O Relógio que Corta a Carne

  • Icon instagram_blue
  • Icon youtube_blue
  • Icon x_blue
  • Icon facebook_blue
  • Icon google_blue

A TV “martelou” e as escolas tiveram que acatar: para não ferir a grade de programação da emissora que mecenariza (ou, para muitos, “mercenariza”) a transmissão do carnaval na telinha, foram necessários cortes nos tempos de desfiles. Mais precisamente: de 82 para 75 minutos por escola do Grupo Especial. Isso já foi noticiado, debatido, criticado […]

POR Hélio Rainho08/11/2016|4 min de leitura

O Relógio que Corta a Carne
| Siga-nos Google News

A TV “martelou” e as escolas tiveram que acatar: para não ferir a grade de programação da emissora que mecenariza (ou, para muitos, “mercenariza”) a transmissão do carnaval na telinha, foram necessários cortes nos tempos de desfiles. Mais precisamente: de 82 para 75 minutos por escola do Grupo Especial. Isso já foi noticiado, debatido, criticado etc e tal. Qual seria, então, a novidade com relação a esse assunto?

A novidade é que saímos do “plano da decisão” para o “plano decisivo”. Da teoria para a prática. E é neste exato momento que estamos conhecendo as medidas de cada escola do Grupo Especial para se adaptar a esta realidade. Pelo que estams entendendo, a hora em que “cortar” será a saída de todas as escolas.

O primeiro corte não sangra. Embora traga substancial prejuízo à lógica criativa dos desfiles. Até então uma escola de samba do Especial apresentava-se com cinco setores. Agora ou terá quatro ou precisará redistribuir seus componentes em quantidades menores para manter os cinco. Perder-se-á, também, um carro alegórico de cada escola. É bem verdade que nossos artistas são criativos e engenhosos o suficiente para adaptarem suas criações a esse novo modelo, suprimindo suas histórias em um capítulo a menos. Não esqueçamos: o desfile de escolas de samba é uma narrativa dramática, um poema épico ou uma peça de teatro em atos. Cortado um setor, será preciso “espalhar” a lógica da narrativa pelos outros para dar sentido à trama. Alguém de fora alterou a lógica criativa dos verdadeiros autores dessa estrutura dramática! Quem decidiu não executa esse processo criativo. Mesmo que muitos desses artistas apareçam dizendo que pra eles “está tudo bem”, não se enganem: estão todos submetidos a estruturas de poder que delimitam suas opiniões. Para o bem de sua arte e do desenvolvimento de seus projetos, não caberá a eles questionar as “mudanças patronais”. Isso me lembra o samba antigo na voz de Roberto Silva: “O Seu Libório é quem manda!”. Mas nós, os críticos e analistas da festa, temos essa obrigação de levantar as questões em debate, independente dos “Libórios”.

O segundo corte…esse doerá na carne. Está prevista uma redução qu pode girar em torno de até mil pessoas em determinadas escolas. Razão clara: ninguém consegue fazer passar um contingente tão grande de pessoas numa redução tão brutal de tempo, Aquela palavra “setores” a que nos reportamos lá no parágrafo acima, quando ganha vida na avenida, vira GENTE! A comunidade de uma escola! Setores são preenchidos com gente: são os componentes. As saídas possíveis para as escolas que têm muita gente hoje? Reduzir o quantitativo de alas comerciais (quem tem cacife econômico para isso?) ou manter as alas comerciais e reduzir os quadros de componentes de comunidade, que ganham fantasia da própria escola.

Certamente haverá aí uma grande controvérsia caso a opção em manter alas comerciais prevaleça sobre o respeito devido aos componentes da comunidade. Convenhamos: financeiramente a escola que perde um carro e um setor inteiro por força da nova convenção com a TV terá menos gastos! Some isso: uma alegoria e provavelmente mil fantasias a menos. No bolso, dá uma boa economia. Uma alegoria e muitas fantasias a menos significam, numa variável muito grande de valor estimado, alguma economia de recursos. A “sobra” desse recurso não resolve os problemas financeiros de uma escola de samba hoje, mas esse valor, sendo poupado, certamente dispensaria a preferência por alas comerciais em detrimento de pessoas da própria comunidade. E já temos algumas notícias de que muitas escolas estão “varrendo” seu povo, seja por força da nova norma, seja por esse critério.

A verdade é que, mais uma vez, o lado triste dessa história é ver o espetáculo e a manifestação cultural serem alterados por uma decisão externa. Não são os artistas, nem os artesãos, nem os componentes quem decidiram sobre isso. E tudo não passará de discurso de que é “pelo bem do carnaval”, “um ajuste necessário”, “estava cansativo demais” e outras falácias do gênero.

E a dor do corte será na carne. Pois é de carne que é feito o sambista, o componente, o crioulo do morro que, passo a passo, perde protagonismo e seu papel nessa trama…

A TV “martelou” e as escolas tiveram que acatar: para não ferir a grade de programação da emissora que mecenariza (ou, para muitos, “mercenariza”) a transmissão do carnaval na telinha, foram necessários cortes nos tempos de desfiles. Mais precisamente: de 82 para 75 minutos por escola do Grupo Especial. Isso já foi noticiado, debatido, criticado etc e tal. Qual seria, então, a novidade com relação a esse assunto?

A novidade é que saímos do “plano da decisão” para o “plano decisivo”. Da teoria para a prática. E é neste exato momento que estamos conhecendo as medidas de cada escola do Grupo Especial para se adaptar a esta realidade. Pelo que estams entendendo, a hora em que “cortar” será a saída de todas as escolas.

O primeiro corte não sangra. Embora traga substancial prejuízo à lógica criativa dos desfiles. Até então uma escola de samba do Especial apresentava-se com cinco setores. Agora ou terá quatro ou precisará redistribuir seus componentes em quantidades menores para manter os cinco. Perder-se-á, também, um carro alegórico de cada escola. É bem verdade que nossos artistas são criativos e engenhosos o suficiente para adaptarem suas criações a esse novo modelo, suprimindo suas histórias em um capítulo a menos. Não esqueçamos: o desfile de escolas de samba é uma narrativa dramática, um poema épico ou uma peça de teatro em atos. Cortado um setor, será preciso “espalhar” a lógica da narrativa pelos outros para dar sentido à trama. Alguém de fora alterou a lógica criativa dos verdadeiros autores dessa estrutura dramática! Quem decidiu não executa esse processo criativo. Mesmo que muitos desses artistas apareçam dizendo que pra eles “está tudo bem”, não se enganem: estão todos submetidos a estruturas de poder que delimitam suas opiniões. Para o bem de sua arte e do desenvolvimento de seus projetos, não caberá a eles questionar as “mudanças patronais”. Isso me lembra o samba antigo na voz de Roberto Silva: “O Seu Libório é quem manda!”. Mas nós, os críticos e analistas da festa, temos essa obrigação de levantar as questões em debate, independente dos “Libórios”.

O segundo corte…esse doerá na carne. Está prevista uma redução qu pode girar em torno de até mil pessoas em determinadas escolas. Razão clara: ninguém consegue fazer passar um contingente tão grande de pessoas numa redução tão brutal de tempo, Aquela palavra “setores” a que nos reportamos lá no parágrafo acima, quando ganha vida na avenida, vira GENTE! A comunidade de uma escola! Setores são preenchidos com gente: são os componentes. As saídas possíveis para as escolas que têm muita gente hoje? Reduzir o quantitativo de alas comerciais (quem tem cacife econômico para isso?) ou manter as alas comerciais e reduzir os quadros de componentes de comunidade, que ganham fantasia da própria escola.

Certamente haverá aí uma grande controvérsia caso a opção em manter alas comerciais prevaleça sobre o respeito devido aos componentes da comunidade. Convenhamos: financeiramente a escola que perde um carro e um setor inteiro por força da nova convenção com a TV terá menos gastos! Some isso: uma alegoria e provavelmente mil fantasias a menos. No bolso, dá uma boa economia. Uma alegoria e muitas fantasias a menos significam, numa variável muito grande de valor estimado, alguma economia de recursos. A “sobra” desse recurso não resolve os problemas financeiros de uma escola de samba hoje, mas esse valor, sendo poupado, certamente dispensaria a preferência por alas comerciais em detrimento de pessoas da própria comunidade. E já temos algumas notícias de que muitas escolas estão “varrendo” seu povo, seja por força da nova norma, seja por esse critério.

A verdade é que, mais uma vez, o lado triste dessa história é ver o espetáculo e a manifestação cultural serem alterados por uma decisão externa. Não são os artistas, nem os artesãos, nem os componentes quem decidiram sobre isso. E tudo não passará de discurso de que é “pelo bem do carnaval”, “um ajuste necessário”, “estava cansativo demais” e outras falácias do gênero.

E a dor do corte será na carne. Pois é de carne que é feito o sambista, o componente, o crioulo do morro que, passo a passo, perde protagonismo e seu papel nessa trama…

Notícias Relacionadas

Ver tudo