Fantasia abre série do SRzd sobre estatísticas do Carnaval de São Paulo

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A cobertura dos desfiles das escolas de samba do Carnaval 2024 de São Paulo do SRzd contará com a participação de Judson Sales. O profissional, que já foi ritmista, harmonia e diretor de Carnaval, atualmente ministra palestras relacionadas ao contexto técnico das escolas de samba. O sambista, que se especializou na análise estatística dos resultados de […]

POR Redação SRzd24/01/2024|12 min de leitura

Fantasia abre série do SRzd sobre estatísticas do Carnaval de São Paulo

Desfile 2023 da Acadêmicos do Tucuruvi. Foto: Arthur Giglioli/SRzd

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A cobertura dos desfiles das escolas de samba do Carnaval 2024 de São Paulo do SRzd contará com a participação de Judson Sales. O profissional, que já foi ritmista, harmonia e diretor de Carnaval, atualmente ministra palestras relacionadas ao contexto técnico das escolas de samba.

O sambista, que se especializou na análise estatística dos resultados de Carnaval, faz sua estreia em seu primeiro artigo no SRzd compartilhando dados relacionados a um quesito que é julgado nos desfiles. Confira a seguir, um levantamento com estatísticas sobre fantasia.

Desvendando o julgamento do Carnaval de São Paulo

Você com certeza já ouviu essa frase: A escola de samba que quer ser campeã tem que se comportar como uma empresa. Eu acho ela uma grande balela.

As pessoas dizem isso porque pensam que apenas uma empresa pode ser organizada, com metas claras e resultados a cumprir. Isso não é verdade. As escolas de samba são entidades culturais muito maiores que qualquer empresa e, ao contrário das companhias que, por definição, estão buscando lucro, o objetivo de uma escola de samba é outro.

É trazer felicidade pra sua comunidade (o que pode ser com títulos ou com qualquer outra coisa, afinal, tem muita escola GIGANTE que não tem troféu guardado).

Mas tem uma coisa que o mundo corporativo tem em comum com as escolas de samba: O projeto. Essa palavra normalmente é usada de um jeito errado por aí. Pra ser exato, projeto é algo que tem começo, meio e fim, com um objetivo específico.

Exige planejamento, análise, estudo, cálculo de riscos, organização financeira, respeito a todas as partes interessadas, recursos humanos e, depois de tudo, um grande estudo das lições aprendidas. É fácil ver o desfile da sua escola em cada uma dessas coisas, não é?

Em uma empresa especializada em projetos, as pessoas responsáveis por organizar cada uma dessas pontas chama-se “Project Manager” ou, em bom português de sambista, “Diretor de Carnaval”. A função dele é organizar o terreno para que as verdadeiras estrelas do projeto possam brilhar: que a criatividade do carnavalesco possa fluir; que o bailado do mestre-sala possa impressionar; que a coreografia da comissão possa surpreender.

O diretor de Carnaval é um assessor fundamental da presidência da escola para as tomadas de decisões. E para dar os melhores pareceres e diretrizes, é imprescindível estudar e conhecer as regras do jogo e como elas são aplicadas.

Começo hoje uma série de textos com análises estatísticas sobre o nosso Carnaval em São Paulo. A ideia é trazer para vocês um pouco dos dados que coletei ao longo dos últimos cinco anos como diretor de Carnaval, período em que acompanhei de perto cada mudança do critério de julgamento, dos regulamentos e, principalmente, cara avaliação de jurado.

Tenho catalogadas e organizadas todas as justificativas que foram dadas em cada um dos desfile. São todos dados públicos, que foram divulgados pela Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, mas que me dediquei a organizar e metrificar para chegar a respostas um pouco mais claras sobre como um diretor de Carnaval tem que agir para dar a maior alegria possível a uma comunidade: O sonhado título, estudando como grandes e memoráveis desfiles deixaram escapar essa oportunidade.

Fantasia

Resolvi começar por fantasia, e essa escolha não é por acaso. Fantasia é historicamente um dos quesitos que mais despontua as agremiações nos desfile. No passado isso já foi mais gritante, mas a invenção da tabela de parâmetros (tão amada e odiada) acabou equilibrando um pouco o jogo.

Afinal, Carnaval não pode ser um quesito só, certo? Mas ainda hoje há um peso grande para o quesito e a escola que quer ser campeã dificilmente conseguirá se não trouxer a nota máxima de seu ateliê.

O quesito fantasia é dividido hoje em três subitens: Acabamento, Uniformidade e Realização. Resumindo de curtinho: Acabamento julga se a fantasia está inteira, sem rasgos, costeiros tortos ou adereços caindo; Uniformidade julga se os componentes de uma ala estão iguais entre si e iguais à também temida “Pasta de jurados”; Realização julga se existe uma harmonia e equilíbrio visual na escolha de cores, formas e materiais.

E é isso e apenas isso que pode ser julgado

O sistema atual do Carnaval de São Paulo não julga beleza, não julga bom gosto, não julga criatividade. O jurado não deve usar sua subjetividade para avaliar nada, apenas uma análise técnica e objetiva desses três itens acima.

A justificativa para esse sistema é: “O que é bonito para mim, não é bonito para outra pessoa”. Por isso, para ser campeão não importa que todos pensem que as suas fantasias são as mais bonitas do Anhembi, isso é irrelevante. O que você precisa é ter competência administrativa de trazer essa beleza de forma organizada, íntegra e harmônica.

Goste ou não do sistema de julgamento, é assim que ele é julgado. Então, antes de projetar o Carnaval dos sonhos, é fundamental que o carnavalesco esteja bem alinhado com seu diretor de Carnaval para viabilizar que ele possa acontecer. Estudar os riscos, calcular as soluções, planejar as ações para que toda aquela beleza seja também organizada.

Nos últimos cinco anos, apenas no Grupo Especial, os jurados fizeram 631 apontamentos diferentes de fantasia. 631 erros identificados e justificados para retirar décimos das agremiações. Uma média de nove falhas por escola em cada desfile. Logo, quem quiser ganhar tem que conseguir ficar bem abaixo dessa média.

Qual o critério mais importante?

Das justificativas coletadas entre 2017 e 2023, 71.9% dos apontamentos foram de Acabamento; 27,2% de Uniformidade; e apenas 1% de Realização. Aqui vale dizer que os critérios mudaram de nome ao longo dos anos, mas eu reorganizei de acordo com o sentido de cada justificativa para chegar nestes valores.

Uma leitura apressada pode fazer você achar que o pulo do gato está em acabamento, certo? Mas não vá com tanta pressa. Pelo sistema atual, as falhas de acabamento precisam ser somadas de cinco em cinco para resultar na perda de um décimo. Ou seja, na prática as escolas perdem proporcionalmente mais pontos em uniformidade do que em acabamento.

A boa notícia é que as falhas de uniformidade são mais fáceis de ser controladas do que as de acabamento. A dança e a empolgação de um componente durante o desfile pode acabar danificando uma fantasia e, ali na marca do pênalti, é muito difícil fazer algo.

Já as falhas de uniformidade quase sempre são causadas por problemas anteriores ao próprio desfile: Fantasias mal confeccionadas, tecidos diferentes, pasta de jurados mal feita, conferência de fantasias no barracão equivocada, fiscalização ruim de mal comportamento dos componentes na concentração…

Mas e a realização?

Pois é, praticamente não se julga realização no carnaval de São Paulo, mesmo que o texto preveja isso. A forma mais objetiva de se julgar fantasias acaba por deixar aspectos de harmonia visual fora de competição, mesmo estando presente no critério. É muito difícil um jurado apontar que uma escola não explorou bem cores formas e materiais e, normalmente, quando aponta é alvo de críticas da escola que se sentiu mal avaliada.

Como evitar as falhas?

Em 2023 eu fiz um estudo de todas as justificativas de todas as agremiações do Carnaval 2022 no Grupo Especial tentando identificar a causa daquele problema. Em outras palavras: se eu fosse o diretor de Carnaval daquela escola, o que eu deveria ter feito para diminuir aquele risco.

Há uma crença um pouco simplista de que a Pasta é quem define a campeã do Carnaval. Isso não é verdade. Uma pasta mal feita com certeza tira a chance de título de uma escola (e pode até rebaixar, nos casos mais graves), mas Carnaval ainda é vencido na pista. Na prática, erros de pasta representam apenas 13,2% das justificativas de fantasia.

56% dos problemas apontados nas justificativas aconteceram provavelmente por alguma coisa durante a pista. É o costeiro que cai, o tecido que rasga, o adereço que descola… Claro que muitas vezes isso acontece por uma falha de projeto também (um chapéu grande demais; um tecido de baixa qualidade), mas há muito do momento e da condução de pista que pode ser feito para salvar a nota.

Um dado curioso é que um costeiro que ameaça cair da frente de um jurado é uma falha de acabamento. Mas se o componente aparecer para o jurado já sem o costeiro, é uma falha de uniformidade. Ou seja, eu preciso de cinco costeiros ameaçando cair para perder um décimo, mas apenas uma única pessoa pode me dar essa punição pesada no Carnaval de São Paulo se estiver sem o chapéu, por exemplo.

Por isso, fica a dica de malandragem: Seu costeiro caiu? Finge que tá passando mal, pede ajuda pra um harmonia, e volta pela lateral. Isso é permitido e os jurados não punem alguém passando mal (leiam as justificativas). Se você continuar na pista, há chances de você fazer sua escola perder até 4 décimos se os 4 jurados de fantasia te virem sem o costeiro.

Outros 17% dos erros poderiam ter sido evitados com um bom processo de conferência de fantasias antes de entregar pro componente. No processo de produção do Carnaval, há uma série de pessoas envolvidas. E pessoas, todas, erram. Não é raro o aderecista colocar três bolas onde era pra ter duas; trocar a forma de encaixe de determinado adereço; esquecer de colocar uma camada de tarucel…

Digo sem medo de errar, nunca vi uma ala que o carnavalesco falou “Tá pronta” que estivesse pronta de verdade. Sempre tem algo a ser corrigido. E isso as escolas encontram na conferência da fantasia.

Outro dado bastante relevante é que 13,2% dos problemas relatados poderiam ser resolvidos com uma melhor fiscalização na concentração. É o caso do componente que veste a roupa errado; que perde o adereço de mão; que tá com uma camiseta diferente por baixo…Enfim, a fantasia foi entregue perfeitinha na mão do componente, mas o cidadão apareceu para desfilar com algum problema.

É verdade que ninguém vê o sapato?

Essa é uma daquelas balelas que sempre ouvimos nas escolas menos organizadas. Ah, fulano de tal está com sapato diferente, só coloca ele no meio da ala que o jurado não vê. Pois bem, esse estudo que fiz das justificativas de 2022 também me revelou um dado bem surpreendente: Metade das justificativas de fantasia se referem a elementos que estão do cinto pra baixo: Saia / Calça 34,1%; Sapato 11%; Cinto 4,4% – Total 49,5%. Impressionante, não é?

Os temidos costeiros aparecem em apenas 14,3% das justificativas.

Nessa análise, eu separei os destaques de chão porque eles têm características bem específicas.

É verdade que a maioria das notas perdidas está no final do desfile?

Isso é verdade. Como muitas falhas acontecem ao longo do desfile, pela movimentação, é natural que as últimas torres (ou módulos) vejam mais problemas que as primeiras. Mas a diferença é menos gritante do que eu imaginava. Isso reforça a importância de um bom planejamento prévio de desfile.

Existem jurados mais rigorosos que os outros?

Sim, isso existe. Não vou citar os nomes aqui, mas quem se interessa por resultado de Carnaval provavelmente já sabe quem são. Esses gráficos mostram duas coisas interessantes:

Há jurados que são mais atentos que os outros na busca de falhas;
Há jurados que prestam mais atenção que os outros em uniformidade;

 

A coluna vermelha representa o número de apontamentos de cada jurado. A coluna azul representa o percentual dos apontamentos que foram de acabamento.

E a posição de desfile importa?

Analisando o gráfico abaixo, há um indicativo de que ser a segunda escola da primeira noite pode ser bem ruim (pior até que a primeira). Claro que estatística é algo bastante falho e esse gráfico pode ser influenciado por um desfile ou outro mais catastrófico. Mas não deixa de apresentar informações importantes para aquele momento em que você for torcer pela bolinha no dia do sorteio.

Também chama a atenção a 13º escola, ou seja, a penúltima de sábado.

Existem escolas que erraram mais que as outras?

No gráfico abaixo eu revelei apenas o nome das escolas mais eficientes no quesito fantasia. Afinal, não estamos aqui para apontar defeitos e sim discutir resultados. Assim, cabe respeitar e analisar as escolas com melhores resultados e se espelhar no sucesso delas.

No gráfico, fica inegável que há uma grande disparidade entre a Acadêmicos do Tatuapé, com uma incrível média de apenas 1,8 erros de fantasia por ano, para a última colocada, com mais de 30 anotações em média.

Destaque positivo para Dragões da Real e Mancha Verde, também bastante eficientes no quesito, e pras mais caçulas, Estrela do Terceiro Milênio e Independente Tricolor.

Usei o critério da média justamente para conseguir ponderar esse número. Afinal, uma escola que desfilou apenas uma vez no Especial tende a ter numericamente menos falhas. Mas quando usamos a média, colocamos isso em pé de igualdade. E, mesmo voltando ao Acesso, a Milênio fez um excelente trabalho de fantasia em seu desfile 2023.

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+ Ouça os sambas das 33 agremiações da Liga-SP para o Carnaval 2024

+ Confira informações sobre a venda de ingressos para o Carnaval de SP 2024

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A cobertura dos desfiles das escolas de samba do Carnaval 2024 de São Paulo do SRzd contará com a participação de Judson Sales. O profissional, que já foi ritmista, harmonia e diretor de Carnaval, atualmente ministra palestras relacionadas ao contexto técnico das escolas de samba.

O sambista, que se especializou na análise estatística dos resultados de Carnaval, faz sua estreia em seu primeiro artigo no SRzd compartilhando dados relacionados a um quesito que é julgado nos desfiles. Confira a seguir, um levantamento com estatísticas sobre fantasia.

Desvendando o julgamento do Carnaval de São Paulo

Você com certeza já ouviu essa frase: A escola de samba que quer ser campeã tem que se comportar como uma empresa. Eu acho ela uma grande balela.

As pessoas dizem isso porque pensam que apenas uma empresa pode ser organizada, com metas claras e resultados a cumprir. Isso não é verdade. As escolas de samba são entidades culturais muito maiores que qualquer empresa e, ao contrário das companhias que, por definição, estão buscando lucro, o objetivo de uma escola de samba é outro.

É trazer felicidade pra sua comunidade (o que pode ser com títulos ou com qualquer outra coisa, afinal, tem muita escola GIGANTE que não tem troféu guardado).

Mas tem uma coisa que o mundo corporativo tem em comum com as escolas de samba: O projeto. Essa palavra normalmente é usada de um jeito errado por aí. Pra ser exato, projeto é algo que tem começo, meio e fim, com um objetivo específico.

Exige planejamento, análise, estudo, cálculo de riscos, organização financeira, respeito a todas as partes interessadas, recursos humanos e, depois de tudo, um grande estudo das lições aprendidas. É fácil ver o desfile da sua escola em cada uma dessas coisas, não é?

Em uma empresa especializada em projetos, as pessoas responsáveis por organizar cada uma dessas pontas chama-se “Project Manager” ou, em bom português de sambista, “Diretor de Carnaval”. A função dele é organizar o terreno para que as verdadeiras estrelas do projeto possam brilhar: que a criatividade do carnavalesco possa fluir; que o bailado do mestre-sala possa impressionar; que a coreografia da comissão possa surpreender.

O diretor de Carnaval é um assessor fundamental da presidência da escola para as tomadas de decisões. E para dar os melhores pareceres e diretrizes, é imprescindível estudar e conhecer as regras do jogo e como elas são aplicadas.

Começo hoje uma série de textos com análises estatísticas sobre o nosso Carnaval em São Paulo. A ideia é trazer para vocês um pouco dos dados que coletei ao longo dos últimos cinco anos como diretor de Carnaval, período em que acompanhei de perto cada mudança do critério de julgamento, dos regulamentos e, principalmente, cara avaliação de jurado.

Tenho catalogadas e organizadas todas as justificativas que foram dadas em cada um dos desfile. São todos dados públicos, que foram divulgados pela Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, mas que me dediquei a organizar e metrificar para chegar a respostas um pouco mais claras sobre como um diretor de Carnaval tem que agir para dar a maior alegria possível a uma comunidade: O sonhado título, estudando como grandes e memoráveis desfiles deixaram escapar essa oportunidade.

Fantasia

Resolvi começar por fantasia, e essa escolha não é por acaso. Fantasia é historicamente um dos quesitos que mais despontua as agremiações nos desfile. No passado isso já foi mais gritante, mas a invenção da tabela de parâmetros (tão amada e odiada) acabou equilibrando um pouco o jogo.

Afinal, Carnaval não pode ser um quesito só, certo? Mas ainda hoje há um peso grande para o quesito e a escola que quer ser campeã dificilmente conseguirá se não trouxer a nota máxima de seu ateliê.

O quesito fantasia é dividido hoje em três subitens: Acabamento, Uniformidade e Realização. Resumindo de curtinho: Acabamento julga se a fantasia está inteira, sem rasgos, costeiros tortos ou adereços caindo; Uniformidade julga se os componentes de uma ala estão iguais entre si e iguais à também temida “Pasta de jurados”; Realização julga se existe uma harmonia e equilíbrio visual na escolha de cores, formas e materiais.

E é isso e apenas isso que pode ser julgado

O sistema atual do Carnaval de São Paulo não julga beleza, não julga bom gosto, não julga criatividade. O jurado não deve usar sua subjetividade para avaliar nada, apenas uma análise técnica e objetiva desses três itens acima.

A justificativa para esse sistema é: “O que é bonito para mim, não é bonito para outra pessoa”. Por isso, para ser campeão não importa que todos pensem que as suas fantasias são as mais bonitas do Anhembi, isso é irrelevante. O que você precisa é ter competência administrativa de trazer essa beleza de forma organizada, íntegra e harmônica.

Goste ou não do sistema de julgamento, é assim que ele é julgado. Então, antes de projetar o Carnaval dos sonhos, é fundamental que o carnavalesco esteja bem alinhado com seu diretor de Carnaval para viabilizar que ele possa acontecer. Estudar os riscos, calcular as soluções, planejar as ações para que toda aquela beleza seja também organizada.

Nos últimos cinco anos, apenas no Grupo Especial, os jurados fizeram 631 apontamentos diferentes de fantasia. 631 erros identificados e justificados para retirar décimos das agremiações. Uma média de nove falhas por escola em cada desfile. Logo, quem quiser ganhar tem que conseguir ficar bem abaixo dessa média.

Qual o critério mais importante?

Das justificativas coletadas entre 2017 e 2023, 71.9% dos apontamentos foram de Acabamento; 27,2% de Uniformidade; e apenas 1% de Realização. Aqui vale dizer que os critérios mudaram de nome ao longo dos anos, mas eu reorganizei de acordo com o sentido de cada justificativa para chegar nestes valores.

Uma leitura apressada pode fazer você achar que o pulo do gato está em acabamento, certo? Mas não vá com tanta pressa. Pelo sistema atual, as falhas de acabamento precisam ser somadas de cinco em cinco para resultar na perda de um décimo. Ou seja, na prática as escolas perdem proporcionalmente mais pontos em uniformidade do que em acabamento.

A boa notícia é que as falhas de uniformidade são mais fáceis de ser controladas do que as de acabamento. A dança e a empolgação de um componente durante o desfile pode acabar danificando uma fantasia e, ali na marca do pênalti, é muito difícil fazer algo.

Já as falhas de uniformidade quase sempre são causadas por problemas anteriores ao próprio desfile: Fantasias mal confeccionadas, tecidos diferentes, pasta de jurados mal feita, conferência de fantasias no barracão equivocada, fiscalização ruim de mal comportamento dos componentes na concentração…

Mas e a realização?

Pois é, praticamente não se julga realização no carnaval de São Paulo, mesmo que o texto preveja isso. A forma mais objetiva de se julgar fantasias acaba por deixar aspectos de harmonia visual fora de competição, mesmo estando presente no critério. É muito difícil um jurado apontar que uma escola não explorou bem cores formas e materiais e, normalmente, quando aponta é alvo de críticas da escola que se sentiu mal avaliada.

Como evitar as falhas?

Em 2023 eu fiz um estudo de todas as justificativas de todas as agremiações do Carnaval 2022 no Grupo Especial tentando identificar a causa daquele problema. Em outras palavras: se eu fosse o diretor de Carnaval daquela escola, o que eu deveria ter feito para diminuir aquele risco.

Há uma crença um pouco simplista de que a Pasta é quem define a campeã do Carnaval. Isso não é verdade. Uma pasta mal feita com certeza tira a chance de título de uma escola (e pode até rebaixar, nos casos mais graves), mas Carnaval ainda é vencido na pista. Na prática, erros de pasta representam apenas 13,2% das justificativas de fantasia.

56% dos problemas apontados nas justificativas aconteceram provavelmente por alguma coisa durante a pista. É o costeiro que cai, o tecido que rasga, o adereço que descola… Claro que muitas vezes isso acontece por uma falha de projeto também (um chapéu grande demais; um tecido de baixa qualidade), mas há muito do momento e da condução de pista que pode ser feito para salvar a nota.

Um dado curioso é que um costeiro que ameaça cair da frente de um jurado é uma falha de acabamento. Mas se o componente aparecer para o jurado já sem o costeiro, é uma falha de uniformidade. Ou seja, eu preciso de cinco costeiros ameaçando cair para perder um décimo, mas apenas uma única pessoa pode me dar essa punição pesada no Carnaval de São Paulo se estiver sem o chapéu, por exemplo.

Por isso, fica a dica de malandragem: Seu costeiro caiu? Finge que tá passando mal, pede ajuda pra um harmonia, e volta pela lateral. Isso é permitido e os jurados não punem alguém passando mal (leiam as justificativas). Se você continuar na pista, há chances de você fazer sua escola perder até 4 décimos se os 4 jurados de fantasia te virem sem o costeiro.

Outros 17% dos erros poderiam ter sido evitados com um bom processo de conferência de fantasias antes de entregar pro componente. No processo de produção do Carnaval, há uma série de pessoas envolvidas. E pessoas, todas, erram. Não é raro o aderecista colocar três bolas onde era pra ter duas; trocar a forma de encaixe de determinado adereço; esquecer de colocar uma camada de tarucel…

Digo sem medo de errar, nunca vi uma ala que o carnavalesco falou “Tá pronta” que estivesse pronta de verdade. Sempre tem algo a ser corrigido. E isso as escolas encontram na conferência da fantasia.

Outro dado bastante relevante é que 13,2% dos problemas relatados poderiam ser resolvidos com uma melhor fiscalização na concentração. É o caso do componente que veste a roupa errado; que perde o adereço de mão; que tá com uma camiseta diferente por baixo…Enfim, a fantasia foi entregue perfeitinha na mão do componente, mas o cidadão apareceu para desfilar com algum problema.

É verdade que ninguém vê o sapato?

Essa é uma daquelas balelas que sempre ouvimos nas escolas menos organizadas. Ah, fulano de tal está com sapato diferente, só coloca ele no meio da ala que o jurado não vê. Pois bem, esse estudo que fiz das justificativas de 2022 também me revelou um dado bem surpreendente: Metade das justificativas de fantasia se referem a elementos que estão do cinto pra baixo: Saia / Calça 34,1%; Sapato 11%; Cinto 4,4% – Total 49,5%. Impressionante, não é?

Os temidos costeiros aparecem em apenas 14,3% das justificativas.

Nessa análise, eu separei os destaques de chão porque eles têm características bem específicas.

É verdade que a maioria das notas perdidas está no final do desfile?

Isso é verdade. Como muitas falhas acontecem ao longo do desfile, pela movimentação, é natural que as últimas torres (ou módulos) vejam mais problemas que as primeiras. Mas a diferença é menos gritante do que eu imaginava. Isso reforça a importância de um bom planejamento prévio de desfile.

Existem jurados mais rigorosos que os outros?

Sim, isso existe. Não vou citar os nomes aqui, mas quem se interessa por resultado de Carnaval provavelmente já sabe quem são. Esses gráficos mostram duas coisas interessantes:

Há jurados que são mais atentos que os outros na busca de falhas;
Há jurados que prestam mais atenção que os outros em uniformidade;

 

A coluna vermelha representa o número de apontamentos de cada jurado. A coluna azul representa o percentual dos apontamentos que foram de acabamento.

E a posição de desfile importa?

Analisando o gráfico abaixo, há um indicativo de que ser a segunda escola da primeira noite pode ser bem ruim (pior até que a primeira). Claro que estatística é algo bastante falho e esse gráfico pode ser influenciado por um desfile ou outro mais catastrófico. Mas não deixa de apresentar informações importantes para aquele momento em que você for torcer pela bolinha no dia do sorteio.

Também chama a atenção a 13º escola, ou seja, a penúltima de sábado.

Existem escolas que erraram mais que as outras?

No gráfico abaixo eu revelei apenas o nome das escolas mais eficientes no quesito fantasia. Afinal, não estamos aqui para apontar defeitos e sim discutir resultados. Assim, cabe respeitar e analisar as escolas com melhores resultados e se espelhar no sucesso delas.

No gráfico, fica inegável que há uma grande disparidade entre a Acadêmicos do Tatuapé, com uma incrível média de apenas 1,8 erros de fantasia por ano, para a última colocada, com mais de 30 anotações em média.

Destaque positivo para Dragões da Real e Mancha Verde, também bastante eficientes no quesito, e pras mais caçulas, Estrela do Terceiro Milênio e Independente Tricolor.

Usei o critério da média justamente para conseguir ponderar esse número. Afinal, uma escola que desfilou apenas uma vez no Especial tende a ter numericamente menos falhas. Mas quando usamos a média, colocamos isso em pé de igualdade. E, mesmo voltando ao Acesso, a Milênio fez um excelente trabalho de fantasia em seu desfile 2023.

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