Divertida Mente 2 é um filme mais adulto que o anterior
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd Há nove anos, a Casa do Mickey surpreendeu a todos com uma animação, produzida por sua subsidiária Pixar Animation, que tinha a ousadia como guia, uma vez que a missão de dar vida a emoções humanas de maneira a criar uma história elaborada com esmero, capaz […]
POR Ana Carolina Garcia17/06/2024|5 min de leitura
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd
Há nove anos, a Casa do Mickey surpreendeu a todos com uma animação, produzida por sua subsidiária Pixar Animation, que tinha a ousadia como guia, uma vez que a missão de dar vida a emoções humanas de maneira a criar uma história elaborada com esmero, capaz de estabelecer diálogo tanto com crianças quanto com adultos, não era fácil.
Ousadia que pode ser comparada àquela que guiou Walt Disney e seus animadores de elite nos anos 1930, quando desenvolviam “Branca de Neve e os Sete Anões” (Snow White and the Seven Dwarfs – 1937, EUA), o longa chamado pela comunidade hollywoodiana de “a loucura de Disney”, dirigido por William Cottrell, David Hand e Wilfred Jackson. E tal qual a animação protagonizada pela primeira princesa do estúdio, “Divertida Mente” (Inside Out – 2015, EUA) conquistou público e crítica na mesma intensidade, sendo ovacionado no Festival de Cannes e reconhecido com diversos prêmios, entre eles, o Oscar de melhor animação.
Dirigido por Pete Docter e Ronnie Del Carmen, “Divertida Mente” é um dos títulos mais complexos produzidos pela Pixar, explorando a originalidade da trama proposta com genialidade, o que elevou, e muito, a expectativa em torno de sua sequência, “Divertida Mente 2” (Inside Out 2 – 2024, EUA), que chega às salas de exibição brasileiras na próxima quinta-feira (20) – quando divulgado em novembro do ano passado, o trailer teve 157 milhões de visualizações em apenas 24 horas, segundo a Variety, tornando-se o mais assistido dentre todos das animações Disney.
Estreia de Kelsey Mann na direção de longas-metragens, a nova animação da Casa do Mickey tem a responsabilidade de reconquistar a fidelidade da plateia após dois lançamentos que muito prometeram e pouco entregaram, “Elementos” (Elemental – 2023, EUA), de Peter Sohn, e “Wish – O Poder dos Desejos” (Wish – 2023, EUA), de Chris Buck e Fawn Veerasunthorn – este último, apresentado como grande homenagem ao centenário do estúdio fundado pelos irmãos Walt e Roy Disney em 1923.
Homenageando os 100 anos da The Walt Disney Company mostrando uma mesa que remete à de animação criada pelo animador Frank Thomas, com design do arquiteto Kem Weber, no início dos anos 1940, “Divertida Mente 2” mantém a essência de seu antecessor, bem como o rigor técnico, algo que pode ser observado, por exemplo, na sequência que as emoções originais de Riley dividem com personagens do desenho animado assistido pela agora adolescente em sua infância. São detalhes que mostram ao espectador o empenho da equipe deste longa tecnicamente primoroso no momento em que a Pixar enfrenta problemas criativos que precisam ser superados o quanto antes para evitar fase similar à enfrentada pela Disney Animation nas décadas de 1970 e 1980.
Sequência direta do original, “Divertida Mente 2” mostra Riley (Kensington Tallman) entrando na puberdade, colocando suas emoções à flor da pele. Com isso, Alegria (Joy, voz de Amy Poehler) se vê numa situação delicada depois da reestruturação de sua sala de controle, assim como seus fiéis companheiros, Tristeza (Sadness, voz de Phyllis Smith), Nojinho (Disgust, voz de Liza Lapira), Medo (Fear, voz de Tony Hale) e Raiva (Anger, voz de Lewis Black), que se preocupam com a chegada de novas emoções: Ansiedade (Anxiety, voz de Maya Hawke), Tédio (Ennui, voz de Adèle Exarchopoulos), Vergonha (Embarrassment, voz de Paul Walter Hauser) e Inveja (Envy, voz de Ayo Edebiri). E a preocupação se justifica, principalmente, pelas ações da Ansiedade.
Dublada por Tatá Werneck na versão brasileira, Ansiedade é a personagem responsável por aumentar a expectativa, especialmente da fatia adulta do público, em torno desta animação. Contudo, a personagem carece de lapidação, principalmente quando assume o controle outrora pertencente à Alegria. Mesmo assim, a posição que ocupa na sala, por vezes colocando em xeque a essência da adolescente, permite que os adultos se identifiquem com determinadas situações, transmitindo a mensagem de que a ansiedade precisa ser controlada, assim como outras emoções, para que o indivíduo encontre o equilíbrio e a harmonia.
No entanto, uma das mensagens mais importantes de “Divertida Mente 2” é a de que a vida não é feita apenas de bons momentos. As situações ruins também ajudam a moldar o indivíduo, e não podem ser esquecidas por ele, que precisa aprender a lidar com cada situação para aprender com seus erros, amadurecer e, então, seguir em frente. Neste sentido, apesar de cenas cômicas para o público infantil, a nova animação Disney/Pixar é um filme mais adulto que o anterior.
+ assista ao trailer oficial legendado:
Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd
Há nove anos, a Casa do Mickey surpreendeu a todos com uma animação, produzida por sua subsidiária Pixar Animation, que tinha a ousadia como guia, uma vez que a missão de dar vida a emoções humanas de maneira a criar uma história elaborada com esmero, capaz de estabelecer diálogo tanto com crianças quanto com adultos, não era fácil.
Ousadia que pode ser comparada àquela que guiou Walt Disney e seus animadores de elite nos anos 1930, quando desenvolviam “Branca de Neve e os Sete Anões” (Snow White and the Seven Dwarfs – 1937, EUA), o longa chamado pela comunidade hollywoodiana de “a loucura de Disney”, dirigido por William Cottrell, David Hand e Wilfred Jackson. E tal qual a animação protagonizada pela primeira princesa do estúdio, “Divertida Mente” (Inside Out – 2015, EUA) conquistou público e crítica na mesma intensidade, sendo ovacionado no Festival de Cannes e reconhecido com diversos prêmios, entre eles, o Oscar de melhor animação.
Dirigido por Pete Docter e Ronnie Del Carmen, “Divertida Mente” é um dos títulos mais complexos produzidos pela Pixar, explorando a originalidade da trama proposta com genialidade, o que elevou, e muito, a expectativa em torno de sua sequência, “Divertida Mente 2” (Inside Out 2 – 2024, EUA), que chega às salas de exibição brasileiras na próxima quinta-feira (20) – quando divulgado em novembro do ano passado, o trailer teve 157 milhões de visualizações em apenas 24 horas, segundo a Variety, tornando-se o mais assistido dentre todos das animações Disney.
Estreia de Kelsey Mann na direção de longas-metragens, a nova animação da Casa do Mickey tem a responsabilidade de reconquistar a fidelidade da plateia após dois lançamentos que muito prometeram e pouco entregaram, “Elementos” (Elemental – 2023, EUA), de Peter Sohn, e “Wish – O Poder dos Desejos” (Wish – 2023, EUA), de Chris Buck e Fawn Veerasunthorn – este último, apresentado como grande homenagem ao centenário do estúdio fundado pelos irmãos Walt e Roy Disney em 1923.
Homenageando os 100 anos da The Walt Disney Company mostrando uma mesa que remete à de animação criada pelo animador Frank Thomas, com design do arquiteto Kem Weber, no início dos anos 1940, “Divertida Mente 2” mantém a essência de seu antecessor, bem como o rigor técnico, algo que pode ser observado, por exemplo, na sequência que as emoções originais de Riley dividem com personagens do desenho animado assistido pela agora adolescente em sua infância. São detalhes que mostram ao espectador o empenho da equipe deste longa tecnicamente primoroso no momento em que a Pixar enfrenta problemas criativos que precisam ser superados o quanto antes para evitar fase similar à enfrentada pela Disney Animation nas décadas de 1970 e 1980.
Sequência direta do original, “Divertida Mente 2” mostra Riley (Kensington Tallman) entrando na puberdade, colocando suas emoções à flor da pele. Com isso, Alegria (Joy, voz de Amy Poehler) se vê numa situação delicada depois da reestruturação de sua sala de controle, assim como seus fiéis companheiros, Tristeza (Sadness, voz de Phyllis Smith), Nojinho (Disgust, voz de Liza Lapira), Medo (Fear, voz de Tony Hale) e Raiva (Anger, voz de Lewis Black), que se preocupam com a chegada de novas emoções: Ansiedade (Anxiety, voz de Maya Hawke), Tédio (Ennui, voz de Adèle Exarchopoulos), Vergonha (Embarrassment, voz de Paul Walter Hauser) e Inveja (Envy, voz de Ayo Edebiri). E a preocupação se justifica, principalmente, pelas ações da Ansiedade.
Dublada por Tatá Werneck na versão brasileira, Ansiedade é a personagem responsável por aumentar a expectativa, especialmente da fatia adulta do público, em torno desta animação. Contudo, a personagem carece de lapidação, principalmente quando assume o controle outrora pertencente à Alegria. Mesmo assim, a posição que ocupa na sala, por vezes colocando em xeque a essência da adolescente, permite que os adultos se identifiquem com determinadas situações, transmitindo a mensagem de que a ansiedade precisa ser controlada, assim como outras emoções, para que o indivíduo encontre o equilíbrio e a harmonia.
No entanto, uma das mensagens mais importantes de “Divertida Mente 2” é a de que a vida não é feita apenas de bons momentos. As situações ruins também ajudam a moldar o indivíduo, e não podem ser esquecidas por ele, que precisa aprender a lidar com cada situação para aprender com seus erros, amadurecer e, então, seguir em frente. Neste sentido, apesar de cenas cômicas para o público infantil, a nova animação Disney/Pixar é um filme mais adulto que o anterior.
+ assista ao trailer oficial legendado:
Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.