de gravidez fui na consulta e achei estranho o jeito da ginecologista no exame. Ela me disse que eu teria que ser internada para costurar o útero, porque já estava vendo a cabeça do bebê. Eu não sabia o que fazer, interrompi então a minha vida pela outra vida.

Costurei o útero e entrei em repouso, mais ou menos, porque sempre amei meu trabalho e sempre fui muito ativa, sou uma profissional e gosto do que faço, parar é o mais difícil, mas tentei, até de arrumar a casa, seguindo o conselho da médica. E lá estávamos nós dois, dias e dias a fio, eu e o bebê, ambos lutando pela vida. Segurei até aonde pude, mas naquele 28 de outubro, Dia de São Judas Tadeu, o Santo das Causas Impossíveis, ele rompeu as barreiras e quis vir ao mundo antes, porque ele é decidido mesmo. Então fui às pressas para a maternidade. Tomei um remédio para amadurecer os pulmões dele e até para acelerar o cérebro, com esse eu me senti Joana D’arc, parecia que estava pegando fogo, mas o que é isso para uma mãe? Nada. Naquela noite ele forçou mais e quis vir mesmo. Não chegou de parto normal como eu queria, porque sangrou muito e tiveram que cortar e como tudo foi bem complicado, perdi o útero, mas ele veio como um presente divino, com pouco mais que um quilo, um bonequinho. Nasceu até bem para um prematuro de 29 semanas, respirava sem aparelhos. Eu não vi muita coisa porque levaram ele direto para a UTI neonatal, onde começou o outro capítulo dessa história. Lá eu fui “mãe de UTI, entrei em outro mundo.

Ele ficava na incubadora e eu lá olhando para ele o tempo que me deixavam, chorava todos os dias na hora de ir embora, não é fácil ser mãe e deixar o filho no hospital para ir para a casa “dormir”. Mas ele estava bem e sairia logo. Cantei para ele, fiz muito “canguru”, um método simples e barato, que você coloca ele no seu peito, para que com o seu calor se desenvolva, para que aprenda a respirar com a sua respiração. Prematuros tem que terminar o desenvolvimento fora do útero, o que é sempre um desafio. Até então ele não tinha nome. A gente queria Frederico, mas o irmão queria Rafael, que não por acaso do destino significa “Deus Cura”, bem mais apropriado naquela hora. Eu cantava para que o Rafael ouvisse a minha voz, que já conhecia do útero, e, em meio aqueles bipes dos aparelhos da UTI e as conversas das enfermeiras e médicos, ele pudesse ouvir um som mais agradável. Ele estava indo bem, mas aí veio o fungo, depois começaram as outras infecções, a transfusão, as apneias e aos poucos eu ia conhecendo aquele mundo à parte, que exige de você uma força que você tira sabe-se lá de onde. Nos intervalos eu ficava com outros pais e mães em uma sala, lia a respeito da prematuridade, porque ninguém havia me avisado antes que ela existia. Vi as situações mais chocantes, as mais felizes, vi de tudo naquela UTI, histórias que cabem em um livro, que um dia ainda vou ter tempo de escrever. Mas para resumir, um desses dias cheguei lá e o Rafael estava com metade do corpo paralisado. Chamamos um especialista, além dos muitos que já nos acompanhavam e ele disse que ele teria dificuldades para o resto da vida, o que depois se viu não era verdade. Foi mais duro este dia. Até para amamentar eu tive que provar que o meu leite materno era melhor que o industrializado.. Provei com o laudo do Hospital Público Fernandes Figueira e com o apoio generoso da nutricionista e da fonoaudióloga de lá. Rafinha passou por muitos exames, procedimentos, muitas histórias pra contar. Um dia eu estava com ele no peito olhando para fora e disse que o levaria para sentir o vento no rosto, para ver as árvores e sentir o sol – na UTI é luz fria 24 horas.

Um dia surgiu uma anjinha lá, a pediatra Patrícia Guttmann, que já era do Léo, e começou a ajudar o Rafael. As coisas foram melhorando, ele estava uma bolinha, e no dia 24 de dezembro daquele ano, de presente ganhamos alta. Ele nasceu de novo e nós também. Passamos aquele natal em casa, mas logo em seguida, no dia 27, voltamos porque ele ainda não estava bem. Ao todo foram 88 dias naquela UTI, até que com a ajuda da médica-anja e de um médico-pesquisador americano, que até hoje não conhecemos pessoalmente, ele foi pra casa. Deus cura e curou o Rafinha de tudo, e ele foi crescendo saudável, amável, humano, querido e lá se vão 7 anos. Porque lembrar do começo? Para ter sempre a certeza de que tudo vale a pena se a alma não é pequena e a dele não é. Ele é maravilhoso, um filho gentil, amável, sensível, muito especial, meu pequeno desenhista. Perguntei pra ele qual era a melhor lembrança destes 7 anos e ele me respondeu: o abraço de vocês! Eu o abracei bem forte, como faço todos os dias desde aquele primeiro que consegui tê-lo nos meus braços e agradecida chorei, agora de alegria, por ter tido a dádiva de ser mãe pela segunda vez.

Eu já tinha o Léo, meu primeiro filho, que amava muito, tanto que nem sabia se conseguiria amar outro filho e se daria conta trabalhando tanto. Mas, ser mãe tinha sido tão bom, que queria ser de novo. Então engravidei. Não era para ser, acabei abortando, involuntariamente. Para tentar de novo foram vários procedimentos – mulher que quer ter filho passa muita coisa. Mas, consegui e estava tudo bem, até viajei, andei muito, só não fui na montanha russa, mas estava bem. Já com 6 meses de gravidez fui na consulta e achei estranho o jeito da ginecologista no exame. Ela me disse que eu teria que ser internada para costurar o útero, porque já estava vendo a cabeça do bebê. Eu não sabia o que fazer, interrompi então a minha vida pela outra vida.

Costurei o útero e entrei em repouso, mais ou menos, porque sempre amei meu trabalho e sempre fui muito ativa, sou uma profissional e gosto do que faço, parar é o mais difícil, mas tentei, até de arrumar a casa, seguindo o conselho da médica. E lá estávamos nós dois, dias e dias a fio, eu e o bebê, ambos lutando pela vida. Segurei até aonde pude, mas naquele 28 de outubro, Dia de São Judas Tadeu, o Santo das Causas Impossíveis, ele rompeu as barreiras e quis vir ao mundo antes, porque ele é decidido mesmo. Então fui às pressas para a maternidade. Tomei um remédio para amadurecer os pulmões dele e até para acelerar o cérebro, com esse eu me senti Joana D’arc, parecia que estava pegando fogo, mas o que é isso para uma mãe? Nada. Naquela noite ele forçou mais e quis vir mesmo. Não chegou de parto normal como eu queria, porque sangrou muito e tiveram que cortar e como tudo foi bem complicado, perdi o útero, mas ele veio como um presente divino, com pouco mais que um quilo, um bonequinho. Nasceu até bem para um prematuro de 29 semanas, respirava sem aparelhos. Eu não vi muita coisa porque levaram ele direto para a UTI neonatal, onde começou o outro capítulo dessa história. Lá eu fui “mãe de UTI, entrei em outro mundo.

Ele ficava na incubadora e eu lá olhando para ele o tempo que me deixavam, chorava todos os dias na hora de ir embora, não é fácil ser mãe e deixar o filho no hospital para ir para a casa “dormir”. Mas ele estava bem e sairia logo. Cantei para ele, fiz muito “canguru”, um método simples e barato, que você coloca ele no seu peito, para que com o seu calor se desenvolva, para que aprenda a respirar com a sua respiração. Prematuros tem que terminar o desenvolvimento fora do útero, o que é sempre um desafio. Até então ele não tinha nome. A gente queria Frederico, mas o irmão queria Rafael, que não por acaso do destino significa “Deus Cura”, bem mais apropriado naquela hora. Eu cantava para que o Rafael ouvisse a minha voz, que já conhecia do útero, e, em meio aqueles bipes dos aparelhos da UTI e as conversas das enfermeiras e médicos, ele pudesse ouvir um som mais agradável. Ele estava indo bem, mas aí veio o fungo, depois começaram as outras infecções, a transfusão, as apneias e aos poucos eu ia conhecendo aquele mundo à parte, que exige de você uma força que você tira sabe-se lá de onde. Nos intervalos eu ficava com outros pais e mães em uma sala, lia a respeito da prematuridade, porque ninguém havia me avisado antes que ela existia. Vi as situações mais chocantes, as mais felizes, vi de tudo naquela UTI, histórias que cabem em um livro, que um dia ainda vou ter tempo de escrever. Mas para resumir, um desses dias cheguei lá e o Rafael estava com metade do corpo paralisado. Chamamos um especialista, além dos muitos que já nos acompanhavam e ele disse que ele teria dificuldades para o resto da vida, o que depois se viu não era verdade. Foi mais duro este dia. Até para amamentar eu tive que provar que o meu leite materno era melhor que o industrializado.. Provei com o laudo do Hospital Público Fernandes Figueira e com o apoio generoso da nutricionista e da fonoaudióloga de lá. Rafinha passou por muitos exames, procedimentos, muitas histórias pra contar. Um dia eu estava com ele no peito olhando para fora e disse que o levaria para sentir o vento no rosto, para ver as árvores e sentir o sol – na UTI é luz fria 24 horas.

Um dia surgiu uma anjinha lá, a pediatra Patrícia Guttmann, que já era do Léo, e começou a ajudar o Rafael. As coisas foram melhorando, ele estava uma bolinha, e no dia 24 de dezembro daquele ano, de presente ganhamos alta. Ele nasceu de novo e nós também. Passamos aquele natal em casa, mas logo em seguida, no dia 27, voltamos porque ele ainda não estava bem. Ao todo foram 88 dias naquela UTI, até que com a ajuda da médica-anja e de um médico-pesquisador americano, que até hoje não conhecemos pessoalmente, ele foi pra casa. Deus cura e curou o Rafinha de tudo, e ele foi crescendo saudável, amável, humano, querido e lá se vão 7 anos. Porque lembrar do começo? Para ter sempre a certeza de que tudo vale a pena se a alma não é pequena e a dele não é. Ele é maravilhoso, um filho gentil, amável, sensível, muito especial, meu pequeno desenhista. Perguntei pra ele qual era a melhor lembrança destes 7 anos e ele me respondeu: o abraço de vocês! Eu o abracei bem forte, como faço todos os dias desde aquele primeiro que consegui tê-lo nos meus braços e agradecida chorei, agora de alegria, por ter tido a dádiva de ser mãe pela segunda vez.

Notícias Relacionadas

Ver tudo