ARTIGO: A desumanidade do ser humano

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Acabei de ler â??O atentadoâ? do argelino Mohamed Moulessehoul, que escreve sob o pseudônimo de Yasmina Khadra. Ã? uma ótima leitura para quem quer um panorama sobre a realidade dos ataques suicidas praticados por grupos radicais.

POR Redação SRzd12/06/2006|3 min de leitura

ARTIGO: A desumanidade do ser humano
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Acabei de ler ‘O atentadoâ? do argelino Mohamed Moulessehoul, que escreve sob o pseudônimo de Yasmina Khadra. É uma ótima leitura para quem quer um panorama sobre a realidade dos ataques suicidas praticados por grupos radicais. Amin, um cirurgião palestino naturalizado israelense que não toma partido de nenhum dos dois lados, luta para entender o que se passava na cabeça de sua esposa quando decidiu se transformar em mulher-bomba e explodir uma lanchonete matando civis inocentes e ferindo tantos outros. O médico lida tanto com a dor da perda de sua mulher como seu ódio pelo que ela fez, ressaltando que a meta de sua vida sempre foi salvar pessoas.

O livro me despertou duas reflexões. Fez-me pensar sobre os civis inocentes que vivem os horrores da guerra em Israel, pessoas como eu e como você que não concordam com as atrocidades e que vivem no dia-a-dia o medo que uma bomba caia sobre suas cabeças – concepções generalistas e preconceituosas formadas na pressa do cotidiano nos induz a juntar no mesmo saco militantes do Hamas e cidadãos israelenses.

A segunda reflexão diz respeito às causas que estão por trás das explosões e dos assassinatos que sempre pontuam a história mundial. As revistas “Newsweek” e “Time” desta semana trazem como reportagem de capa o já chamado ‘Massacre de Hadithaâ?, onde 24 iraquianos desarmados teriam sido mortos por fuzileiros navais dos Estados Unidos. A “Newsweek” questiona se os militares bateram e escravizaram civis inocentes a sangue frio.

O que leva o ser humano a atos desumanos como esses? Tal pergunta me remete ao extermínio de judeus durante o Nazismo; ao genocídio em Ruanda, no qual cinco vidas foram exterminadas por minuto durante cem dias, em um total de 800 mil assassinatos.

Causas históricas e políticas? Existem centenas de teorias, mas quando se vê a foto de uma criança morta num ataque suicida, ou restos de pessoas sob escombros, as explicações parecem tão vazias e o efeito acaba sendo o mesmo que um placebo. Um livro interessante sobre o genocídio em Ruanda é ‘Uma temporada de facõesâ?, de Jean Hatzfeld. O jornalista entrevistou os próprios assassinos e coletou depoimentos como estes: ‘A regra número um era matar. A regra número dois, não haviaâ? e ‘É muito difícil nos julgar. Porque o que fizemos vai além da imaginação humanaâ?.

Livros como ‘O atentadoâ? e ‘Uma temporada de facõesâ? não trazem conclusões e muito menos conforto, mas são valiosos porque chocam ao mostrar a realidade. Se conseguirem fazer o leitor parar suas tarefas do dia-a-dia por um instante para pensar sobre o assunto, o trabalho de seus autores já terá sido recompensado.

Jacqueline Sobral é jornalista e especialista em Relações Internacionais.

Acabei de ler ‘O atentadoâ? do argelino Mohamed Moulessehoul, que escreve sob o pseudônimo de Yasmina Khadra. É uma ótima leitura para quem quer um panorama sobre a realidade dos ataques suicidas praticados por grupos radicais. Amin, um cirurgião palestino naturalizado israelense que não toma partido de nenhum dos dois lados, luta para entender o que se passava na cabeça de sua esposa quando decidiu se transformar em mulher-bomba e explodir uma lanchonete matando civis inocentes e ferindo tantos outros. O médico lida tanto com a dor da perda de sua mulher como seu ódio pelo que ela fez, ressaltando que a meta de sua vida sempre foi salvar pessoas.

O livro me despertou duas reflexões. Fez-me pensar sobre os civis inocentes que vivem os horrores da guerra em Israel, pessoas como eu e como você que não concordam com as atrocidades e que vivem no dia-a-dia o medo que uma bomba caia sobre suas cabeças – concepções generalistas e preconceituosas formadas na pressa do cotidiano nos induz a juntar no mesmo saco militantes do Hamas e cidadãos israelenses.

A segunda reflexão diz respeito às causas que estão por trás das explosões e dos assassinatos que sempre pontuam a história mundial. As revistas “Newsweek” e “Time” desta semana trazem como reportagem de capa o já chamado ‘Massacre de Hadithaâ?, onde 24 iraquianos desarmados teriam sido mortos por fuzileiros navais dos Estados Unidos. A “Newsweek” questiona se os militares bateram e escravizaram civis inocentes a sangue frio.

O que leva o ser humano a atos desumanos como esses? Tal pergunta me remete ao extermínio de judeus durante o Nazismo; ao genocídio em Ruanda, no qual cinco vidas foram exterminadas por minuto durante cem dias, em um total de 800 mil assassinatos.

Causas históricas e políticas? Existem centenas de teorias, mas quando se vê a foto de uma criança morta num ataque suicida, ou restos de pessoas sob escombros, as explicações parecem tão vazias e o efeito acaba sendo o mesmo que um placebo. Um livro interessante sobre o genocídio em Ruanda é ‘Uma temporada de facõesâ?, de Jean Hatzfeld. O jornalista entrevistou os próprios assassinos e coletou depoimentos como estes: ‘A regra número um era matar. A regra número dois, não haviaâ? e ‘É muito difícil nos julgar. Porque o que fizemos vai além da imaginação humanaâ?.

Livros como ‘O atentadoâ? e ‘Uma temporada de facõesâ? não trazem conclusões e muito menos conforto, mas são valiosos porque chocam ao mostrar a realidade. Se conseguirem fazer o leitor parar suas tarefas do dia-a-dia por um instante para pensar sobre o assunto, o trabalho de seus autores já terá sido recompensado.

Jacqueline Sobral é jornalista e especialista em Relações Internacionais.

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