Valci Pelé e os Ancestrais do ‘Samba-no-pé’ da Viradouro
Abri as redes sociais em meio a todo este clima de tensão e apreensão de um mundo em pandemia, e um texto de Valci Pelé impulsionou-me a pensar e escrever. Saí da tensão real para o lúdico. Fui transportado para uma outra realidade. Valci publicou um texto em tom de manifesto que dá visibilidade ao […]
POR Hélio Rainho18/05/2020|8 min de leitura
Abri as redes sociais em meio a todo este clima de tensão e apreensão de um mundo em pandemia, e um texto de Valci Pelé impulsionou-me a pensar e escrever. Saí da tensão real para o lúdico. Fui transportado para uma outra realidade.
Valci publicou um texto em tom de manifesto que dá visibilidade ao trabalho que vem desenvolvendo na ala de passistas da campeã Unidos do Viradouro, onde empreendeu uma pesquisa e o resgate dos legados de personagens históricos para que, segundo suas próprias palavras, “o segmento possa se aprofundar na sua própria história”, fundindo passado e presente. No texto que redigiu, ele fez uma crítica a uma perda de essências e fundamentos, afirmando “ficar triste” ao ver fundidos à dança do samba “gestuais que deixam nossos fundamentos em segundo plano”, mudando “o que está escrito e enraizado em nossa ancestralidade e na nossa cultura”. E cita nominalmente os personagens ilustres de sua pesquisa, os “ancestrais da dança do samba” na Viradouro: Tia Dayse, Sra. Ivanir, Maria Cristina, Ivan Rabelo, Tia Cléa. O texto na integra está no final desta coluna.
Bom seria se esse constrangimento reflexivo atingisse a todos os que pensam ou julgam pensar os passistas e a própria cultura das escolas de samba, no todo.
O natural da arte é que ela se apóie nas vanguardas para sobreviver. E o caminho fácil das vanguardas – ou das que nem isso são, mas assim se autodefinem e se autopromovem – qual é? É associar-se a modismos, abraçar espectros comerciais, costurar coisas que notoriamente não têm costura, concentrar-se nas ondas midiáticas de “causas&efeitos” que, sem profundidade, tentam forjar e falsificar discursos de inovação com a maquiagem carregada de um pretenso sucesso.
E o que faz Valci Pelé, o primeiro idealizador de uma técnica real aplicada ao conhecimento tácito e à inspiração natural do passista de escola de samba, em meio a todas as possibilidades que a mídia e a comercialização do samba poderiam lhe oferecer, sendo ele uma “celebridade do samba” – o mais premiado e professoral ativista da dança do samba das quadras e da avenida?
Antes de mais nada, ele não se rende aos modismos – embora seja efetivamente o mais “moderno” de todos em termos de inovação no segmento. Em vez disso, ele volta às origens, a um contexto antropológico de ancestralidade do samba e da cultura negra afro-atlântica, para resgatar o legado dos baluartes, das matriarcas e patriarcas da casa, de uma verdade histórica cheia de simbolismos e constitutiva de uma herança cultural dentro da escola de samba – de um território de samba que é, no caso, a Unidos do Viradouro, onde ele, em poucos anos, já realiza um trabalho memorável.
Em um momento em que a dança dos passistas se estrangeiriza e aposta na midiatização, Valci “devora” a pressão midiática do que lhe é alheio e estranho, reprocessa com signos atávicos, históricos e territoriais do samba e subverte o que tenta lhe dominar: devolve um produto autêntico, visceral, poderoso e absolutamente genuíno. É ele quem ganha a mídia, não o contrário.
Em tempos em que o samba está sob sério risco de ostracismo mediante perseguições politicas e sistemas de dominação dentro de seu próprio território, a midiatização vulgarizante das redes sociais facilita a difusão de ideias contrárias aos valores genuínos do samba – que, por razões estritamente comerciais, só servem para fortalecer o sistema que hoje domina as escolas. Na contramão de tudo isso, o trabalho de Valci internaliza a cultura da Viradouro dentro de seu segmento, de certa forma doutrinando seus passistas a valorizarem mais a história peculiar da escola e seus valores de referência. Quando a busca desenfreada pela novidade descambar no vazio, a grande “novidade” será a essência. E é nisso que a filosofia de Valci parece claramente apostar: na verdade da arte, não na megalomania do showbusiness. É uma lógica de contracultura, de resistência, de preservação.
Que fique registrado esse pensamento tão relevante e exemplar de Valci Pelé e de toda a ala de passistas da Unidos do Viradouro sobre legados de escola de samba! Uma verdade que poucos difundem, e algo que o samba tanto precisa para fazer prevalecer sua essência e sua verdadeira resistência cultural – que é coletiva, de um povo, uma raça, uma nação!
Uma nação hoje formada por passistas-artistas do samba no pé como Aline Nascimento, Kelly Quintanilha, Tuanny Simas, Kelly Pitanga, Belinha Delfim, Thabata Cardoso, Vivi de Assis, Carol Portugal, Dany Silverio, Jhenifer, Taiana, Thamara, Márcia Silva, Thays Busson, Joyce Martins, Juliana Dornellas, Taylane, Angélica Araújo, Aline Santos, Vivi Assis, Preta Coutinho, Kayala Crioula, Leandra Rosa, Natalye, Tainá Pinto, Aysha, Paula Raisa, Daniele Silva, Daniella Garrido, Ramaris, Nathy, Nicolle, Aisha, Anny, Állyne Corrêa, Paolla Nascimento, Kissela Morena, Yasmin Félix, Thata Gonçalves, Carine Almeida, Priscila Pacheco, Esther Vasconcelos, Andressa Ramos, Paulo Precioso, Luiz Otávio Campista, Leandro Hardoim, Pablo Jales, Altair Honorato, Willians Marins, Luiz Otávio dos Anjos, Kaiser Soares, Cauã Fernandes, Gustavo Leandro, Robson Silva, Renato Metello, Rodrigo Salvatore, Flávio Smith, Filipe Fernandes, Felipe Soares, Wladimir Paim, Agni Havea, Yure Laurente, Flávio Ribeiro, Léo Medeiros, David Bigo, Marcos Vinicius, Anderson Magalhães,, Moisés Gonçalves, João Oliveira, Léo Medeiros e Edy Araújo.
Meu respeito, carinho e reverência a todos esses PASSISTAS!
Revivendo a nossa história quero começar agradecendo a Ala de Passistas pelo acolhimento, carinho e respeito recebidos, neste período de construção e organização desta família.
Tem sido um divisor de águas trabalhar no G.R.E.S. Unidos do Viradouro. Posso dar vida a alguns sonhos que o Sr. Marcelo tem em relação à Ala e isso se reflete na confiança em meu trabalho junto à vocês.
É gratificante trabalhar no que gostamos e respeitamos e ver presente em nossa dança a semente plantada com a essência dos grandes baluartes que se fizeram presentes na história do Samba. Sendo assim pesquisei sobre os Grandes Notáveis da Dança do Samba da Unidos do Viradouro. Grandes nomes como Tia Dayse, Sra. Ivanir, Maria Cristina e o Saudoso Diretor das Passistas, Ivan Rabelo. No passado a Ala de Passistas era composta somente por Mulatas. Tia Cléa fez parte dessa grande ala riscando o chão de poesia com seu gingado e samba no pé. Hoje esses mesmos pés calejados coordenam a Ala das Mães Baianas girando em nosso templo do samba dando continuidade a linda história, que temos a responsabilidade de preservar e respeitar essa Arte que tanto amamos.
Hoje vejo que entre tantos contratempos e floreios, as pessoas deixaram de manter o que há de mais belo em nossa Arte, que é fazer o seu personagem de origem.
Sabemos que a vida está sempre em movimento, evoluindo a passos largos e firmes mas temos que preservar, desenvolver e incentivar a essência e os fundamentos da dança do Samba. Fico feliz quando o nosso bailado influencia outras formas de manifestação de dança, porém triste quando vejo agregarem à dança do Samba gestuais que deixam nossos fundamentos em segundo PLANO. A Dança do Samba só será reconhecida como tal se respeitarmos esses fundamentos. Não podemos mudar o que está escrito e enraizado em nossa ancestralidade e na nossa Cultura. O samba dançado da Cabrocha é mostrar o seu tufão nos quadris e sensualizar sem ser vulgar e o Passista Masculino deve riscar o chão de poesia, com seus floreios no corta jaca e no passo tesoura cortejando a cabrocha.
Tenham certeza que somos a resistência e a história da Arte da Dança do Samba.
Juntos Vamos Além !!! Valci Pelé
Abri as redes sociais em meio a todo este clima de tensão e apreensão de um mundo em pandemia, e um texto de Valci Pelé impulsionou-me a pensar e escrever. Saí da tensão real para o lúdico. Fui transportado para uma outra realidade.
Valci publicou um texto em tom de manifesto que dá visibilidade ao trabalho que vem desenvolvendo na ala de passistas da campeã Unidos do Viradouro, onde empreendeu uma pesquisa e o resgate dos legados de personagens históricos para que, segundo suas próprias palavras, “o segmento possa se aprofundar na sua própria história”, fundindo passado e presente. No texto que redigiu, ele fez uma crítica a uma perda de essências e fundamentos, afirmando “ficar triste” ao ver fundidos à dança do samba “gestuais que deixam nossos fundamentos em segundo plano”, mudando “o que está escrito e enraizado em nossa ancestralidade e na nossa cultura”. E cita nominalmente os personagens ilustres de sua pesquisa, os “ancestrais da dança do samba” na Viradouro: Tia Dayse, Sra. Ivanir, Maria Cristina, Ivan Rabelo, Tia Cléa. O texto na integra está no final desta coluna.
Bom seria se esse constrangimento reflexivo atingisse a todos os que pensam ou julgam pensar os passistas e a própria cultura das escolas de samba, no todo.
O natural da arte é que ela se apóie nas vanguardas para sobreviver. E o caminho fácil das vanguardas – ou das que nem isso são, mas assim se autodefinem e se autopromovem – qual é? É associar-se a modismos, abraçar espectros comerciais, costurar coisas que notoriamente não têm costura, concentrar-se nas ondas midiáticas de “causas&efeitos” que, sem profundidade, tentam forjar e falsificar discursos de inovação com a maquiagem carregada de um pretenso sucesso.
E o que faz Valci Pelé, o primeiro idealizador de uma técnica real aplicada ao conhecimento tácito e à inspiração natural do passista de escola de samba, em meio a todas as possibilidades que a mídia e a comercialização do samba poderiam lhe oferecer, sendo ele uma “celebridade do samba” – o mais premiado e professoral ativista da dança do samba das quadras e da avenida?
Antes de mais nada, ele não se rende aos modismos – embora seja efetivamente o mais “moderno” de todos em termos de inovação no segmento. Em vez disso, ele volta às origens, a um contexto antropológico de ancestralidade do samba e da cultura negra afro-atlântica, para resgatar o legado dos baluartes, das matriarcas e patriarcas da casa, de uma verdade histórica cheia de simbolismos e constitutiva de uma herança cultural dentro da escola de samba – de um território de samba que é, no caso, a Unidos do Viradouro, onde ele, em poucos anos, já realiza um trabalho memorável.
Em um momento em que a dança dos passistas se estrangeiriza e aposta na midiatização, Valci “devora” a pressão midiática do que lhe é alheio e estranho, reprocessa com signos atávicos, históricos e territoriais do samba e subverte o que tenta lhe dominar: devolve um produto autêntico, visceral, poderoso e absolutamente genuíno. É ele quem ganha a mídia, não o contrário.
Em tempos em que o samba está sob sério risco de ostracismo mediante perseguições politicas e sistemas de dominação dentro de seu próprio território, a midiatização vulgarizante das redes sociais facilita a difusão de ideias contrárias aos valores genuínos do samba – que, por razões estritamente comerciais, só servem para fortalecer o sistema que hoje domina as escolas. Na contramão de tudo isso, o trabalho de Valci internaliza a cultura da Viradouro dentro de seu segmento, de certa forma doutrinando seus passistas a valorizarem mais a história peculiar da escola e seus valores de referência. Quando a busca desenfreada pela novidade descambar no vazio, a grande “novidade” será a essência. E é nisso que a filosofia de Valci parece claramente apostar: na verdade da arte, não na megalomania do showbusiness. É uma lógica de contracultura, de resistência, de preservação.
Que fique registrado esse pensamento tão relevante e exemplar de Valci Pelé e de toda a ala de passistas da Unidos do Viradouro sobre legados de escola de samba! Uma verdade que poucos difundem, e algo que o samba tanto precisa para fazer prevalecer sua essência e sua verdadeira resistência cultural – que é coletiva, de um povo, uma raça, uma nação!
Uma nação hoje formada por passistas-artistas do samba no pé como Aline Nascimento, Kelly Quintanilha, Tuanny Simas, Kelly Pitanga, Belinha Delfim, Thabata Cardoso, Vivi de Assis, Carol Portugal, Dany Silverio, Jhenifer, Taiana, Thamara, Márcia Silva, Thays Busson, Joyce Martins, Juliana Dornellas, Taylane, Angélica Araújo, Aline Santos, Vivi Assis, Preta Coutinho, Kayala Crioula, Leandra Rosa, Natalye, Tainá Pinto, Aysha, Paula Raisa, Daniele Silva, Daniella Garrido, Ramaris, Nathy, Nicolle, Aisha, Anny, Állyne Corrêa, Paolla Nascimento, Kissela Morena, Yasmin Félix, Thata Gonçalves, Carine Almeida, Priscila Pacheco, Esther Vasconcelos, Andressa Ramos, Paulo Precioso, Luiz Otávio Campista, Leandro Hardoim, Pablo Jales, Altair Honorato, Willians Marins, Luiz Otávio dos Anjos, Kaiser Soares, Cauã Fernandes, Gustavo Leandro, Robson Silva, Renato Metello, Rodrigo Salvatore, Flávio Smith, Filipe Fernandes, Felipe Soares, Wladimir Paim, Agni Havea, Yure Laurente, Flávio Ribeiro, Léo Medeiros, David Bigo, Marcos Vinicius, Anderson Magalhães,, Moisés Gonçalves, João Oliveira, Léo Medeiros e Edy Araújo.
Meu respeito, carinho e reverência a todos esses PASSISTAS!
Revivendo a nossa história quero começar agradecendo a Ala de Passistas pelo acolhimento, carinho e respeito recebidos, neste período de construção e organização desta família.
Tem sido um divisor de águas trabalhar no G.R.E.S. Unidos do Viradouro. Posso dar vida a alguns sonhos que o Sr. Marcelo tem em relação à Ala e isso se reflete na confiança em meu trabalho junto à vocês.
É gratificante trabalhar no que gostamos e respeitamos e ver presente em nossa dança a semente plantada com a essência dos grandes baluartes que se fizeram presentes na história do Samba. Sendo assim pesquisei sobre os Grandes Notáveis da Dança do Samba da Unidos do Viradouro. Grandes nomes como Tia Dayse, Sra. Ivanir, Maria Cristina e o Saudoso Diretor das Passistas, Ivan Rabelo. No passado a Ala de Passistas era composta somente por Mulatas. Tia Cléa fez parte dessa grande ala riscando o chão de poesia com seu gingado e samba no pé. Hoje esses mesmos pés calejados coordenam a Ala das Mães Baianas girando em nosso templo do samba dando continuidade a linda história, que temos a responsabilidade de preservar e respeitar essa Arte que tanto amamos.
Hoje vejo que entre tantos contratempos e floreios, as pessoas deixaram de manter o que há de mais belo em nossa Arte, que é fazer o seu personagem de origem.
Sabemos que a vida está sempre em movimento, evoluindo a passos largos e firmes mas temos que preservar, desenvolver e incentivar a essência e os fundamentos da dança do Samba. Fico feliz quando o nosso bailado influencia outras formas de manifestação de dança, porém triste quando vejo agregarem à dança do Samba gestuais que deixam nossos fundamentos em segundo PLANO. A Dança do Samba só será reconhecida como tal se respeitarmos esses fundamentos. Não podemos mudar o que está escrito e enraizado em nossa ancestralidade e na nossa Cultura. O samba dançado da Cabrocha é mostrar o seu tufão nos quadris e sensualizar sem ser vulgar e o Passista Masculino deve riscar o chão de poesia, com seus floreios no corta jaca e no passo tesoura cortejando a cabrocha.
Tenham certeza que somos a resistência e a história da Arte da Dança do Samba.