Estudo publicado online na revista “Journal of Clinical Oncology” sobre o papel da alimentação no câncer pulmonar destaca que a alta ingestão de gordura poli-insaturada diminuiu o risco da doença. “Nesta semana fomos positivamente surpreendidos com a publicação sugerindo uma inédita associação entre a ingestão de gordura saturada na dieta e a neoplasia pulmonar”, disse Fabiano Souza, médico oncologista do Hospital do Câncer Mãe de Deus.
Os quase 1,5 milhão de participantes do trabalho foram agrupados de 10 estudos diferentes. Comparando as pessoas que mais consumiram gordura saturada com aquelas com a menor ingestão, os pesquisadores encontraram um aumento de 14% do risco de câncer pulmonar. Quando são analisados somente os fumantes atuais versus não fumantes e ex-fumantes, o aumento do risco chega a 23%.
Outro resultado interessante é o fato de que a alta ingestão de gordura poli-insaturada diminuiu o risco da neoplasia pulmonar. “Uma substituição de somente 5% da gordura saturada pela poli-insaturada foi associada a redução entre 16% a 17% de risco de câncer de pulmão de diferentes tipos histológicos. Tal substituição parece algo factível de ser realizada pelas pessoas se houver orientação profissional”, explica Souza. “Apesar de o estudo não ser a palavra final para estabelecer esta associação como definitiva, os resultados estão alinhados com outras pesquisas na área, que sugerem o malefício das gorduras saturadas e um benefício das gorduras poli-insaturadas na dieta”, completa o especialista.
O oncologista destaca que o combate ao tabagismo continua como prioridade para prevenir o câncer de pulmão. “Mas agora podemos recomendar também uma pequena substituição da gordura saturada para a poli-insaturada, principalmente para os fumantes, como mais uma estratégia preventiva”, afirma. A relação entre a ingesta alimentar de gordura e o risco de desenvolver câncer tem sido relatada nos últimos anos.
Os especialistas têm encontrado crescentes evidências de que o tipo de gordura ingerido pode ser mais importante para o excesso de risco de câncer e outras doenças crônicas do que a quantidade total de gorduras ingeridas. Já é conhecido que é preciso evitar ao máximo a ingestão de gordura trans de alimentos processados como biscoitos e salgadinhos. A substituição da gordura trans e da gordura saturada para as poli-insaturadas reduz o risco cardíaco dos indivíduos.
Souza observa, porém, que para diminuir o risco de câncer, o papel desta substituição de gorduras saturadas para poli-insaturadas é ainda bastante controverso. Enquanto alguns estudos científicos encontraram associação entre o consumo de grandes quantidades de gordura e o risco de câncer, outros não confirmaram esses achados. No caso do câncer de pulmão, o maior fator de risco disparado é o tabagismo. Outros fatores são a radiação ionizante, asbestos e metais como o níquel e arsênico. No entanto, pouquíssimos estudos até o momento tinham avaliado de forma consistente o papel da alimentação no desenvolvimento do câncer pulmonar.
As estimativas do Instituto Nacional de Câncer, para 2016/2017, são de cerca de 28.220 novos casos de câncer de pulmão (17.330 em homens e 10.890 em mulheres) no Brasil. O câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer entre homens e mulheres.
Gorduras poli-insaturadas:
A gordura poli-insaturada é rica em ácidos graxos essenciais, o Ômega 3 e Ômega 6, substâncias que não são produzidas pelo organismo mas devem ser consumidas, tendo que ser obtidas por meio da alimentação; também auxilia na redução e controle dos níveis de colesterol no sangue. O único ponto negativo é que ela reduz tanto o colesterol ruim (LDL) quanto o bom colesterol (HDL). Pode ser encontrada nos seguintes alimentos: óleo de soja, girassol, canola, milho; em peixes como o atum, sardinha e em frutos do mar; nozes e sementes de abóbora.