ARTIGO: Falta de objetividade

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Leia o artigo do ex-presidente da Xerox do Brasil.

POR Redação SRzd06/09/2006|5 min de leitura

ARTIGO: Falta de objetividade
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Parecem completamente fora de contexto os acalorados debates que se travam a propósito da audácia dos criminosos, que assaltam à luz do dia, aterrorizam a população das nossas cidades e, mais recentemente, realizam ataques a postos de polícia, bancos e prédios governamentais. Governo e oposição, Estados e a União, sem jamais entrar no âmago do problema, apontam o dedo uns para os outros e se enrolam num bate-boca estéril sobre quem é o responsável e concentram fogos na questão da distribuição de verbas para a Segurança Pública, tentando fazer crer que, liberados os recursos financeiros prometidos, tudo estaria resolvido. O noticiário que aparece nos órgãos de imprensa evidencia, acima de qualquer dúvida, que os presídios são de fato, controlados pelos presos. Ali, rotineiramente e sem muita dificuldade, entram drogas, armas, telefones celulares, cujo bloqueio, uma tarefa tecnologicamente simples, parece estar muito acima das possibilidades das nossas autoridades. Em todo o país, a imagem que passa o aparato policial e prisional é simplesmente lastimável. Viaturas caindo aos pedaços, instalações físicas em ruinas, processos de trabalho sem um mínimo de eficácia, inexistência de capacidade investigativa, frouxidão gerencial e indisciplina endêmica. Os agentes da lei, dentro e fora dos presídios, podem ser divididos em dois grupos, os que estão batendo cabeça, perdidos, sem qualquer estratégia e os que dificilmente se livram da acusação de conivência com o crime. E segue a bizantina discussão sobre a necessidade de mais verbas.

O caso da Segurança Pública não é diferente do que acontece na gestão da Saude e da Educação. Também aí, as discussões giram sempre em torno da carência de recursos financeiros. Quase não se ouvem referências ao modelo e aos processos utilizados na gestão pública brasileira. A ineficácia deste modelo está mais do que provada e dela resultam os colossais desperdícios que caracterizam o uso de verbas públicas. Esta mesma ineficácia gerou um número colossal de leis, decretos, portarias, instruções normativas, ordens de serviço, um cipoal absurdo, sem pé nem cabeça, incompreensível para o contribuinte, porém extremamente valioso para a indústria do achaque e da propina. Uma solene ineficácia que também abre as portas dos cofres da União, Estados e Municípios às máfias de todo gênero e, ao mesmo tempo, dificulta, quando não inviabiliza, a punição dos larápios. Neste clima de impunidade generalizada, não é estranhável que, a cada vitória dos mensaleiros e dos sanguessugas, os seus dignos representantes rebolem descaradamente no plenário do Congresso Nacional, debochando de nós outros, os trouxas que financiamos a sua farra.

Mesmo que uma improvável epidemia de honestidade se abatesse sobre o Brasil, ainda assim, o poder público continuaria, por incapacidade gerencial, jogando fora pelo menos 40% dos recursos orçamentários, engolidos por uma burocracia medieval que, na maioria dos ógãos estatais, resiste a todos os esforços de simplificação e modernização. Comprovadamente, pagamos no Brasil um nível de tributos que o mundo não conhecia desde o fim do regima feudal, cinco séculos atras. Não obstante, os nossos governantes continuam insistindo em que há necessidade de mais dinheiro para fazer o país funcionar.

É bem verdade que, graças a uma imprensa livre e independente, vemos, diariamente, a denúncia deste caos que preside a relação da sociedade brasileira com os seus governantes.
Mas não basta a denúncia. Nossos políticos são habeis o suficiente para sempre escapar das perguntas incômodas, talvez porque a imprensa ainda não esteja usando, maciça e sistematicamente, o poder da chamada “segunda pergunta”. Proponho que os jornalistas investigativos sejam instruidos para nunca aceitar a primeira explicação. Se o malandro, diante da denúncia de uma robalheira numa repartição, informa que já abriu a competente sindicância, deve ser colocado contra a parede para informar dia e hora em que os resultados dessa investigação estarão disponíveis. Se trazida a alegação de que o tema é da competência de outra autoridade, exigir que esta seja claramente identificada para que dela se cobrem as ações cabíveis. Adicionalmente, a imprensa poderia prestar um imenso serviço ao país levantando os casos de sindicâcias internas em orgãos do serviço público que se eternizaram, não investigaram nem chegaram a qualquer conclusão e foram abandonadas ou arquivadas para alegria dos prevaricadores.

A voz da imprensa, que hoje funciona como caixa de ressonância para as frustrações da sociedade brasileira, é a nossa grande esperança. Se não acontecer uma grande cruzada que cobre ações afirmativas para atacar a incompetência e o descompromisso profissional da máquina estatal brasileira, se não se desenvolver uma imensa pressão para que sejam adequada e rapidamente punidos os desvios de conduta no trato do dinheiro público, tudo continuará no estado de proveitosa permissividade que incentiva e garante a farra com o produto dos impostos, taxas e contribuições com que o governo nos asfixia. Se nada mudar, teremos imensa dificuldade para convencer os nossos netos de que o trabalho e a honestidade ainda dignificam o ser humano.

Parecem completamente fora de contexto os acalorados debates que se travam a propósito da audácia dos criminosos, que assaltam à luz do dia, aterrorizam a população das nossas cidades e, mais recentemente, realizam ataques a postos de polícia, bancos e prédios governamentais. Governo e oposição, Estados e a União, sem jamais entrar no âmago do problema, apontam o dedo uns para os outros e se enrolam num bate-boca estéril sobre quem é o responsável e concentram fogos na questão da distribuição de verbas para a Segurança Pública, tentando fazer crer que, liberados os recursos financeiros prometidos, tudo estaria resolvido. O noticiário que aparece nos órgãos de imprensa evidencia, acima de qualquer dúvida, que os presídios são de fato, controlados pelos presos. Ali, rotineiramente e sem muita dificuldade, entram drogas, armas, telefones celulares, cujo bloqueio, uma tarefa tecnologicamente simples, parece estar muito acima das possibilidades das nossas autoridades. Em todo o país, a imagem que passa o aparato policial e prisional é simplesmente lastimável. Viaturas caindo aos pedaços, instalações físicas em ruinas, processos de trabalho sem um mínimo de eficácia, inexistência de capacidade investigativa, frouxidão gerencial e indisciplina endêmica. Os agentes da lei, dentro e fora dos presídios, podem ser divididos em dois grupos, os que estão batendo cabeça, perdidos, sem qualquer estratégia e os que dificilmente se livram da acusação de conivência com o crime. E segue a bizantina discussão sobre a necessidade de mais verbas.

O caso da Segurança Pública não é diferente do que acontece na gestão da Saude e da Educação. Também aí, as discussões giram sempre em torno da carência de recursos financeiros. Quase não se ouvem referências ao modelo e aos processos utilizados na gestão pública brasileira. A ineficácia deste modelo está mais do que provada e dela resultam os colossais desperdícios que caracterizam o uso de verbas públicas. Esta mesma ineficácia gerou um número colossal de leis, decretos, portarias, instruções normativas, ordens de serviço, um cipoal absurdo, sem pé nem cabeça, incompreensível para o contribuinte, porém extremamente valioso para a indústria do achaque e da propina. Uma solene ineficácia que também abre as portas dos cofres da União, Estados e Municípios às máfias de todo gênero e, ao mesmo tempo, dificulta, quando não inviabiliza, a punição dos larápios. Neste clima de impunidade generalizada, não é estranhável que, a cada vitória dos mensaleiros e dos sanguessugas, os seus dignos representantes rebolem descaradamente no plenário do Congresso Nacional, debochando de nós outros, os trouxas que financiamos a sua farra.

Mesmo que uma improvável epidemia de honestidade se abatesse sobre o Brasil, ainda assim, o poder público continuaria, por incapacidade gerencial, jogando fora pelo menos 40% dos recursos orçamentários, engolidos por uma burocracia medieval que, na maioria dos ógãos estatais, resiste a todos os esforços de simplificação e modernização. Comprovadamente, pagamos no Brasil um nível de tributos que o mundo não conhecia desde o fim do regima feudal, cinco séculos atras. Não obstante, os nossos governantes continuam insistindo em que há necessidade de mais dinheiro para fazer o país funcionar.

É bem verdade que, graças a uma imprensa livre e independente, vemos, diariamente, a denúncia deste caos que preside a relação da sociedade brasileira com os seus governantes.
Mas não basta a denúncia. Nossos políticos são habeis o suficiente para sempre escapar das perguntas incômodas, talvez porque a imprensa ainda não esteja usando, maciça e sistematicamente, o poder da chamada “segunda pergunta”. Proponho que os jornalistas investigativos sejam instruidos para nunca aceitar a primeira explicação. Se o malandro, diante da denúncia de uma robalheira numa repartição, informa que já abriu a competente sindicância, deve ser colocado contra a parede para informar dia e hora em que os resultados dessa investigação estarão disponíveis. Se trazida a alegação de que o tema é da competência de outra autoridade, exigir que esta seja claramente identificada para que dela se cobrem as ações cabíveis. Adicionalmente, a imprensa poderia prestar um imenso serviço ao país levantando os casos de sindicâcias internas em orgãos do serviço público que se eternizaram, não investigaram nem chegaram a qualquer conclusão e foram abandonadas ou arquivadas para alegria dos prevaricadores.

A voz da imprensa, que hoje funciona como caixa de ressonância para as frustrações da sociedade brasileira, é a nossa grande esperança. Se não acontecer uma grande cruzada que cobre ações afirmativas para atacar a incompetência e o descompromisso profissional da máquina estatal brasileira, se não se desenvolver uma imensa pressão para que sejam adequada e rapidamente punidos os desvios de conduta no trato do dinheiro público, tudo continuará no estado de proveitosa permissividade que incentiva e garante a farra com o produto dos impostos, taxas e contribuições com que o governo nos asfixia. Se nada mudar, teremos imensa dificuldade para convencer os nossos netos de que o trabalho e a honestidade ainda dignificam o ser humano.

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