A reportagem de Rodrigo Rangel e Sarah Teófilo publicada no site Metrópoles nesta sexta (3) é a pá de cal que faltava, pela robustez de provas e depoimentos, que os Bolsonaro no poder mantinham o funcionamento de caixa 2 com suspeita de uso de dinheiro fruto de um esquema conhecido nacionalmente como “rachadinha”. As brigas dos filhos do presidente com a primeira-dama Michelle, o roubo de picanhas e produtos alimentícios das dispensas do Palácio Alvorada apenas jogam a família presidencial num lamaçal difícil de explicar como pode chegar a um nível tão baixo. Só lendo.
Se não tivéssemos uma Procuradoria Geral da República tão omissa poderia-se dizer que as informações divulgadas já são suficientes para a abertura de uma investigação que atingiria em cheio não só o ex-presidente da República e sua mulher, os filhos e um leque de bajuladores que se beneficiaram das mordomias pagas com dinheiro público. Por muito menos Fernando Collor e o seu homem “bomba” Paulo César Farias foram apeados do poder no início dos anos 90.
Bolsonaro propagou ser honesto, não roubar e não deixar roubar, que seria um governante decente com cada centavo do contribuinte. Balela. A reportagem do Metrópoles escancara um estilo de vida com o dinheiro alheio que já é um dos piores exemplos da história da República.
A boa-fé dos próprios seguidores do ex-presidente não permite a eles perceberem que foram enganados e ainda são usados como otários úteis enquanto seus chefes se locupletam. Por quanto tempo o tal gabinete do ódio continuará promovendo peças nas redes sociais jogando tudo de ruim em adversários? As provas que agora se tornam públicas, inclusive com cópias de depósitos e testemunhos, demonstram que Michelle recebia pacotes de dinheiro vivo sistematicamente, algo incompatível com o comportamento republicano.
Já que a PGR não age, mais uma vez, caberá à Justiça cumprir seu papel de ação. A denúncia extrapola o âmbito da cobertura eleitoral e não seria Alexandre de Moraes o responsável para botar ordem na casa. O risco é algo assim cair nas mãos de Nunes Marques ou André Mendonça. Se for, cresce o risco de uma eventual investigação não dar em nada.