‘Inverno em Paris’: a nova aposta de Christophe Honoré no circuito brasileiro
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd Lançado na Europa no segundo semestre de 2022, “Inverno em Paris” (Le lycéen – 2022, França), chega ao circuito exibidor brasileiro na próxima quinta-feira (10), à exceção da capital fluminense, onde estreará somente no dia 17 em virtude do Festival do Rio, prometendo ao espectador uma […]
POR Ana Carolina Garcia08/10/2024|4 min de leitura
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd
Lançado na Europa no segundo semestre de 2022, “Inverno em Paris” (Le lycéen – 2022, França), chega ao circuito exibidor brasileiro na próxima quinta-feira (10), à exceção da capital fluminense, onde estreará somente no dia 17 em virtude do Festival do Rio, prometendo ao espectador uma análise do luto sob a ótica de um adolescente de 17 anos.
Com direção e roteiro de Christophe Honoré, “Inverno em Paris” conta a história de Lucas (Paul Kircher), jovem que é surpreendido pela morte do pai num acidente de carro e precisa voltar para casa, reencontrando a mãe e o irmão. Com cada membro da família lidando com o luto de maneiras distintas, Lucas é convidado pelo irmão, Quentin (Vincent Lacoste), a passar uma curta temporada em seu apartamento em Paris, onde o jovem decide viver apressadamente, inclusive colocando-se em situações de perigo. Em meio a isso, Lucas remói a dúvida acerca da aceitação de sua homossexualidade pelo pai, enquanto a mãe, Isabelle (Juliette Binoche) tenta esconder a própria dor dos filhos.
“Inverno em Paris” começa como um drama potente capaz de explorar as inúmeras camadas da dinâmica familiar do protagonista com eficiência, mas perde força à medida que Lucas reluta em amadurecer, bem como por não aprofundar as questões emocionais de um garoto que parece ter suprimido o grito de socorro há tempos, chegando ao extremo próximo ao final. Neste ponto, é necessário destacar o fato de que Honoré optou pelo caminho mais fácil ao priorizar relações sexuais vazias em detrimento das verdadeiras emoções de Lucas, que, em determinado momento, não sabe mais discernir entre amizade e desejo, afeto e paixão, por exemplo.
No entanto, o desenvolvimento da trama central não é o único problema do longa, que também não consegue trabalhar com consistência histórias secundárias, sobretudo no que tange à relação de Lucas e Quentin. A tensão entre os irmãos é nítida para o espectador e não se restringe à diferença de idade nem às tentativas de Quentin em conceder choques de realidade ao caçula para colocá-lo de volta aos trilhos. Há algo a mais na dinâmica dos dois, mas nenhuma informação é dada à plateia, que ainda pode observar o incômodo de Quentin junto de seus parentes, algo que se potencializa durante rápida abordagem de questões como crise migratória, terrorismo e xenofobia.
Com elenco esforçado e em sintonia que tem como destaques Binoche e Kircher, vencedor do Silver Seashell no Festival de San Sebastián, “Inverno em Paris” assume roupagem de coming-of-age movie sem saber como sustentá-la no decorrer de pouco mais de duas horas de duração. Isto se deve à superficialidade de sua trama, que desperdiça não apenas a oportunidade de tecer debate minimamente interessante acerca das importantes questões abordadas, como também de se tornar uma produção genuinamente sobre amadurecimento. No caso do protagonista, por meio da dor imensurável.
+ assista ao trailer oficial:
Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd
Lançado na Europa no segundo semestre de 2022, “Inverno em Paris” (Le lycéen – 2022, França), chega ao circuito exibidor brasileiro na próxima quinta-feira (10), à exceção da capital fluminense, onde estreará somente no dia 17 em virtude do Festival do Rio, prometendo ao espectador uma análise do luto sob a ótica de um adolescente de 17 anos.
Com direção e roteiro de Christophe Honoré, “Inverno em Paris” conta a história de Lucas (Paul Kircher), jovem que é surpreendido pela morte do pai num acidente de carro e precisa voltar para casa, reencontrando a mãe e o irmão. Com cada membro da família lidando com o luto de maneiras distintas, Lucas é convidado pelo irmão, Quentin (Vincent Lacoste), a passar uma curta temporada em seu apartamento em Paris, onde o jovem decide viver apressadamente, inclusive colocando-se em situações de perigo. Em meio a isso, Lucas remói a dúvida acerca da aceitação de sua homossexualidade pelo pai, enquanto a mãe, Isabelle (Juliette Binoche) tenta esconder a própria dor dos filhos.
“Inverno em Paris” começa como um drama potente capaz de explorar as inúmeras camadas da dinâmica familiar do protagonista com eficiência, mas perde força à medida que Lucas reluta em amadurecer, bem como por não aprofundar as questões emocionais de um garoto que parece ter suprimido o grito de socorro há tempos, chegando ao extremo próximo ao final. Neste ponto, é necessário destacar o fato de que Honoré optou pelo caminho mais fácil ao priorizar relações sexuais vazias em detrimento das verdadeiras emoções de Lucas, que, em determinado momento, não sabe mais discernir entre amizade e desejo, afeto e paixão, por exemplo.
No entanto, o desenvolvimento da trama central não é o único problema do longa, que também não consegue trabalhar com consistência histórias secundárias, sobretudo no que tange à relação de Lucas e Quentin. A tensão entre os irmãos é nítida para o espectador e não se restringe à diferença de idade nem às tentativas de Quentin em conceder choques de realidade ao caçula para colocá-lo de volta aos trilhos. Há algo a mais na dinâmica dos dois, mas nenhuma informação é dada à plateia, que ainda pode observar o incômodo de Quentin junto de seus parentes, algo que se potencializa durante rápida abordagem de questões como crise migratória, terrorismo e xenofobia.
Com elenco esforçado e em sintonia que tem como destaques Binoche e Kircher, vencedor do Silver Seashell no Festival de San Sebastián, “Inverno em Paris” assume roupagem de coming-of-age movie sem saber como sustentá-la no decorrer de pouco mais de duas horas de duração. Isto se deve à superficialidade de sua trama, que desperdiça não apenas a oportunidade de tecer debate minimamente interessante acerca das importantes questões abordadas, como também de se tornar uma produção genuinamente sobre amadurecimento. No caso do protagonista, por meio da dor imensurável.
+ assista ao trailer oficial:
Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.