Liga da Justiça Snyder’s Cut: Mesma bagunça, agora com quatro horas
Zack Snyder é um diretor controverso. Tem uma séquita base de fãs que o enxergam como um visionário, alguém a ser seguido até uma terra prometida da sétima arte. Igualmente uma legião de haters o veem como um charlatão, impostor usuário até o talo de efeitos especiais e ineficaz para contar qualquer história sem ser […]
POR Cadu Costa18/03/2021|8 min de leitura
Zack Snyder é um diretor controverso. Tem uma séquita base de fãs que o enxergam como um visionário, alguém a ser seguido até uma terra prometida da sétima arte. Igualmente uma legião de haters o veem como um charlatão, impostor usuário até o talo de efeitos especiais e ineficaz para contar qualquer história sem ser em formato de videoclipes.
De fato, Snyder é um diretor de videoclipes e fotografia publicitária. Chegou a dirigir dois clipes da banda de rock alternativo Soul Asylum e um do cantor Morrissey. Nesse tipo de projeto audiovisual, o abuso de cores, de elementos em slow motion, de narrativa baseada na subjetividade, costuma funcionar melhor.
Porém, o problema começa quando Mr. Snyder passa a interagir com o cinema de uma forma mais contundente. Sua estreia em 2004 com um remake do clássico zumbi de George Romero, ‘Madrugada dos Mortos’, ganhou críticas positivas e uma boa bilheteria. Logo, ele se volta para voos maiores e abraçou a adaptação da graphic novel de Frank Miller, ‘300’.
Assim sendo, Zack Snyder começou a trabalhar com mais filmes de quadrinhos (‘Watchmen’, 2009) ou com temáticas parecidas (‘Sucker Punch’, 2011). Seu já conhecido estilo de videoclipes realmente ajudou no visual. O problema é sua narrativa perdida.
O início do DCEU
Assim também acabou não sendo surpreendente quando foi anunciado que Snyder iria começar um Universo Estendido DC Comics nos moldes de sua rival Marvel. Tudo começa até bem com ‘Homem de Aço’ (2013), sua reinvenção do mais famoso personagem das HQs: Superman.
Todavia, as críticas negativas começam a chegar firme com ‘Batman Vs Superman – A Origem da Justiça’, de 2016. De lá pra cá, outros diretores deram continuidade em outros personagens até que veio ‘Liga da Justiça’ (2017). A princípio, todos sabiam da ausência de Zack Snyder devido ao suicídio de sua filha e sua substituição por Joss Whedon de ‘Os Vingadores’ (2012).
Posteriormente, com a imprensa especializada destruindo a imagem do filme e o público dcnauta querendo assassinar esta versão, começam a surgir rumores de que existe uma visão não finalizada chamada ‘Justice League Snyder’s Cut’. Ao mesmo tempo, uma enxurrada de pedidos na internet com a hashtag ‘Release Snyder’s Cut’ tomam conta das discussões e o que antes pareciam rumores se torna real com o lançamento mundial nesta quinta-feira (18).
De conformidade com o momento pandêmico atual, ‘Justice League Snyder’s Cut’ foi lançado pela plataforma HBO MAX. Primeiramente foi pensado no formato de minissérie em quatro partes para depois ser decidido como um longa de quatro horas de duração.
Muda alguma coisa?
E aí? O que muda? Bom, certamente tudo e nada. O tempo de tela, com certeza sim. A “Liga da Justiça de Zack Snyder” dura quatro horas e dois minutos. São 242 minutos. Isso é mais longo do que ‘Avatar’ (2010), ‘Vingadores: Ultimato’ (2019), ‘O Irlandês’, ‘Dança com Lobos’ (1990), ‘Malcolm X’ (1992) ou qualquer um dos filmes ‘O Poderoso Chefão’. Se fosse lançado para as telas grandes, se juntaria à adaptação de Kenneth Branagh de ‘Hamlet’ (1996) como a maior duração de longa-metragem de um grande estúdio da história.
E vale a pena? Sinceramente, sim e não. O recorte – parece mais correto chamá-lo de “restauração” – não contém nenhuma filmagem de Whedon. É dividido em sete capítulos com títulos, como uma história em quadrinhos mensal. Apenas um pedaço do que está na tela é totalmente novo, notavelmente uma conversa voltada para o futuro entre o Batman e o Coringa; mas Snyder gerou tanto material originalmente – grande parte dele arquivado pela Warner Bros sem ser devidamente finalizado por artistas de efeitos visuais – que a totalidade ainda parece um novo trabalho.
No entanto, este continua sendo um filme de super-heróis e a busca por três caixas mágicas enquanto tentam salvar o mundo de super vilões mega poderosos. Mas há sim coisas boas.
Há coisas boas…
A primeira versão da Liga da Justiça de Joss Whedon favoreceu Bruce Wayne / Batman (Ben Affleck) e Diana Prince / Mulher Maravilha (Gal Gadot) e marginalizou Clark Kent / Superman (Henry Cavill), Arthur Curry / Aquaman (Jason Momoa), Barry Allen / The Flash (Ezra Miller) e Victor Stone / Cyborg (Ray Fisher). Já a versão de Zack Snyder constrói uma imagem de conjunto que faz um trabalho tão bom quanto os filmes “Vingadores” do MCU, retratando heróis como indivíduos obstinados e completos que tinham vidas e problemas antes do início da ação principal e devem aprender a trabalhar juntos.
Assim sendo, podemos colocar aqui como grandes restaurados nesta visão do diretor como o Cyborg e seus sentimentos mistos sobre seu pai e sua criação, a relação de Bruce Wayne com seu mordomo / pai substituto Alfred (Jeremy Irons) assim como seu Batman que aqui adota uma versão envelhecida e cansada do mundo.
Outra melhoria mensurável é a elaboração significativa do novo vilão Lobo da Estepe (Ciarán Hinds) sobre a versão muito mais pálida que apareceu sob a supervisão de Whedon. Sob o corte de Snyder, o personagem é esplendidamente enfeitado com brilhantes lascas de prata e com todo o tempo de tela de que ele precisa para emergir como um adversário formidável.
…e outras piores
Agora para piorar: Snyder também se arrasta por uma exposição aparentemente interminável (e inútil), adicionando história de fundo o suficiente para cada herói da Liga da Justiça nos ajudar a investir nesses personagens. Por conta disso (e pelo tempo que isso leva) só nos preocupamos quando eles finalmente vestem os uniformes do time e saem para a porradaria.
Na real, o Snyder Cut da Liga da Justiça de quatro horas parece essencialmente o mesmo filme de 2017 com duas horas, só que mais. Às vezes, parece menos uma história e mais um videogame em que você vagueia pelo universo DC interagindo com personagens não jogáveis.
E nem mesmo me fale sobre os mini-filmes agregados projetados para criar sequências que nunca virão. Eles jogam um monte de personagens da DC que agradam aos fãs e parecem legais, mas são, francamente, um disparate incoerente.
Aliás para o fanboy será um paraíso ou inferno. Afinal, quantas horas, precisamente, você quer gastar com Superman e Batman e um monte de outras superfiguras em um mundo onde todo o humor foi banido e música portentosa e monótona é tocada incessantemente sem nenhum interruptor disponível? De quem você prefere filmes de super-heróis, os densos e pesados de Zack Snyder ou os desarrumados e divertidos de Joss Whedon? O Dia do Julgamento (desculpe, Terminator) chegou para a Liga da Justiça de Zack Snyder. Qualquer que seja o veredicto, a maior vitória foi conquistada pelos fãs obstinados.
Comparação inevitável
A propósito, você está impressionado por termos chegado tão longe antes de mencionar a palavra com M? Gostem ou não, a Marvel definiu o padrão para sucessos de bilheteria de super-heróis, e a DC vem tentando se recuperar há uma década. A Liga da Justiça tentou fazer em um filme o que a série Vingadores desdobrou ao longo de vários anos, e simplesmente não é a mesma coisa. Mas Snyder, Warner Bros. e DC também não fazem nenhum favor a si mesmos, contando uma história que é tão semelhante aos acontecimentos quanto no Universo Cinematográfico Marvel.
Vamos lá: Os heróis briguentos que coletam artefatos alienígenas mágicos são basicamente os mesmos que as Jóias do Infinito, e Darkseid é essencialmente Thanos sem o desenvolvimento do personagem.Por fim, pelo menos depois de toda a confusão e batalhas online, podemos comparar as versões de Zack Snyder e Joss Whedon. E podemos também confirmar oficialmente que não importa o quão bom pareça na imaginação febril do fandom, o corte de Snyder é tão bagunçado quanto a edição teatral e Whedon. A versão que você prefere depende inteiramente de você – nem faremos um julgamento se a versão de duas ou quatro horas é melhor.
Mas direi o seguinte: pelo menos uma acabou mais cedo.
Zack Snyder é um diretor controverso. Tem uma séquita base de fãs que o enxergam como um visionário, alguém a ser seguido até uma terra prometida da sétima arte. Igualmente uma legião de haters o veem como um charlatão, impostor usuário até o talo de efeitos especiais e ineficaz para contar qualquer história sem ser em formato de videoclipes.
De fato, Snyder é um diretor de videoclipes e fotografia publicitária. Chegou a dirigir dois clipes da banda de rock alternativo Soul Asylum e um do cantor Morrissey. Nesse tipo de projeto audiovisual, o abuso de cores, de elementos em slow motion, de narrativa baseada na subjetividade, costuma funcionar melhor.
Porém, o problema começa quando Mr. Snyder passa a interagir com o cinema de uma forma mais contundente. Sua estreia em 2004 com um remake do clássico zumbi de George Romero, ‘Madrugada dos Mortos’, ganhou críticas positivas e uma boa bilheteria. Logo, ele se volta para voos maiores e abraçou a adaptação da graphic novel de Frank Miller, ‘300’.
Assim sendo, Zack Snyder começou a trabalhar com mais filmes de quadrinhos (‘Watchmen’, 2009) ou com temáticas parecidas (‘Sucker Punch’, 2011). Seu já conhecido estilo de videoclipes realmente ajudou no visual. O problema é sua narrativa perdida.
O início do DCEU
Assim também acabou não sendo surpreendente quando foi anunciado que Snyder iria começar um Universo Estendido DC Comics nos moldes de sua rival Marvel. Tudo começa até bem com ‘Homem de Aço’ (2013), sua reinvenção do mais famoso personagem das HQs: Superman.
Todavia, as críticas negativas começam a chegar firme com ‘Batman Vs Superman – A Origem da Justiça’, de 2016. De lá pra cá, outros diretores deram continuidade em outros personagens até que veio ‘Liga da Justiça’ (2017). A princípio, todos sabiam da ausência de Zack Snyder devido ao suicídio de sua filha e sua substituição por Joss Whedon de ‘Os Vingadores’ (2012).
Posteriormente, com a imprensa especializada destruindo a imagem do filme e o público dcnauta querendo assassinar esta versão, começam a surgir rumores de que existe uma visão não finalizada chamada ‘Justice League Snyder’s Cut’. Ao mesmo tempo, uma enxurrada de pedidos na internet com a hashtag ‘Release Snyder’s Cut’ tomam conta das discussões e o que antes pareciam rumores se torna real com o lançamento mundial nesta quinta-feira (18).
De conformidade com o momento pandêmico atual, ‘Justice League Snyder’s Cut’ foi lançado pela plataforma HBO MAX. Primeiramente foi pensado no formato de minissérie em quatro partes para depois ser decidido como um longa de quatro horas de duração.
Muda alguma coisa?
E aí? O que muda? Bom, certamente tudo e nada. O tempo de tela, com certeza sim. A “Liga da Justiça de Zack Snyder” dura quatro horas e dois minutos. São 242 minutos. Isso é mais longo do que ‘Avatar’ (2010), ‘Vingadores: Ultimato’ (2019), ‘O Irlandês’, ‘Dança com Lobos’ (1990), ‘Malcolm X’ (1992) ou qualquer um dos filmes ‘O Poderoso Chefão’. Se fosse lançado para as telas grandes, se juntaria à adaptação de Kenneth Branagh de ‘Hamlet’ (1996) como a maior duração de longa-metragem de um grande estúdio da história.
E vale a pena? Sinceramente, sim e não. O recorte – parece mais correto chamá-lo de “restauração” – não contém nenhuma filmagem de Whedon. É dividido em sete capítulos com títulos, como uma história em quadrinhos mensal. Apenas um pedaço do que está na tela é totalmente novo, notavelmente uma conversa voltada para o futuro entre o Batman e o Coringa; mas Snyder gerou tanto material originalmente – grande parte dele arquivado pela Warner Bros sem ser devidamente finalizado por artistas de efeitos visuais – que a totalidade ainda parece um novo trabalho.
No entanto, este continua sendo um filme de super-heróis e a busca por três caixas mágicas enquanto tentam salvar o mundo de super vilões mega poderosos. Mas há sim coisas boas.
Há coisas boas…
A primeira versão da Liga da Justiça de Joss Whedon favoreceu Bruce Wayne / Batman (Ben Affleck) e Diana Prince / Mulher Maravilha (Gal Gadot) e marginalizou Clark Kent / Superman (Henry Cavill), Arthur Curry / Aquaman (Jason Momoa), Barry Allen / The Flash (Ezra Miller) e Victor Stone / Cyborg (Ray Fisher). Já a versão de Zack Snyder constrói uma imagem de conjunto que faz um trabalho tão bom quanto os filmes “Vingadores” do MCU, retratando heróis como indivíduos obstinados e completos que tinham vidas e problemas antes do início da ação principal e devem aprender a trabalhar juntos.
Assim sendo, podemos colocar aqui como grandes restaurados nesta visão do diretor como o Cyborg e seus sentimentos mistos sobre seu pai e sua criação, a relação de Bruce Wayne com seu mordomo / pai substituto Alfred (Jeremy Irons) assim como seu Batman que aqui adota uma versão envelhecida e cansada do mundo.
Outra melhoria mensurável é a elaboração significativa do novo vilão Lobo da Estepe (Ciarán Hinds) sobre a versão muito mais pálida que apareceu sob a supervisão de Whedon. Sob o corte de Snyder, o personagem é esplendidamente enfeitado com brilhantes lascas de prata e com todo o tempo de tela de que ele precisa para emergir como um adversário formidável.
…e outras piores
Agora para piorar: Snyder também se arrasta por uma exposição aparentemente interminável (e inútil), adicionando história de fundo o suficiente para cada herói da Liga da Justiça nos ajudar a investir nesses personagens. Por conta disso (e pelo tempo que isso leva) só nos preocupamos quando eles finalmente vestem os uniformes do time e saem para a porradaria.
Na real, o Snyder Cut da Liga da Justiça de quatro horas parece essencialmente o mesmo filme de 2017 com duas horas, só que mais. Às vezes, parece menos uma história e mais um videogame em que você vagueia pelo universo DC interagindo com personagens não jogáveis.
E nem mesmo me fale sobre os mini-filmes agregados projetados para criar sequências que nunca virão. Eles jogam um monte de personagens da DC que agradam aos fãs e parecem legais, mas são, francamente, um disparate incoerente.
Aliás para o fanboy será um paraíso ou inferno. Afinal, quantas horas, precisamente, você quer gastar com Superman e Batman e um monte de outras superfiguras em um mundo onde todo o humor foi banido e música portentosa e monótona é tocada incessantemente sem nenhum interruptor disponível? De quem você prefere filmes de super-heróis, os densos e pesados de Zack Snyder ou os desarrumados e divertidos de Joss Whedon? O Dia do Julgamento (desculpe, Terminator) chegou para a Liga da Justiça de Zack Snyder. Qualquer que seja o veredicto, a maior vitória foi conquistada pelos fãs obstinados.
Comparação inevitável
A propósito, você está impressionado por termos chegado tão longe antes de mencionar a palavra com M? Gostem ou não, a Marvel definiu o padrão para sucessos de bilheteria de super-heróis, e a DC vem tentando se recuperar há uma década. A Liga da Justiça tentou fazer em um filme o que a série Vingadores desdobrou ao longo de vários anos, e simplesmente não é a mesma coisa. Mas Snyder, Warner Bros. e DC também não fazem nenhum favor a si mesmos, contando uma história que é tão semelhante aos acontecimentos quanto no Universo Cinematográfico Marvel.
Vamos lá: Os heróis briguentos que coletam artefatos alienígenas mágicos são basicamente os mesmos que as Jóias do Infinito, e Darkseid é essencialmente Thanos sem o desenvolvimento do personagem.Por fim, pelo menos depois de toda a confusão e batalhas online, podemos comparar as versões de Zack Snyder e Joss Whedon. E podemos também confirmar oficialmente que não importa o quão bom pareça na imaginação febril do fandom, o corte de Snyder é tão bagunçado quanto a edição teatral e Whedon. A versão que você prefere depende inteiramente de você – nem faremos um julgamento se a versão de duas ou quatro horas é melhor.
Mas direi o seguinte: pelo menos uma acabou mais cedo.