Coronavírus: o drama dos jornalistas do SBT, por Sidney Rezende
A sede do SBT do Rio de Janeiro fica no bairro de São Cristovão, próximo ao Pavilhão, tradicional polo gastronômico, cultural e ponto de encontro nordestino na cidade. Apesar da modernização imobiliária ocorrida nos últimos anos na região, o prédio da emissora é antigo. O local em que funciona a redação e trabalham os jornalistas, […]
POR Sidney Rezende03/04/2020|6 min de leitura
A sede do SBT do Rio de Janeiro fica no bairro de São Cristovão, próximo ao Pavilhão, tradicional polo gastronômico, cultural e ponto de encontro nordestino na cidade. Apesar da modernização imobiliária ocorrida nos últimos anos na região, o prédio da emissora é antigo. O local em que funciona a redação e trabalham os jornalistas, não tem janelas, o que torna o ambiente exposto a maior risco para a eventual propagação do coronavírus. Para amenizar este problema estrutural, a administração da empresa contratou profissionais para higienizar o prédio nesta quinta-feira (2), diante de um quadro sanitário preocupante.
Esta é uma das explicações, entre outras, para o grande número de profissionais que desenvolveram os sintomas da doença mais terrível da atualidade. Nesta semana, a apresentadora Isabele Benito, 39 anos, que também é comunicadora da Rádio Tupi, publicou um vídeo em suas redes sociais, em que informa estar com coronavírus.
Ela decidiu se submeter ao teste depois de o marido, Marcielo Rios, 45 anos, ter sido diagnosticado com a doença. Ele apresentou sintomas como problemas respiratórios, tendo ficado cinco dias no CTI, depois transferido para o quarto. Nesta quinta-feira (2), o repórter Caio Álex, que estava em casa de quarentena desde o dia 25 de março, contou na sua rede social que o seu teste também deu positivo.
Além deles, situações mais dramáticas vivem dois outros funcionários, um produtor e um auxiliar de câmera, este da área técnica, que estão no CTI, em hospitais diferentes, mas ambos dependendo de respiradores artificiais. As famílias estão preocupadas, porque, além da situação angustiante, as esposas estão grávidas, o que aumenta a tensão justamente neste momento de pandemia.
Procurada, a gerência de Comunicação do Sistema Brasileiro de Televisão informou que, entre os que pediram afastamento por morar com diabéticos e idosos, pessoas que são do grupo de risco e estagiários, o número é de 17 funcionários; e outros 14 por suspeita de estarem com o coronavírus.
Enquanto Isabele Benito se sente bem assistida pelo SBT, os outros funcionários de menor projeção pública não escondem o desapontamento. “Os colegas foram obrigados a pagar R$ 300 pelo exame para saber se estavam com coronavírus, e tiramos do próprio bolso. O SBT não se dignou a pagar”, disse um dos empregados. Quatro exames ainda dependem da conclusão do laboratório.
Uma produtora teme estar com a doença, mas nos disse que não tem dinheiro para pagar o teste: “É arriscado? É, sim! Mas não disponho desta importância, infelizmente. Estou com medo”.
Outra reclamação geral é que o SBT demorou muito a agir ao não implementar ações preventivas imediatas. Uma das mais básicas, disponibilizar álcool em gel para uso geral. “Nós falamos muitas vezes para a direção que precisávamos do produto e eles ignoraram”. Um executivo ouvido pela reportagem esclarece que eles foram sensíveis ao pleito, mas que tiveram dificuldades de encontrar o álcool (“ele ficou escasso no mercado”, disse) – mas quando isso foi superado, “todos tiveram acesso”.
Funcionários contam que repórteres que voltavam de “externas”, após entrevistarem estrangeiros com suspeita de coronavírus, retornavam à redação sem serem alertados dos riscos pela empresa e continuavam seu ofício. Percebendo a falta de orientação, os repórteres passaram a se precaver por conta própria.
Entre afastados preventivamente e submetidos à quarentena e os que estão com suspeita da doença, metade da redação está fora de combate. Os jornalistas, que pedem para não terem seus nomes divulgados, rebatem e dizem que o número é de pelo menos 28 colegas que se encontram distantes da redação e muitos com a doença em avanço, e que, por falta de testes, ainda não se pode confirmar a situação de cada um.
O SRzd teve acesso à lista dos suspeitos de estarem com o coronavírus, assim como fotos dos pacientes, mas não publicará em respeito aos profissionais que, esperamos, se recuperem rápido.
O grande desafio do Jornalismo do SBT Rio é como dar andamento ao trabalho com a equipe reduzida, já que estão em quarentena quatro repórteres, quatro editores de texto, dois chefes de Reportagem, dois produtores. “Estamos enfrentando uma situação caótica na Redação”, disse um deles que testou negativo e trabalha diariamente na empresa.
Compliance
O complexo do SBT conta com dois prédios em locais distintos. A situação mais grave está no Jornalismo, mas na outra unidade também foram afastadas duas médicas que apresentaram sintomas da doença e foram substituídas por um técnico de enfermagem disponível no ambulatório nos horários de 7h30 às 16h30.
Empregados, prestadores de serviço, estagiários e empregadores viverão o desafio de esperar a pandemia passar. Mas, depois, o SBT terá uma grande dor de cabeça pela frente. Os que estão se sentindo desassistidos prometem denunciar a situação de “abandono”. Uma das prováveis ações é listar as reclamações e dirigi-las ao Compliance da empresa, uma espécie de ouvidoria que prega cuidar de boas práticas.
Os funcionários dizem que vão procurar o canal de diálogo em São Paulo e exigir “orientações normativas, alinhamento de conduta, prevenção, correção de falhas na gestão de processos e melhorar o sistema de informação interno”. Os relatos deverão ser feitos tão logo retornem ao trabalho, após a passagem do momento mais crítico da pandemia.
A sede do SBT do Rio de Janeiro fica no bairro de São Cristovão, próximo ao Pavilhão, tradicional polo gastronômico, cultural e ponto de encontro nordestino na cidade. Apesar da modernização imobiliária ocorrida nos últimos anos na região, o prédio da emissora é antigo. O local em que funciona a redação e trabalham os jornalistas, não tem janelas, o que torna o ambiente exposto a maior risco para a eventual propagação do coronavírus. Para amenizar este problema estrutural, a administração da empresa contratou profissionais para higienizar o prédio nesta quinta-feira (2), diante de um quadro sanitário preocupante.
Esta é uma das explicações, entre outras, para o grande número de profissionais que desenvolveram os sintomas da doença mais terrível da atualidade. Nesta semana, a apresentadora Isabele Benito, 39 anos, que também é comunicadora da Rádio Tupi, publicou um vídeo em suas redes sociais, em que informa estar com coronavírus.
Ela decidiu se submeter ao teste depois de o marido, Marcielo Rios, 45 anos, ter sido diagnosticado com a doença. Ele apresentou sintomas como problemas respiratórios, tendo ficado cinco dias no CTI, depois transferido para o quarto. Nesta quinta-feira (2), o repórter Caio Álex, que estava em casa de quarentena desde o dia 25 de março, contou na sua rede social que o seu teste também deu positivo.
Além deles, situações mais dramáticas vivem dois outros funcionários, um produtor e um auxiliar de câmera, este da área técnica, que estão no CTI, em hospitais diferentes, mas ambos dependendo de respiradores artificiais. As famílias estão preocupadas, porque, além da situação angustiante, as esposas estão grávidas, o que aumenta a tensão justamente neste momento de pandemia.
Procurada, a gerência de Comunicação do Sistema Brasileiro de Televisão informou que, entre os que pediram afastamento por morar com diabéticos e idosos, pessoas que são do grupo de risco e estagiários, o número é de 17 funcionários; e outros 14 por suspeita de estarem com o coronavírus.
Enquanto Isabele Benito se sente bem assistida pelo SBT, os outros funcionários de menor projeção pública não escondem o desapontamento. “Os colegas foram obrigados a pagar R$ 300 pelo exame para saber se estavam com coronavírus, e tiramos do próprio bolso. O SBT não se dignou a pagar”, disse um dos empregados. Quatro exames ainda dependem da conclusão do laboratório.
Uma produtora teme estar com a doença, mas nos disse que não tem dinheiro para pagar o teste: “É arriscado? É, sim! Mas não disponho desta importância, infelizmente. Estou com medo”.
Outra reclamação geral é que o SBT demorou muito a agir ao não implementar ações preventivas imediatas. Uma das mais básicas, disponibilizar álcool em gel para uso geral. “Nós falamos muitas vezes para a direção que precisávamos do produto e eles ignoraram”. Um executivo ouvido pela reportagem esclarece que eles foram sensíveis ao pleito, mas que tiveram dificuldades de encontrar o álcool (“ele ficou escasso no mercado”, disse) – mas quando isso foi superado, “todos tiveram acesso”.
Funcionários contam que repórteres que voltavam de “externas”, após entrevistarem estrangeiros com suspeita de coronavírus, retornavam à redação sem serem alertados dos riscos pela empresa e continuavam seu ofício. Percebendo a falta de orientação, os repórteres passaram a se precaver por conta própria.
Entre afastados preventivamente e submetidos à quarentena e os que estão com suspeita da doença, metade da redação está fora de combate. Os jornalistas, que pedem para não terem seus nomes divulgados, rebatem e dizem que o número é de pelo menos 28 colegas que se encontram distantes da redação e muitos com a doença em avanço, e que, por falta de testes, ainda não se pode confirmar a situação de cada um.
O SRzd teve acesso à lista dos suspeitos de estarem com o coronavírus, assim como fotos dos pacientes, mas não publicará em respeito aos profissionais que, esperamos, se recuperem rápido.
O grande desafio do Jornalismo do SBT Rio é como dar andamento ao trabalho com a equipe reduzida, já que estão em quarentena quatro repórteres, quatro editores de texto, dois chefes de Reportagem, dois produtores. “Estamos enfrentando uma situação caótica na Redação”, disse um deles que testou negativo e trabalha diariamente na empresa.
Compliance
O complexo do SBT conta com dois prédios em locais distintos. A situação mais grave está no Jornalismo, mas na outra unidade também foram afastadas duas médicas que apresentaram sintomas da doença e foram substituídas por um técnico de enfermagem disponível no ambulatório nos horários de 7h30 às 16h30.
Empregados, prestadores de serviço, estagiários e empregadores viverão o desafio de esperar a pandemia passar. Mas, depois, o SBT terá uma grande dor de cabeça pela frente. Os que estão se sentindo desassistidos prometem denunciar a situação de “abandono”. Uma das prováveis ações é listar as reclamações e dirigi-las ao Compliance da empresa, uma espécie de ouvidoria que prega cuidar de boas práticas.
Os funcionários dizem que vão procurar o canal de diálogo em São Paulo e exigir “orientações normativas, alinhamento de conduta, prevenção, correção de falhas na gestão de processos e melhorar o sistema de informação interno”. Os relatos deverão ser feitos tão logo retornem ao trabalho, após a passagem do momento mais crítico da pandemia.