Veja o que respondem os cientistas políticos
POR Redação SRzd25/05/2006|7 min de leitura
Veja o que respondem os cientistas políticos
POR Redação SRzd25/05/2006|7 min de leitura
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria reeleito no primeiro turno se a eleição fosse hoje, de acordo com recente pesquisa Datafolha. Num levantamento encomendado pela TV Globo e pelo jornal “Folha de S.Paulo”, o instituto traçou quatro cenários e em todos eles o petista ganharia a disputa sem a necessidade de uma segunda votação.
Se o PMDB confirmar em junho sua decisão de não ter candidato a presidente da República, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ser reeleito com 45% dos votos, contra 22% de seu principal concorrente, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). Nos outros cenários traçados com candidatos do PMDB, Lula também sai na frente: com o senador Pedro Simon, o presidente venceria com 44%, contra 22% de Alckmin e apenas 2% de Simon. Já o ex-presidente Itamar Franco atingiria 6% dos votos, Lula teria 43% e Alckmin, 21%.
Veja abaixo as análises de dois cientistas políticos sobre o resultado da pesquisa de intenção de voto:
Alberto Carlos de Almeida
Professor de ciências políticas da Universidade Federal Fluminense e diretor da Ipsos
SRZD – Apesar da crise envolvendo o governo federal nos últimos meses, como o escândalo do mensalão, o presidente Lula ainda mantém um índice de popularidade muito grande. Por que?
Há dois motivos principais para isso. O primeiro é que há uma crença generalizada no clichê de que o mundo político é sujo e corrupto. Assim, o Lula simplesmente se tornou parte do mundo político. Por isso, ele não pode ser mais culpado ou mais condenado do que os outros políticos. A segunda razão é como eleitorado escolhe o que é mais importante e o que vem em segundo lugar. Para a maior parte do eleitorado, a melhoria do bem-estar é mais importante do que o combate à corrupção. Apenas para as pessoas que têm curso superior a corrupção é mais importante do que o bem-estar.
SRZD – Os episódios de violência em São Paulo este mês enterraram de vez a chance de Alckmin se eleger presidente?
Em certa medida, os episódios de violência em São Paulo estão para o Alckmin assim como o mensalão está para o Lula. Ambos abalam temporariamente a popularidade mas não mudam as chances de vitória. Lula hoje é favorito como era antes do mensalão, Alckmin vai crescer e ameaçar a liderança do Lula como era previsível antes das ações do PCC. Há um eleitorado grande que não quer votar no Lula, mas que ainda não sabe que o principal candidato de oposição é o Alckmin. Este eleitorado está entre 20 e 25%, é o percentual daqueles que respondem às pesquisas voto branco, nulo, nenhum dos candidatos, não sabe e não responde. A maior parte deste eleitorado, não todo ele, caminhará para a candidatura de Alckmin.
SRZD – Tendo em vista que o PT, partido do candidato que tem mais chances de se eleger até agora, esteve envolvido em graves denúncias de corrupção e outros crimes, você acredita que a disputa eleitoral deste ano será mais acirrada que as anteriores? Ou seja, a oposição pode usar de todos os meios para “desbancar” a candidatura de Lula, baixando o nível da campanha?
Lula era o favorito antes do mensalão e continua hoje. Porém, as denúncias criaram uma cicatriz no governo. Para aproveitar ao máximo isso, a oposição será mais eficaz não dizendo que o governo Lula é corrupto, mas utilizando a corrupção como um sinal ‘ na percepção do eleitorado ‘ de que o governo é ineficiente. Assim, as melhores críticas ao governo serão as que atingirem a sua capacidade de governar e gerar bem-estar para a população. Algo do tipo, ‘o governo se preocupa com os pobres sim, mas isso não é suficiente. É preciso combater o desperdício de recursos na corrupção, é preciso combater a morosidade da máquina administrativa, etc, para que os recursos cheguem aos pobres e a pobreza seja reduzida de verdadeâ?. Atacar a corrupção não será uma arma eficaz. A maior parte da população considera que o mundo político é corrupto. Apenas vai reforçar uma crença já existente.
Luiz Henrique Bahia
Professor de ciências políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
SRZD – Apesar da crise envolvendo o governo federal nos últimos meses, como o escândalo do mensalão, o presidente Lula ainda mantém um índice de popularidade muito grande. Por que?
Na verdade, a pesquisa mostra que Lula vem obtendo estabilidade entre fevereiro e maio nas pesquisas de intenção de voto, levando em conta a margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos (tinha 43% em fevereiro, 42% em março, 40% em abril e 43% agora em maio). Já Alckmin teve uma ligeira elevação no índice (17% em fevereiro, 23% em março, 20% em abril e 21% em maio).
A primeira razão que explica este resultado é que Lula está se utilizando de um efeito da legislação que deixou uma brecha para o candidato que disputa a reeleição: ele não tem limite quanto ao tempo da exposição de sua imagem, pode ir à inaugurações, a eventos, permanecendo constantemente exposto. O presidente Lula está em campanha permanente, está presente nas TVs e rádios todos os dias.
Em segundo lugar, deve-se levar em conta que ele manteve uma política econômica praticamente idêntica a do Fernando Henrique Cardoso, que garantiu às elites ganhos substanciais – tanto as elites financeiras quanto às ligadas ao mercado exportador (estas beneficiadas pela política cambial). E a classe média aprovou, pois passou a viajar mais, com o dólar mais barato. Isso aumenta a aceitação.
Outro fator que explica a aceitação de Lula é a implantação de programas sociais de distribuição de renda por parte do governo federal, como o Bolsa Família. Esses programas atingem diretamente a população de baixa renda e de baixa escolaridade, que vota no presidente Lula.
SRZD – Os episódios de violência em São Paulo este mês enterraram de vez a chance de Alckmin se eleger presidente?
Depois dos episódios, o eleitorado criticou o poder Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Mas é claro que a autoridade estadual é a mais atingida. Isso provocou um impacto negativo na candidatura do Alckmin. Além disso, Lula se beneficiou porque o programa do PSDB ainda não foi ao ar, enquanto que o do PT já foi. E a pesquisa do Datafolha foi divulgada logo após o programa eleitoral do PT na TV, veiculado no início desta semana, o que pode ter influenciado o eleitor. O candidato Geraldo Alckmin ainda terá muitas chances de se mostrar mais para o eleitorado. E em política tudo é muito mutável, sempre surgem fatos novos.
SRZD – Tendo em vista que o PT, partido do candidato que tem mais chances de se eleger até agora, esteve envolvido em graves denúncias de corrupção e outros crimes, você acredita que a disputa eleitoral deste ano será mais acirrada que as anteriores? Ou seja, a oposição pode usar de todos os meios para “desbancar” a candidatura de Lula, baixando o nível da campanha?
Eu acho que sim. As denúncias feitas por Roberto Jefferson, o escândalo da Máfia dos Sanguessugas, que atingem o Legislativo e o Executivo, certamente serão usados pelos partidos de oposição. O Alckmin vai tentar contabilizar a seu favor toda essa crise política.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria reeleito no primeiro turno se a eleição fosse hoje, de acordo com recente pesquisa Datafolha. Num levantamento encomendado pela TV Globo e pelo jornal “Folha de S.Paulo”, o instituto traçou quatro cenários e em todos eles o petista ganharia a disputa sem a necessidade de uma segunda votação.
Se o PMDB confirmar em junho sua decisão de não ter candidato a presidente da República, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ser reeleito com 45% dos votos, contra 22% de seu principal concorrente, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). Nos outros cenários traçados com candidatos do PMDB, Lula também sai na frente: com o senador Pedro Simon, o presidente venceria com 44%, contra 22% de Alckmin e apenas 2% de Simon. Já o ex-presidente Itamar Franco atingiria 6% dos votos, Lula teria 43% e Alckmin, 21%.
Veja abaixo as análises de dois cientistas políticos sobre o resultado da pesquisa de intenção de voto:
Alberto Carlos de Almeida
Professor de ciências políticas da Universidade Federal Fluminense e diretor da Ipsos
SRZD – Apesar da crise envolvendo o governo federal nos últimos meses, como o escândalo do mensalão, o presidente Lula ainda mantém um índice de popularidade muito grande. Por que?
Há dois motivos principais para isso. O primeiro é que há uma crença generalizada no clichê de que o mundo político é sujo e corrupto. Assim, o Lula simplesmente se tornou parte do mundo político. Por isso, ele não pode ser mais culpado ou mais condenado do que os outros políticos. A segunda razão é como eleitorado escolhe o que é mais importante e o que vem em segundo lugar. Para a maior parte do eleitorado, a melhoria do bem-estar é mais importante do que o combate à corrupção. Apenas para as pessoas que têm curso superior a corrupção é mais importante do que o bem-estar.
SRZD – Os episódios de violência em São Paulo este mês enterraram de vez a chance de Alckmin se eleger presidente?
Em certa medida, os episódios de violência em São Paulo estão para o Alckmin assim como o mensalão está para o Lula. Ambos abalam temporariamente a popularidade mas não mudam as chances de vitória. Lula hoje é favorito como era antes do mensalão, Alckmin vai crescer e ameaçar a liderança do Lula como era previsível antes das ações do PCC. Há um eleitorado grande que não quer votar no Lula, mas que ainda não sabe que o principal candidato de oposição é o Alckmin. Este eleitorado está entre 20 e 25%, é o percentual daqueles que respondem às pesquisas voto branco, nulo, nenhum dos candidatos, não sabe e não responde. A maior parte deste eleitorado, não todo ele, caminhará para a candidatura de Alckmin.
SRZD – Tendo em vista que o PT, partido do candidato que tem mais chances de se eleger até agora, esteve envolvido em graves denúncias de corrupção e outros crimes, você acredita que a disputa eleitoral deste ano será mais acirrada que as anteriores? Ou seja, a oposição pode usar de todos os meios para “desbancar” a candidatura de Lula, baixando o nível da campanha?
Lula era o favorito antes do mensalão e continua hoje. Porém, as denúncias criaram uma cicatriz no governo. Para aproveitar ao máximo isso, a oposição será mais eficaz não dizendo que o governo Lula é corrupto, mas utilizando a corrupção como um sinal ‘ na percepção do eleitorado ‘ de que o governo é ineficiente. Assim, as melhores críticas ao governo serão as que atingirem a sua capacidade de governar e gerar bem-estar para a população. Algo do tipo, ‘o governo se preocupa com os pobres sim, mas isso não é suficiente. É preciso combater o desperdício de recursos na corrupção, é preciso combater a morosidade da máquina administrativa, etc, para que os recursos cheguem aos pobres e a pobreza seja reduzida de verdadeâ?. Atacar a corrupção não será uma arma eficaz. A maior parte da população considera que o mundo político é corrupto. Apenas vai reforçar uma crença já existente.
Luiz Henrique Bahia
Professor de ciências políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
SRZD – Apesar da crise envolvendo o governo federal nos últimos meses, como o escândalo do mensalão, o presidente Lula ainda mantém um índice de popularidade muito grande. Por que?
Na verdade, a pesquisa mostra que Lula vem obtendo estabilidade entre fevereiro e maio nas pesquisas de intenção de voto, levando em conta a margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos (tinha 43% em fevereiro, 42% em março, 40% em abril e 43% agora em maio). Já Alckmin teve uma ligeira elevação no índice (17% em fevereiro, 23% em março, 20% em abril e 21% em maio).
A primeira razão que explica este resultado é que Lula está se utilizando de um efeito da legislação que deixou uma brecha para o candidato que disputa a reeleição: ele não tem limite quanto ao tempo da exposição de sua imagem, pode ir à inaugurações, a eventos, permanecendo constantemente exposto. O presidente Lula está em campanha permanente, está presente nas TVs e rádios todos os dias.
Em segundo lugar, deve-se levar em conta que ele manteve uma política econômica praticamente idêntica a do Fernando Henrique Cardoso, que garantiu às elites ganhos substanciais – tanto as elites financeiras quanto às ligadas ao mercado exportador (estas beneficiadas pela política cambial). E a classe média aprovou, pois passou a viajar mais, com o dólar mais barato. Isso aumenta a aceitação.
Outro fator que explica a aceitação de Lula é a implantação de programas sociais de distribuição de renda por parte do governo federal, como o Bolsa Família. Esses programas atingem diretamente a população de baixa renda e de baixa escolaridade, que vota no presidente Lula.
SRZD – Os episódios de violência em São Paulo este mês enterraram de vez a chance de Alckmin se eleger presidente?
Depois dos episódios, o eleitorado criticou o poder Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Mas é claro que a autoridade estadual é a mais atingida. Isso provocou um impacto negativo na candidatura do Alckmin. Além disso, Lula se beneficiou porque o programa do PSDB ainda não foi ao ar, enquanto que o do PT já foi. E a pesquisa do Datafolha foi divulgada logo após o programa eleitoral do PT na TV, veiculado no início desta semana, o que pode ter influenciado o eleitor. O candidato Geraldo Alckmin ainda terá muitas chances de se mostrar mais para o eleitorado. E em política tudo é muito mutável, sempre surgem fatos novos.
SRZD – Tendo em vista que o PT, partido do candidato que tem mais chances de se eleger até agora, esteve envolvido em graves denúncias de corrupção e outros crimes, você acredita que a disputa eleitoral deste ano será mais acirrada que as anteriores? Ou seja, a oposição pode usar de todos os meios para “desbancar” a candidatura de Lula, baixando o nível da campanha?
Eu acho que sim. As denúncias feitas por Roberto Jefferson, o escândalo da Máfia dos Sanguessugas, que atingem o Legislativo e o Executivo, certamente serão usados pelos partidos de oposição. O Alckmin vai tentar contabilizar a seu favor toda essa crise política.
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