MATÉRIA ESCRITA POR FERNANDA FERNANDES Facebook: facebook.com/dcfernandesf / Instagram: @_ffernd Melanie Martinez lançou seu primeiro álbum de estúdio, o Cry Baby, em agosto de 2015. Neste álbum, a cantora criou a personagem de mesmo nome do álbum e contou a história da vida familiar e relações amorosas dela, já trazendo críticas sociais a temas como abuso, […]
Melanie Martinez lançou seu primeiro álbum de estúdio, o Cry Baby, em agosto de 2015. Neste álbum, a cantora criou a personagem de mesmo nome do álbum e contou a história da vida familiar e relações amorosas dela, já trazendo críticas sociais a temas como abuso, padrões de beleza e relacionamentos abusivos.
Em seguida, Melanie começou a desenvolver seu segundo álbum, o K-12, o qual foi lançado em setembro de 2019. Em K-12, a artista decide manter a personagem Cry Baby e se aprofundar na vida escolar e na adolescência da garota. Além disso, Melanie Martinez decide dirigir e roteirizar um filme para este álbum. No entanto, no K-12: O Filme só constam as faixas da edição padrão do álbum, que serão analisadas uma a uma. Daqui em diante há spoilers.
A estética de cores pastel está presente no trabalho da artista desde o primeiro álbum, reaparecendo em K-12. É importante entender que K-12 é uma expressão norte-americana que refere-se ao período em anos do kindergarten até a 12th grade, que seria o ensino primário e secundário nos Estados Unidos, abrangendo a infância e adolescência.
Melanie Martinez e K-12
Dito isso, logo nos primeiros minutos do filme, uma frase se mostra extremamente chamativa, na qual a Crybaby (Melanie Martinez) diz: vamos para um mundo onde garotas só vestem vestidos rosas e garotos, calças azuis. Logo em seguida, a personagem comenta sobre ter pintado o seu uniforme e durante todo o filme, o tal uniforme da personagem é lilás, claramente quebrando as regras desse mundo que ela cita e ao mesmo tempo, mostrando que em um lugar onde os rótulos “feminino” e “masculino” ainda existem, ela será um pouco de ambos.
Outro ponto interessante é que a protagonista ainda comenta sobre o sonho que teve com Lilith. Especula-se em alguns textos religiosos que Lilith teria sido a primeira esposa de Adão, feita do barro assim como ele, ela teria recusado ser submissa a ele e por isso teria ido embora. Quando ela é citada por Crybaby, nota-se uma procura por algo para se amparar. Um ideal. Mais para frente, Lilith aparecerá algumas vezes durante a história para aconselhar tanto a personagem como suas colegas.
A primeira faixa de K-12 é Wheels on the Bus, a qual serve para ambientar a aventura que estamos conhecendo, um lugar um tanto perverso e com uma sensação constante de negligência. Os versos que mostram essa perversidade são, principalmente:
“Eu estou apenas olhando pela janela e está frio lá fora
Há dois garotos gritando atrás de mim e eu estou aterrorizada
Contando as árvores enquanto elas passam por mim
E eu estou tentando não olhar para o outro lado do corredor
[…]
Não há ninguém nos vigiando, não dão a mínima”
Nesta faixa, também conhecemos um pouco mais da personalidade de Crybaby, que é retraída, assim como no álbum anterior de Melanie Martinez. Um pouco antes da próxima faixa, uma cena se mostra interessante: o juramento à bandeira feito antes da aula começar.
Neste momento, um aluno da turma, talvez o único aluno negro, se recusa a fazer o juramento com o argumento de que a frase contida neste, “liberdade e justiça para todos”, é mentirosa. Ele é retirado a força da sala e não aparece mais no filme. O que indica o que acontece quando você discorda de algo neste mundo que a artista está criando. Também é uma sátira ao nacionalismo extremista. Outro momento pertinente, é ver a professora usando drogas antes de dar a aula, assim como o diretor (Toby Eddington) da escola se embebedando na sala dele, uma metáfora óbvia a como este tal mundo em que a personagem habita está falido e problemático.
Seguindo a trama
Adiante, a faixa Class Fight mostrará o lado emotivo da personagem enquanto traz a ideia de um triângulo amoroso que acaba em rivalidade feminina, outra crítica a como o machismo vira mulheres umas contra as outras. Após a briga, Crybaby e a outra aluna, Kelly (Maggie Budzyna), vão para a diretoria e lá, Crybaby descobre que o diretor prescreve remédios para drogar os alunos e controla-los com mais facilidade. Além disso, outra cena que traz mais um pouco de crítica é o diretor estar demitindo uma professora da escola por ter assumido ser trans. Logo, estamos na faixa The Principal em que a cantora critica a busca do diretor por dinheiro e poder, destruindo as crianças e afirmando que é o bonzinho da história.
A próxima faixa é uma das mais interessantes do álbum: Show & Tell. Nela, Melanie traz uma dura crítica a indústria cultural, focando principalmente no machismo e na objetificação que as mulheres enfrentam nesse cenário. A maior analogia à isso é que a personagem Crybaby aparece como um fantoche para os alunos da turma da escola K-12.
“Compre e venda (me compre e me venda, amor)
Como se eu fosse um produto para a sociedade
Arte não vende
Só se você fodeu todas as autoridades
Você implora e chora por mais, mas eu estou no chão
Há estranhos tirando fotos minhas, enquanto eu peço que parem
[…]
Sou como você, você é como eu
Somos imperfeitos e humanos, não é?”
Enquanto a música toca e a professora manipula o fantoche, estes alunos estão eufóricos sempre querendo mais, chegando a quase pegar o fantoche para eles, como se fosse um troféu. Ao final da música, o fantoche é jogado no chão e quando cai, a barriga do brinquedo abre e o nariz sangra, sendo um jeito de lembrar que existem pessoas de verdade por trás desse universo em que parecem feitas de plástico. Os alunos sentem nojo da humanidade do brinquedo e vão embora.
Em seguida, o fantoche, que é a Crybaby, vai parar na enfermaria e reencontra Angelita (Emma Harvey), sua amiga. Durante a trama do filme, que acopla todas essas músicas a tentativa de sobreviver ao ambiente escolar, Angelita está sempre lá para ajudá-la. É válido dizer que as duas possuem algum tipo de superpoder na história, o que pode ser uma analogia ao superpoder que todos temos de mudar as coisas.
A próxima música é Nurse’s Office, mostrando uma sensação de tentativa de fugir desse ambiente tóxico que estamos enfrentando. A letra foca completamente no fato dela estar fingindo estar fisicamente doente para poder ir embora. Afinal, quem reconheceria que estar psicologicamente mal é tão grave quanto a dor física em um lugar onde depressão e ansiedade são frescuras? Ao final desta faixa, Lilith (Kimesha Campbell) aparece para Crybaby e Angelita para aconselhar elas pela primeira vez e mantê-las firmes, dizendo que a única maneira de aprender é através da experiência.
Melanie Martinez lançou seu primeiro álbum de estúdio, o Cry Baby, em agosto de 2015. Neste álbum, a cantora criou a personagem de mesmo nome do álbum e contou a história da vida familiar e relações amorosas dela, já trazendo críticas sociais a temas como abuso, padrões de beleza e relacionamentos abusivos.
Em seguida, Melanie começou a desenvolver seu segundo álbum, o K-12, o qual foi lançado em setembro de 2019. Em K-12, a artista decide manter a personagem Cry Baby e se aprofundar na vida escolar e na adolescência da garota. Além disso, Melanie Martinez decide dirigir e roteirizar um filme para este álbum. No entanto, no K-12: O Filme só constam as faixas da edição padrão do álbum, que serão analisadas uma a uma. Daqui em diante há spoilers.
A estética de cores pastel está presente no trabalho da artista desde o primeiro álbum, reaparecendo em K-12. É importante entender que K-12 é uma expressão norte-americana que refere-se ao período em anos do kindergarten até a 12th grade, que seria o ensino primário e secundário nos Estados Unidos, abrangendo a infância e adolescência.
Melanie Martinez e K-12
Dito isso, logo nos primeiros minutos do filme, uma frase se mostra extremamente chamativa, na qual a Crybaby (Melanie Martinez) diz: vamos para um mundo onde garotas só vestem vestidos rosas e garotos, calças azuis. Logo em seguida, a personagem comenta sobre ter pintado o seu uniforme e durante todo o filme, o tal uniforme da personagem é lilás, claramente quebrando as regras desse mundo que ela cita e ao mesmo tempo, mostrando que em um lugar onde os rótulos “feminino” e “masculino” ainda existem, ela será um pouco de ambos.
Outro ponto interessante é que a protagonista ainda comenta sobre o sonho que teve com Lilith. Especula-se em alguns textos religiosos que Lilith teria sido a primeira esposa de Adão, feita do barro assim como ele, ela teria recusado ser submissa a ele e por isso teria ido embora. Quando ela é citada por Crybaby, nota-se uma procura por algo para se amparar. Um ideal. Mais para frente, Lilith aparecerá algumas vezes durante a história para aconselhar tanto a personagem como suas colegas.
A primeira faixa de K-12 é Wheels on the Bus, a qual serve para ambientar a aventura que estamos conhecendo, um lugar um tanto perverso e com uma sensação constante de negligência. Os versos que mostram essa perversidade são, principalmente:
“Eu estou apenas olhando pela janela e está frio lá fora
Há dois garotos gritando atrás de mim e eu estou aterrorizada
Contando as árvores enquanto elas passam por mim
E eu estou tentando não olhar para o outro lado do corredor
[…]
Não há ninguém nos vigiando, não dão a mínima”
Nesta faixa, também conhecemos um pouco mais da personalidade de Crybaby, que é retraída, assim como no álbum anterior de Melanie Martinez. Um pouco antes da próxima faixa, uma cena se mostra interessante: o juramento à bandeira feito antes da aula começar.
Neste momento, um aluno da turma, talvez o único aluno negro, se recusa a fazer o juramento com o argumento de que a frase contida neste, “liberdade e justiça para todos”, é mentirosa. Ele é retirado a força da sala e não aparece mais no filme. O que indica o que acontece quando você discorda de algo neste mundo que a artista está criando. Também é uma sátira ao nacionalismo extremista. Outro momento pertinente, é ver a professora usando drogas antes de dar a aula, assim como o diretor (Toby Eddington) da escola se embebedando na sala dele, uma metáfora óbvia a como este tal mundo em que a personagem habita está falido e problemático.
Seguindo a trama
Adiante, a faixa Class Fight mostrará o lado emotivo da personagem enquanto traz a ideia de um triângulo amoroso que acaba em rivalidade feminina, outra crítica a como o machismo vira mulheres umas contra as outras. Após a briga, Crybaby e a outra aluna, Kelly (Maggie Budzyna), vão para a diretoria e lá, Crybaby descobre que o diretor prescreve remédios para drogar os alunos e controla-los com mais facilidade. Além disso, outra cena que traz mais um pouco de crítica é o diretor estar demitindo uma professora da escola por ter assumido ser trans. Logo, estamos na faixa The Principal em que a cantora critica a busca do diretor por dinheiro e poder, destruindo as crianças e afirmando que é o bonzinho da história.
A próxima faixa é uma das mais interessantes do álbum: Show & Tell. Nela, Melanie traz uma dura crítica a indústria cultural, focando principalmente no machismo e na objetificação que as mulheres enfrentam nesse cenário. A maior analogia à isso é que a personagem Crybaby aparece como um fantoche para os alunos da turma da escola K-12.
“Compre e venda (me compre e me venda, amor)
Como se eu fosse um produto para a sociedade
Arte não vende
Só se você fodeu todas as autoridades
Você implora e chora por mais, mas eu estou no chão
Há estranhos tirando fotos minhas, enquanto eu peço que parem
[…]
Sou como você, você é como eu
Somos imperfeitos e humanos, não é?”
Enquanto a música toca e a professora manipula o fantoche, estes alunos estão eufóricos sempre querendo mais, chegando a quase pegar o fantoche para eles, como se fosse um troféu. Ao final da música, o fantoche é jogado no chão e quando cai, a barriga do brinquedo abre e o nariz sangra, sendo um jeito de lembrar que existem pessoas de verdade por trás desse universo em que parecem feitas de plástico. Os alunos sentem nojo da humanidade do brinquedo e vão embora.
Em seguida, o fantoche, que é a Crybaby, vai parar na enfermaria e reencontra Angelita (Emma Harvey), sua amiga. Durante a trama do filme, que acopla todas essas músicas a tentativa de sobreviver ao ambiente escolar, Angelita está sempre lá para ajudá-la. É válido dizer que as duas possuem algum tipo de superpoder na história, o que pode ser uma analogia ao superpoder que todos temos de mudar as coisas.
A próxima música é Nurse’s Office, mostrando uma sensação de tentativa de fugir desse ambiente tóxico que estamos enfrentando. A letra foca completamente no fato dela estar fingindo estar fisicamente doente para poder ir embora. Afinal, quem reconheceria que estar psicologicamente mal é tão grave quanto a dor física em um lugar onde depressão e ansiedade são frescuras? Ao final desta faixa, Lilith (Kimesha Campbell) aparece para Crybaby e Angelita para aconselhar elas pela primeira vez e mantê-las firmes, dizendo que a única maneira de aprender é através da experiência.