INTERNACIONAL: O mundo esquece Darfur

  • Icon instagram_blue
  • Icon youtube_blue
  • Icon x_blue
  • Icon facebook_blue
  • Icon google_blue

Organizações humanitárias começam a sair do acampamento, a distribuição de água e comida diminuiu e os efeitos dessa debandada já surgiram: uma epidemia de cólera promete grassar no campo de refugiados.

POR Redação SRzd05/09/2006|4 min de leitura

INTERNACIONAL: O mundo esquece Darfur
| Siga-nos Google News

Quando o conflito é endêmico, não há novidade nem manchetes de jornais. Até mesmo o conflito no Líbano deixa as primeiras páginas – enquanto isso, oito pessoas (entre as quais uma criança com menos de cinco anos) morreram vítimas da cólera em Mornay, oeste de Darfur, nas últimas duas semanas. A equipe de Médicos Sem Fronteiras (MSF) já tratou mais de 60 pacientes. Essa situação trágica ocorreu depois que várias agências humanitárias pararam de dar assistência aos moradores de campos de deslocados em Darfur.

Todos os fatores que contribuem para o aparecimento do cólera estão presentes em Mornay. Em 2003, o local era um pequeno vilarejo com cinco mil habitantes. Hoje, mais de 75 mil pessoas estão lá, fugindo de assassinatos e violência. Há mais de dois anos pessoas vivem amontoadas em acampamentos provisórios. A falta de latrinas, saneamento precário e drenagem inadequadas formam uma combinação que deixam esses deslocados particularmente vulneráveis.

A MSF implementou o sistema de distribuição de água em 2004. Mais tarde, sua manutenção passou a ser administrada pela Oxfam (uma confederação internacional de 12 organizações que trabalham em conjunto com três mil entidades em mais de cem países) agora é feita pela pela WES (sigla em inglês para “Water, environment and sanitation” – Água, Desenvolvimento e Salubridade), uma organização local criada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Hoje, esse sistema apresenta falhas ‘ tanto em termos de quantidade quanto de qualidade. Enquanto um mínimo de 20 litros de água são necessários para atender às necessidades básicas de uma única pessoa, os deslocados têm acesso a apenas 12 litros. Além disso, dois poços artesanais foram substituídos por um sistema que bombeia água de um poço, cheio de lama e contaminado por bactérias e coliformes fecais. A lama dificulta o tratamento da água. Várias torneiras quebradas também não foram trocadas.

Captação de recursos em queda livre

“A cólera apareceu e oito pessoas já morreram”, contou Hiam El Zein, chefe de missão de MSF no oeste de Darfur. “Essas mortes são o resultado de ajuda inadequada para esses refugiados. Em Mornay, como em outros locais onde dezenas de milhares de pessoas se aglomeraram, algumas organizações estão parando de oferecer serviços vitais. Isso pode ter acontecido porque governo e instituições doadoras reduziram seu financiamento ou porque esses grupos se envolveram em atividades de desenvolvimento. Em Mornay, o Unicef não manteve sua promessa por falta de verbas”.

De fato, em junho de 2006, o Unicef anunciou ter recebido apenas 3,1% do dinheiro pedido aos doadores (basicamente governos ocidentais). Dos US$ 89 milhões necessários, apenas US$ 2, 81 milhões foram pagos.

Como resultado, em Mornay, a WES não está recebendo verbas suficientes do Unicef. A falta de manutenção adequada e regular dos sistema de abastecimento de água ‘ somada às precárias condições de saúde na qual os deslocados estão sendo obrigados a viver por mais de dois anos ‘ é crucial para explicar por que a cólera surgiu no acampamento.

A equipe de MSF em Mornay rapidamente estabeleceu um programa de tratamento da doença. Oito centros de hidratação-satélite também foram criados. Num acampamento como Mornay, mais de dois mil casos devem ser registrados. A entidade se prepara para que, caso seja necessário, o centro de tratamento aumente sua capacidade de atendimento para 180 leitos.

“Também temos que investir no sistema de distribuição de água de novo porque o WES não tem equipe ou todo o financiamento do Unicef necessário para isso”, contou El Zein. “Vamos instalar um sistema que vai permitir usar a água da superfície, que está limpa, descontaminá-la e tratá-la. Nossas equipes também ajudarão a aplicar spray de cloro nas áreas contaminadas”.

Em 2005, quando muitas organizações chegaram em Darfur, o MSF deixou de administrar o sistema de distribuição da água para voltar a se concentrar em atividades médicas. A necessidade de assistência, porém, continua a ser muito grande entre as pessoas que vivem nesses campos.

Eles dependem totalmente de ajuda externa para sobreviver. Apesar da situação em Darfur ter uma natureza mais crônica agora, pontuada por episódios violentos, ainda há um estado de emergência. A redução de ajuda pode ter um impacto trágico para suas condições de vida. Em maio passado, houve redução de distribuição de comida por parte do Programa Mundial de Alimentação durante o período mais crítico do ano, resultante da falta de verbas – os efeitos da saída das agências humanitárias sobre as populações deslocadas torna a situação dos refugiados ainda mais desesperadora.

Fonte: Médicos sem Fronteiras.

Quando o conflito é endêmico, não há novidade nem manchetes de jornais. Até mesmo o conflito no Líbano deixa as primeiras páginas – enquanto isso, oito pessoas (entre as quais uma criança com menos de cinco anos) morreram vítimas da cólera em Mornay, oeste de Darfur, nas últimas duas semanas. A equipe de Médicos Sem Fronteiras (MSF) já tratou mais de 60 pacientes. Essa situação trágica ocorreu depois que várias agências humanitárias pararam de dar assistência aos moradores de campos de deslocados em Darfur.

Todos os fatores que contribuem para o aparecimento do cólera estão presentes em Mornay. Em 2003, o local era um pequeno vilarejo com cinco mil habitantes. Hoje, mais de 75 mil pessoas estão lá, fugindo de assassinatos e violência. Há mais de dois anos pessoas vivem amontoadas em acampamentos provisórios. A falta de latrinas, saneamento precário e drenagem inadequadas formam uma combinação que deixam esses deslocados particularmente vulneráveis.

A MSF implementou o sistema de distribuição de água em 2004. Mais tarde, sua manutenção passou a ser administrada pela Oxfam (uma confederação internacional de 12 organizações que trabalham em conjunto com três mil entidades em mais de cem países) agora é feita pela pela WES (sigla em inglês para “Water, environment and sanitation” – Água, Desenvolvimento e Salubridade), uma organização local criada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Hoje, esse sistema apresenta falhas ‘ tanto em termos de quantidade quanto de qualidade. Enquanto um mínimo de 20 litros de água são necessários para atender às necessidades básicas de uma única pessoa, os deslocados têm acesso a apenas 12 litros. Além disso, dois poços artesanais foram substituídos por um sistema que bombeia água de um poço, cheio de lama e contaminado por bactérias e coliformes fecais. A lama dificulta o tratamento da água. Várias torneiras quebradas também não foram trocadas.

Captação de recursos em queda livre

“A cólera apareceu e oito pessoas já morreram”, contou Hiam El Zein, chefe de missão de MSF no oeste de Darfur. “Essas mortes são o resultado de ajuda inadequada para esses refugiados. Em Mornay, como em outros locais onde dezenas de milhares de pessoas se aglomeraram, algumas organizações estão parando de oferecer serviços vitais. Isso pode ter acontecido porque governo e instituições doadoras reduziram seu financiamento ou porque esses grupos se envolveram em atividades de desenvolvimento. Em Mornay, o Unicef não manteve sua promessa por falta de verbas”.

De fato, em junho de 2006, o Unicef anunciou ter recebido apenas 3,1% do dinheiro pedido aos doadores (basicamente governos ocidentais). Dos US$ 89 milhões necessários, apenas US$ 2, 81 milhões foram pagos.

Como resultado, em Mornay, a WES não está recebendo verbas suficientes do Unicef. A falta de manutenção adequada e regular dos sistema de abastecimento de água ‘ somada às precárias condições de saúde na qual os deslocados estão sendo obrigados a viver por mais de dois anos ‘ é crucial para explicar por que a cólera surgiu no acampamento.

A equipe de MSF em Mornay rapidamente estabeleceu um programa de tratamento da doença. Oito centros de hidratação-satélite também foram criados. Num acampamento como Mornay, mais de dois mil casos devem ser registrados. A entidade se prepara para que, caso seja necessário, o centro de tratamento aumente sua capacidade de atendimento para 180 leitos.

“Também temos que investir no sistema de distribuição de água de novo porque o WES não tem equipe ou todo o financiamento do Unicef necessário para isso”, contou El Zein. “Vamos instalar um sistema que vai permitir usar a água da superfície, que está limpa, descontaminá-la e tratá-la. Nossas equipes também ajudarão a aplicar spray de cloro nas áreas contaminadas”.

Em 2005, quando muitas organizações chegaram em Darfur, o MSF deixou de administrar o sistema de distribuição da água para voltar a se concentrar em atividades médicas. A necessidade de assistência, porém, continua a ser muito grande entre as pessoas que vivem nesses campos.

Eles dependem totalmente de ajuda externa para sobreviver. Apesar da situação em Darfur ter uma natureza mais crônica agora, pontuada por episódios violentos, ainda há um estado de emergência. A redução de ajuda pode ter um impacto trágico para suas condições de vida. Em maio passado, houve redução de distribuição de comida por parte do Programa Mundial de Alimentação durante o período mais crítico do ano, resultante da falta de verbas – os efeitos da saída das agências humanitárias sobre as populações deslocadas torna a situação dos refugiados ainda mais desesperadora.

Fonte: Médicos sem Fronteiras.

Notícias Relacionadas

Ver tudo